Luiz Eduardo da Rocha
Paiva
Em 1789,
a queda da Fortaleza da Bastilha marcou o início da Revolução Francesa, que
demoliu a velha ordem absolutista e provocou profundas mudanças políticas e
sociais, daí ser considerada uma autêntica revolução.
A
Operação Lava Jato poderá ser, também, o marco inicial de uma Revolução
Brasileira, capaz de causar relevantes transformações na sociedade. A operação
está abalando a bastilha brasileira da corrupção, ao atacar a poderosa máfia
política composta pela aliança entre a velha ordem patrimonialista e a esquerda
socialista. A Lava Jato também revelou relações ilegais e imorais entre atores
políticos e o empresariado do capitalismo de compadrio, às custas do
contribuinte e em favor de empresas, partidos e apaniguados.
Países
que viveram revoluções, como a França (1789) e a Rússia (1917), vivenciaram
riscos potencialmente fatais e oportunidade reais para ascender a futuros
venturosos. Na França, os bons frutos demoraram décadas para amadurecer e o
custo foi muito elevado. Na Rússia, a Revolução Bolchevista foi um desastre
político, econômico e social, inclusive para os direitos humanos, e as
consequências ainda sufocam a antiga pátria do socialismo e os países que ela
escravizou. A Revolução Brasileira está nascendo de uma operação legal, que
está a cargo da justiça, cumpre as normas do direito, é legitimada pelo apoio
da sociedade e, ao contrário da Francesa e da Russa, poderá ser pacífica.
No
Brasil, um risco grave e atual para a nossa Revolução está nas manobras
insidiosas da velha ordem política patrimonialista, que fará de tudo para
sobreviver. Suas lideranças no Executivo e no Legislativo, embora moralmente
desgastadas, ainda têm força política para tentar deter a Lava Jato, escapar da
justiça e manter seu elevado status de poder. Elas estão, majoritariamente, no
PMDB, mas se distribuem por outros partidos de centro esquerda (democracia
social) e centro direita (democracia liberal). São políticos fisiológicos, sem
idealismo e com interesses pessoais que prevalecem sobre os da sociedade. Com
certeza, há políticos e autoridades que não se corrompem e cumprem suas
obrigações com civismo, responsabilidade e dignidade, mas é difícil aceitar que
não denunciem as condutas desonestas de alguns, como se fossem admissíveis, e
com eles convivam amistosamente.
Outro
grande risco atual vem da esquerda socialista marxista (revolucionária), que
engloba partidos radicais, sendo o PT o maior deles. Sua ameaça é a revolução
permanente, iniciada com a criação do Partido Comunista Brasileiro em 1922,
cujo propósito é implantar um regime socialista liberticida. A aliança do PT
com a velha ordem política tinha a finalidade de garantir sua permanência no
governo. A velha ordem era apenas uma companheira de viagem, a ser alijada e
subjugada após o partido controlar a sociedade, conquistar o Estado e implantar
o regime socialista, como soe acontecer onde essa ideologia triunfa.
Um risco
não imediato é representado pela esquerda socialista fabianista (reformista e não
marxista), conhecida como social democrata, distribuída em alguns partidos,
principalmente, no PSDB. Hoje, ela substitui o PT na aliança com a velha ordem
política liderada pelo PMDB. Seu propósito é, também, implantar o regime
socialista, diferindo da esquerda revolucionária no processo e nas estratégias
empregadas, que demandam um tempo maior para se concluir.
Demolir
a velha ordem é mais rápido do que construir uma nova com sólida base moral. Aí
começa o longo caminho da Revolução Brasileira, que precisará vencer as ameaças
da velha ordem e dos socialistas internacionalistas (PT e PSDB), pois os
socialistas nacionalistas, à direita, não têm peso político.
A
eleição de 2018 é a oportunidade para o Brasil começar a erigir a nova ordem,
com um mínimo de conflitos, sem a triste experiência de terrorismo,
perseguições, violações e violências das Revoluções Francesa e Bolchevista e
sem os estragos da segunda, ainda hoje persistentes. Porém, a nova ordem terá
de vir do meio político, o que impõe sua depuração e renovação, com ativa
participação da sociedade pressionando as instituições. É difícil, mas não
impossível, surgirem novas lideranças em curto prazo, como se viu nas marcantes
vitórias de Emmanuel Macron e seu recém-criado partido centrista, nas eleições
francesas de maio e junho, respectivamente, para a Presidência da República e a
Assembleia Nacional.
A
delação da JBS agravou a crise atual ao atingir o presidente da República e
envolve-lo na Lava Jato ao lado de centenas de políticos do PMDB, PSDB, PT e
outros partidos. Várias fontes têm divulgado que políticos sob investigação,
com aliados inclusive na justiça, estariam manobrando, veladamente, para
neutralizar a Lava Jato. Se for verdade e se tiverem êxito, a Revolução
Brasileira morrerá no nascedouro, para desesperança e revolta de uma sociedade
que não mais acredita, nem confere legitimidade ao Executivo e ao Legislativo
para representa-la.
Assim,
as lideranças das instituições ainda confiáveis têm o dever cívico de se
posicionar. Algumas podem fazê-lo de forma pública e outras de forma reservada,
para conscientizar os Poderes da União sobre o momento crítico vivido pelo país
e as consequências fatais para a paz social e a coesão nacional se as
lideranças continuarem a legislar em prol de interesses escusos e sem
compromisso com o futuro da Pátria.
O Poder
Judiciário, além da autoridade legal, pela respeitabilidade da presidente do
STF, tem autoridade moral para dissuadir manobras ilegítimas no sentido de
deter a Lava Jato.
Em um
impasse institucional, havendo falência de autoridade dos demais Poderes, como
o STF é um Poder Constitucional, o artigo 142 da Carta Magna determina que seja
garantido pelas Forças Armadas, cujas prioridades são, na atual crise política,
a legalidade, a estabilidade e a legitimidade.
Luiz Eduardo da Rocha
Paiva
General
de Divisão na reserva.
A Verdade Sufocada