Mario Sabino
Li com curiosidade a notícia de que
um funcionário público faltava ao trabalho durante seis anos e ninguém dava
conta.
Não, não foi no Brasil. O sujeito
era funcionário público da cidade espanhola de Cádiz. O mais interessante é que
sua ausência só teria sido notada porque seria beneficiário de uma honraria e,
naturalmente, não compareceu: um prêmio por conta do tempo de serviço prestado!
Punido, foi multado em 27 mil euros,
valor equivalente a R$ 120 mil. O “sumiço” foi descoberto em 2010, mas somente
neste ano a Justiça da Espanha o puniu. Coisas da rapidez ibérica que
conhecemos bem.
Realmente o caso é
interessantíssimo. O acusado, no entanto, está aposentado há um ano e negou que
a ausência tenha ocorrido. Chama-se Joaquin García e diz, na maior desfaçatez,
que até chegava a frequentar o escritório, mas nos dias que aparecia, não
cumpria o turno completo e, enquanto estava lá, preferia ler sobre filosofia,
já que não havia o que fazer no local.
O caso não me saiu da cabeça desde
que li. Recorri ao meu Tio Barnabé e eis que, nos seus escritos, encontrei uma
digressão sobre caso semelhante!
Aí está:
Ninguém notou que um barnabé
brasiliense permaneceu mais de cinco anos sem trabalhar. Numa dessas mudanças
de administração, um desavisado percebeu a travessura do funcionário e resolveu
convocá-lo a explicar-se. O funcionário saiu-se com a desculpa de que tinha
mais o que fazer, como ler clássicos da literatura e também da filosofia.
Pensei o que Machado de Assis poderia escrever a respeito e me diverti muito
com a ideia de um conto machadiano. Que filosofias leria nosso Joaquin García?
Algum tratado hedonista? Gaston Bachelard e suas divagações sobre as ninfeias
de Monet? Quem sabe algo mais vigoroso...sim...Ele deveria passar parte de suas
tardes no escritório a ler Crepúsculo dos ídolos, a penúltima obra de
Nietzsche, escrita em 1888, pouco antes de o filósofo perder a razão. García,
assim como o alemão, deveria querer destruir todos os "ídolos": a
moral cristã, os grandes equívocos da filosofia, as ideias e tendências modernas
e também, de quebra, a assiduidade no trabalho!
Mas o que esse barnabé brasiliense
fez foi coisa de amador. Nos meus muitos anos de serviço público, conheço
audácia muito maior e recorrente: o servidor público que comparece ao trabalho
e ninguém nota. É um barnabé de pantufas, aquele que chega ao trabalho e
ninguém sequer ouve seus passos ligeiros. Após percutir o relógio de ponto,
executa minucioso ritual que deve ter sido aperfeiçoado durante anos: senta-se
e esconde-se atrás do monitor de seu computador e cumpre a jornada do
expediente! O ritual, frise-se, é escrupuloso. Gasta-se primeiro algumas horas
com os extratos bancários, outras com a checagem de e-mails pessoais e alguns
poucos profissionais. Lê com atenção todas as notícias dos Portais, acessa as
suas redes sociais (sempre tem um jeito de driblar o firewall da organização)
e, reconciliado com seus ideais de funcionário público, despede-se, com
cortesia, dos seus semelhantes -- e vai embora.
O barnabé de pantufas, tal como um
jogador de futebol acomodado, aquele que não se desvencilha de forma alguma de
seu marcador, não pede a bola. O barnabé com pisada delicada busca o anonimato
e o silêncio de sua baia de trabalho. Odeia ser percebido, pois pode ser alvo
de alguma tarefa. Portanto, esmerou-se na arte de ser quase imperceptível.
Discute-se como faz suas necessidades durante o trabalho. Talvez, uma teoria, o
espécime seja portador de asfixiantes constipações e possua aquele famoso
“avaro ventre”.
Conheci muitos assim. Quando se
aposentam são motivo de reiterados elogios e comendas. Passaram pela
organização e não criaram problemas nenhum. Nunca discutiram, polemizaram ou
intrigaram. Leves e impolutos, cumpriram suas exaustivas e lancinantes jornadas
babando nos teclados e observando atentamente o relógio da repartição. O sono e
o torpor fizeram com que os cruciantes relógios derretessem. Pronto, Salvador
Dalí, de modo oblíquo, viu tudo antes em “A persistência da memória”.
O torpor derrete os cruciantes
relógios
O Antagonista
Comentário do blog: Meu falecido sogro, funcionário público,
contava esta:
“Um leão fugiu do circo e se escondeu numa repartição pública. Para se alimentar, comia um funcionário por dia. Dois meses depois, comeu a mulher que servia o cafezinho. Só aí foi descoberto e preso.”
Pois é. E são estáveis. Só saem na horizontal, com os pés juntos. São 11 milhões por este Brasil a fora. Se o leão comesse a metade, 5,5 milhões, ninguém notaria.
“Um leão fugiu do circo e se escondeu numa repartição pública. Para se alimentar, comia um funcionário por dia. Dois meses depois, comeu a mulher que servia o cafezinho. Só aí foi descoberto e preso.”
Pois é. E são estáveis. Só saem na horizontal, com os pés juntos. São 11 milhões por este Brasil a fora. Se o leão comesse a metade, 5,5 milhões, ninguém notaria.
Só no desgoverno do PT e base enlameada,
incompetentes, corruptos e desonestos,
foram desviados dos cofres públicos para pagar essa tropa de inúteis, R$ 3,38 trilhões.
Como diz a Rainha da Mandioca: - "O que podíamos
fazer pela diminuição dos gastos públicos, já fizemos(???). Agora, só aumentando
impostos".
Não fica vermelha porque já é vermelha.(MBF).
Não fica vermelha porque já é vermelha.(MBF).
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