Renato Sant'Ana
Não sei por que a
informação não ganhou maior destaque. Em recente depoimento na Lava-Jato, o
empresário Fernando Moura - que foi preso em agosto de 2015 e logo solto por
aderir à COLABORAÇÃO PREMIADA - repetiu o que dissera ainda no ano passado: o
governo Lula começou distribuindo um fantástico número de cargos de confiança
(os famigerados CCs). Mas o assunto morreu em meio a revelações intrigantes.
Associado ao PT há
mais de 30 anos, Moura teve participação ativa na INSTALAÇÃO DO primeiro
mandato de Lula. Segundo disse, naquele início de 2003 ele estava empenhado com
o secretário do PT, Silvio Pereira, na tarefa de indicar nomes para escalões
importantes das estatais e ministérios. Foi nesse ponto que trouxe à baila o
assunto: declarou perante o juiz Sergio Moro que "no computador do PT
tinha uma lista de 32 mil cargos de confiança". E informou ter ajudado a
fazer o que chamou de "seleção partidária". Acrescentou: "Eu
ajudei. Quem estava desenvolvendo isso era o Silvio e o Delúbio (Soares,
ex-tesoureiro do PT). Teve reunião no final de novembro (de 2002), foi numa
área social do Banco do Brasil em Brasília, ficava lá a equipe do PT, o Silvio,
o Delúbio".
É sabido que o
lulo-petismo - aproveitando-se do modelo de Estado que temos - abusa do número
de CCs (cargos ocupados em razão de vínculo partidário). Mas o exorbitante
número de CCs do governo federal, estimado por aqueles que analisam o assunto,
andaria entre 23 e 25 mil. Está visto agora que pode ser bem maior!
O estratagema serve
para que, do primeiro ao último dia do mandato, o governo petista disponha de
militantes trabalhando em tempo integral pela manutenção do poder (pagos com
dinheiro do contribuinte, é claro) - mecanismo de perpetuação.
Ademais, esses
milhares de CCs constituem uma elite burocrática - que, obviamente, faz
militância para manter seus privilégios. Assemelha-se à
"nomenclatura" soviética, aquela casta de burocratas que dava
sustentação ao regime totalitário regido por Moscou. Saliente-se que, quanto
mais tempo permaneça o PT no governo, maior será o número de cargos
distribuídos, maiores os privilégios, e mais essa elite se assemelhará à
"nomenclatura" soviética.
Pequeno acréscimo
O socialismo
caracteriza-se pela existência de uma elite burocrática, um imenso aparato de
servidores públicos, gente quase sempre escolhida por sua
"fidelidade" ao regime. E logo abaixo dessa casta de privilegiados
está um imenso contingente de servidores - igualmente estatizados -,
trabalhando nas empresas estatais e nos escalões menores do serviço público,
sem perspectiva de melhorar, de ascender, de crescer, ou seja, sem chance de
mudança. Aliás, diferente da pregação partidária, o lugar de cada um numa
sociedade sob o regime socialista tem, em regra, um caráter de permanência - é
imutável.
Conclusão
Não basta o Brasil
livrar-se do petismo. É preciso reformar o Estado. Em palavras desprovidas de
elegância: não basta afastar as moscas, é necessário limpar a sujeira. O
problema é que o brasileiro vem sofrendo uma lavagem cerebral há pelo menos
nove décadas - portanto não iniciada, embora intensificada pelo PT. É uma
sistemática pregação contra os valores, uma espécie de "evangelização
sem Deus", daí resultando obscurantismo e vulnerabilidade moral. Assim
corremos o risco de, mandando o PT embora, entregar o rumo do país ao
neopetismo.
Em síntese, estamos
atrasados quando já deveríamos ter compreendido o principal, isto é, que
carecemos de estabelecer mudanças profundas no Estado, inclusive instituindo
mecanismos que impeçam abusos como os atuais.
Renato Sant'Ana é
Psicólogo e Bacharel em Direito.
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