Editorial
Da mesma
cidade onde o Cristianismo conheceu tantos testemunhos de fé, através do
martírio, nos primeiros séculos, vêm as pegadas daquele que deu cumprimento à
promessa de Jesus, quanto aoConsolador, de que este, em vindo à Terra, não
somente Lhe recordaria as lições, como também esclareceria, confortaria e
conduziria o ser através dos tempos…[1]
Elas
começam a aparecer, nas estradas na Terra, com o registro de nascimento de
Hippolyte Léon Denizard Rivail, no dia 3 de outubro de 1804, em Lyon, França,
na rue Salle, 74.
O
registro informa que seu pai morava em Bourg de l’Ain [Bourg en Bresse]
e atualmente em Paris, enquanto que sua mãe se encontrava em
Lyon, rue Salle, 74, onde funcionava um estabelecimento de águas minerais
reconstituídas, sob a direção de Syriaque Frédéric Dittmar. [2]
Segundo o Manual
sobre as Águas Minerais Reconstituídas, publicado por J. M. Caillau, em
Bordeaux, em 1810 (p. 63), foi impresso em Lyon em 1804, um resumo sobre esse
estabelecimento, de acordo com o método de Nicolas Paul, de Genebra. Esse
resumo apresentava um painel das principais curas ali realizadas.
Na época,
atribuía-se a essas águas minerais virtudes curativas para numerosas doenças,
inclusive na ajuda às mulheres que tinham dificuldades durante a gravidez.
Encontra-se notadamente nesse resumo uma menção ao Dr. Rodamel, citado no
registro de nascimento de Rivail.
Assim,
nos primeiros anos seguintes, essas pegadas marcam as ruas de Bourg de
L’Ain (ou Bourg-en-Bresse), distantes cerca de 60km de Lyon, onde residia a
família Rivail (na Revista Espírita de julho de 1862, no artigo Os
milhões do sr. Allan Kardec, este é quem afirma: Jamais morei em
Lyon), para, em 1815, quando o construtor dos tempos novos,
então com dez para onze anos, caminha em Yverdon-les-Bains, Suíça,
acompanhando pari passu o notável Johann Heinrich Pestalozzi,
em seu Instituto, ali obtendo as bases da sua formação de educador e cidadão
universal.
Quando
começou o ano de 1823, identificamos as pegadas em Paris, com residência na rue
La Harpe, 117.
Nas
próximas décadas, encontramos as pegadas de Hippolyte Léon Denizard Rivail
passando por editoras (em acompanhamento aos diversos livros escritos) e por
institutos sempre voltados à educação, preparando as mentes para os futuros
dias da Humanidade.
Paris, a cidade
luz, fervilhava tanto pelas turbulências políticas e econômicas de então,
bem como pela revolução silenciosa da cultura, da ciência, das artes e demais
áreas do pensamento humano, que vinha sendo implementada por mentes luminares
dos pensadores que repetiam o pensamento de Voltaire, Condorcet, Montesquieu…
os pré-revolucionários.
No campo
cultural, os fenômenos insólitos, que se iniciaram em Hydesville, em 1848, e
imigraram para a Europa, eram assunto predominante nos salões parisienses da
moda. Eram informações em torno da imortalidade e do amor sob nova ótica, que as
mesas girantes traziam, provocando curiosidade e estranheza.
Depois de
três anteriores convites para conhecê-las, sem o entusiasmo dos ingênuos nem o
ceticismo dos presunçosos, assumindo postura racional que sempre definiu os
rumos de sua existência, identificam-se suas pegadas, na noite de terça-feira,
8 de maio de 1855, quando ele compareceu na residência da Sra. Plainemaison,
à rue Grange-Batelière, 18, onde deram-se fatos que, segundo
o próprio Prof. Rivail afirmaria mais tarde: Presenciei o fenômeno das
mesas que giravam, saltavam e corriam em condições tais que não deixavam lugar
para qualquer dúvida. [3]
E
continua: Minhas ideias estavam longe de precisar-se, mas havia ali um
fato que necessariamente decorria de uma causa. Eu entrevia, naquelas aparentes
futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de
sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim estudar a fundo.3
Iniciava-se
o messianato. Meticuloso, sério, sensato, incansável, estudou a fundo o
fenômeno. Suas pegadas físicas e intelectuais perseguem rumo certo pelos mais
variados caminhos.
Logo
mais, na agradável manhã do sábado primaveril, 18 de abril de 1857, na vitrine
da Galerie d’Orléans, no Palays Royal, o Sr. Dentu põe
em destaque o livro de Allan Kardec – O livro dos Espíritos -,
pseudônimo adotado pelo eminente Rivail, que, como desbravador do
continente da alma, dava início ali à Era da Imortalidade.
Os mortos
voltam, as vozes falam. O mensageiro da luz reacende a esperança. Jesus
revivifica o amor puro para os homens.
O abade
de Leçanu, que representa a nobreza intelectual do Clero livre, fascina-se com
“O livro dos Espíritos” e afirma que ele contém o de quanto é necessário para,
posto em prática, conduzir “qualquer criatura ao Céu”.[4]
Materializava-se,
em forma de livro, a mensagem portadora da luz e da consolação para a
Humanidade inteira.
Cumprem-se
as promessas de Jesus.
O
Paracleto chega, consola e fica; a fé esclarece-se, perdura e guia; a filosofia
explica, orienta e ilumina; a Ciência afirma a Crença e o conhecimento apoia-se
na fé, em termos exatos e reais.5
Foram
longos e profícuos os anos seguintes, apesar de exaustivos pelo gigantesco
trabalho, e combativos, diante da maldade de muitos, da deserção dos fracos e
evasivos, mas suas pegadas trilharam os caminhos da perfeita realização da
missão, até o momento da sua desencarnação, em 31 de março de 1869, tendo
construído a monolítica Doutrina Espírita que, além do livro-síntese, vem
composta pelos demais livros:O livro dos médiuns, O evangelho segundo o Espiritismo,
O Céu e o Inferno e a Gênese, sem deixar de registrar a
espetacular Revista Espírita.
________________________________________________________
[1] FRANCO, Divaldo Pereira. Enfoques espíritas.
Pelo Espírito Vianna de Carvalho. Salvador: LEAL, 1980. cap.40.
[2] http://www.spiritisme.net/index.php/charles-kempf–recherche-historique-sur-les-parents-dhippolyte-leon-denizard-rivail-allan-kardec
[3] KARDEC, Allan. Obras póstumas. Rio
de Janeiro: FEB, 1966. cap. A minha primeira iniciação no Espiritismo.
[4] FRANCO, Divaldo. Enfoques espíritas.
Vianna de Carvalho, Salvador: LEAL,1980. cap. 1.
5 Op. cit.
Mundo Espírita
Federação
Espírita do Paraná
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