terça-feira, 31 de março de 2015

Agora, só falta a Câmara querer um Parque de Diversões…

por Carlos Newton

É inacreditável, inaceitável e inviável a iniciativa da Câmara dos Deputados, que pretende construir mais três prédios e uma área de lazer e serviços, com orçamento de R$ 1 bilhão, incluindo lojas, restaurantes e tudo o mais, além de uma garagem subterrânea, para ocupar um gigantesco espaço de 332 mil metros quadrados.
O edital de consulta à iniciativa privada sobre interesse em construir os novos prédios já foi publicado no site da Câmara dos Deputados, com nome de Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI).
Chamado de anexo IV-B, um dos prédios previstos irá abrigar um auditório para 700 pessoas, que poderá funcionar como plenário alternativo. Além disso, outros auditórios de menor capacidade e salas de reunião voltadas para o uso dos parlamentares estão previstas. Mas para que tudo isso? A Câmara já tem o auditório Ulysses Guimarães, de bom tamanho, e cada Comissão Técnica tem seu próprio salão de reuniões, e alguns são enormes, como o da Comissão de Relações Exteriores. Além disso, existe no Senado o imenso auditório Petrônio Portela, com 500 confortáveis poltronas, equipamento de tradução simultânea e tudo o mais.

PROJETO NÃO É NOVO
O anexo IV-D será um edifício de 10 andares na superfície e três no subsolo, com 256 gabinetes parlamentares de 60 m² cada. O terceiro edifício, chamado de anexo IV-D, abrigará “órgãos” da Câmara e garagens para funcionários. A área de lazer, chamada no edital de “praça de serviços”, terá restaurantes, cafés, lojas e “áreas de convivência”. As garagens dos três prédios, juntas, conterão 4.400 vagas cobertas.
Para sair do papel, o projeto terá de ser desenvolvido por meio de Parceria Público-Provada (PPP), ou seja, os serviços seriam explorados por meio de concessão a uma empresa, em contrapartida, para recuperar o valor investido.
Este obra megalomaníaca e abusiva não é da atual gestão. Foi desenvolvida durante a presidência de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que acaba de ser agraciado com o cargo de ministro do Turismo. Mas se tornou mais uma mancada do atual presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que deveria simplesmente ter arquivado o projeto.

OBRA NECESSÁRIA?
A justificativa é de que a ampliação é totalmente necessária, em função do gigantismo da Câmara, cujos funcionários não têm vagas para estacionar. Afinal, são mais de 15 mil servidores permanentes ou temporários na folha de pagamento e o Senado tem outros 9 mil funcionários, perfazendo 24 mil pessoas.
O que se espera dos políticos é que caiam em si e entendam que o poder público precisa economizar em custeio para poder investir. Mas quem se interessa? No Congresso há o exemplo do senador José Antônio Reguffe (PDT-DF), que reduziu de 55 para 12 a quantidade de assessores, abriu mão de 100% da verba indenizatória e da cota de atividade parlamentar. O impacto dessas duas medidas gera uma economia de quase R$ 17 milhões, isso sem contabilizar economias indiretas com custos de férias e encargos sociais de servidores que deixou de contratar.  O senador recusou ainda carro oficial, consequentemente economizará com combustível e manutenção. E foi além, abrindo mão de plano de saúde que garantiria acesso a tratamentos médicos e odontológicos tanto dele (senador) quanto de toda família. E mais que isso, preferiu contribuir com o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) do que ter direito à aposentadoria especial de parlamentar.

MUJICA, OUTRO EXEMPLO
Outro exemplo é o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, que mostrou ao mundo a possibilidade de exercer o poder com simplicidade e ostentação. Sempre que o elogiamos, muitos comentaristas protestam, criticando Mujica por ser esquerdista. Mas não é este o caso, o que se discute é o poder público ser exercido ostensivamente, como ocorre no Brasil, cuja governanta se hospeda no exterior em hotéis de altíssimo luxo e frequenta os mais caros restaurantes com sua equipe, com tudo pago pelos cartões corporativos, cujos gastos são até secretos, vejam a que ponto vai a desfaçatez dessa gente.
Não devemos nos preocupar se Reguffe ou Mujica são do partido A ou B, se pertencem a esta ou aquela ideologia. O importante é o exemplo que nos dão, fazendo com que possamos cultivar um resquício de esperança, que dê algum sentido a nossas vidas neste país absurdo, onde predomina a falta de caráter, de ética e de espírito público nos três podres poderes da República, como diz Caetano Veloso.

Carlos Newton - editor da Tribuna da Internet

http://www.tribunadainternet.com.br/agora-so-falta-a-camara-querer-um-parque-de-diversoes/


segunda-feira, 30 de março de 2015

Reforma política? Que tal começar pelo fim dos políticos profissionais?

“Reforma política deve impedir que um político fique praticamente ‘dono’ de sua cadeira no Legislativo ou no Executivo, criando mandatos praticamente vitalícios. Afinal de contas, mandato não é ofício e muito menos uma espécie de cargo hereditário”

por Jorge Maranhão

Como todos sabem, as relações entre deputados e senadores com o governo federal não andam lá essas coisas. Principalmente depois das revelações da Operação Lava Jato, sobre o envolvimento de vários políticos em esquemas de desvios bilionários da Petrobras, é importante rever vários aspectos da legislação do nosso sistema político.

Um dos pontos importantes dessa reforma deve ser o de impedir que um político fique praticamente “dono” de sua cadeira no Legislativo ou no Executivo, criando mandatos praticamente vitalícios. Afinal de contas, mandato não é ofício e muito menos uma espécie de cargo hereditário.

Querem alguns exemplos? O senador Renan Calheiros, atual presidente do Senado, já está em seu terceiro mandato consecutivo. Antes, foi duas vezes deputado federal. Nisso, já está no Congresso há 32 anos, desde 1983. Na Câmara, destaque para o ex-presidente da Casa e atualmente sem mandato Henrique Eduardo Alves, com incríveis 11 mandatos consecutivos. Ou seja, 44 anos ininterruptos no centro do poder. Sem falar de um dos políticos mais longevos que tivemos, o atualmente aposentado José Sarney. Entre cargos de senador, governador e até presidente, ficou nada menos que 59 anos no poder. Impressionante.

Para coibir situações como essas, que deturpam a relação entre sociedade e seus representantes políticos, alguns grupos defendem a adoção de normas que restrinjam o período dos parlamentares no poder. Um deles é o Partido Novo, atualmente em processo de registro no Tribunal Superior Eleitoral. O futuro partido afirma que vetará aos seus filiados eleitos para o Poder Legislativo que se candidatem a mais de uma reeleição consecutiva para o mesmo cargo, para evitar o que chamam internamente de “carreirismo político”. Para eles, o importante é “motivar o cidadão a atuar na política com honestidade e visão de longo prazo“. Que sirva de exemplo para as outras agremiações políticas.

Já um jurista de São Paulo, Luiz Flávio Gomes, decidiu levar adiante duas propostas que limitam a reeleição em cargos no poder Legislativo e no Executivo. O seu “Movimento Fim do Político Profissional” defende nada menos que apenas um mandato possível para cargos do poder Executivo, ou seja, prefeito, governador e presidente. E no máximo dois mandatos para vereadores, deputados estaduais e federais, e senadores. Em resumo, o movimento defende que se proíba a reeleição para todos os cargos do Executivo e apenas uma reeleição no Legislativo. Na prática, proíbe o político profissional, aquele viciado em mais representar a si mesmo e a seus grupos de interesse do que a nós, cidadãos eleitores, que os elegem e pagam seus salários.

Com a crescente insatisfação da sociedade com os seus representantes políticos, vale a pena considerar e apoiar essas opções. Afinal, como já se diz por aí, a verdadeira reforma política nunca vai ser realizada pelos próprios políticos. É hora dos cidadãos atuantes “saírem às ruas” e apoiarem propostas que realmente possam transformar a atual cultura política no país.

Jorge Maranhão

Colunista Congresso em Foco

29/03/2015 10:00 

Comentário do blog: apoio toda iniciativa desta ordem, pois a questão é justamente esta: é a sociedade que tem que debater um novo contrato social. É tempo perdido deixar na mão dos políticos.

domingo, 29 de março de 2015

Reencarnação - algumas considerações iniciais

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A reencarnação não foi inventada pelo Espiritismo. Ela consta dos princípios de diversas religiões, desde a mais remota antiguidade. Ela está implícita ou explicitamente contida na Bíblia. 

Se raciocinarmos, não poderemos negar a reencarnação, até mesmo por um princípio de justiça Divina. O Pai , em sua imensa sabedoria e amor, criou-nos todos iguais e nos deu a mesma oportunidade de crescimento e de decisão quanto aos nossos atos- o livre arbítrio.

Se assim não fosse, teríamos que considerar que Deus é parcial, injusto, intolerante e por demais severo. Teria Ele dado a uns todas as benesses de inteligência, corpos perfeitos e saudáveis, nascimento em ricos berços; enquanto a outros teria  imposto a idiotia, defeitos físicos, nascimento em lares paupérrimos.  Estaria Deus, então estabelecendo em sua Criação o princípio da desigualdade e  em não havendo reencarnação, aqueles privilegiados teriam recebido um prêmio enquanto os outros teriam sido castigados sem motivo aparente.

A reencarnação ou a pluralidade das existências é necessária ao nosso aprimoramento e seria insensato acreditarmos que apenas uma existência  terrena seria o suficiente para ganharmos o Paraíso ou merecermos o Inferno eternos.  

As múltiplas experiências pelas quais passamos, nos permitem o aprimoramento necessário à  nossa evolução espiritual, a correção e ou reparação dos erros cometidos; enfim, a oportunidade de aprendermos a amar sem limites aos nossos semelhantes, a praticar a caridade e a solidariedade, a perdoar a quem quer que nos tenha ofendido, como Jesus ensinou no  "Pai Nosso".

Enfim, não podemos acreditar  que, após milênios, haja a ressurreição dos corpos  materiais  para unirem-se às  respectivas almas no Juízo Final.  O que ocorrerá sim, será o  nosso ressurgimento como um corpo glorioso, espiritual, como afirmou Paulo de Tarso em epístola aos Coríntios. 



"O Concílio de Constantinopla - 553 D.C."
Vivaldo J. de Araújo

Até meados do século VI, todo o Cristianismo aceitava a Reencarnação que a cultura religiosa oriental já proclamava, milênios antes da era cristã, como fato incontestável, norteador dos princípios da Justiça Divina, que sempre dá oportunidade ao homem para rever seus erros e recomeçar o trabalho de sua regeneração, em nova existência.

Aconteceu, porém, que o segundo Concílio de Constantinopla, atual Istambul, na Turquia, em decisão política, para atender exigências do Império Bizantino, resolveu abolir tal convicção, cientificamente justificada, substituindo-a pela ressurreição, que contraria todos os princípios da ciência, pois admite a volta do ser, por ocasião de um suposto juízo final, no mesmo corpo já desintegrado em todos os seus elementos constitutivos.

Teodora, esposa do famoso Imperador Justiniano, escravocrata desumana e muito preconceituosa, temia retornar ao mundo, na pele de uma escrava negra e, por isso, desencadeou uma forte pressão sobre o papa da época, Virgílio, que subira ao poder através da criminosa intervenção do general Belisário, para quem os desejos de Teodora eram lei.

E assim, o Concílio realizado em Constantinopla, no ano de 553 D.C, resolveu rejeitar todo o pensamento de Orígenes de Alexandria, um dos maiores Teólogos que a Humanidade tem conhecimento. As decisões do Concílio condenaram, inclusive, a reencarnação admitida pelo próprio Cristo, em várias passagens do Evangelho, sobretudo quando identificou em João Batista o Espírito do profeta Elias, falecido séculos antes, e que deveria voltar como precursor do Messias ( Mateus 11:14 e Malaquias 4:5 ).

Agindo dessa maneira, como se fosse soberana em suas decisões, a assembléia dos bispos, reunidos no Segundo Concílio de Constantinopla, houve por bem afirmar que reencarnação não existe, tal como aconteceu na reunião dos vagalumes, conforme narração do ilustre filósofo e pensador cristão, Huberto Rohden, em seu livro " Alegorias ", segundo a qual, os pirilampos aclamaram a seguinte sentença, ditada por seu Chefe D. Sapiêncio, em suntuoso trono dentro da mata, na calada da noite: " Não há nada mais luminoso que nossos faróis, por isso não passa de mentira essa história da existência do Sol, inventada pelos que pretendem diminuir o nosso valor fosforescente ".
 
 E os vagalumes dizendo amém, amém, ao supremo chefe, continuaram a vagar nas trevas, com suas luzinhas mortiças e talvez pensando - " se havia a tal coisa chamada Sol, deve agora ter morrido ". É o que deve ter acontecido com Teodora: ao invés de fazer sua reforma íntima e praticar o bem para merecer um melhor destino no futuro, preferiu continuar na ilusão de se poder fugir da verdade, só porque esta fora contestada pelos deuses do Olimpo, reunidos em majestoso conclave.

From: Amália Clélia Kloppe,através de email de Elio Mollo

sábado, 28 de março de 2015

Da importância de se fazer uma CPI da Petros e demais fundos de pensão


por Sérgio Salgado

Caros Senadores: Não é mais do desconhecimento de ninguém o que está ocorrendo com os Fundos de Pensão de Previdência Complementar, alguns deles já com déficit declarado, fruto da má gestão com evidente intencionalidade em prejuízo dos seus participantes e, ao final, do próprio cidadão comum face a possíveis necessidades de aporte por parte das suas patrocinadoras, todas estatais.

Em junho de 2011 a presidente Dilma demitiu o seu ministro Antônio Palloci após uma série de denúncias trazidas a público pela revista Veja. Nesse momento eu estava encerrando minha gestão como suplente do conselho fiscal da Petros. A denúncia envolvia comissão e possível enriquecimento ilícito do ex-ministro em intermediação de negócios e acusava claramente seu envolvimento em negócios da fundação Petros, com a construtora Camargo Correa (que, segundo a revista, acabou doando R$8,5 milhões à campanha presidencial em 2010) que envolveram o equivalente a 1/3 dos ativos da entidade, perto de R$20 bilhões, resultado de troca de títulos com o Tesouro Nacional (esticando os vencimentos da dívida do governo às custas dos participantes do fundo), venda com prejuízo de R$16 milhões, de parte desses títulos (foram vendidos perto de R$2,6 bilhões) e compra de ações sem liquidez de posse da Camargo Correa, ações ITSA3, em leilão que até hoje vem nos dando prejuízos sérios e IRRECUPERÁVEIS.

As ações, ilíquidas, foram compradas com ágio, em leilão em que só havia a Petros como potencial compradora de um lote de 193 milhões de ações, portanto uma operação ilógica que deveria exigir deságio, jamais pagar ágio. O presidente da Petros naquele momento era o Sr. Wágner Pinheiro que, no dia seguinte à operação ocorrida em 30/12/2010, assumiu a presidência dos Correios, patrocinadora da fundação Postalis que está com um déficit equivalente ao seu próprio patrimônio e que tem entre seus negócios a aplicação em fundos das dívidas da Venezuela e da Argentina.

Esse “negócio”, na Petros, não passou pelo seu Conselho Fiscal que só tomou conhecimento a posteriori, e foi aprovado pelo Conselho Deliberativo da Fundação Petros, que estava naquele momento sob a presidência do sindicalista Wílson Santarosa, recém demitido pelo atual presidente Bendine da Petrobrás do cargo de gerente institucional da patrocinadora Petrobrás.

Com a denúncia da revista, o participante Domingos de Saboya assustado, mas curioso sobre o prejuízo causado, começou a analisar esse negócio produzindo sobre ele um arrazoado consistente, baseado totalmente em documentos da própria operação que, denunciado, infelizmente não teve até agora qualquer análise profunda dos órgãos que deveriam proteger os participantes das fundações de previdência complementar, a PREVIC (dominada também por sindicalistas e a mando das fundações) e a CVM (mais preocupada com o mercado do que com as operações que lá ocorrem).

Porém, a partir daí, formou-se um grupo maior que se especializou na análise das operações financeiras da Petros, e foi se aprofundando e enxergando que diversas dessas operações que ocorriam na fundação Petros, eram causadoras, umas, de danos irreparáveis e outras de prejuízos incalculáveis, possíveis até de reverter no tempo mas que não podem ser praticados por entidades que atendem ao pagamento de benefícios de pessoas idosas e que para isso tem que manter fluxo de caixa permanente.

Estão incluídos nesses “investimentos” ruinosos ativos empatados em SETE BRASIL, NORTE ENERGIA, LUPATECH, BVA, CRUZEIRO DO SUL, GRUPO GALILEO, CELPA, CEBEL (USINA DE APERTADINHO que desmoronou em Rondônia), BANCOOP, BANCO MORADA, BANCO SANTOS, RIVIERA COUNTRY CLUB. São mais de 70 investimentos, já denunciados por nós e também pelos conselheiros junto à PREVIC que senta em cima das nossas denúncias sem fazer qualquer investigação mais profunda, dando somente respostas protocolares.

Mais grave em tudo isso, as demais fundações, POR PURA COINCIDÊNCIA, também estão, associadas com a Petros, em vários desses investimentos, o que indica claramente que há um dedo indicador e manipulador que obriga seus dirigentes a investir dinheiro onde interessa a esse alguém. O participante, esse, não tem a menor chance, pois não tem qualquer forma de dizer não. Sequer poderá dizer não a participar obrigatoriamente da repartição desse prejuízo, como agora acontece no Postalis e que está sendo proposto para os participantes da Funcef e no próximo ano acontecerá conosco, da fundação Petros. A Previ, que vinha acusando superávits seguidos e, por conta deles, distribuindo bônus a seus participantes, além de cancelar a contribuição que todo aposentado ainda faz, também sofreu danos e, além de suspender os bônus, voltou a cobrar contribuição dos seus participantes.

Senhores senadores, o que está relatado acima é somente um resumo do prejuízo de mais de R$9 bilhões que ocorre com a Petros, extensível aos demais fundos, relatado em plenário pela Senadora Ana Amélia ao final de fevereiro de 2015.

Dessa forma, os participantes da Fundação Petros (e creio eu das demais fundações), aqui representados nesta solicitação, conta com a sensibilidade dos Senhores Senadores de forma a instalar uma CPI das Fundações de Previdência Complementar, no Senado Federal, para apurar tudo o que vem acontecendo com um ativo estimado em mais de R$400 bilhões, pertencentes aos participantes dessas fundações.

Há toda uma farta documentação a ser analisada, e uma enorme disposição de todos nós em participar ativamente, através de depoimentos que poderão ser dados diretamente ou mesmo por escrito de forma a subsidiar essa apuração, de tal forma que se possa fazer uma limpeza séria no comando das nossas entidades e que, a partir daí, elas possam trabalhar em benefício dos seus participantes sem causar danos ao próprio país.

Sérgio Salgado foi suplente do Conselho Fiscal da Petros, gestão 2007/2011.

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net


Comentário do blog:   é criminosa a atuação dos sindicalistas pelegos analfabetizados, postados (de poste) nos Fundos Previdenciários dos funcionários públicos, pelos donos do PT.
 

sexta-feira, 27 de março de 2015

Santa devoção a um covarde

por Aileda de Mattos Oliveira

Os aparentes sumiços de Lula, longe estão de serem atos de prudência política, em favor da Nação. Isto é próprio de perspicazes e operosos homens públicos, que sabem o momento de silenciar e o de interferir nas crises institucionais, para trazer soluções eficazes aos sérios problemas criados, justamente, pela inidoneidade de alguns.

Lula desaparece por preferir a surdina, as sombras das coxias, agindo em seu próprio benefício, vivendo a sua notória ociosidade nos conchavos, o que significa novos estragos ao País. Pensa em autopreservar-se aos olhos da camada sem luzes como ele, porém, sem a sua esperteza, sem a sua astúcia de finório que a faz crédula e devota do crápula.

Ao anúncio de um novo escândalo, é nas costas dos seus parceiros que se acoberta, mas ei-lo que surge, em desespero, ao sentir a derrocada do Lula mito, antes cultuado pelos que se deliciavam com a sua brega verborragia de etílico.

Se projetava o foco nas Forças Armadas, instituições cuja probidade está além de seu entendimento, agora cobre de pancada a classe média, que sustenta, enganchado ao pescoço, o governo que a espolia com o pesado volume de impostos. 
São elas o bode expiatório do rouquenho malandrão que tenta desviar o olhar do País do filho bastardo do Brasil.

Mesmo perito em canalhice, foi canhestro na escolha da parceira que viria a substituí-lo na presidência. Um monólito. Sem condições de entender as sutilezas políticas, a irascível mulher não consegue se afinar às regras do jogo, mesmo sendo “uma santa”, no dizer de Stédile.

As aparições do farsante ante a plateia com os mesmos áulicos a sublimarem com palmas as suas bravatas, ocorrem a cada vez que seu nome surge nos depoimentos dos “cumpaêro”, e que vão deixando pelo caminho peças com as quais o juiz federal Sérgio Moro vai completando o seu quebra-cabeça, na formação da imagem do capo. Aos berros, quer convencer os idiotas úteis e a si mesmo de que os rombos na Petrobras foram obra do povo “branquinho” da classe média “direitista” e “golpista”.

Ele (Moro) sabe de quem é a cara que está lá se formando, ébria, em primeiro plano, mas vai, como disse, “seguir o dinheiro” e, devagar, topará com o rei da gatunagem, que, mesmo escorregadio como enguia, não se livrará do destino que o espera.

Frouxo, viveu e vive de impostura, de traição, portanto, não é de se estranhar que, como saltimbanco no palco, na incontinência de suas palavras mal-ajambradas, libere o ‘general’ Stédile para pôr na rua o seu “exército” de mercenários. Sem dignidade, não assume os atos destruidores desses contingentes, seus comandados, executados nas estradas, causando vítimas, entre elas, criança. Escafedeu-se, novamente.

Apesar de sua reconhecida má reputação, há um acovardamento dos implicados nas vultosas propinas, até mesmo, da Polícia Federal, em colocá-lo na lista suja dos ilícitos. Uma santa devoção os impede de chamá-lo às falas e retirá-lo do seio político pelos danos que têm causado às instituições, ao povo, à Nação. Não prendê-lo, é que desmoraliza “a figura institucional da Presidência da República”, e não o contrário, como pregam alguns “cordiais” brasileiros.

A repugnância de sua desfaçatez faz a união cívica dos brasileiros conscientes, que desejam vê-lo, o quanto antes, no xadrez.

Dessa, não escapará!

Aileda de Mattos Oliveira é Dr.ª em Língua Portuguesa. Vice-Presidente da Academia Brasileira de Defesa).

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net

quinta-feira, 26 de março de 2015

As vítimas: trabalhadores e classe média

por Hélio Duque

A recente pesquisa do instituto Datafolha sobre o governo brasileiro retratou percepção da sociedade deveras inquietante. Chega a ser surrealista quando analisa as diferentes regiões. Consideram o governo federal “ruim e péssimo”: no sudeste, 66% dos pesquisados; no sul, 64%; no centro-oeste, 75%; no norte, 51%; e, no nordeste, 55%. O Datafolha, realizado em 28/29 de novembro de 2013, “ruim e péssimo” era de 22% no sudeste; 20% no sul; 17% no centro-oeste; 10% no norte; e, no nordeste 11%. No espaço tempo de 15 meses a “marola” da insatisfação com o governo Dilma Rousseff, transformou-se em gigante “tsunami” indonésica.

Na faixa da renda, aferida em salários mínimos, a situação não é diferente. Consideram o governo “ruim e péssimo” 60¨% dos brasileiros que ganham até 2 salários mínimos; entre 2 e 5 salários, 66%; na faixa de 5 a 10 s.m, 65%; e acima de 10 s.m., 65%. A harmonia dos números, em diferentes faixas de assalariados, comprova que a insatisfação da maioria da população não fica adstrita aos segmentos de maior renda.

A classe média, os trabalhadores e os mais pobres serão as grandes vítimas do desastre promovido pelo governo com a sua desastrada e irresponsável “nova matriz econômica”, jogando a economia brasileira no buraco que gerará o empobrecimento das famílias. O crescimento da inflação, o aumento do desemprego e o PIB (Produto Interno Bruto) estagnado teve no governo Dilma I, a sua matriz geradora. Agora, Dilma II, é a herdeira da funesta conjuntura.

A rigor, na última década e meia, ao estabilizar a economia, o Plano Real domesticou a inflação, permitindo aos brasileiros ter um horizonte econômico previsível. Foi o começo para a implantação de reformas estruturais, abandonadas nos governos Lula da Silva e Dilma Rousseff. A estabilidade e o aumento real dos salários possibilitaram ascensão da justiça social, colocando 40 milhões de pessoas no mercado. Infelizmente a desigualdade não diminuiu. A renda dos mais ricos cresceu na velocidade de fórmula 1. O Brasil tem 50% do seu PIB nas mãos de 10% da população.

Nossa distribuição de renda é selvagemente desigual e a política tributária é grande aliada por ser confiscadora da renda da maioria da sociedade. Observem um exemplo: no Imposto de Renda, o contribuinte que ganha mais de R$ 5.000 tem a alíquota de 27,5%. Quem ganha R$ 50.000 ou R$ 300.000, por mês, tem a mesma alíquota. O nosso sistema tributário iguala desiguais, da compra do supermercado ao consumo em geral. O sistema tributário é algoz de quem trabalha e produz. 

O Brasil vive uma realidade insustentável. Impeditiva da competitividade que precisa gerar riqueza e desenvolvimento para garantir trabalho e emprego. A sua redução se agravará pelo anemismo da economia brasileira nos anos próximos. Punindo, sobremaneira as pessoas da chamada baixa classe média, os 40 milhões que ascenderam a um nível melhor de qualidade vida nos últimos anos.

A percepção popular aferida pelo Datafolha demonstra que os brasileiros despertaram do sono ilusionista que a propaganda oficial sustentou mistificadoramente nos últimos anos. A renda e o emprego dos assalariados e trabalhadores em geral serão vitimados estruturalmente e terão presença angustiante no cotidiano dos brasileiros. A “incompetência vitoriosa”, alimentada pelo “marketing do engodo”, foi nocauteada pela verdade do dia a dia.

A ação devastadora que mergulhou o Brasil no atual cenário de retrocesso econômico teve sua origem na gastança pública descontrolada, nos favores fiscais e financeiros para setores específicos gerando inflação ascendente e deterioração das contas públicas. No setor público, em 2014, o déficit foi de R$ 343,9 bilhões, equivalendo a 6,7% do PIB. A arrogância e voluntarismo da presidente da República aliados à irresponsabilidade financeira produziram o buraco profundo que atingirá a vida dos brasileiros trabalhadores nos anos próximos. O preço está sendo cobrado e não se pode procurar “bodes expiatórios” para a incompetência falseadora da realidade.

Por fim, é oportuníssimo o lúcido pensamento do notável escritor latino americano e Prêmio Nobel, Mário Vargas Llosa: “A história recente está infestada de exemplos que demonstraram que todas as tentativas de criar artificialmente sociedades felizes – trazendo o paraíso à Terra – criaram verdadeiros infernos.”

Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira.

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net

quarta-feira, 25 de março de 2015

O rombo do fundo de pensão dos Correios não é problema nosso, mas de seus associados

Por Reinaldo Azevedo

Estão querendo transferir para o distinto público — você, eu e todo mundo — um rombo no Postalis que chega a R$ 5,6 bilhões. O que é o Postalis? O Fundo de Pensão dos funcionários dos Correios, cuja direção é dividida entre o PMDB e o PT. Os fundos de pensão das estatais são uma das fontes do real poder do petismo. Ali, o partido pintou e bordou nos últimos 20 anos, antes ainda de chegar ao poder.

Qual é o busílis? A direção dos Postalis resolveu fazer o óbvio para tentar sanar o rombo atuarial: cobrar o dinheiro dos associados. Afinal, se todos os investimentos feitos pelo órgão tivessem sido bem-sucedidos e rendido maravilhas, ninguém se lembraria de dividir com a gente os benefícios, certo? 

Segundo informa o Estadão, os associados ao Postalis podem ter de empenhar até 25% do seu salário para tentar tapar o buraco.

Eis que, então, entram em cena as organizações sindicais: sustentam que os funcionários dos Correios não têm de pagar coisa nenhuma e que é a estatal que deve arcar com o prejuízo. Como a empresa não fabrica dinheiro, a brincadeira consiste em assaltar o Tesouro.

A Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios. Telégrafos e Similares (Fentect) decidiu entrar nesta segunda com duas ações na Justiça: uma para cobrar uma suposta dívida da empresa com o Postalis, de R$ 1,350 bilhão. Outra para que a estatal assuma o espeto.

Tentei saber a que se refere a tal dívida. Não consegui. Quanto ao mais, dizer o quê? Onde estava a Fentect quando o Postalis investia em títulos da Argentina e da Venezuela, por exemplo? Era uma escolha de mercado ou pautada pela ideologia? O fundo investiu ainda em empresas de Eike Batista e nos bancos Cruzeiro do Sul e BVA, que quebraram e foram liquidados.

Tenho uma sugestão à Fentect: que entre com outra ação na Justiça para responsabilizar civil e criminalmente os ex-diretores e eventuais diretores do Postalis que fizeram negócios ruinosos. Um fundo de pensão, afinal, é um negócio privado, que diz respeito apenas aos associados, para o bem e para o mal. Só para constar: O Funcef (fundo dos funcionários da CEF) e o Petros (da Petrobras) também contabilizam perdas bilionárias. Imaginem se pega a moda de jogar a conta nas costas dos brasileiros.

Reinaldo Azevedo

23/03/2015
às 15:16

Colunista da Revista Veja on line


terça-feira, 24 de março de 2015

Desempenho de Dirceu prova que o PT mudou o Brasil: país, agora, é assaltado também pelas novas elites, não só pelas velhas

por Reinaldo Azevedo

Informação que veio a público neste fim de semana desenha de maneira clara, insofismável e sem retoques a fuça e a face do patrimonialismo à moda petista. Para conferir especial colorido ao retrato, a personagem central da tela é ninguém menos do que José Dirceu, aquele que foi apontado pelo Ministério Público Federal como chefe da quadrilha do mensalão — um crime pelo qual acabou não sendo condenado pelo Supremo, como se sabe.

Pois bem: Dirceu está de volta ao centro da narrativa. Na semana passada, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, tornou públicos os dados fornecidos pela Receita Federal sobre a JD Consultoria, a empresa do chefão petista. Sem nenhuma tradição na área, o empreendimento poderia figurar em qualquer lista de maiores e melhores, não é? O Zé conseguiu faturar R$ 29,2 milhões entre 2007 e 2013. Só em 2012, ano em que foi condenado, ganhou R$ 7 milhões; em 2013, ano em que ficou preso, R$ 4,2 milhões. Duvido que presidiário de qualquer outro ramo tenha ganhado tanto dinheiro em atividade lícita ou ilícita. Ele ainda acabará sendo acusado de concorrência desleal…

Segundo informou a Folha no domingo, o empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, confessou que o pagamento que fazia à “consultoria” de José Dirceu era descontado da comissão de 2% que pagava ao esquema criminoso, decorrente de seus contratos com a Petrobras. Outro representante da Camargo Corrêa afirmou que pagava pelos “serviços” do ex-ministro com receio de ser prejudicado nos negócios.

E chego, assim, então, ao ponto que me interessa. O que é o patrimonialismo senão a apropriação ilegal, promovida por uma elite perversa, do bem público, de sorte que os interesses privados, de uma minoria espoliadora, acabam se sobrepondo aos interesses coletivos? O que é o patrimonialismo senão a recusa dos valores republicanos e a negação, na prática, da democracia política?

Não! Isso não é novo por aqui. Há uma sólida literatura política sobre o tema em nosso país e sobre as várias feições que esse patrimonialismo pode assumir: nacionalismo fascistoide, populismo de direita, populismo de esquerda etc.

Em 2003, o assalto ao bem público para privilegiar uma casta ganhou uma nova feição. O patrimonialismo então se reciclava e expropriava, vejam a ousadia, também o discurso da reparação social. Isto mesmo: o modelo petista não assaltou apenas os cofres públicos. Roubou também o discurso da justiça social.

Sim, antes da chegada do PT ao poder, havia o coronelismo nordestino, ainda que com novo verniz. E continuou a existir depois do PT. Havia alguns nababos da indústria que se beneficiavam de protecionismos ou linhas especiais de crédito. Continuaram a existir depois do PT. Havia uns tantos medalhões do mercado financeiro que sempre souberam negociar o binômio estabilidade-títulos públicos. Continuaram a existir depois do PT.

O PT dito de esquerda soube negociar e compor com o velho patrimonialismo com impressionante destreza, mas tinha a sua própria agenda. Soube ser generoso com o velho sistema, mas começou a impor o novo patrimonialismo, que consiste em aquinhoar o aparelho partidário e suas franjas com, digamos, uma “taxa de sucesso”. É assim que a corrupção se generalizou e se tornou um método. É assim que empreiteiros — de perfil político certamente conservador — se tornaram os intermediários do assalto ao estado promovido por um partido que se diz de esquerda.

E como é que Dirceu entra nessa história? Tanto no velho como no novo patrimonialismo, há espaço para esquemas individualizados, não é? Que Dirceu fosse uma potência no ramo da consultoria, isso VEJA já havia evidenciado em agosto de 2011, quando revelou que, mesmo processado pelo STF, ele mantinha em Brasília uma espécie de governo paralelo.

O centro clandestino de poder ocupava um quarto no hotel Naoum. A revista informou, então, que, em apenas três dias, entre 6 e 8 de julho de 2011, o homem  recebeu uma penca de poderosos. Prestem atenção a alguns nomes da lista de notáveis que foram beijar a mão do Zé, com os cargos que exerciam então: Fernando Pimentel, ministro da Indústria e Comércio; José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras; e os senadores Walter Pinheiro (PT-BA); Lindbergh Farias (PT-RJ); Delcídio Amaral (PT-MS) e Eduardo Braga (PMDB-AM). Naquele ano, sua consultoria lhe rendeu R$ 4,7 milhões. No ano seguinte, no seu melhor, R$ 7 milhões.

O PT não prometeu mudar o Brasil? Mudou, ora essa! Antes, só as ditas elites tradicionais assaltavam o país. Com a chegada do partido ao poder, esse assalto passou a ser dividido com as novas elites.
 
Reinaldo Azevedo

23/03/2015
às 5:31

Colunista do site da revista Veja.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Como funciona a Gestapo Tupiniquim - I


Por Jorge Serrão 

Gestapo é o acrônimo do alemão "Geheime Staatspolizei". A famosa e temida Polícia Secreta do Estado de Adolf Hitler era administrada pela SS (Schutzstaffel) - que é a Tropa de Proteção. Quem cuidava da Gestapo e da SS era o Reichssicherheitshauptamt - o poderoso Escritório Central de Segurança do Reich. Assim se estruturava o aparato de repressão e intimidação estatal da Alemanha nazista. O Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores oprimia os cidadãos através deste sistema. A Gestapo espionava, reprimia, torturava, julgava e aplicava penas - como se fosse um tribunal da inquisição medieval.

Já o monstrengo que podemos chamar de "Gestapo Tupiniquim" funciona de maneira sistêmica, conforme a lógica organizacional do "Governo do Crime Institucionalizado". Reúne e até vai muito além daquilo que se pode chamar de "aparelhos repressivos do Estado". Nossa Gestapo não promove apenas violência formal. Exerce repressão psicológica. Promove intimidação "jurídica" através de órgãos e instrumentos legais ou normativos. O Capimunismo (capitalismo de Estado interventor com verniz de bem estar socializante) se caracteriza pelo abuso de poder e autoridade, através do regramento excessivo e burocrático, mais repressivo que educativo, junto com o cartorialismo, a corrupção e a tendência à cartelização.

Vamos desenhar, para facilitar a compreensão estrutural. A Gestapo de Bruzundanga é sofisticada e ampla. Não se restringe ao aparato repressivo-fiscalizador: Polícia Federal, Receita Federal, COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, Advocacia Geral da União, Controladoria Geral da União e Tribunal de Contas da União. Também conta com os tentáculos aparelhados do Ministério Público, do Judiciário em quando necessário, das Forças Armadas e auxiliares, além da Força Nacional de Segurança. O aparato de "inteligência" destes órgãos e da própria Agência Brasileira de Inteligência compõem a estrutura oficial. Estados e alguns municípios seguem a lógica da "gestapo", com seu aparato regulatório, fiscal e arrecadador. A gestapo brasiliana tem agentes nem sempre visíveis por todos os lados.

Como se fosse um ente que parece imaginário, porém é bem real, a "Tropa de Proteção" do Governo do Crime Institucionalizado tem eficácia intimidatória, repressiva e censora. Até porque consegue reunir absolutamente todas as informações acerca do cidadão ou da "pessoa jurídica" (empresa) que deseja transformar em "alvo" - geralmente de assimilação, neutralização ou destruição. Torna-se praticamente nula a chance de resistência a um sistema estruturalmente autoritário, mas que cinicamente vende a imagem de "democrático", já que autoproclama deter o monopólio da "legalidade" por centenas de milhares de leis e normas que enfiam goela abaixo de todos. Este ilegítimo sistema funciona a todo vapor contra quem for considerado "inimigo do Estado".


Para se melhor entender como funciona uma Gestapo em um estágio pré-totalitário, um arremedo democrático, vamos a conhecida República de Weimar (alemã, dos anos 30, antecessora do III Reich) com a nossa atual República da Mamar, onde a nazicomunopetralhada do Foro de São Paulo reina com o mito carismático em decadência, por trás de uma impopular "arremeda" de tirana. As duas são apenas muito parecidas. Nossa República Sindicalista Capimunista é um triste show à parte.

Na República de Weimar alemã, o líder em ascensão engoliu o parlamento. Tacou até fogo nele! Na República de Mamar, o líder descobriu que é mais fácil e lucrativo cooptar o Legislativo. Tocar fogo pra quê, se os eleitos preferem se purificar nas chamas dos mensalões ou outros clientelismos menos votados? E o chefão daqui ainda contou com a ajuda “constitucional” para reinar através de medidas provisórias. Eis o despotismo legitimado que a sucessora do qual a sucessora dele abusou, achando que podia seguir em frente sem alimentar o corrupto rebanho político. O resultado é que a vaca está tossindo...

Na República de Weimar, o Judiciário também foi conivente com o poder em ascensão. Ninguém segurou o infante Adolf Hitler. Na República de Mamar, onde a injustiça reina historicamente, o judiciário vai pelo mesmo caminho. A Segurança do Direito Natural (pressuposto da Democracia que nunca existiu por aqui) nunca esteve tão ameaçada. Até porque quem está no poder há quase 13 anos nunca ligou para a Constituição em vigor. Em 1988, o PT se recusou a assiná-la. Por isso, seus partidários não hesitam em assassiná-la. Agora, os delinquentes se armam para usar o esquema que aparelharam no judiciário para partir para cima dos inimigos e adversários. Aí entra a "Gestapo Tupiniquim" operando a milhões por hora.

Novamente, é bom desenhar com casos concretos. Comecemos pela elementar multa de trânsito - que seria um instrumento educativo, mas que a Gestapo Tupiniquim conseguiu deturpar. Apelemos ao raciocínio do Advogado Antônio Ribas Paiva: "Como o Estado existe para proteger as pessoas e não para praticar abusos contra elas, as penas e multas exageradas são inconstitucionais, colocando em risco a segurança do direito e a própria democracia, consubstanciando, até, o típico de abuso de autoridade. Os governantes, nos três níveis administrativos, amiúde estabelecem penas e multas abusivas, com o objetivo de exercer Controle Social (Ditadura) e arrecadar com multas e taxas, sob a desculpa hipócrita de proteger os cidadãos. Além disso, as receitas com multas de trânsito são extranumerárias, o que representa uma vantagem adicional aos governantes, por que não estão sujeitas à fiscalização dos Tribunais de Contas".

Vamos a outras ações práticas "gestapianas": 1) Subjuga-se o poder legislativo para que ele “legalize”, gradualmente, o fim do estado democrático de direito; 2) Através de alterações nas Leis, o Poder Judiciário se torna dependente ou subordinado do Poder Executivo, sendo que atos praticados por este último não podem ser apreciados pela “Justiça” do país. 3) Reforma-se a máquina pública, para que ela ganhe instituições repressoras, com plenos poderes para agir, não podendo ser os atos praticados por estas novas instituições questionáveis por nenhuma instancia do Judiciário; 4) Todos aqueles identificados como potenciais inimigos desta nova ordem, empresários, lideranças e personalidades públicas, IMPRENSA e JORNALISTAS, Magistrados, serão patrulhados, perseguidos e se possível eliminados.


O PT tem um projeto revolucionário que se confunde com o pragmatismo de enriquecer sua cúpula dirigente, parentes e aliados. Por isso, partirá para a ofensiva em quatro frentes. Na primeira, usando o aparato legal e de regramento administrativo do governo contra adversários políticos e econômicos. Na segunda, em alguns pontos uma consequência natural da primeira, acionará a parte do judiciário (incluindo o Ministério Público) que já aparelhou, para intimidar e triturar os adversários e inimigos com uma enxurrada de ações judiciais.

Na terceira, vai acionar o sistema privado e próprio de mídia (não visivelmente partidário) que está sendo fortemente ampliado, junto com os tais "soldados virtuais" - militantes fundamentalistas que atuam nas redes sociais. Na quarta, a guerra é tocada pelos "exércitos do Stédile" e afins que tem movimentos sociais e cooperativas de crédito solidário como fachadas. Grana não falta... Vem de onde? Vem da lavanderia da esquina ou do "Rei Sol" que a seca?

Todo esse aparato tem condições concretas de garantir o "Reich" nazicomunopetralhabolivariano por mais anos no poder, desde que as condições da economia consigam se estabilizar no médio e longo prazos. Tendo o PMDB como aliado, mesmo a contragosto, e a mídia devidamente enquadrada pela turma do comissário Ricardo Berzoini (através de uma "negociação de sobrevivência"), o PT tem todas as chances de continuar sua hegemonia - que hoje é abalada pela impopularidade e pela pressão do povo nas ruas. A máquina da Gestapo está nas mãos deles...

Vale repetir por 13 x 13: O perigo maior para o Brasil é que não há sinal concreto de uma verdadeira oposição programática ao atual modelo. As gritarias existem em segmentos econômicos consistentes, porém não se consegue formar uma aliança orgânica, taticamente bem financiada, para se contrapor ao sistema que o grupo hoje no poder vem montando há anos, e já sinaliza que vai ampliar, no curto prazo. Em resumo, a reação das forças opostas ainda é amadora e inconsistente em sua infraestrutura econômica e política para ter capacidade real de enfrentar o sistema nazicomunopetralhabolivariano.

Chega da República de Mamar! O Nacional Socialismo alemão (Nazismo) e o Fascismo italiano são velhos modelos de Capitalismo de Estado. São estes exemplos maravilhosos que a petralhada no poder resolveu copiar, adicionando sempre uma pitadinha de Stalinismo e cinismo bolchevique ao modelo. Heil, Lula Vargas da Silva! Aqui, os poderes prestidigitam. Os políticos corrompem e se desmoralizam. No entanto, enriquecem e isto viabiliza que continuem no círculo do poder.


Poucos percebem e denunciam tantos vícios sociais e falhas essenciais. Alguns enxergam um pedaço da conjuntura. Mas não compreendem como a estrutura ferra a sua vida. Mais preocupada com a sobrevivência que com a evolução institucional, a maioria prefere fazer vista grossa. Deixa a vida lhe levar... Assim, ficamos com um povo marcado, povo feliz, a caminho do abatedouro da História.

Adiantará reclamar no final das contas? Eis a dúvida cruel, porque a sina histórica costuma ser fatal. No máximo, os escravos se libertarão para cair nas garras de outro Senhor escalado pelo topo da cadeia do sistema para ser eleito pela maioria do povo. As pessoas comuns não têm proteção contra os abusos do poder praticados pelo Estado Moderno, que tem o monopólio da violência e opera como sócio majoritário da economia.

O objetivo central do sistema "gestapiano" é manter o ser humano tolhido do direito fundamental de ser cidadão. Tudo é feito em nome de uma suposta "ordem" definida pelo modelo autoritário. Para tal fim, são usadas as engrenagens das máquinas estatais. Em escala mais radical e totalitária, emprega-se a barbárie cruel e sangrenta. Tal agressão pode ser praticada pelo Estado, seus agentes ou por forças criminosas subterrâneas que for capaz de mobilizar. A violência tem um fim de hegemonia. Deixa de ser uma mera degeneração do comportamento humano.

O desafio para este povão que sai à rua aos milhões para protestar é: como neutralizar e acabar com a Gestapo Tupiniquim, sem ser engolida por ela, ao mesmo tempo em precisamos criar estruturas efetivas para proteger as pessoas da ação danosa do Estado, libertando-as de verdade.

O desafio é gigantesco, porém uma necessidade fundamental de quem deseja um Brasil livre, próspero, justo e divino para as pessoas de bem, que estudam, trabalham, produzem e sobrevivem.

Edição do Alerta Total www.alertatotal.net

domingo, 22 de março de 2015


sábado, 21 de março de 2015

Histórias quase esquecidas



"O dinheiro é uma coisa esquisita. Quem tem diz que não tem e quem não tem diz que tem" ( WOODY ALLEN, cineasta norte-americano )

por Carlos I. S. Azambuja

É interessante conhecer um pouco da história do apoio externo aos partidos, organizações e grupos de esquerda brasileiros. Diversos Estados constituídos, através dos anos, apoiaram a esquerda com dinheiro, treinamento político-ideológico e militar: União Soviética, Alemanha Oriental, Checoslováquia, Bulgária, China e Cuba. Sem dúvida, o apoio mais eficaz foi dado pela URSS, China e Cuba. 

União Soviética

Em 1922, cinco anos após a Revolução Bolchevique, foi fundado no Brasil o Partido Comunista do Brasil, Seção Brasileira da Internacional Comunista.
Em 1935, Prestes regressou da União Soviética acompanhado por Olga Benário - os dois nunca foram casados -, agente do Exército Vermelho e do Komintern, a fim de preparar aquilo que ficaria conhecido como Intentona Comunista. Para isso, um grupo de experts da Internacional Comunista foi deslocado para o Brasil.

A partir de 1953, o Partido Comunista da União Soviética passou a ministrar cursos, em Moscou, a militantes do PCB. Cursos de treinamento militar e condicionamento político-ideológico. O último desses cursos foi em 1990, quatro anos após terem sido implantadas por Gorbachev as políticas de perestroika e glasnost.

Cerca de 700 militantes foram treinados na Escola de Quadros, como era mais conhecido o Instituto de Marxismo-Leninismo do PC Soviético, e na Escola do Konsomol (Juventude do PCUS), em cursos cuja duração variava de 3 meses a 2 anos.

Cerca de 1.300 outros brasileiros concluíram cursos superiores na Universidade de Amizade dos Povos Patrice Lumumba e em outras universidades soviéticas, em cujo currículo sempre constou a matéria Marxismo-Leninismo. Até mesmo em cursos de balé. As matrículas naUAPPL sempre foram efetuadas através da Seção de Educação do Comitê Central do PCB e do Instituto Cultural Brasil-URSS, um apêndice do PCB.
Algumas dessas pessoas, no regresso ao Brasil, passaram a trabalhar em empresas estatais e, pelo menos um, formado em Medicina, como Oficial das Forças Armadas, nos anos 80. Filhos e parentes próximos de dirigentes encastelados na nomenklatura do partido constituíram a maioria desses 1.300 brasileiros, pois sempre foram privilegiados para estudar, gratuitamente, na pátria do socialismo e em países do Leste-Europeu. Inúmeros exemplos podem ser dados, de filhos de dirigentes aquinhoados com bolsas-de-estudo nesses países.

Tudo o que de relevante ocorreu no PC Soviético sempre influenciou diretamente o PCB: a desestalinização, de Kruschev, em 1956, e o fim do PCUS, em 1991, são exemplos marcantes dessa influência.

China

Ainda antes da Revolução de 31 de março de 1964, no governo do presidente João Goulart, um grupo de militantes do Partido Comunista do Brasil foi enviado à China, onde recebeu treinamento militar na Escola Militar de Pequim. Também um grupo de dirigentes da Ação Popular recebeu treinamento político-ideológico na China no início dos anos 70 (depoimento de Herbert José de Souza - "Betinho"- na época dirigente da AP, no livro "O Fio da Navalha" ). 

Os militantes do PC do B, no regresso, a partir de 1966, passaram a instalar-se em um ponto do Brasil Central, dando início à montagem daquilo que somente em 1972, os Órgãos de Segurança viriam a detectar: a Guerrilha do Araguaia, totalmente erradicada dois anos depois. Curiosamente o jornal Folha de São Paulo em reportagens publicadas nos dias 21 e 22 de novembro de 1968 já havia noticiado pormenorizadamente o assunto, dando os nomes dos militantes chegados da China e referindo-se à sua ida para o Brasil Central.

Alguns desses militantes relacionados pela Folha de São Paulo seriam mortos no Araguaia.

Em fins da década de 70, com a opção dos dirigentes chineses por uma economia socialista de mercado, descaracterizando o marxismo-leninismo, o PC do B passou a eleger a Albânia, o país mais atrasado da Europa, como o farol do socialismo mundial. A Albânia treinou guerrilheiros de vários países, inclusive do Brasil, segundo documentos do Partido do Trabalho da Albânia, que vieram a público após o desmantelamento do socialismo naquele país. A partir de então, o PC do B passou a estreitar suas relações políticas com a Coréia do Norte.

Cuba

O Estado cubano sempre exerceu marcante influência junto à esquerda brasileira. Desde antes da Revolução de Março de 1964.
Francisco Julião, o criador das Ligas Camponesas, esteve em Cuba em 1961 e, no regresso, mandou um grupo de militantes àquele país para receber treinamento militar, e fundou o Movimento Revolucionário Tiradentes, que teve uma existência efêmera.

Nesse sentido, recorde-se o objetivo da OLAS-Organização Latino-Americana de Solidariedade, criada em Havana, em 1966: "Coordenar e promover eficientemente a solidariedade que existe e deverá continuar existindo entre os movimentos e organizações em luta, em seus respectivos países, pela libertação nacional (...) conseguindo a unidade entre aqueles que se encontram empenhados na luta armada".

A intromissão dos Serviços de Inteligência cubanos junto aos grupos de esquerda nacionais voltados para a luta armada, atingiu seu ponto máximo no período de 1967 (a partir da I Conferência da OLAS) a 1972, período em que o Partido Comunista Cubano ministrou treinamento militar, em Cuba, a cerca de 240 brasileiros do Movimento Nacional Revolucionário - criado por Brizola -, Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, Ação Libertadora Nacional, Movimento de Libertação Popular, Vanguarda Popular Revolucionária e Movimento Revolucionário Oito de Outubro.

Um dos instrutores nesses cursos, no final da década de 70, segundo alguns brasileiros que lá estiveram, era conhecido pelo nome de major Fermin Rodriguez. Na realidade tratava-se do coronel Fernando Ravelo Renedo, homem do aparato de Inteligência cubano, embaixador na Colômbia, em 1981, quando a Colômbia rompeu as relações diplomáticas com Cuba face aos vínculos de Fermin Rodriguez com narcotraficantes colombianos. Fernando Ravelo Renedo foi, posteriormente, nomeado embaixador na Nicarágua. 

É fato notório que a diplomacia cubana nada mais é que um apêndice dos Serviços de Inteligência. No Brasil, desde que as relações diplomáticas foram retomadas, sempre existiu um Oficial do Serviço de Inteligência acreditado junto à embaixada, em Brasília, oficialmente com funções burocráticas.

O treinamento a brasileiros em Cuba continua até os dias atuais, embora somente no terreno político-ideológico, na Escola Superior Nico Lopez, do PC cubano, Escola Sindical Lázaro Peña, Escola de Periodismo José Martí, Escola da Federação de Mulheres Cubanas, Escola da Federação Democrática Internacional de Mulheres e Escola Nacional Julio Antonio Mella, da União da Juventude Comunista. Por essas escolas já passaram mais de 100 brasileiros. Todavia, o mais importante em tudo isso, é que a ida de qualquer brasileiro para fazer cursos em Cuba depende do aval do Partido Comunista Cubano, após entendimentos anteriores, de partido para partido.

Também diversos brasileiros, militantes do Movimento dos Trabalhadores sem Terra vêm recebendo, em Havana, treinamento em técnicas agrícolas, e outros matriculados na Faculdade Latino-Americana de Ciências Médicas. O site do Partido dos Trabalhadores oferece vagas e publica as condições definidas por Cuba para matrícula nessa Faculdade.

A interferência de membros da Inteligência cubana junto aos partidos políticos e grupos de esquerda brasileiros nunca deixou de existir. Logo após o reatamento das relações diplomáticas, em 1986, essa interferência tornou-se irritantemente ostensiva, com cubanos participando, inclusive, de comícios na campanha presidencial do candidato Lula, em 1989.
Em maio de 1988, o dirigente cubano Carlos Rafael Rodriguez, vice-presidente do Conselho de Estado e do Conselho de Ministros, membro do Comitê Central do Partido Comunista Cubano desde 1976 e membro do Politburo, declarou à revista Veja:
"Hoje a situação é bastante diferente da dos anos 60. Em primeiro lugar, a guerrilha está na ordem do dia em poucos lugares. Os movimentos guerrilheiros deixaram de ser o ponto de vista principal das forças democráticas. Em segundo lugar, mudou o comportamento dos governos da América Latina com relação a Cuba. O reconhecimento e a legalização das relações diplomáticas fazem com que nós também tenhamos uma atitude de respeito total nesse sentido. Em terceiro lugar, estamos dando a nossa solidariedade, de diversas maneiras, a movimentos guerrilheiros como os do Chile. Quando há situações desse caráter, continuamos dando nossa solidariedade, porque não mudaram os princípios, mas as situações". 

Carlos Rafael Rodriguez foi claro: não mudaram os princípios, mas as situações. A solidariedade aos movimentos guerrilheiros, portanto, prossegue. Essa solidariedade sempre se expressou no apoio em armas, treinamento militar, trabalhos de Inteligência e, algumas vezes, quando necessário, dinheiro obtido através de seqüestros praticados com a mão de obra ociosa de ex-guerrilheiros, sob a orientação óbvia da Inteligência cubana, como os de Abílio Diniz e Washington Olivetto, no Brasil.

É interessante conhecer a opinião de um dos comandantes da Ação Libertadora Nacional, Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz ("Clemente"), autor de inúmeros assaltos, mortes (inclusive de um Oficial do Exército, conforme narra em suas memórias) e justiçamentos, em São Paulo. No início da década de 70 abandonou seus comandados no Brasil e dirigiu-se voluntariamente para Cuba, de onde, posteriormente, após receber treinamento, viajou para a França, abandonando definitivamente a luta armada.

Alguns trechos de seu livro "Nas Trilhas da ALN", editado em 1997, relatando as peripécias por que passou em Cuba e dando uma cáustica versão do apoio do Estado cubano à revolução no Brasil.

"A interferência deles (dos cubanos) já nos custaram caro demais; a volta dos companheiros do Molipo sem nossa autorização foi um desastre. 18 mortos e mais tantos presos... e tudo por uma rasteira política de infiltração, querendo influenciar nosso movimento de dentro, para adequar nossa política às necessidades deles (...). Entendo que os militantes nossos, afastados da realidade brasileira e querendo voltar para lutar, questionem a Coordenação Nacional, fundem uma corrente ou saiam da Organização, mas os cubanos não tinham o direito de autorizar a saída deles do país sem nos comunicar, quando havia meios para isso. Cederam os esquemas, promoveram a volta e ajudaram a convencer os combatentes que tinha dúvidas. Chegaram a São Paulo procurando militantes queimados, usando esquemas já abandonados por falta de segurança, aparelhos que não mais existiam, despreparados e desinformados dos avanços da repressão. Achavam que não autorizávamos a volta para não perdermos o comando da Organização. Infelizmente, sentiram na pele que estávamos cercados, fazendo ações de sobrevivência, assaltando bancos e supermercados na véspera do vencimento dos aluguéis, e tentando não desaparecer (...) O que me revolta é que caíram como moscas e hoje ninguém assume suas responsabilidades.

(...) No curso de Estado-Maior, em Cuba, esmiúço a história da revolução cubana e constato evidentes contradições entre o real e a versão divulgada América Latina afora (...). Muitas ilusões foram estimuladas em nossa juventude pelo mito do punhado de barbudos que, graças ao domínio das táticas guerrilheiras e à vontade inquebrantável de seus líderes, tomou o poder numa ilha localizada a 90 milhas de Miami. Balelas, falsificações (...). O poder socialista instituiu a censura, impediu a livre circulação de idéias e impôs a versão oficial. Os textos encontrados sobre a revolução cubana são meros panfletos de propaganda ou relatos factuais, carentes de honestidade e aprofundamento teórico (...).

A ameaça iminente de agressões facilitou a militarização do país. Milícias Populares e Comitês de Defesa da Revolução formam uma teia considerável que abastece o S2 de informações sobre posições políticas, atitudes sociais e escolhas sexuais dos cidadãos (...). O Partido Comunista é o único permitido e em seus postos importantes reinam os comandantes de Sierra Maestra ou gente de sua confiança, em detrimento dos quadros oriundos do movimento operário e do extinto Partido Socialista Popular (anterior à revolução de Fidel), representante em Cuba do Movimento Comunista Internacional e aliado da União Soviética.

Os contatos com as organizações de luta armada são feitos através do S2, conseqüência esperada das deturpações do regime. A revolução na América Latina não seria uma questão política e sim, usando as palavras do caricato TOTEM (referência ao general Arnaldo Uchoa, comandante do Exército em Havana em 1973, que lutou na Venezuela e Angola, vindo a ser, no final dos anos 80, condenado à morte e fuzilado, sob a acusação de envolvimento com o narcotráfico), uma questão de 'mandar bala'. Nos relacionamos com agentes secretos (...) Eles tentam influenciar na escolha de nossos comandantes, fortalecem uns companheiros em detrimento de outros; isolam alguns para criar uma situação de dependência psicológica que facilite a aproximação; influenciam o recrutamento; alimentam melhor os que aderem à sua linha e fornecem informações da Organização; concedem status que vão desde a localização e qualidade da moradia à presença em palanques nos atos oficiais; não respeitam nossas questões políticas e desconsideram nosso direito à autodeterminação (...) Fabiano (Carlos Marighela) negociou com os cubanos de igual para igual, mas Diogo (Joaquim Câmara Ferreira) concedeu demais. Sentiu-se enfraquecido pelas quedas em São Paulo que culminaram com a morte do nosso líder e permitiu algumas ingerências nas escolhas de quadros para a volta e os postos que ocupariam na Organização. No Brasil, recebemos com espanto a volta de um comandante indicado pelos cubanos e aceito por Diogo. O episódio não chegou a ter maiores conseqüências, pois o comandante desertou no caminho e foi morar na Europa" (referência ao “comandante Raul", Washington Adalberto Mastrocinque Martins, atual funcionário da prefeitura de São Paulo).

Ao final, em 1973-1974, depois de meses de reuniões de autocrítica, em Cuba, entre "Clemente" e os militantes restantes da ALN, que lá se encontravam recebendo treinamento militar, todos decidiram, por unanimidade, abandonar a luta armada. Muitos voltaram ao partido do qual haviam saído, o Partido Comunista Brasileiro, e outros, como "Clemente", depois de abandonarem a luta armada, abandonaram também a esquerda. A montanha de mortos havia sido em vão.

Maria Augusta Carneiro Ribeiro, militante da ALN, banida do Brasil em setembro de 1969 em troca da liberdade do embaixador norte-americano, que havia sido seqüestrado, também deu seu depoimento (livro "Exílio, Entre Raízes e Radares"). Disse que 20 dias após a chegada ao México veio um convite, através de enviados do governo cubano, para treinamento em Cuba, ocasião em que assumiram um compromisso com Fidel Castro: "Faríamos toda propaganda antiamericana que ele queria e, em troca, ele nos daria apoio para treinar, viver lá e voltar (...)". Maria Augusta dá uma idéia do que significava, naquele contexto, a possibilidade da morte: o fato de pertencer a uma Organização de vanguarda dava um sentido à vida e ao futuro e "não importava se esse futuro era morrer". Achava que morreria ao voltar, o que não a afastava desse objetivo: "Não era uma coisa prazerosa, mas muito lógica. Queria viver, mas era mais importante o papel que estavam me dando. Eu aceitava e achava que era correto". O fato é que os militantes sentiam-se em dívida com a Organização por terem sido libertados através de uma ação de seqüestro.

Maria Augusta Carneiro Ribeiro ao regressar ao Brasil graças à Anistia concedida pela ditadura militar fascista, foi nomeada para o cargo de Ouvidora da Petrobrás.

Os diversos livros e entrevistas de militantes das organizações de luta armada, no Brasil, após a Anistia, tornaram possível o resumo abaixo do treinamento militar a que eram submetidos os revolucionários latino-americanos, em Cuba:

Em Havana, os militantes recebiam pseudônimos, documentos e eram instalados em aparelhos (...). Os militares cubanos os agrupavam em turmas de aproximadamente 12 pessoas, de acordo com a Organização a que pertenciam. Primeiro, era ministrado um curso de explosivos de um mês de duração, em um quartel da Província, onde passavam a semana. Aí aprendiam fórmulas, a montagem e desmontagem de explosivos. Em seguida, iniciavam o curso de tiro ao alvo e de manipulação de pistolas e fuzis, que consistia em desmontá-los com os olhos abertos, e depois fechados. 

Por fim as turmas eram levadas para o interior do país, onde passavam cerca de oito meses, no treinamento propriamente dito de guerrilha rural. Os militares cubanos cuidavam da preparação física dos militantes, davam aulas de tática e cartografia, simulavam emboscadas, promoviam marchas e exercícios de tiro e sobrevivência na mata.

Embora fosse levado muito a sério pelos integrantes de todas as organizações, as condições de treinamento que, supostamente, os colocariam no ambiente e nas situações de uma guerra de guerrilhas foram decepcionantes e despertaram críticas de vários militantes:

"Nós fomos para lá acreditando que íamos encontrar um treinamento que nos desse as condições próximas às que teríamos na guerrilha rural no Brasil. Mas nada disso ocorreu. Nós ficamos num barracão de madeira, onde havia uma cama para cada um; uma coisa rudimentar, mas havia. As refeições eram todas servidas por caminhões do Exército. Até para tomar banho tinha um cano... era um acampamento! Nós protestamos contra isso. Tentamos ganhar os cubanos para o fato de que nós queríamos dormir no mato todos os dias, por mais que isso fosse terrível (...). Aquilo ali era uma brincadeira. O próprio Zé Dirceu (José Dirceu de Oliveira e Silva) dizia que o treinamento era um teatrinho de guerrilha e o pior, um vestibular para o cemitério (...). Bem intencionados, os instrutores eram primários do ponto de vista teórico e político. Longe da realidade que encontrariam na guerrilha, até marchas eram feitas em trilhas." (depoimento de Daniel Aarão Reis, banido do país em troca de liberdade de um embaixador seqüestrado, atual professor de História na Universidade Federal Fluminense; livro "Exílio, Entre Raízes e Radares", escrito por Denise Rollemberg). 

Para muitos, talvez a maioria, a próxima estação não foi o Brasil, mas o mundo. 

Carlos I. S. Azambuja é Historiador.

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net