sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Dilma não pode ser esquecida

Editorial

Nenhum candidato abordou até agora o terrível legado das gestões lulopetistas

A campanha eleitoral já está há duas semanas nas ruas do País, mas quase nenhum candidato a presidente foi capaz de abordar aquele que deveria ser um dos principais assuntos desta eleição: o terrível legado dos governos lulopetistas, especialmente o de Dilma Rousseff.

Dilma sofreu impeachment em 12 de maio de 2016 e foi afastada em definitivo em agosto daquele ano. Desde então, o País luta para superar a imensa crise causada por sua incompetência e sua visão de mundo, consubstanciada na ideia segundo a qual “despesa corrente é vida” – frase símbolo do modo Dilma de pensar e que quase levou o País à ruína.

Os números de sua passagem pela Presidência não permitem dúvida sobre o desastre: Dilma saiu pela porta dos fundos do Palácio do Planalto deixando atrás de si uma inflação de mais de 9%, uma taxa de juros próxima de 15% e desemprego de 10,9%, contra 6,5% em 2014, quando a petista foi reeleita. O número total de desempregados saltou de 6,4 milhões para 11 milhões nesse curto período, uma alta impressionante de mais de 70%. Tudo isso sob o pano de fundo de uma brutal recessão de 7,6% registrada entre a reeleição de Dilma e seu impeachment – lembrando que a petista recebeu a economia crescendo a uma taxa média de 4,64% ao ano nos quatro anos anteriores, durante o governo de seu criador, Lula da Silva. Nem é preciso grande exercício de imaginação para especular como estaria o País hoje se ela ainda estivesse a presidi-lo.

No entanto, nada disso parece fazer parte dos discursos dos principais candidatos ao Palácio do Planalto, que desde o começo da campanha deveriam ter usado o governo Dilma como exemplo óbvio do que não se pode fazer na Presidência.

Mesmo os presidenciáveis que integravam a oposição àquele tenebroso governo preferem ignorá-la, centrando fogo no atual governo, como se fosse este o responsável pelo descalabro em que o País vive. Pode-se fazer muitos reparos ao trabalho do presidente Temer, mas é preciso reconhecer que, a despeito das imensas dificuldades resultantes do turbulento processo de impeachment, seu governo estabilizou a inflação, reduziu a taxa de juros, realizou algumas importantes reformas necessárias para a retomada da atividade econômica e conferiu um mínimo de racionalidade ao processo político. Tudo isso em menos de dois anos. É um feito, sob qualquer aspecto.

Mesmo assim, é seu governo, e o não o de Dilma, que é tratado como “herança maldita” na campanha eleitoral. Consolidou-se o discurso segundo o qual Temer resume, em si, o que há de pior no País, desde a corrupção até a cassação de “direitos sociais”, passando pelo desemprego e pela lenta retomada econômica – e tudo isso se traduz em uma impopularidade da ordem de 70%, inédita na história nacional. Enquanto isso, Dilma Rousseff aparece como favorita para ganhar uma das vagas ao Senado por Minas Gerais.

Não se chega a tal situação sem uma estratégia muito bem pensada. Quando conquistou a Presidência, em 2003, Lula da Silva tratou logo de qualificar o governo de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, de “herança maldita”, malgrado o óbvio fato de que, não fosse a estabilidade da economia proporcionada pela administração de FHC, a agenda social lulopetista, que tantos votos ainda rende ao demiurgo petista, não sairia do papel. Mas esse embuste funcionou perfeitamente – tanto que os candidatos tucanos à Presidência depois de FHC trataram de se desvincular do ex-presidente, pois temiam perder votos.

Sem que se faça nesta campanha a denúncia da verdadeira herança maldita com a qual o Brasil tem de conviver desde que o PT alcançou o poder, permite-se que alguns candidatos alcancem bom desempenho nas pesquisas eleitorais oferecendo ao País as mesmas ideias estapafúrdias que fizeram do governo de Dilma o mais desastroso de nossa história recente. Esquecer o que Dilma fez – sob o patrocínio entusiasmado de Lula da Silva, o mesmo que, agora, promete fazer o Brasil “ser feliz de novo” – é condenar o País a um futuro sinistro.

O Estado de São Paulo


Conservadores e Liberais

Martim Berto Fuchs

Até pouco, os liberais eram associados aos conservadores. Uma parceria que no Brasil se manteve desde o Império. Percival Puggina em seu blog, destaca a união dos dois. Mas parece que os liberais abandonaram a companhia dos conservadores.

O partido NOVO quando começou, 2011, não tinha o “30” em sua logomarca. Quando incluiu, num primeiro instante pensei no ano 1930, ano que Getúlio Vargas apeou a dupla café com leite do poder. Pensei que era uma alusão àquele ano, e que eles tentariam retomar a agenda interrompida.

Mas não. Assistindo agora as entrevistas do candidato João Amoêdo(*), sabe-se que o “30” refere à Agenda ONU 2030, cujos propósitos nada mais têm a ver com conservadorismo, bem pelo contrário, fazem parte do termo que as esquerdas mais gostam de usar, “progressista”, ou, traduzindo para o momento atual: sendo ele o governante maior, nada mais teria a ver com LGTB, aborto, sexo entre adultos e crianças, apalpação de trans por crianças em museus, religião; esses assuntos passariam a ser da alçada de cada um, uma questão de opinião pessoal, cada um faz como quer.

É uma maneira covarde de fugir dos temas, uma vez que qualquer governo de esquerda IMPÕE estas agendas; e num eventual governo do NOVO partido liberal, a esquerda ficaria liberada para atacar com toda sua hipocrisia e tradicional discurso falso e mentiroso quem se atravesse a desconsiderar seu papo de “politicamente correto”, e tudo com a complacência do NOVO governante de plantão. Nem parece que a Venezuela faz divisa com o Brasil.

Mudaram bastante os liberais, pois de uma agenda liberal-conservadora passaram para uma agenda liberal-“progressista”, conservando apenas aquilo que sempre os caracterizou desde Adam Smith: o dinheiro. Este continua como fim em si mesmo. O restante está liberado, inclusive fronteiras.

Nem sei se é correto dizer que é um NOVO liberalismo, pois desde que surgiu, seu foco principal e único sempre foi o econômico.

(*) Fundador e principal dono do partido, pois do valor gasto em sua fundação, R$ 5 milhões, Amoêdo entrou com R$ 4,5 milhões e alguns figurões do Banco Itaú, juntos com mais alguns , completaram.


quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Um recuo desastroso

Editorial

É desastrosa para as finanças públicas a decisão do presidente Michel Temer de não mais adiar para 2020 o reajuste dos vencimentos dos funcionários do Executivo inicialmente programado para o próximo ano. A desistência do presidente de editar medida provisória suspendendo os aumentos em 2019 é também péssima para os contribuintes, para o necessário ajuste das contas públicas que o próximo presidente da República terá de conduzir e, consequentemente, para o desempenho da economia.

Apesar da grave crise fiscal que ameaça paralisar atividades de importantes órgãos federais, e por isso exige medidas drásticas de contenção de despesas, o presidente Michel Temer parece ter se rendido a pressões corporativas. A mais notória delas foi feita pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que aprovaram uma proposta orçamentária para 2019 com aumento de 16,38% nos próprios vencimentos, com impacto em cascata sobre outros salários do Poder Judiciário. Além de confirmar que manterá o reajuste dos servidores em geral, Temer informou que estão em fase adiantada os estudos para a concessão do aumento pedido pelos ministros do STF.

Agindo desse modo, o presidente da República tenta, segundo se informa, reduzir seu desgaste político. Que desgaste, no entanto, poderá ser mais corrosivo para um governante em fim de mandato, com baixíssimo prestígio popular, do que o causado por uma decisão que denota tibieza na gestão de recursos do contribuinte?

O adiamento do reajuste - que foi proposto no Congresso, mas não aprovado, durante a tramitação do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2019 - era considerado essencial pela equipe técnica dos Ministérios da área econômica. A medida propiciaria uma redução de gastos com a folha de pessoal que abriria espaço para a cobertura de despesas essenciais de custeio para as quais não há recursos. O aumento generalizado para o funcionalismo federal torna ainda mais difícil para o futuro governo a tarefa de cumprir a meta fiscal e de respeitar o teto dos gastos públicos.

A falta de coragem dos políticos para lidar com temas que podem causar alguma reação negativa em ano eleitoral havia ficado clara no mês passado, quando da votação do projeto de LDO no Congresso. A matéria submetida a votação era o substitutivo do senador Dalírio Beber (PSDB-SC), que, entre outros itens, acrescentara à proposta original do Executivo a proibição da concessão de reajustes aos servidores e a criação de cargos no serviço público no próximo ano. A proposta foi derrotada, mas os problemas continuam do mesmo tamanho.

Os gastos com pessoal compõem a segunda maior despesa primária do governo, superados apenas pelas despesas com a Previdência Social. Neste ano devem alcançar R$ 302,5 bilhões, o que representa 22% de toda a despesa primária. Um reajuste de acordo com o IPCA do ano anterior (ou seja, de 2017, que ficou em 3,5%), como tem ocorrido, implica aumento de R$ 10,6 bilhões na folha. Considerados apenas os servidores do Executivo, o reajuste implica gastos adicionais de R$ 6,9 bilhões.

Com o recuo do governo, os técnicos da área econômica concluem uma nova versão do projeto de lei de Orçamento da União para 2019 - que deve ser enviada ao Congresso até amanhã - na qual, obviamente, recursos anteriormente destinados para outras finalidades terão de ser reduzidos, para cobrir os gastos adicionais com o funcionalismo.

Já neste exercício os Ministérios pedem R$ 10,2 bilhões para cobrir seus gastos essenciais, mas a folga contabilizada pelo Tesouro é de apenas R$ 666 milhões. Dinheiro de outras áreas está sendo remanejado para cobrir cerca de R$ 1,4 bilhão de despesas consideradas de emergência. Para 2019, a falta de previsão de recursos orçamentários já preocupava órgãos responsáveis por programas e projetos essenciais, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), responsável por bolsas de pesquisa científica, e o IBGE, que prepara o Censo Demográfico 2020. Como eles ficarão?

O Estado de São Paulo


FMI antecipará recursos à Argentina para afastar fantasma da moratória

FEDERICO RIVAS MOLINA

Macri anuncia que o acordo garante o pagamento dos vencimentos de dívida até 2019

Argentina não entrará em default. Nem neste ano, nem no ano que vem. Em uma mensagem de menos de dois minutos transmitida pela televisão antes da abertura dos mercados, o presidente Mauricio Macri anunciou um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para “antecipar todos os recursos necessários” ao cumprimento do programa financeiro até dezembro de 2019. O dinheiro é parte do resgate de 50 bilhões de dólares (206 bilhões de reais) assinado com o Fundo em junho. Agora, porém, o envio desse montante a Buenos Aires não dependerá nem do calendário nem do cumprimento das metas fiscais. Macri tentou assim neutralizar a desconfiança dos mercados quanto à capacidade de pagamento da Argentina, refletida neste mês numa alta de 23% do risco país e numa depreciação de 14% do peso em relação ao dólar.

A Argentina sofre com o fortalecimento do dólar em nível global, como outros mercados emergentes. Mas sente muito mais a tormenta por sua vulnerabilidade, fruto da necessidade de financiamento de um déficit fiscal que supera 4% do PIB. Em maio, quando os mercados fecharam a torneira do dinheiro externo, Macri recorreu ao FMI, um “prestamista de última instância”. O Fundo forneceu 15 bilhões de dólares na primeira parcela do acordo, mas não foi suficiente. Depois de algumas semanas de calmaria, a incerteza voltou à economia argentina, e cresceram os rumores de uma eventual suspensão de pagamentos. O anúncio de Macri buscou eliminar essas dúvidas, embora sem apresentar cifras ou datas precisas.

“Esta decisão busca eliminar qualquer incerteza gerada ao nosso redor diante da piora do contexto internacional. Garantir o financiamento para 2019 irá nos permitir fortalecer a confiança e retomar o caminho do crescimento o antes possível”, disse Macri. Em troca, a Argentina se compromete a cumprir as metas de redução do déficit definidas com o FMI, que preveem o equilíbrio em 2020 e superávit em 2021. “Da nossa parte, acompanharemos este apoio com os esforços fiscais necessários, trabalho no qual vamos avançando muito bem”, acrescentou Macri.

O acordo prevê a liberação dos recursos do acordo segundo as necessidades argentinas. Segundo o Ministério da Fazenda, o dinheiro deste ano já está coberto, e para 2019 serão necessários oito bilhões de dólares para pagar dívidas. O montante final é pura especulação, porque dependerá da atitude dos investidores com relação aos títulos em pesos que mantêm em carteira. O cálculo da Fazenda parte de uma renovação de 40% dos papéis, mas uma corrida ao dólar pode multiplicar as necessidades de financiamento, num cenário cada vez mais refratário às turbulências dos emergentes.

O problema para a Argentina é que a chegada de novos recursos do FMI depende de auditorias que seus técnicos realizam sobre variáveis como a inflação e o déficit fiscal. O ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne, passou pelo primeiro teste nesta semana e conseguiu a liberação de uma nova parcela de três bilhões de dólares, mas sem eliminar as dúvidas sobre os futuros desembolsos. Com este novo acordo, a Argentina poderá dizer aos investidores que conta com o dinheiro suficiente para enfrentar qualquer tormenta, ao menos durante os próximos 16 meses.

economia é a principal dor de cabeça de Macri. A Argentina terá eleições em 2019, e os números não podem ser piores para os planos de reeleição do presidente. O orçamento de 2018 previa uma inflação de 15,7%, e hoje os cálculos mais otimistas falam em 32%; o dólar deveria se estabilizar em torno dos 19 pesos, e já rompeu a barreira dos 32; o PIB, ao invés de subir 3,2%, como dizia o Governo em dezembro, cairá 1%, na melhor das hipóteses. Todas as previsões viraram papel picado, e a ajuda do FMI até agora não bastou para deter a curva descendente nem para acalmar os nervos dos investidores.

O PESO, EM QUEDA LIVRE
O anúncio de que o FMI irá liberar os recursos necessários para cobrir os custos da dívida argentina não foi o bálsamo que Mauricio Macri esperava para os mercados. O dólar saltou mais de dois pesos nas casas de câmbio de Buenos Aires, sendo cotado a 34,45 pesos por unidade, 7% a mais do que ontem, e seu maior valor desde o fim da paridade cambial, em janeiro de 2002.

Tampouco o leilão de 300 milhões de dólares pelo Banco Central conseguiu deter a depreciação da moeda argentina. Foi a terceira venda consecutiva de reservas pela instituição nesta semana.

Também não alcançou para parar a depreciação da moeda argentina a oferta de 300 milhões de dólares que fez o Banco Central, a terceira venda consecutiva de reservas que realiza nesta semana.

EL PAÍS

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Queda do valor de moedas emergentes desperta temor de nova crise mundial

ALICIA GONZÁLEZ - CRISTINA DELGADO

Epicentro da crise cambial está na Turquia, mas as reverberações chegam a Argentina, África do Sul, Rússia, Índia e Brasil, onde o real voltou ao nível de 2016, período pré-impeachment de Dilma Rousseff

O sinal definitivo de que algo não ia bem entre as moedas dos países emergentes foi dado em julho pela lira turca. Várias sacudidas e a gota d’água na forma de tarifas impostas pelos EUA ao aço e alumínio da Turquia acabaram levando essa moeda a atingir em agosto seu menor valor histórico frente ao dólar. Isso, para um país com um forte endividamento em dólares e um preocupante déficit em conta corrente, é o início de um complicado círculo vicioso. E a lira não é a única divisa emergente que perde força. O epicentro da crise está em Ancara, mas as reverberações chegam ao Brasil, Argentina, África do Sul, Rússia e Índia.

Desde o começo do ano, a lira turca perdeu quase 40% de seu valor. Só em agosto, a queda acumulada com relação ao dólar supera 20%, depois de vários desabamentos abruptos. Na Argentina, a queda do peso foi mais gradual, com uma desvalorização de 11% este mês, mas com um resultado quase igual: pouco mais de 40% desde o começo do ano. O rublo russo retornou à fragilidade de 2016. O real brasileiro tocou seu menor valor em mais de dois anos (com uma depreciação de quase 20% no ano). E a rupia indiana está desde maio em seu mínimo histórico, após uma baixa de quase 9% desde janeiro.

A tempestade parece ter se instalado sobre muitas divisas emergentes. Outra vez. Os motivos que levaram a esta situação não são exatamente os mesmos. Em alguns casos, a incerteza política atrapalhou. Em outros, pesa a dependência em relação às matérias primas e/ou à China. Mas a política monetária dos Estados Unidos é um catalisador para os problemas da maioria. Porque, de forma cíclica, cada vez que o Federal Reserve (banco central) toma um caminho de alta dos juros, o dólar se reforça, e os mercados emergentes se ressentem.

O golpe é mais forte se além disso, como agora, as tensões ocorrem após um período de forte endividamento dessas economias, majoritariamente em moeda estrangeira. Daí que as divisas mais castigadas sejam aquelas com maior vulnerabilidade externa: Turquia (com um déficit em conta corrente de 5,5% do PIB), Argentina (4,3%) e África do Sul (endividamento de 50% do PIB).

“Nos anos de bonança, os mercados onde os investidores se sentem seguros estão mais dispostos a assumir certos riscos em troca de maiores rentabilidades. Então seu interesse pelos emergentes cresce. Ao mesmo tempo, durante essas etapas esses países viram uma oportunidade e se endividaram em dólares. O problema é que, quando o ciclo acaba e suas divisas se depreciam, não conseguem pagar essas dívidas contraídas em dólares. É nesse ponto que estão a Turquia e a Argentina, com dívidas corporativas muito fortes em divisa estrangeira”, explica Ignacio de la Torre, sócio de Banco de Investimento da consultoria Arcano. Esse analista acredita que os dois países se colocaram em círculos viciosos muito difíceis de romper. Quando as dívidas em dólares se tornam impagáveis, as empresas quebram, os balanços dos bancos se ressentem, o investimento estrangeiro se contrai mais... E a bola de neve cresce. Nestes casos, a única solução costuma passar pelo socorro do FMI.

A queda quase sincronizada das divisas emergentes despertou os temores de uma repetição das piores crises, como a que sacudiu o Sudeste Asiático, a Rússia e a América Latina entre 1997 e 1998. Certo contágio, aliás, já ocorreu: segundo os dados do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), depois do desabamento da lira turca a fuga de capitais se acelerou neste mês na África do Sul e na China. Mas, como diriam os economistas Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart, desta vez é diferente.
Os investidores parecem distinguir entre as divisas prejudicadas pela deterioração de seus fundamentos econômicos e aquelas afetadas por questões de política interna, como o Brasil e a Índia. Na Índia, a rupia está em seu valor mínimo, mas sua dívida não é preocupante e não se preveem problemas no sistema bancário. Seu problema está mais vinculado ao forte déficit em conta corrente. Precisa de investimentos estrangeiros, e alguns deles estão se estão retraindo, porque o grau de implementação dos planos de modernização do Governo de Narendra Modi não está sendo tão rápido e profundo como se esperava.

No caso do Brasil, o real voltou ao nível de 2016, no período que antecedeu oimpeachment de Dilma Rousseff. O motivo disso é a incerteza eleitoral, com uma competição muito acirrada no primeiro turno da eleição presidencial, em 7 de outubro. Além disso, nenhum dos candidatos detalhou seu programa de reformas nem de ajustes necessários para uma economia com um crescimento fraco e dívida pública elevada. E isso desanima os investidores. Entretanto, o Brasil não acumula muito déficit em conta corrente, graças a sua força exportadora nas matérias primas. E a dívida em dólares é mais ou menos limitada.

Tensões comerciais
Isso não significa que os emergentes não tenham motivos para preocupação, especialmente diante de uma escalada das tensões comerciais. Como recordam os economistas do ING, os produtores de matérias primas podem ser duramente golpeados pelo novo pacote tarifário anunciado na guerra comercial entre China e EUA.

A nova política externa norte-americana, que tem nas sanções econômicas sua principal arma – como aconteceu com a Turquia, Rússia, Irã e China –, torna as economias emergentes especialmente vulneráveis. A África do Sul é o exemplo mais recente. Um tuíte do presidente Donald Trump criticando as expropriações de terras cultiváveis sem indenização aos proprietários enfraqueceu ainda mais o rand, dado o temor de represálias econômicas.

Na Rússia, as sanções internacionais empurram o rublo para baixo. A última rodada tarifária aplicada pelos EUA levou a moeda russa a ser negociada a 69,01 unidades por dólar, um nível que não alcançava desde 5 de abril de 2016. E a política externa do presidente Vladimir Putin desperta mais temores, já que o Reino Unido pede mais dureza por parte da União Europeia, o que leva os analistas a preverem que a tendência de baixa do rublo se manterá.

EL PAÍS


México cede às exigências de Trump para acertar o pacto comercial: os pontos de um acordo necessário

SANDRO POZZI - IGNACIO FARIZA

País latino-americano evita a cláusula de término e limitações aos produtos do campo, mas aceita a ausência do Canadá e mudanças na indústria automotriz e na solução de controvérsias

México limita danos. O acordo comercial acertado na segunda-feira, 27, com o Governo norte-americano evita o cenário mais temido para o país latino-americano - a ruptura com seu principal parceiro comercial - e as exigências de máximos propostas por Donald Trump em troca de concessões nos novos parâmetros de um setor fundamental - a indústria automotriz - e nos mecanismos de solução de controvérsias, de acordo com especialistas consultados pelo EL PAÍS. Não conseguir o acordo não era uma opção real ao México, que salva um match point para sua economia, altamente dependente do setor exterior.

“O fundamental é que se evita a ruptura. Também que não exista uma cláusula de término automática e requisitos de sazonalidade em agricultura, apesar das mudanças na indústria automotriz”, diz Luz María de la Mora, ex-chefe de Negociações Comerciais Internacionais do país latino-americano. Uma apreciação semelhante à de Luis de la Calle - um dos artífices do TLC atualmente vigente - e Ignacio Martínez - coordenador do Laboratório de Análises em Comércio, Economia e Negócios da UNAM -. É, como diz o último relatório para clientes do maior banco do México, o BBVA Bancomer, “o melhor acordo possível sob as atuais circunstâncias”. “O jogo era limitar danos e, considerando isso, não foi ruim”, diz o economista chefe do banco, Carlos Serrano.

Jonathan Heath, ex-economista chefe do HSBC para a América Latina e hoje analista independente e José Luiz de la Cruz, diretor do Instituto para o Desenvolvimento Industrial e Crescimento Econômico, enfatizam, por sua vez, as concessões. “As exigências de máximos, como a cláusula de término, faziam parte de uma estratégia de negociação por parte de Trump sabendo que nunca seriam aceitas. E deu certo: o México aceitou o que ele queria na parte automotriz, a única que realmente interessava a Washington”. A análise de De la Cruz é parecida: “O México cedeu no setor automotriz e, principalmente, na solução de controvérsias para evitar a saída do tratado”. O país latino-americano também prometeu que o tratado seria trilateral ou não seria: logo se saberá se por fim será assim ou se o Canadá, isolado da negociação nas últimas cinco semanas, acabará aceitando o acordado.

Com a entrada em vigor do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (TLC), os Estados Unidos, o México e o Canadá criaram há quase 25 anos a maior área de livre comércio do mundo e uma rede de fornecimento muito bem sincronizada. O setor da automação e o agrícola são os exemplos mais claros dessa integração: durante o processo de fabricação, um veículo produzido na América do Norte atravessa várias vezes a fronteira, e a cada dia toneladas de alimentos (frutas e verduras, cereais e carne) passam de um país a outro sem precisar pagar taxas alfandegárias. Com algumas concessões, o livre comércio continuará vigente entre o sul e o norte do rio Bravo. Esses são os principais pontos do pacto bilateral acertado na segunda-feira, que deve ser assinado - com ou sem o Canadá - antes do final do ano:

Cláusula de término automática. 
Os negociadores dos Estados Unidos enfrentaram a revisão do tratado com 65 demandas, quase todas de máximos. Seis delas eram prioritárias, como diz Andy Green da American Progress, e a que mais apreensão criou desde o início foi a de incluir uma cláusula de expiração automática do novo tratado. A ideia era obrigar a renegociar o pacto a cada cinco anos sob a ameaça de fazê-lo em pedacinhos se as três partes não chegassem antes a um acordo. O México e o Canadá se opuseram frontalmente desde o primeiro dia. Mas o bloqueio foi superado nessas cinco últimas semanas de negociações bilaterais entre os EUA e o México com um novo calendário: o acordo terá uma vigência inicial de 16 anos e, no sexto, será submetido à revisão para melhorá-lo e adaptá-lo à realidade econômica. Sempre, isso sim, sem a ameaça de ruptura sobre a mesa: aconteça o que acontecer nessa revisão, os assinantes terão mais 10 anos para continuar negociando e procurando uma solução às suas controvérsias, um período de tempo mais do que suficiente para dar certeza às empresas em seus investimentos.

Indústria automotriz.
O representante de comércio internacional dos EUA, Robert Lighthizer, afirma que o novo acordo reequilibrará as transações graças, entre outras medidas, ao estabelecimento de regras específicas para o conteúdo original dos produtores que atravessam a fronteira sem taxas alfandegárias. No caso dos veículos a motor e seus componentes, será preciso ser de 75%. Washington chegou a pedir que se elevasse a 85%, um número absolutamente inviável. Dessa forma, junto com o fechamento da brecha salarial, a intenção é incentivar a produção nos EUA. Também requer maior uso de aço, alumínio, vidro e plástico de origem nacional. Heath acha que o superávit mexicano com os EUA será “muito menor nos próximos anos” e que a indústria automotriz terá que “se readaptar” a esse novo esquema, contrário aos seus interesses.

Condições trabalhistas.
Trump baseou boa parte de seu argumento protecionista na defesa dos interesses dos trabalhadores manufatureiros norte-americanos. Outro dos grandes objetivos de Donald Trump era evitar que o tratado de livre comércio permitisse às empresas manufatureiras deslocar a produção ao México, aproveitando o baixo custo da mão de obra. Nesse sentido, as condições trabalhistas ficam no centro do acordo. Para apoiar o emprego nos EUA, as novas regras de origem estabelecem que entre 40% e 45% dos automóveis deve ser fabricado por trabalhadores que ganhem pelo menos 16 dólares (65 reais) por hora trabalhada: isso limita quase totalmente as fabricantes de partes no México. Também foram assegurados os direitos dos trabalhadores imigrantes, “uma boa notícia”. O país latino-americano também se compromete a adotar as medidas legislativas necessárias no âmbito trabalhista, como uma liberdade de associação real e apego a “algumas convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT)”, frisa Luis de la Calle, um dos artífices do TLC de 1994 do lado mexicano.

“Mas falta saber quais são essas convenções e se os Estados dos EUA que não as cumprem o farão ou não a partir da entrada em vigor do texto”, argumenta. “Ainda é cedo para saber como será a aplicação dos novos pontos, mas será um âmbito complexo ao setor produtivo do México”, diz Luz María de la Mora, ex-chefe de Negociações Comerciais Internacionais do Governo mexicano.

Solução de controvérsias.
Esse capítulo possui, de acordo com Serrano, uma das principais concessões do México: “Ainda será preciso conhecer os detalhes, mas parece ficar um pouco desprotegido”, diz em conversa com o EL PAÍS. Como detalhou o secretário de Economia mexicano, Ildefonso Guajardo, “é uma aterrissagem equilibrada” em que se preserva o formato do TLC original, mas o México aceitou eliminar o capítulo atual que se referia ao mecanismo de solução de disputas dos investidores com os Governos que o Canadá quer preservar. Será, com certeza, um dos pontos mais quentes nas negociações trilaterais que serão realizadas nos próximos dias: o capítulo 19, o que fica mais aberto, já foi um dos maiores motivos de disputa entre Ottawa e Washington durante a negociação do TLC de 1994. “É um assunto muito importante em que o México claramente cedeu”, afirma De la Cruz, do IDIC.

Agricultura.
O acordo, segundo o Escritório do Representante Comercial dos EUA, conquista “melhoras importantes” na questão agrícola, mas sem nenhum tipo de limites por sazonalidade, como queria no começo. A principal conquista é que se preserva uma área livre de taxas alfandegárias para as transações entre os dois países e se acertou uma série de melhoras para reduzir potenciais distorções. Uma delas passa por não utilizar subsídios às exportações e salvaguardas especiais contempladas pela Organização Mundial do Comércio (OMC).Também foi criado um compromisso para elevar a transparência e as consultas ao se recorrer a restrições no âmbito da segurança alimentar. Ao mesmo tempo, foi melhorada a transparência em relação às regras de origem. E se inclui questões com a biotecnologia. Esse é um dos pontos em que Trump mais incidiu em sua apresentação do acordo: o México continuará comprando boa parte da produção norte-americana de alimentos como carne de porco e frango, sorgo e milho.

Evitou mencionar, entretanto, que seu país também continuará sendo o principal consumidor de frutas e verduras produzidas no México.
Propriedade intelectual. Um dos grandes objetivos da atualização do TLC, pelo menos na aparência, era modernizá-lo para adotar suas provisões à nova realidade econômica do século XXI. O capítulo dedicado à propriedade intelectual era outra das prioridades dos EUA, para dessa forma proteger a capacidade inovadora de seu país - da qual não existem muitas dúvidas, com empresas como a Amazon, Apple e Microsoft - e incentivar o crescimento. Nesse sentido, são reforçadas as medidas para evitar que circulem pela região produtos falsificados e piratas, assim como para combater o tráfico de segredos comerciais.
Comércio digital. O novo acordo comercial incluirá um novo capitulo dedicado ao comércio de produtos digitais como livros eletrônicos, música, videogames e programas de informática. O propósito é proibir a aplicação de taxas alfandegárias e outras medidas discriminatórias ao mesmo tempo em que se facilitam as transações digitais.

Alumínio e aço.
Junto com a ausência do Canadá, esse é o maior débito da negociação fechada na segunda-feira. O litígio comercial aberto pelos EUA após a aplicação das taxas alfandegárias de 25% às importações de aço e de 10% às de alumínio não se resolverá com a assinatura desse acordo. É, também, um caminho para manter a pressão sobe o Governo canadense - que tem muito mais a perder do que o México nesse ponto - para que entre no pacto. Também permite manter abertas as disputas com a China e a União Europeia enquanto tentam resolver suas diferenças. Por enquanto, as coisas continuam da mesma forma: os EUA mantêm suas taxas alfandegárias e o México suas medidas de represália, também tarifárias.

Serviços Financeiros.
O capítulo dos serviços financeiros foi mudado para adaptar o tratado comercial à maior liberalização dessa indústria que gera aos EUA um superávit de 41 bilhões de dólares (167 bilhões de reais) com o México. O objetivo é evitar que sejam impostas restrições que limitem o negócio das empresas financeiras.

Energia.
Era um dos pontos mais sensíveis na negociação: era especulado que o presidente mexicano eleito, Andrés Manuel López Obrador, brigaria para que não se blindasse a reforma energética que tanto criticou durante a última campanha eleitoral. Por enquanto não vieram à tona os detalhes do acerto, mas, de acordo com De la Mora, “o México dá a indicação de que continua aberto ao investimento estrangeiro no setor, tanto em petróleo, como em gás e eletricidade”. Esse sinal seria importante aos EUA: boa parte das empresas que conseguiram contratos de exploração de hidrocarbonetos no México nos últimos anos são norte-americanas e a Administração Trump queria evitar qualquer tipo de revés em suas contas de resultados. “O esperado seria blindar a reforma energética”, finaliza De la Calle. A auditoria de contratos anunciada por López Obrador para saber em quais condições serão adjudicadas continuará seu caminho sem prejuízo do acordado na segunda-feira.

EL PAÍS
México / Nova York 

terça-feira, 28 de agosto de 2018

É preciso abrir a caixa-preta da Fetranspor

Editorial

Ainda há muito a esclarecer sobre esquema de corrupção envolvendo empresários de ônibus e políticos

Durante décadas, ouviu-se falar na caixinha da Fetranspor, a poderosa Federação das Empresas de Transporte do Estado do Rio de Janeiro. E a instituição sempre negou. Parecia mais uma daquelas lendas urbanas. Mas, em julho do ano passado, a força-tarefa da Operação Calicute, braço da Lava-Jato no Rio, jogou luz sobre o assunto. As investigações mostraram que empresários de ônibus pagavam propina ao então governador Sérgio Cabral e a políticos como Jorge Picciani e Paulo Melo, ex-presidentes da Assembleia Legislativa, e Edson Albertassi, todos do MDB, em troca de vantagens como reajuste de tarifa ser et en ção de créditos do RioCard.

Na última sexta-feira, a confirmação da existência da caixinha veio de ninguém menos que Jacob Barata Filho, conhecido como o Rei do Ônibus, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal. O empresário, que não usou a palavra propina, disse que “o objetivo desse caixa era buscar a satisfação do usuário e evitar projetos que viessem a prejudicar o setor”. Segundo Jacob Barata, a prática começou há cerca de 20 anos.

Nas duas últimas décadas, o Estado do Rio teve cinco governadores, mas pouco ou nada se sabe sobre as relações dos empresários com outros mandatários além de Cabral. E com outros presidentes da Assembleia Legislativa, fora Picciani e Melo.

Chama a atenção o fato de o esquema funcionar com empresas que operam linhas intermunicipais. O executivo Lélis Teixeira, um dos que foram presos na Operação Calicute, presidia tanto a Fetranspor quanto o Sindicato das Empresas de Ônibus do Rio (Rio Ônibus), que reúne as linhas municipais, parte mais rentável do sistema.

Na verdade, é preciso detalhar melhor essa troca de favores entre empresários de ônibus e políticos. Não há dúvida de que as empresas tinham um caixa 2 para pagamento de propina a agentes públicos. Pelo que foi revelado até agora, o esquema era bem azeitado. O dinheiro era recolhido nas garagens e guardado no cofre de uma transportadora de valores, no Santo Cristo.

Sabe-se também que empresários recebiam em primeira mão os projetos de interesse do setor que seriam votados na Alerj. Mas há que se esclarecer de que forma eles eram beneficiados, ou seja, que projetos sofreram interferência direta dos empresários e, principalmente, como as tarifas foram manipuladas.

Jacob Barata Filho disse que, após 2009 (governo Cabral), a “contribuição” dos empresários passou a ser de R$ 6 milhões por mês. É óbvio que esse dinheiro não era “para melhorar o sistema de transporte”. Se fosse, os ônibus não estariam caindo aos pedaços, prestando um péssimo serviço à população do estado.

Diante da possibilidade de as tarifas terem sido reajustadas sem parâmetros técnicos, o mais sensato seria submeter o atual sistema a uma auditoria, para que se tenha transparência. O que aí está é fruto de um esquema corrompido. Um serviço que perdeu o rumo.

O Globo

Ativistas pedem proibição de robôs assassinos 'antes que seja tarde demais'

AF Agência France-Presse

Os ativistas afirmam que o tempo está acabando antes que se implementem armas que usem força letal sem o controle de um ser humano

Genebra, Suíça - Os países deveriam acordar rapidamente um tratado que proíba o uso dos chamados robôs assassinos "antes que seja tarde demais", disseram ativistas de diferentes ONGs nesta segunda-feira (27), enquanto eram retomadas na ONU as negociações sobre este assunto.

Os ativistas afirmam que o tempo está acabando antes que se implementem armas que usem força letal sem o controle de um ser humano, e criticaram o organismo da ONU que promove as negociações, a Convenção da ONU sobre Armas Convencionais (CCAC), por seu avanço lento no tema.

"Os robôs assassinos já não são algo da ficção científica", declarou em um comunicado Rasha Abdul Rahim, assessora da Anistia Internacional em inteligência artificial e direitos humanos.

"De drones inteligentes às armas automáticas que podem escolher seus próprios alvos, os avanços tecnológicos em armamento vão mais rápido que a lei internacional", disse.

"Pedimos aos Estados que deem passos concretos para deter a expansão destas perigosas armas (...) antes que seja tarde demais", acrescentou.
Suas declarações chegam em um momento em que um grupo de especialistas da CCAC iniciou uma reunião de uma semana na sede da ONU em Genebra, para discutir sobre os sistemas de armas autônomas letais.

O organismo mundial acolheu as primeiras negociações sobre os robôs assassinos no ano passado com representantes de cerca de 100 países, especialistas e ONGs.

O embaixador de desarmamento indiano Amandeep Gill, que preside as negociações da CCAC, disse aos jornalistas que os diálogos tinham "avançado bem" desde então. No entanto, os países ainda não chegaram a um acordo sobre que passos tomar para tratar este assunto.


segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Candidatos precisam debater o déficit nas estatais

Editorial

Rombo estimado das empresas dependentes do Tesouro para o ano ultrapassa os R$ 560 milhões

É crescente o déficit nas contas das empresas públicas dependentes do Tesouro Nacional. Entre as mais deficitárias, se destacam os Correios, a Infraero, a Casa da Moeda, o Serpro e a Dataprev.

Nessas cinco estatais, o rombo estimado para o ano já supera R $562 milhões, segundo análises de desempenho (em regime de caixa) realizadas pela Secretaria Nacional do Tesouro e pelo Tribunal de Contas da União. As perdas seriam de R$ 443,5 milhões nos Correios; R$ 38,8 milhões na Infraero; R $37,4 milhões no Serpro; R $13 milhões na Casada Moeda; e R$29,8 milhões na Dataprev.

O diagnóstico do próprio governo é objetivo: o buraco aumenta porque a receita gerada por esse grupo estatal está em declínio. Ao mesmo tempo, os gastos com pessoal crescem.

Empresas públicas não são uma peculiaridade do Brasil, fazem parte da paisagem econômica global, inclusive em países onde o liberalismo pauta as relações econômicas. É o caso da Inglaterra, onde representam 5% do Produto Interno Bruto, segundo a Comissão Europeia.

A diferença no caso brasileiro está na transformação dessas empresas em núcleos de interesses patrimonialistas — desde o empreguismo de cabos eleitorais às mais variadas formas de corrupção, como mostram as investigações sobre a institucionalização do suborno como método de administração pública, na última década e meia.

O mito das “razões estratégicas” para multiplicação de empresas controladas pelo Estado se consolidou a partir da era getulista, mas desabou nas revelações da Operação Lava-Jato e nos prejuízos bilionários da Petrobras e da Caixa Econômica Federal. Está aí o gigantesco estoque de ativos podres acumulados pelos fundos de pensão estatais. E, também, empreendimentos menores, até prosaicos, como a fábrica de preservativos erguida pelo governo do Acre — igualmente falida.

A sociedade paga a conta de tais delírios políticos, adornados com dogmas ideológicos, mas que apenas refletem a perpetuação de anacronismos, dos interesses de segmentos privados privilegiados e das corporações de servidores públicos. O preço do atraso é a drenagem permanente de recursos vitais ao país.

Candidatos à Presidência e aos governos estaduais têm o dever de debater o peso do Estado na economia, com foco na retoma dadas privatizações. Nada justifica a manutenção de estatais notoriamente deficitárias numa etapa crítica, onde governantes não conseguem sequer garantir o pagamento de salários dos servidores, a qualidade mínima em serviços de saúde, educação e segurança, ou realizar investimentos emergenciais em infraestrutura.

Vale lembrar: o déficit projetado de cinco empresas estatais obsoletas (Correios, Infraero, Casa da Moeda, Serpro e Dataprev) corresponde aos investimentos federais cortados nas áreas de ciência, tecnologia e inovação neste ano.

O Globo


Como a Previdência virou uma bomba-relógio que ameaça as 8 maiores economias do planeta

BBC

A cada 24 horas, o déficit do sistema de pensões em oito das maiores economias do mundo aumenta em US$ 28 mil (R$ 115 mil) - uma bomba-relógio que vai explodir em 2050, quando a cifra total chegar a US$ 400 trilhões, o equivalente a cinco vezes o tamanho da economia global, de acordo com um estudo do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês).

A análise incluiu Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Canadá, Austrália, China, Índia e Holanda e destaca que não é preciso esperar três décadas para ver como o financiamento das pensões pode desmoronar.

No Brasil, o debate em torno de uma reforma da Previdência gera polêmica na corrida eleitoral, inclusive sobre qual é tamanho do rombo do sistema de pensões - alvo de disputa entre diferentes correntes políticas. No fim do ano passado, o governo de Michel Temer chegou a elaborar um projeto de reforma no INSS, mas foi derrotado no Congresso.

Em âmbito global, Yik Han, chefe do departamento de investidores institucionais do WEF, disse à BBC que os efeitos dessa crise estão evidentes hoje e que o país mais afetado é os Estados Unidos, onde "o número de pessoas (financeiramente) falidas depois dos 65 anos está atingindo níveis sem precedentes".

Entre 1991 e 2006, o problema triplicou, afetando 3,6 pessoas a cada mil habitantes, explicou o especialista.

O Japão tem tentado estratégias para se adaptar a essa realidade, por exemplo, através da expansão do mercado que oferece serviços para a terceira idade, robôs que prestam assistência a idosos e academias de ginástica voltadas a essa parcela da população.

No entanto, diz Yik, se as medidas não forem tomadas a tempo, "o pior cenário seria uma pirâmide invertida, com um grande número de pessoas idosas vivendo em situação de falência ou pobreza e sendo mantidas por uma população jovem cada vez menor".

Mas de onde sairá o dinheiro?
Pesquisadores destacam que governos têm de reformar os sistemas de aposentadorias e pensões para que países se adaptem a sociedades em que será cada vez mais comum que pessoas vivam até os 100 anos.
Na verdade, muito se fala sobre isso, mas a pergunta é sempre a mesma: quem será o responsável por aumentar a poupança para os idosos? E a resposta é geralmente que o dinheiro deve sair de três partes: do trabalhador, do empregador e do Estado.

De quanto deve ser a contribuição de cada um deles? É aí que o debate se torna, às vezes, irreconciliável.

O estudo do WEF propõe medidas para as principais economias do mundo, focando principalmente em poupanças individuais.

Uma delas seria aumentar a idade de aposentadoria de acordo com as expectativas de vida. Por exemplo, em países como Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Japão, isso deveria ocorrer pelo menos aos 70 anos nas próximas décadas.

Outras propostas se referem a tornar a poupança individual automática - ou seja, fazer com que parte do salário seja automaticamente depositada numa conta bancária. No Reino Unido, 8% da remuneração será descontado desta forma a partir de 2019.

No entanto, outros pesquisadores argumentam que, apesar da escassez de recursos perante o envelhecimento da população, mecanismos de poupança solidária são necessários para apoiar as famílias vulneráveis, ​​que não têm possibilidade de poupar e precisam de assistência social.

Esta postura contraria a ideia de que o caminho mais viável para o sistema de pensões é que as pessoas trabalhem mais anos e economizem mais dinheiro, algo que só pode dar resultados nos países com níveis mais altos de renda.

Na América Latina, por outro lado, há grandes setores da população com trabalhos informais ou autônomos que dificultam a formação de uma poupança futura para a aposentadoria.

O que acontece na América Latina?
"O Chile liderou o caminho na América Latina em termos de enfrentar a situação das aposentadorias por meio de várias reformas", diz Han Yik. "Agora eles estão vendo como implementar mais reformas neste ano, focadas em aumentar as contribuições."

A questão tem se destacado em debates recentes no país sul-americano, e inclusive, motivado protestos massivos nas ruas em que as pessoas exigem pensões "mais dignas".

Sob o sistema chileno, os trabalhadores poupam em contas individuais administradas por empresas privadas. Essas empresas investem esses recursos nos mercados internacionais para tentar obter maior rentabilidade.
A contribuição de cada empregado é obrigatória e gira em torno de 10% de seu salário. Nos últimos anos, os governos têm feito propostas para aumentar esse nível, acrescentando a contribuição dos empregadores e do Estado, de acordo com cada caso.

Existe ainda um "Pilar Solidário" no Chile, que é um fundo público que complementa as pensões mínimas, para ajudar as famílias mais pobres.
Mas, para a maior parte da população, o sistema está construído basicamente em torno da contribuição individual. Até agora, não se sabe quanto e como a contribuição aumentará no futuro, como o Pilar Solidário vai mudar e qual será a nova idade de aposentadoria.

Enquanto países como Chile, El Salvador, Bolívia e República Dominicana estão procurando formas de lidar com o déficit, diz Yik, há outros que enfrentam uma crise mais profunda.

É o caso de Brasil, Argentina ou Venezuela, países que têm "problemas endêmicos de sustentabilidade", acrescenta o pesquisador.

Outros estudos destacam que mais da metade dos idosos na América Latina não recebem pensão, e os trabalhadores se veem forçados a permanecerem ativos no mercado de trabalho, segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Seguindo a tendência atual, é cada vez mais provável que muitos dos bebês nascidos neste ano vivam até 2118. Parece distante, mas as opções que estão agora na mesa provavelmente vão determinar como será a velhice deles.


domingo, 26 de agosto de 2018

Cleptocracia venezuelana flerta com o perigo

Editorial

Maduro adota medidas destinadas ao fracasso, reforça miséria e leva Colômbia a mobilizar suas tropas

Na Venezuela, até o que parece impossível acontece. Por exemplo, o governo de Nicolás Maduro conseguiu tornar ainda mais dramática a situação de fome e miséria no país.

Depois de produzir a maior crise humanitária do hemisfério, com 2,3 milhões de refugiados, e fomentar uma inflação inimaginável, no patamar de um milhão por cento ao ano, Maduro ampliou o caos com uma reforma econômica sem chance de dar certo.

Confusas e contraditórias, as medidas lançadas há uma semana estão lastreadas numa miragem —o Petro, criptomoeda que não existe. O dinheiro do país perdeu cinco zeros e seu valor sofreu maxidesvalorização efetiva de 95%. A tributação das atividades econômicas foi elevada e, ao mesmo tempo, se decretou um aumento de 3.000% no salário mínimo.

Isso num cenário em que as empresas, simplesmente, não têm fluxo de caixa para fazer pagamentos, e os consumidores não têm dinheiro para pagar.

O capítulo seguinte, já anunciado, está marcado para setembro. É quando o governo pretende aumentar exponencialmente o preço da gasolina —dos atuais R$ 0,12 por litro para cerca de R$ 5,70.

Há 29 anos o preço do combustível se mantém invariável na Venezuela. E não é porque o país detém uma das maiores reservas de petróleo. A razão está no temor dos governantes, que transformaram o tema em tabu na política doméstica. Em fevereiro de 1989, o governo de Carlos Andrés Perez elevou o preço da gasolina e autorizou o repasse às tarifas de transportes. Seguiu-se uma rebelião social, com inúmeras mortes.

O ambiente caótico permitiu a emergência de um líder militar na política, Hugo Chávez. Chávez iniciou e legou a Maduro a continuidade de um projeto de poder cujo custo só é comparável ao das crises na Alemanha em 1923 e no Zimbábue no fim dos anos 2000. A economia venezuelana está reduzida à metade do que era há seis anos. O déficit nas contas do governo superou a marca dos 20% do Produto Interno Bruto. A escassez de alimentos e remédios levou ao retorno de doenças que estavam erradicadas e ao aumento da mortalidade infantil.

O pacote desta semana reforça a certeza de expansão da miséria e do êxodo de venezuelanos.

Sem saída, Maduro recorre ao seu roteiro favorito, o da conspiração coordenada por forças ocultas — o inimigo externo. Desta vez, porém, avança por campo minado. Domingo passado, soldados venezuelanos ocuparam o povoado colombiano de Vetas de Oriente, no município fronteiriço de Tibú, região norte do estado de Santander. A Colômbia respondeu com mobilização de tropas na fronteira com a Venezuela. A cleptocracia bolivariana agora flerta com o perigo.

O Globo


Menina de 3 anos tem QI superior ao de Einstein: gênio

Universalismo Crístico


Ophelia Morgan-Dew’s – Foto: SWNS.com

O mais novo gênio do mundo é uma menina de apenas 3 anos: a inglesa Ophelia Morgan-Dew.

Moradora da cidade de Herefordshire, no oeste do país, a menina fez testes de QI e atingiu a impressionante nota 171, onze pontos acima de gênios como Albert Einstein e Stephen Hawking, que marcaram 160 pontos.

Foi a mãe de Ophelia, Natalie Morgan quem percebeu o talento da filha.
A menina pode, por exemplo, lembrar de coisas que aconteceram antes de ter completado um ano de idade, de acordo com o The Sun.

Ela falou sua primeira palavra aos oito meses e rapidamente aprendeu números, cores e o alfabeto, informou o Mirror.

A descoberta
Depois de perceber que sua filha era brilhante, a mãe de Ophelia levou a criança para especialistas, que confirmaram a potencialidade intelectual da menina.

A pontuação de QI de Ophelia também é maior que a de Arnav Sharma, de 11 anos – 162 pontos – e Rahul Doshi, de 12 anos – de 162 pontos – que já foram aclamados como os garotos mais inteligentes da Grã-Bretanha.
Além dos gênios consagrados, a pontuação da menina supera também de outros 162 jovens anteriormente classificados como gênios, mesmo com idade média que varia entre 11 e 12 anos.

Raridade
Seu desempenho a fez se tornar o mais jovem membro da IQ Mensa, uma espécie de associação que reúne os maiores QIs do planeta.
De acordo com a instituição, o cérebro de Ophelia faz parte de um seleto grupo dos 0,03% da população que possui os mais altos níveis de inteligência.

Segundo a mãe, proprietária de uma academia de ginástica, a mente brilhante da jovem pouco tem a ver com qualquer coisa que tenha feito.
“Eu não a forço a nada. Ela gosta de Lego e de jogar futebol. É muito parecida com qualquer outra criança de três anos”.

“Muitas pessoas, inclusive eu, evitam celebrar a conquista intelectual de seus filhos. Parece haver um estigma em torno disso. Mas então eu pensei que não é diferente para os pais celebrarem uma medalha em um evento esportivo, então ela merece elogios por ser tão inteligente”, afirmou a mãe.

Ophelia frequenta o Abacus 2000 Nursery School em Ross-on-Wye, três dias por semana.


Links:



sábado, 25 de agosto de 2018

Mensagem do Professor Modesto Carvalhosa sobre a representação criminal contra Lula e sua candidatura fake:

“Conjuntamente com o escritório do Dr. Eduardo Spínola, entramos com uma representação criminal contra o sr. Luiz Inácio Lula da Silva, atualmente domiciliado no cárcere da Polícia Federal na cidade de Curitiba.

Esse senhor fez o pedido de registro de sua candidatura à Presidência da República apresentando uma certidão da 3ª Região que não dá notícia de sua inelegibilidade, consoante com a “Ficha Limpa”.

Ao omitir este fato notório e incontestável, claramente tenta enganar os julgadores de seu pedido de registro, ferindo o artigo 350 do código eleitoral:

“Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele deveria constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa, da que devia ser escrita, para fins eleitorais.”

Ou seja, o criminoso comete mais um crime. Passível de punição.

Cumprindo o dever legal imposto pelo art. 356 do Código Eleitoral, levamos ao conhecimento do EXMO SR. SUB-PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA JUNTO AO EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL ELEITORAL esta representação, para que o ex-presidente seja formalmente denunciado pela prática do crime capitulado no art. 350 do mesmo Código.

Pedimos o apoio de vocês e dos meios de comunicação para que nos ajudem a divulgar esta representação de suma importância para o andamento normal das eleições no Brasil.

Nova moeda da Venezuela despenca nos primeiros dias

ALONSO MOLEIRO

Vários empresários foram detidos sob a acusação de aumentar os preços depois da reforma econômica

Prestes a completar-se uma semana das medidas econômicas adotadas pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a cotação do chamado bolívar soberano, fixada em 60 unidades por dólar depois da reforma que tirou cinco zeros da moeda local, continuou se depreciando nos mercados secundários. Em alguns índices de referência, o dólar era negociado a 90 bolívares, e em outros chegou a 120. Ou seja, uma desvalorização próxima de 50%, somando-se à de 96% que foi oficialmente reconhecida com o lançamento da nova moeda.

“A reação inicial do mercado foi ruim. A pressão especuladora sobre o dólar continua”, opina Víctor Álvarez, economista, ganhador do prêmio nacional de Ciências e ministro interino nos tempos do ex-presidente Hugo Chávez.
O nervosismo dos mercados continua empurrando os preços para cima. O Governo de Maduro está decidido a impor suas decisões pela razão ou pela força, e por isso publicou uma tabela de preços de 25 produtos da cesta básica de consumo. A nova norma obriga, mediante um pacto, os empresários e produtores a respeitarem e divulgarem esses preços. “Os acordos de preços não são acordos”, afirma Álvarez, “nesse nível não é possível nem cobrir custos, e isso pode causar um recrudescimento da escassez e da inflação”.

Na quarta-feira, 22, enquanto continuava a confusão sobre o uso do bolívar soberano, a Polícia Nacional Bolivariana deteve Alejandro Quintana e Graziano La Rosa, gerentes da loja PlanSuárez, em Caracas, acusados de esconder estoques e calcular fraudulentamente os preços no novo bolívar. Maduro já tinha advertido aos comerciantes que quem não respeitasse os preços tabelados seria preso.

As operações de controle de preços são realizadas pela Superintendência Nacional para a Defesa dos Direitos Socioeconômicos (Sundde). Seu presidente, William Contreras, lamentou que algumas redes farmacêuticas, como Farmatodo e Farmahorro, estejam fazendo cálculos incorretos do valor do novo bolívar e prometeu investigá-las. Não é a primeira vez que o Estado adota esse tipo de práticas punitivas: nos últimos anos, executivos da rede de varejo Dia a Dia foram acusados de especulação, enviados à prisão durante alguns meses e posteriormente liberados com alguma medida judicial substitutiva.

Ao mesmo tempo, o procurador-geral Tarek William Saab mostrou sua disposição de colaborar com o Poder Executivo na penalização do que as autoridades chamam de “delitos econômicos”. Ele encarregou mais de 100 promotores em todo o país de ajudarem a Polícia e a Guarda Nacional na defesa dos preços tabelados.

A nova lista deixa a cesta básica com um custo total de 117.000 bolívares soberanos. O quilo de carne, por exemplo, foi fixado em 90 bolívares, um preço semelhante ao que tinha com o velho bolívar. O leite pasteurizado e a caixa com 30 ovos passam a custar respectivamente 48 e 81 bolívares soberanos.

Francisco Rodríguez, presidente da firma Torino Capital, considera que “este projeto tem sérios problemas de credibilidade: sai de um Governo que há anos vem imprimindo dinheiro sem respaldo e que produziu severas distorções fiscais e orçamentárias. O Governo promete disciplina fiscal, mas poucos acreditam nele”. Os especialistas consultados concordam que “há poucas razões para que os atores econômicos sejam otimistas”.

Restrições à compra de divisas
“Há um elemento que conspira contra o plano de Maduro: foram mantidas algumas restrições à aquisição de divisas”, afirma Rodríguez. “Em qualquer esquema de estabilização onde a taxa de câmbio desempenhe um papel para realinhar as expectativas é preciso haver livre convertibilidade.”

O Governo autorizou a compra e venda de moeda estrangeira sem intermediários, mas impôs limites claros aos seus montantes, mediante leilões e atribuições. Rodríguez considera que os níveis de escassez atual – um pouco atenuados com relação há alguns meses atrás – vão se manter.

O descontrole cambial e a consolidação de expectativas negativas (consequência dos novos aumentos de preços) estão inscritos no fenômeno que, dentro da interpretação do chavismo, denominou-se “guerra econômica da burguesia".

EL PAÍS


sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Mercados põem em xeque a política econômica de Erdogan

Editorial

A Turquia é o novo epicentro da onda de turbulências que sacode as moedas dos países emergentes e também o euro. As quedas violentas da lira têm como ingredientes uma política expansionista que superaqueceu a economia, jogou a inflação para o alto, ampliou excessivamente o endividamento privado em moeda estrangeira e as interferências cada vez mais discricionárias do agora presidente Recep Erdogan, que se apoderou do Banco Central e pôs seu genro como ministro das Finanças. A pausa para descanso no ataque à lira, ontem, não decorre de nenhuma ação decisiva do governo para estancar a depreciação, de 40% no ano.

Pelo canal econômico, a Turquia praticamente não têm relações com os demais países emergentes. A instabilidade que os tombos da lira causam vem por meio do reordenamento de portfólios dos investidores globais, que captaram mais um sinal para fugir dos ativos de risco. Nesse movimento, atingiram mais uma vez a Argentina, que elevou sua taxa de juros para 45%, o Brasil, África do Sul, Rússia e Índia. Pelo canal financeiro, a mega desvalorização da moeda atingiu os bancos e empresas turcas, seus sócios e credores europeus, com o espanhol BBVA, o francês BNP Paribas e o italiano UniCredit.

Por envolver a maior instituição financeira da Itália, que tem sistema bancário frágil, e cujo governo é um amálgama exótico de partidos que são contra o euro, a moeda europeia teve a maior depreciação em 13 meses enquanto que o rendimento dos títulos soberanos italianos de 10 anos passou dos 3%.

Erdogan está na mira dos mercados porque sua política econômica exagerou nos estímulos que, se produziram um crescimento de 7% em 2017, elevaram a inflação para 16% (junho), muito acima da meta de 5%, e estrangularam o setor externo. Em discussões recentes com o governo turco, o FMI resumiu vulnerabilidades do país: grande necessidade de financiamento externo, dependência de capitais de curto prazo e elevado endividamento das empresas não financeiras em moeda fortes.

O déficit em conta corrente turco é de 5,4% do PIB e continua crescendo. Os números da dívida bruta e líquida do governo - 53,2% e 35,4% do PIB - são bem menores que os do Brasil, por exemplo. Da mesma forma que seu déficit público nominal, de 3% do PIB, é a metade do brasileiro. É a pilha de US$ 293 bilhões de dívida corporativa uma das maiores fragilidades criadas pela depreciação.

A tesoura de déficits comerciais elevados (US$ 47 bilhões em 2017) e na conta de capitais cortou a sustentabilidade da lira e da política econômica que a apoiava. A necessidade bruta de financiamento é de US$ 230 bilhões, pouco mais da metade de curto prazo, de US$ 128,6 bilhões. As reservas caíram para perto de US$ 85 bilhões. O PIB da Turquia é de US$ 850 bilhões.

Chegou-se a isso com um impulso creditício sem amarras, especialmente por parte dos bancos públicos, que detêm 44% do crédito total. Com parco investimento direto externo de 1% do PIB, o governo colocou em pé parcerias público-privadas de US$ 61 bilhões, ou 7% do PIB. Os estímulos foram bancados com taxa de juros nula ou negativa. A inflação disparou e o país cresceu mais que a China no ano passado.

Erdogan, há 15 anos no poder, atribuiu as desgraças recentes a conspiradores e traidores. Sua polícia saiu à caça de "pessoas envolvidas em ações que ponham em risco a confiança na economia", o que se tornou um hábito após o golpe de 2016 - perseguições sistemáticas à oposição e imprensa, expurgo de dezenas de milhares de servidores públicos e membros do Judiciário. A repressão limpou o caminho para a eleição de 2017, na qual Erdogan se elegeu presidente todo poderoso em um país cada vez mais dividido.

O presidente não acredita que tenha de mudar sua política econômica, no que é contestado por investidores e entidades empresariais do país, que sugerem um aperto fiscal e monetário que interrompa a tempestade que se abateu sobre a lira. Erdogan desconversa e prefere operar no campo político, criticando os EUA - que lhe deram motivo, ao elevar tarifas sobre aço e alumínio da Turquia no dia de pior desempenho da lira - e prometendo cortejar "novos aliados", como a Rússia. A Turquia é membro da Otan.

Erdogan não quer ajuda do FMI, crê que juros altos provocam inflação e declarou que a elevação da taxa não ocorrerá "enquanto estiver vivo". O presidente preza a vida e o poder e será forçado a tomar medidas que corrijam o caminho insustentável que designou para a economia turca.

Valor Econômico