Thomas Sowell
É difícil encontrar um esquerdista
que ainda não tenha inventado uma nova “solução” para os “problemas” da
sociedade. Com frequência, tem-se a impressão de que existem mais
soluções do que problemas. A realidade, no entanto, é que vários dos
problemas de hoje são resultado das soluções de ontem.
No cerne da visão de mundo da
esquerda jaz a tácita presunção de que pessoas imbuídas de elevados ideais e
princípios morais — como os esquerdistas — sabem como tomar decisões para
outras pessoas de forma melhor e mais eficaz do que estas próprias pessoas.
Esta presunção arbitrária e
infundada pode ser encontrada em praticamente todas as políticas e
regulamentações criadas ao longo dos anos, desde renovação urbana até serviços
de saúde. Pessoas que nunca gerenciaram nem sequer uma pequena farmácia —
muito menos um hospital — saem por aí jubilosamente prescrevendo regras sobre
como deve funcionar o sistema de saúde, impondo arbitrariamente seus caprichos
e especificidades a médicos, hospitais, empresas farmacêuticas e planos de
saúde.
Uma das várias cruzadas
internacionais empreendidas por intrometidos de esquerda é a tentativa de
limitar as horas de trabalho de pessoas de outros países — especialmente países
pobres — em empresas operadas por corporações multinacionais. Um grupo de
monitoramento internacional se autoatribuiu a tarefa de garantir que as pessoas
na China não trabalhem mais do que as legalmente determinadas 49 horas por
semana.
Por que grupos de monitoramento
internacional, liderados por americanos e europeus abastados, imaginam ser
capazes de saber o que é melhor para pessoas que são muito mais pobres do que
eles, e que possuem muito menos opções, é um daqueles insondáveis mistérios que
permeiam a intelligentsia.
Na condição de alguém que saiu de
casa aos 17 anos de idade, sem ter se formado no colégio, sem experiência no
mercado de trabalho, e sem habilidades específicas, passei vários anos de minha
vida aprendendo da maneira mais difícil o que realmente é a pobreza. Um
dos momentos mais felizes durante aqueles anos ocorreu durante um breve período
em que trabalhei 60 horas por semana — 40 horas entregando telegramas durante o
dia e 20 horas trabalhando meio período em uma oficina de usinagem à noite.
Por que eu estava feliz?
Porque antes de encontrar estes dois empregos eu havia gasto semanas procurando
desesperadamente qualquer emprego. Minha escassa poupança já havia
evaporado e chegado literalmente ao meu último dólar quando finalmente
encontrei o emprego de meio período à noite em uma oficina de usinagem.
Passei vários dias tendo de caminhar
vários quilômetros da pensão em que morava no Harlem até a oficina de usinagem,
que ficava imediatamente abaixo da Ponte do Brooklyn, e tudo para poupar este
último dólar para poder comprar pão até finalmente chegar o dia de receber meu
primeiro salário.
Quando então encontrei um emprego de
período integral — entregar telegramas durante o dia —, o salário somado dos
dois empregos era mais do que tudo que eu já havia ganhado antes. Foi só
então que pude pagar a pensão, comer e utilizar o metrô para ir ao trabalho e
voltar.
Além de tudo isso, ainda conseguia
poupar um pouco para eventuais momentos difíceis. Ter me tornado capaz de
fazer isso era, para mim, o mais próximo do nirvana a que já havia
chegado. Para a minha sorte, naquela época não havia nenhum intrometido
de esquerda querendo me impedir de trabalhar mais horas do que eu gostaria.
Havia um salário mínimo, mas, como o
valor deste havia sido estipulado em 1938, e estávamos em 1949, seu valor já
havia se tornado insignificante em decorrência da inflação. Por causa
desta ausência de um salário mínimo efetivo, o desemprego entre adolescentes
negros no ano de 1949, que foi um ano de recessão, era apenas uma fração do que
viria a ser até mesmo durante os anos mais prósperos desde a década de 1960 até
hoje.
À medida que os moralmente ungidos
passaram a elevar o salário mínimo, a partir da década de 1950, o desemprego
entre os adolescentes negros disparou. Hoje, já estamos tão acostumados a
taxas tragicamente altas de desemprego neste grupo, que várias pessoas não
fazem a mais mínima ideia de que as coisas nem sempre foram assim — e muito
menos que foram as políticas da esquerda intrometida que geraram tais
consequências catastróficas.
Não sei o que teria sido de mim caso
tais políticas já estivessem em efeito em 1949 e houvessem me impedido de
encontrar um emprego antes de meu último dólar ser gasto.
Minha experiência pessoal é apenas
um pequeno exemplo do que ocorre quando suas opções são bastante
limitadas. Os prósperos intrometidos da esquerda estão constantemente
promovendo políticas — como encargos sociais e trabalhistas — que reduzem ainda
mais as poucas opções existentes para os pobres. Quando não reduzem
empregos, tais políticas afetam sobremaneira seus salários.
Parece que simplesmente não ocorre
aos intrometidos que as corporações multinacionais estão expandindo as opções
para os pobres dos países do terceiro mundo, ao passo que as políticas
defendidas pela esquerda estão reduzindo suas opções.
Os salários pagos pelas
multinacionais nos países pobres normalmente são muito mais altos do que os
salários pagos pelos empregadores locais. Ademais, a experiência que os
empregados ganham ao trabalhar em empresas modernas transforma-os em
mão-de-obra mais valiosa, e fez com que na China, por exemplo, os salários
passassem a subir a porcentagens de dois dígitos anualmente.
Nada é mais fácil para pessoas
diplomadas do que imaginar que elas sabem mais do que os pobres sobre o que é
melhor para eles próprios. Porém, como alguém certa vez disse, “um tolo
pode vestir seu casaco com mais facilidade do que se pedisse a ajuda de um
homem sábio para fazer isso por ele”.
Thomas Sowell
Um dos
mais influentes economistas americanos, é membro sênior da Hoover Institution
da Universidade de Stanford. Seu website:
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