sábado, 31 de outubro de 2015

O paraíso das empreiteiras

Elio Gaspari 

Há grão-senhores em Curitiba e outros com tornozeleiras, mas seus peões continuam trabalhando no Congresso


Se a doutora Dilma não vetar um gato colocado na tuba da Medida Provisória 678, as grandes empreiteiras de obras públicas ficarão com um pé no inferno e outro no paraíso. O inferno é a carceragem de Curitiba. O paraíso será a conquista de um passe livre em futuros contratos, sem as restrições impostas pela legislação. Coisa jamais vista.

A história desse gato é uma viagem ao mundo de Brasília, onde fazem-se leis que se transformam em privilégios e, às vezes, acabam em escândalos.

Os fornecedores do governo odeiam a Lei das Licitações. Quando podem, esburacam-na. Em 1998, criou-se para a Petrobras um “procedimento licitatório simplificado”. Deu no que deu. Em 2011, com o objetivo de acelerar as obras para a Copa do Mundo, surgiu o “Regime Diferenciado de Contratação” (RDC) para as empreitadas dos jogos. Nele, entrou o conceito de “contratação integrada”, permitindo que uma obra seja licitada apenas com um anteprojeto. As empreiteiras ganhariam liberdade para definir materiais e até mesmo os testes de qualidade de seus serviços. A maluquice do Trem Bala poderia ter sido transformada num “projeto integrado”. Felizmente, o BNDES matou-a.

Até aí, tudo bem, pois havia pressa para a Copa. Ela se foi, e o VLT de Cuiabá, previsto para custar R$ 1,8 bilhão, está com os trabalhos parados. Se tudo der certo, ficará pronto em 2018, o ano da Copa na Rússia. Até lá, 40 trens continuarão estocados nos pátios. Passaram-se cinco anos da criação do RDC, e ele expandiu-se, valendo também para obras do PAC, presídios ou mesmo postos de saúde.

No ano passado, o Planalto preparou um projeto de lei que mudava a Lei das Licitações, embutindo o conceito de “projetos integrados”. Jogo jogado, admita-se que a ideia é boa, modernizadora, globalizante ou seja lá o que for. O governo e os peões das empreiteiras poderiam botar a cara na vitrine defendendo-a. Com a Lava-Jato na rua, o projeto sumiu.

Agora, sem maiores discussões, os “projetos integrados” reapareceram no texto da conversão da Medida Provisória 678. Originalmente, ela permitia um regime especial de contratação para empresas de segurança durante as Olimpíadas do Rio. Virou uma árvore de Natal e incluiu no regime especial de contratação obras de infraestrutura como estradas, portos ou aeroportos. Empreitadas desse porte acabam entregues a grandes empreiteiras, precisamente aquelas que trocaram as capas de revistas de negócios pelas páginas de notícias policiais.

O Supremo Tribunal Federal decidiu que não se podem colocar jabutis em medidas provisórias, mas os peões do Congresso podem argumentar que a medida provisória já estava em tramitação e, portanto, está fora do alcance do veto.

A doutora Dilma tem todo o direito de dizer que não respeita os delatores que destamparam o bueiro da Petrobras. Desde os primeiros dias da Lava-Jato, ela manteve uma posição de antipática neutralidade pelo trabalho dos investigadores. A Polícia Federal e os procuradores estão atrás da indústria de gatos em medidas provisórias e já pegaram alguns negócios esquisitos. Em relação à Lava-Jato, a doutora repete que nada teve a ver com a história. Se o Ministério Público e a Polícia Federal chegarem a atos que ela sancionou, a conversa será outra.

O Globo

Com dois déficits seguidos, governo prevê dívida bruta a 71,1% do PIB em 2016

RICARDO BRITO E ADRIANA FERNANDES

Documento enviado ao Congresso Nacional e obtido com exclusividade indica que a dívida bruta chegará a 71,1% ao fim do próximo ano e ainda subirá no ano seguinte, alcançando 72%

BRASÍLIA - Com a confissão de que o País passará por dois déficits seguidos, o governo Dilma Rousseff admitiu pela primeira vez que a dívida bruta do setor público vai romper a barreira de 70% do PIB em 2016. Documento enviado ao Congresso Nacional e obtido com exclusividade peloBroadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, indica que a dívida bruta chegará a 71,1% ao fim do próximo ano e ainda subirá no ano seguinte, alcançando 72%. Este ano, o governo prevê que a dívida bruta feche em 68,3% do PIB.

O rompimento da barreira dos 70% traz riscos maiores para o Brasil, porque esse é um dos principais indicadores de robustez e sustentabilidade das finanças de um país observados pelas agências internacionais de rating. Ou seja, aumenta a possibilidade de o Brasil perder o selo de bom pagador por outras duas agências de classificação - Fitch e Moody's - após a Standard & Poor's já ter feito isso no mês passado.

No documento enviado ao Congresso, o Executivo disse que o "cenário macroeconômico projetado, juntamente com a elevação gradual do resultado primário, permitirá a sustentabilidade da política fiscal, com menor crescimento da dívida bruta do governo geral como proporção do PIB em 2017". 

"Com a recuperação do resultado primário ao longo dos anos seguintes e a retomada do crescimento, a dívida pública se estabilizará", diz o anexo de metas fiscais encaminhado pelo Executivo e ainda não divulgado oficialmente pela Comissão Mista de Orçamento (CMO), que recebeu o documento.

Com o rombo primário de 0,85% do PIB em 2015, o governo prevê que o déficit nominal das contas do setor público vai bater o recorde histórico de 9,47%. O resultado nominal inclui na conta os gastos com o pagamento dos juros da dívida pública. O valor mais alto até agora de déficit foi de 6,23%, em 2014. Para 2016, o déficit nominal previsto é de 5,01% e de 3,97% para 2017.

A equipe econômica manteve a meta de superávit primário de 0,7% do PIB para o próximo ano e de 1,3% do PIB para o ano seguinte. Para elaborar essas novas previsões, o governo trabalhou com uma queda do PIB de 1% em 2016 e crescimento de 1,1% em 2017. Embora diga que se trate de projeções do mercado, a estimativa do PIB para 2016 é mais otimista que a última pesquisa Focus, divulgada pelo Banco Central, que prevê uma retração de 1,43% da economia brasileira para o próximo ano. 

O governo usou a taxa de câmbio de R$ 4 para 2015, 2016 e 2017 e a Selic (ao fim de período) de 14,25% em 2015, 12,5% em 2016 e 11% em 2017. O IPCA, por sua vez, usado foi de 9,53% em 2015, 5,94% em 2016 e 4,5% em 2017, chegando ao centro da meta.

ESTADÃO



sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Rússia paga para ver na Síria e expõe blefe da “Nova Ordem Mundial”

Brasil Soberano e Livre

Para qualquer observador ou comentarista não contagiado pela percepção equivocada de que o eixo Washington-Nova York-Londres encarna a manifestação mais avançada do processo civilizatório, salta aos olhos que a intervenção militar da Federação Russa no conflito na Síria sinaliza um ponto de inflexão no cenário geopolítico global. Como afirmamos em um artigo anterior, comparando-a à decisiva Batalha de Stalingrado, na II Guerra Mundial, a iniciativa de Moscou tem tudo para representar o há muito esperado “basta” na tolerância com as maquinações da cúpula dirigente anglo-americana para estabelecer uma hegemonia unipolar global incontestável, a chamada “Nova Ordem Mundial”, proclamada pelo presidente George H.W. Bush, diante da implosão do bloco socialista encabeçado pela União Soviética. Tomando de empréstimo a linguagem do jogo de cartas favorito dos estadunidenses, o pôquer, poder-se-ia dizer que as lideranças do Kremlin pagaram para ver e estão expondo ao mundo o blefe da farsesca narrativa que tem sustentado a estratégia hegemônica dos oligarcas ocidentais.

Acima de tudo, a decidida intervenção em favor do combalido governo do presidente sírio Bashar al-Assad sinalizou um fim para a agenda das “mudanças de regime” segundo os interesses de Washington. Agora, independentemente do que proclamem Barack Obama, David Cameron, François Hollande, Recep Erdogan e outros personagens menores, o destino de Assad será decidido dentro da Síria e pelos sírios, após a pacificação do país – meta que, após mais de quatro anos de devastação, parece estar ao alcance.

No momento, as forças sírias, com o apoio da aviação russa e unidades da Força Quds iraniana e do Hisbolá libanês, se preparam para um assalto decisivo contra os jihadistas entrincheirados em Aleppo, a maior cidade do país. Embora qualquer prognóstico sobre o desdobramento das ações militares seja arriscado, a reconquista de Aleppo proporcionaria à coalizão síria-russa-iraniana-libanesa uma excelente cabeça-de-ponte para uma ofensiva coordenada com as milícias curdas, com o objetivo de fechar a fronteira com a Turquia, ao norte, origem das principais linhas de abastecimento dos jihadistas e das escassas forças de oposição não dominada pelos fundamentalistas islâmicos (vide o mapa). Enquanto isso, a “contribuição” estadunidense veio na forma de novos bombardeios à central elétrica que abastece Aleppo, poupada até mesmo pelos invasores.
Em especial, ao obter em três semanas resultados que a coalizão de forças aéreas liderada pela US Air Force (o “Clube das Bombas”) não logrou em um ano, o reduzido destacamento das Forças Aeroespaciais Russas na Síria demonstrou que, como numerosos comentaristas têm afirmado – inclusive o MSIa Informa – a “guerra ao terror” não passa de um pretexto para a imposição da agenda de Washington.

Uma questão intrigante tem sido a incapacidade da coalizão ocidental de atingir os longos comboios do Estado Islâmico (EI) em suas reluzentes caminhonetes Toyota (a maioria fornecida pelo Departamento de Estado à chamada “oposição moderada” e posteriormente transferida aos jihadistas), alvos bastante vulneráveis a ataques aéreos orientados pela sofisticada capacidade de vigilância disponível ao comando estadunidense, com a sua armada de drones e satélites.

Em uma entrevista à televisão australiana, em agosto último, o jornalista inglês Robert Fisk, veterano correspondente do The Independent no Oriente Médio e um dos melhores conhecedores da região, informou que a aviação estadunidense poderia ter bombardeado o comboio do Estado Islâmico (EI) que se dirigia à histórica cidade de Palmira, no sul da Síria. Diante da inação, os jihadistas tomaram a cidade milenar e ali perpetraram o seu costumeiro espetáculo macabro de assassinatos e destruição do patrimônio histórico. Depois de Aleppo, a retomada de Palmira representaria outro marco de grande significado simbólico para a coalizão dos Aliados (denominação à qual os sírios, russos, iranianos, libaneses e iraquianos fazem jus com todos os méritos).

Um relatório de avaliação do cenário do conflito, elaborado em agosto de 2012 pela Agência de Inteligência de Defesa (DIA) dos EUA e recentemente revelado pela Lei de Liberdade de Informação, agência já havia antecipado a emergência do EI, acertando até mesmo o nome que a entidade islamista adotaria: “O ISI [Estado Islâmico do Iraque, em inglês] poderia, também, declarar um Estado Islâmico, com a sua união com outras organizações no Iraque e na Síria, o que criará um grave perigo, no tocante à unificação do Iraque e à proteção do seu território (RT, 10/08/2015).”

O relatório adverte sobre “consequências sombrias” desse cenário, uma vez que ele permitiria à rede terrorista Al-Qaida retomar as suas posições no Iraque e unificar as forças jihadistas sunitas, no Iraque e na Síria, e o restante dos sunitas no mundo árabe, lançando-os contra as minorias islâmicas que consideram dissidentes.

Em uma entrevista à rede Al-Jazira, ninguém menos que o ex-diretor-geral da agência, general Michael Flynn, ao ser perguntado sobre se o governo estadunidense teria “feito vista grossa” à análise da DIA, respondeu secamente: “Eu acho que foi uma decisão deliberada.”

Um aspecto de suma relevância na intervenção russa é a demonstração real das suas capacidades militares, que têm surpreendido os observadores ocidentais. Primeiro, pela eficiência do reduzido destacamento aéreo (constituído por 30 aviões de ataque SU-24M, SU-25MS e SU-34, quatro caças SU-30SM e 15 helicópteros MI-24 de assalto e MI-8 de transporte e uso geral), que tem mantido um altíssimo nível de operacionalidade e precisão nos ataques. Segundo, pela insuspeita qualidade de novos armamentos e equipamentos, para os quais estão convergindo as atenções dos especialistas militares, não apenas dos EUA e seus aliados-vassalos, como de outros países com importantes interesses estratégicos a devender.

Um deles é o míssil de cruzeiro furtivo Kaliber-NK, 26 dos quais foram disparados de navios operando no Mar Cáspio, a 1.500 quilômetros de distância dos seus alvos, que atingiram com precisão de poucos metros. Além do enorme alcance da arma, impressionou o fato de os mísseis terem sido lançados por quatro belonaves relativamente pequenas (uma fragata classe Gepard, de 1.900 toneladas, e três corvetas classe Bunyan-M, de 950 toneladas), quando os seus equivalentes estadunidenses são disparados apenas por destróieres e cruzadores muito maiores. O emprego dos mísseis, que não tinha qualquer necessidade militar estrita, foi considerado como uma demonstração de força aos integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), inclusive, quanto à inutilidade dos dispendiosos escudos antimísseis que os EUA estão construindo ao redor da Rússia, como observou o analista francês Thierry Meyssan (Réseau Voltaire, 19/10/2015).

Meyssan, que tem vínculos com setores da inteligência francesa e atualmente reside em Damasco, informa, também, que a força russa dispõe de um formidável sistema de interferência eletrônica, que permite interferir em radares, circuitos de controle, sistemas de transmissão de informações e outros integrantes das redes de comando, controle, comunicações, computadores e inteligência (C4I, no jargão militar) das forças oponentes. Segundo ele, o equipamento está operando em Hmeymim, ao norte de Latakia, e tem um alcance de 300 quilômetros, o que inclui em seu raio de ação a crucial base aérea turca de Incirlik, de onde operam as aeronaves da coalizão ocidental que efetuam ataques em território sírio.

“Estupefato, o Pentágono está agora dividido entre os que tendem a minimizar os fatos e a buscar falhas no dispositivo militar russo e os que, ao contrário, consideram que os EUA perderam a sua superioridade em matéria de guerra convencional, e que necessitará de longos anos para recuperá-la”, afirma.

Talvez, a eficiência do sistema tenha “convencido” o comando estadunidense da coalizão ocidental a estabelecer uma linha direta com o comando russo, para evitar eventuais incidentes no espaço aéreo sírio. Anteriormente, os russos já haviam estabelecido uma linha semelhante com as Forças de Defesa de Israel, que cessaram as costumeiras incursões na Síria e vinham atuando como intermediários para os contatos russo-estadunidenses.

Entretanto, tão importante quanto a qualidade dos equipamentos e dos homens que os operam (p.ex., vários dos controladores aéreos russos são fluentes em árabe) é a estreita coordenação de inteligência e operacional estabelecida com os demais Aliados, que tem possibilitado uma criteriosa seleção dos alvos das operações aéreas e minimizando as possibilidades de danos e baixas entre os civis (até agora, não surgiu qualquer informação crível a respeito).

A determinação de Moscou levou o ex-subsecretário do Tesouro Paul Craig Roberts (Governo Reagan), um dos mais severos críticos do belicismo de seu país, a decretar “o fim da Unipotência”, em sua coluna de 17 de outubro. Para ele, o recente discurso do presidente Vladimir Putin na Assembleia Geral das Nações Unidas significou uma inflexão histórica:

Até o discurso de Putin, o mundo era intimidado pelo Valentão de Washington. A resistência a Washington trazia uma rápida retaliação. No Oriente Médio e na África, ela trazia sanções econômicas e invasões militares que destruíam países inteiros. Na França e em outros Estados vassalos dos EUA, trazia multibilionários confiscos de ativos bancários, como preço por não seguir as políticas de Washington… Outros países se sentiam impotentes diante da Unipotência hegemônica arrogante, que de vez em quando respondia às desobediências com ameaças, como a do subsecretário de Estado Richard Armitage, que ameaçou bombardear o Paquistão “de volta à idade da pedra”.

O presidente Putin colocou um fim em tudo isso, em 28 de setembro. Ele se ergueu diante do mundo, na presença da soberba transbordante do hegemon, e colocou o guizo no pescoço do gato… A Unipotência hegemônica deixou de existir em 28 de setembro. Este é um divisor de águas. Ele afetará o comportamento de cada governo. Até mesmo alguns empedernidos Estados vassalos, cujos “líderes” são bem pagos, se moverão rumo a uma política externa mais independente.

O perigo, adverte, são “os enlouquecidos neoconservadores”, essa “escória inumana que tem controlado a política externa dos EUA desde o segundo Governo Clinton” e, segundo Roberts, “são capazes de defender a hegemonia estadunidense com armas nucleares” e de organizar “um ataque bandeira falsa que leve os EUA e a Rússia à guerra”.

As responsabilidades do “day after”

Na avaliação feita neste sítio há um ano (“Sob que condições o Estado Islâmico deve ser combatido”), quando antecipamos a necessidade de uma ação militar semelhante à iniciativa russa, afirmamos também que tal ação necessitaria do complemento imprescindível de uma agenda de desenvolvimento, uma espécie de “Plano Marshall” regional, que oferecesse uma perspectiva de um futuro positivo e atividades criativas e produtivas para os milhões de jovens hoje desocupados e potencialmente seduzidos pela violência “purgativa” do jihadismo. Iniciativa que, ademais, teria um enorme potencial para reduzir consideravelmente as tensões em toda a área, além de proporcionar grandes oportunidades econômicas para as potências extrarregionais (que, apesar de acossadas pela crise econômico-financeira, só conseguem pensar em termos militares).

No nosso entendimento, a implementação de tal agenda representaria um passo importante no estabelecimento de uma nova ordenação global para as relações internacionais, em que a cooperação para o desenvolvimento pudesse suplantar o hegemonismo, o confrontacionismo e, sobretudo, o “excepcionalismo” neocolonialista, que é a mãe de todos os fundamentalismos.

Em um artigo recente, o conceituado analista político F. William Engdahl faz considerações semelhantes:

(…) O desafio final será: que ordem ou matriz econômica emergirá internacionalmente das cinzas da guerra? Isto determinará a possibilidade de se obter ou não uma paz genuína e o isolamento da máquina de guerra de Washington.

Aqui, felizmente, a maior parte dos componentes essenciais de uma tal ordem econômica soberana alternativa já existem, embora de uma forma falha. Eu falo do Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura (AIIB), em Pequim, com 57 membros potenciais, e do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) dos BRICS (Brasil-Rússia-Índia-China-África do Sul), baseado em Xangai, China, que já está operando. As portas para a candidatura de regimes estáveis, tanto na Síria como no Iraque, a se integrarem ao AIIB, estão abertas. O Irã já é um membro fundador do banco, assim como a Rússia. Isso e, talvez, créditos ou empréstimos para infraestrutura do NDB dos BRICS poderiam ajudar bastante a estabilizar e espalhar a paz mundial, começando pelas zonas de guerra da Primavera Árabe dos EUA. (…)

Todavia, Engdahl adverte que, para serem efetivas, tais instituições terão, cedo ou tarde, que se livrar da adesão ao “sistema do dólar” e dos correspondentes princípios financeiros baseados no financiamento dos Estados com a emissão de títulos de dívida, intermediados pela rede de bancos centrais nominalmente independentes.

Embora as condições para isso, talvez, tenham que aguardar um aprofundamento da crise global, como um forte abalo tectônico no sistema financeiro internacional, é fundamental que tais alternativas sejam debatidas e aprofundadas, para que estejam à mão quando se tornarem necessárias.

MSIa




Manifestantes fazem ato contra Dilma; líder do PT diz que são “vagabundos”

Fernanda Calgaro 

Grupo pró-impeachment fez manifestação na galeria do plenário da Câmara.

'Vamos pro pau com vocês agora', gritou deputado Sibá Machado (PT-AC).


Um grupo de manifestantes ligados ao Movimento Brasil Livre, que defende o impeachment da presidente Dilma Rousseff, fez nesta terça-feira (27) um protesto na galeria do plenário da Câmara dos Deputados durante a sessão de votação. O líder do PT, deputado Sibá Machado (AC) reagiu e, do microfone no plenário, chamou os manifestantes de "vagabundos".

Eles estenderam duas faixas com os dizeres “Impeachment” e "Fora, Dilma" e acabaram retirados do local pela Polícia Legislativa após vaiarem o deputado petista Wadih Damous (RJ), que discursava contra o afastamento da presidente, argumentando que inexiste “qualquer suporte jurídico” que sustente um pedido de impeachment.

“Contra ela, não há qualquer procedimento investigativo ou criminal no que diz respeito à esfera da prática de crimes comuns. Da mesma forma que não pesa sobre a presidente Dilma, não se pode imputar a ela a prática de crimes de responsabilidade. Aqueles que acenam com pedaladas fiscais, essas decisões não vinculam nada nem a ninguém”, disse Damous.

Enquanto o deputado discursava, o grupo começou a vaiá-lo e a cantar uma música em que falava “fora petista” e “a roubalheira do PT está acabando”.

A atitude provocou uma reação exaltada do líder do PT, Sibá Machado (AC), que chamou os manifestantes de "vagabundos" e disse que iria colocá-los "para correr".

“Eu vou juntar gente e vou botar vocês pra correr daqui de frente do Congresso. Bando de vagabundos. Vocês são vagabundos. Vamos pro pau com vocês agora”, gritou Sibá Machado.

Os integrantes do movimento estão acampados na frente do Congresso desde a semana passada, quando vieram acompanhar a entrega de um novo pedido de impeachment assinado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior.

Eles entraram na galeria quando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidia a sessão. Ele pediu apenas que ficassem em silêncio.

Quando estenderem a faixa, já havia ocorrido um bate-boca entre os líderes do PCdoB, Jandira Feghali (RJ), e do DEM, Mendonça Filho (PE).

O GLOBO

Comentário do blog:  nada como um dia após o outro. Agora, quem protesta contra nossa “governanta” Dilmandioca é vagabundo.
Quem te viu e quem te vê, em PT ? (MBF).



quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Sem ajuste, crise se agravará

Hélio Duque

A incerteza é matriz do atual momento da vida brasileira, onde o desemprego e a recessão invade o cotidiano. Sem uma política fiscal que controle com espartana disciplina os gastos públicos não essenciais, a desorganização patrimonial, em todos os níveis, com a perda de renda será consequência natural. O enfrentamento dessa realidade adversa só aponta um único caminho: ajuste fiscal. Postergá-lo significa aprofundamento da crise econômica e social. Sem o equilíbrio das contas públicas as perdas para a economia serão crescentes com o empobrecimento atingindo níveis alarmantes. Não fica adstrito ao Estado, mas espalha-se como um vírus no orçamento familiar e empresarial.

Resta indagar: o que ocorreu com o Brasil? A resposta é objetiva, os equívocos e erros recorrentes nos últimos anos executado pelo governo nocautearam as contas públicas. Sua origem pode ser localizada na expansão fiscal irresponsável, com elevação dos gastos estatais e corte seletivo de imposto, além da contenção dos preços administrados, a exemplo da energia elétrica, da gasolina e do diesel, para favorecer um projeto de poder. O acumulo dessas distorções não puderam mais se sustentar a partir da reeleição da Dilma Rousseff. Aflorou com rigor o cenário que estamos a vivenciar: recessão econômica, taxa de juros elevada e crise social tendente a se agravar.

O inadiável ajuste da economia pela disciplina fiscal não tem consenso no condomínio do poder. O ministro da Fazenda ao propor o ajuste fiscal é bombardeado pelo presidente do PT e pelo ex-presidente Lula da Silva. Eles enxergam no ajuste uma opção de direita. Infelizmente, no Brasil, o primarismo ideológico tem terreno fértil. Equilibrar contas públicas não tem nada de direita ou de esquerda, é o elementar dever moral de se pagar o que deve. Ideológico é elevar o nível incontrolável a atuação do Estado na economia. É expandir a rede de créditos estatais com alocações preferenciais aos amigos do poder, através os bancos públicos. Em tempo: os investimentos sociais para atacar as desigualdades não são os responsáveis pelo desastre.

O ajuste fiscal significa recolocar, no médio e longo prazo, a economia brasileira em ritmo de crescimento. Sabendo que a recessão de 2015 se repetirá em 2016, influenciando negativamente a retomada do crescimento nos anos de 2017 e 2018. Somente assim haverá perspectiva de, no médio prazo, ocorrer relativa estabilidade da dívida bruta em relação ao Produto Interno Bruto. Sem ele o aprofundamento da crise, com o encolhimento da economia brasileira, atingirá nível desesperador.

Os números que seguem demonstram o que está “ruim” pode se tornar “péssimo”. O IBGE, através a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgada em agosto, demonstra que 8,6 milhões de brasileiros estão desempregados. Com o indicativo de aumento até o final do ano, elevando o padrão de endividamento das famílias. A perda dos empregos formais, com carteira assinada, se aproxima dos 2 milhões, o que levou o Coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, economista Cimar Azeredo afirmar: “Isso significa perder plano de saúde, FGTS, garantia de seguro-desemprego. Tudo isso se traduz em perda de estabilidade”.

Pelo lado empresarial, a realidade não é diferente. A recuperação judicial vem frequentando o cotidiano de médias e grandes empresas. A Serasa Experian, através o economista-chefe Luiz Rabi, constata: “O quadro de recessão na economia afeta diretamente o ritmo de negócios e a geração de caixa das empresas”.

Aponta que do total das 7,9 milhões de empresas em operação no Brasil, perto de 4 milhões estão na condição de inadimplência. A quase totalidade é de micro empresas, grandes geradoras de emprego na área de serviços. Já no plano individual, a Serasa constata que 57 milhões de indivíduos estão endividados, principalmente em bancos, varejo e contas de consumo. Nesse segmento de consumidores, o valor do endividamento seria de R$ 246 bilhões.

Sem o ajuste da economia essa realidade se agravará, aumentando o desespero e a incerteza do futuro para os brasileiros.

Helio Duque
Doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira.

Alerta Total – www.alertatotal.net

Comentário do blog:  o único ajuste tem que se dar através da Lei de Responsabilidade Fiscal. Diminuir de 50% para 40%, para início de conversa, o quanto os políticos podem gastar com o empreguismo.
Lógico que está implícito o fato de que o governante não pode ser uma ANTA, nem ser assessorado por analfabetizados.(MF).


5 empresários que apostaram no governo e quebraram a cara

Felippe Hermes

Dos mais conhecidos, como Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas, aos mais desconhecidos, como Washington Luis, inúmeros presidentes brasileiros se preocuparam em reforçar o mito de que o desenvolvimento do país é uma consequência direta das suas ações. Aprendemos desde a escola que nossos melhores presidentes agiram para criar indústrias, grandes obras e feitos, sem dar relevância aos que criaram leis e bases de estabilidade do país.

Aprendemos que o crescimento econômico surge da construção de hidrelétricas e pontes, não com políticas que reduziram a inflação, ampliaram a responsabilidade fiscal ou tornaram crimes fraudar as contas públicas.

No Brasil entretanto, até mesmo nossos capitalistas parecem mais empolgados com esta ideia do que com a ideia de desenvolvimento pelo mercado. Temos empresários que dizem “ver com bons olhos a mistura entre empresas e o Estado” e outros que pedem por 3 bancos como o BNDES (o banco que transfere anualmente R$ 24 bilhões em subsídios para grandes empresas). Foi com esta crença de que as políticas do governo conduziriam a um crescimento inequívoco que inúmeros empresários entraram de cabeça em empreendimentos hoje mal sucedidos. Abaixo, listamos 5 deles que servem de exemplo para mostrar que deixar-se enganar por promessas de políticos não é exclusividade dos eleitores comuns.

1) LUPATECH – NESTOR PERINI
Fundada ainda nos anos 80, a metalúrgica gaúcha com sede em Caxias do Sul, Lupatech, atuou durante décadas em setores tão distintos como automobilístico e de alimentos. A anunciada auto-suficiência do país na produção de petróleo e da descoberta do pré-sal em 2007, levaram a empresa a realizar uma série de aquisições que a consolidaram como um fornecedor apto a grandes contratos no setor de óleo e gás. Foram mais de 16 aquisições entre 2006 e 2008 que levaram a empresa a faturar mais de R$ 550 milhõesem 2010.

No mesmo ano, a empresa garantiu aquilo que poderia lhe fazer mudar de patamar, entrando para o clube de grandes fornecedores mundiais da cadeia de petróleo e gás. A conquista de contratos no valor de R$ 1,7 bilhão junto à Petrobras levou a Lupatech e seus acionistas a projetarem um crescimento vertiginoso nos anos seguintes.

Assim como a estatal, porém, as ações da Lupatech encararam ladeira abaixo. De 2010 a 2014, quando a companhia entrou com pedido de recuperação judicial, suas ações caíram mais de 99%. Em 2015 não é diferente: a companhia encara uma queda de 92,89%. Segundo seu plano de recuperação judicial, a empresa foi vítima da má conjuntura do setor de petróleo, cujo barril caiu para US$ 45 dólares, ante mais de US$ 130 quando da assinatura dos contratos, além da conjuntura da própria Petrobras, envolta em escândalos que a levaram a declarar uma baixa de ativos no valor de R$ 88 bilhões, fruto de má gestão e corrupção, segundo a própria empresa.  

Para além de culpar fatores externos, analistas citam ainda que o elevado nível de endividamento somado ao não recebimento de valores da Petrobras levaram a empresa à atual situação. A aposta excessiva no setor de petróleo e gás culminou com a quebra da empresa e a demissão de milhares de funcionários em suas mais de 20 unidades no Brasil e no exterior.

2) EBX – EIKE BATISTA
Diz-se no mercado financeiro que nem mesmo Bill Gates, o fundador da Microsoft, ganhou tanto dinheiro com o PowerPoint, a ferramenta do office utilizada para fazer apresentações, com as quais Eike Batista conquistou a atenção de milhares de investidores no mundo inteiro, sedentos de oportunidades para investir no Brasil.

Um dos filhos de um famoso ex-presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Eike Batista apareceu para o mercado nacional após realizar uma grande tacada justamente no setor que tornou seu pai conhecido. Eike conseguiu empurrar para a mineradora britânica Anglo-American, parte do projeto “Minas-Rio”, que visava produzir minério de ferro em Minas Gerais, exportando-o pelo Rio de Janeiro, onde o empresário ergueria o complexo do Açu, o maior porto privado do hemisfério sul. A mineradora de Eike levou na ocasião US$ 5,5 bilhões, fazendo com que seus investidores embolsassem uma quantia próxima a US$ 2 bilhões, menos de 1 ano antes de terem comprado as ações da MMX em sua abertura de capital.

Complexo de grandeza e poucos resultados práticos tornaram o mercado mais cético em relação a Eike. Seu porto consumia recursos sem perspectiva de ganhos, sua mineradora produzia toneladas de prejuízo (e sem minério), seu estaleiro drenava recursos e sua petrolífera, que pretendia ser uma “mini Petrobras” se viu frustrando os investidores sem encontrar petróleo em seus poços.

Acusando os investidores e recusando-se a admitir os erros, Eike encontrou no ex-presidente Lula uma figura de apoio a seus planos. Como conta em seu livro à jornalista Malu Gaspar, a aproximação com Lula foi pretendida desde 2002 quando o empresário doou recursos para campanha que elegeu o sindicalista. Em outra época, Eike chegou a contratar o amigo de Lula, José Dirceu, como consultor para resolver uma crise com o governo boliviano. A amizade com o ex-presidente, porém, só se concretizou após encontros para uma formalização de proposta pela qual a mineradora de Eike assumiria o controle da toda poderosa Vale. A proposta foi rejeitada pelo Bradesco, grande acionista da mineradora, e Eike recuou do plano.

Durante os anos que se seguiram a este episódio, Eike e o BNDES se tornaram amigos próximos (o banco despejou R$ 10 bilhões em projetos do empresário), enquanto ex-ministros do presidente Lula, comoGuido Mantega e Fernando Pimentel (atual governador de Minas), atuaram para favorecer investimentos de empresas estrangeiras no porto de Açu, segundo denúncias (o resgate ao grupo X porém travou com o aumento da pressão sobre o governo vinda dos protestos de junho de 2013). A boa relação com o governo, que fez Eike ser chamado de ‘empresário modelo’ pela presidente Dilma, não bastou para salvar o “ex-midas”, que viu seu patrimônio ser dividido entre empresas estrangeiras, como o fundo Mubadala do Oriente Médio. Do apogeu à queda, estima-se que Eike, que chegou a ser o sétimo mais rico do mundo, tenha perdido R$ 60 bilhões.

3) OI – CARLOS JEREISSATI
Criada em 2009 com a fusão da Brasil Telecom (controlada pelos fundos de pensão), e a Telemar, controlada pelo empresário Carlos Jereissati e o grupo Andrade Gutierrez, a Oi foi possivelmente o primeiro, e por coincidência o mais mal sucedido, dos projetos de fusões e aquisições financiadas pelo BNDES – que viria a ser conhecido como “política de campeões nacionais”.

Com o mercado nacional dividido entre os mexicanos da Claro/Embratel, os espanhóis da Telefônica/Vivo e os italianos da TIM, a ideia de criar uma super empresa de telecomunicações com capital nacional atraiu as atenções do governo. Por meio da pressão de fundos de pensão como o dos funcionários do Banco do Brasil, a PREVI, e seu presidente, a Brasil Telecom foi conduzida ao altar para celebrar a criação de uma gigante nacional.

Nos anos que se seguiram, o projeto da Super Tele, como ficou conhecido, ganhou ainda mais espaço com uma fusão entre Oi e Portugal Telecom, internacionalizando o negócio, que passou a estar presente em 2 continentes e contar com mais de 100 milhões de clientes.

Uma gestão precária e uma conduta controversa de pagamento de dividendos elevados pra abater dívidas de seus controladores, porém, levaram o projeto a ganhar outros rumos. Atualmente a Oi é uma gigante se desfazendo. Desde o ínicio da sua crise de endividamento, a empresa já vendeu operações de cabos submarinos, torres de telefonia, prédios e a própria Portugal Telecom. Seu valor de mercado já caiu mais de 90% e sua dívida atinge hoje R$ 54 bilhões, contra R$ 1,7 bilhão de valor de mercado da empresa, um valor menor do que aquele obtido com a privatização em 1997 das duas companhias que formaram a atual Oi.

Nem os mais de R$ 10 bilhões em empréstimos subsidiados concedidos pelo BNDES parecem afetar a empresa positivamente, que com todo o susbídio mantêm-se apresentando prejuízo e queda no seu valor de mercado – que só em 2015 já caiu 77,35%.

4) MAGAZINE LUIZA – LUIZA HELENA TRAJANO
Empresária modelo, a bem sucedida herdeira da rede Magazine Luiza, Luiza Trajano foi por muito tempo reconhecida como um raro caso de sucesso dentre os herdeiros que conseguem levar suas empresas a níveis muito mais elevados do que aqueles imaginados por seus fundadores. Luiza herdou a rede fundada por sua tia e o marido, em 1957, na cidade de Franca, interior de São Paulo, e desde 1991 levou a companhia a ser uma das maiores do país.

Sua relação com o governo, porém, é bastante recente, atingindo um ápice em 2014, quando, numa resposta ao apresentador do programa Manhattan Connection, Diogo Mainardi, recusou a ideia de que existisse uma crise no varejo. De lá para cá a empresária foi abraçada como um modelo de positividade por parte do empresariado, que chancela as políticas do governo.

Não são poucas as políticas do governo que se relacionam com as atividades da empresária. No início de 2014, por exemplo, o governo decidiu criar o programa “Minha Casa Melhor”, que garantia R$ 5 mil em financiamento aos compradores de moradias do programa “Minha Casa Minha Vida”, favorecendo enormemente redes populares como o Magazine Luiza.

A própria expansão desenfreada do crédito, que cresceu cerca de 2 vezes mais nos bancos públicos do que nos privados, está entre as razões que levaram a expansão de redes como as lojas de Luiza. Em determinado momento em 2013, por exemplo, os bancos públicos como o BNDES, a CEF e o Banco do Brasil, chegaram a deter mais de 50% do crédito total disponível no país.

Tal expansão, entretanto, foi fortemente freada com a crise e a recessão na economia. Com o desemprego e a inflação em alta e a renda em baixa, as vendas do varejo caíram em 7 dos 8 primeiros meses do ano, levando redes como o Magazine Luiza a fecharem lojas. Desde que abriu seu capital em 2011, suas ações já despencaram mais de 90%, sua dívida mais do que dobrou e as vendas estagnaram. 

5 – SETOR EDUCACIONAL – TODOS OS GRANDES GRUPOS
Comparar discussões travadas na campanha eleitoral de 2014 com a realidade de 2015 pode ser algo perigoso para a maioria das pessoas – muitas das quais se viram iludidas ou até mesmo traídas naquilo que contavam ao apoiar o atual governo. Para muitos adolescentes, sonhos como uma vaga na universidade ou uma viagem para Europa patrocinada pelo governo, eram uma realidade líquida e certa, que dependia única e exclusivamente da fidelidade na hora do voto.

Não deve ser espanto para ninguém acreditar que jovens possam apostar na ideia do FIES para todos, mas deveria ser para empresários do setor, acostumados a acompanhar esta realidade minuciosamente. Não foi o que ocorreu. Ao longo dos últimos 4 anos, a concessão de bolsas pelo FIES para alunos de universidades privadas saltou inacreditáveis 451%, contra um aumento de meros 12% no total de alunos das universidades privadas.

Com cerca de 70% do total de alunos em universidades, o setor de ensino se tornou uma verdadeira mina de ouro. Suas margens de lucro chegam a 24%, acima até mesmo das margens de lucro em bancos ou na Petrobras (antes de a empresa ser destruída). Com a forte expansão do FIES, que garante a oferta de vagas e uma demanda bastante elevada (dado que universidades públicas são restritos a uma minoria), a educação se tornou um negócio sério no Brasil. Chegamos a ter a maior empresa de educação do mundo, a Kroton, cujo valor de mercado atingiu R$ 21 bilhões em 2014.

Por se tratar de um fundo, porém, os recursos do FIES não são ilimitados. O dinheiro que compõem o fundo vem principalmente de empréstimos antigos, além de aportes de recursos pagos pela Caixa Econômica Federal (parte da arrecadação das loterias). Com o descontrole, em especial no ano eleitoral, os recursos chegaram a 2015 quase zerados, a ponto de o governo anunciar uma redução superior a 50% no total de bolsas.

O efeito nas empresas do setor não poderia ser mais devastados. A Ser Educacional, que controla a Universidade Maurício de Nassau, chegou a variar entre R$ 30,60 e R$ 7,35 por ação nos últimos 12 meses, enquanto a Kroton, líder do setor, atingiu a mínima de R$ 7,41, contra uma máxima de R$ 17,85 por ação.

Seja você um adolescente ou um empresário calejado, cair na conversa de um político pode invariavelmente custar parte importante do seu futuro. Acreditar que economias sempre crescem é um dos erros mais constantes da política, mas possuem pouca relação com a realidade, que está mais para a soma do custo de decisões certas e erradas – sejam elas da política, de uma grande empresa ou mesmo do seu cotidiano.

SPOTNIKS

Comentário do blog:  se o autor do artigo resolvesse buscar uma relação de empresas falidas – empresas médias para cima - por acreditarem nas “afirmações” de governantes, nos últimos 40 anos (1976-2015), encontraria mais de 1.000.
Depois a esquerda, retrógada como sempre pois já nasceu assim, culpa os empresários pelos insucessos da nossa economia.(MBF).



quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O que John Williamson, pai do Consenso de Washington, pensa do Brasil ?

Gustavo Kahil

Em entrevista a O Financista, economista avalia que o país poderia voltar a olhar para 1989

SÃO PAULO - Por mais que a sociedade brasileira debata sobre como encontrar uma saída para a própria cilada criada por ela, um consenso debatido e entendido há décadas adormece à espera de ser resgatado e posto em prática para devolver, mais uma vez, o rumo do país ao crescimento sustentável.

No final da década de 1980, perto de 1990, John Williamson, economista britânico, ao perceber que os Estados Unidos estavam prestes a dar um auxílio muito camarada aos países latino-americanos que viviam uma calamidade fiscal, incluindo o Brasil, sugeriu que eles deveriam seguir alguns pontos necessários para “colocar a casa em ordem”.

Cunhava-se ali o “Consenso de Washington”. Tratado por muitos economistas como apenas uma cartilha neoliberal, acabou por servir como um GPS para os países que desejassem viver as décadas seguintes com mais espaço para deliberar sobre o próprio futuro depois de ganhar a confiança dos credores e assim caminhar em prol dos rumos desejados pela própria sociedade.

Em entrevista a O Financista, o economista aposentado do Peterson Institute for International Economics fala a respeito da situação atual do Brasil e sobre o que o país precisa fazer para sair do ambiente de incertezas.

“O problema agora é o baixo crescimento. Este também foi um problema na década de 1990, mas naquela época havia uma crença generalizada de que o crescimento saudável seria retomado quando outros problemas tivessem sido tratados - uma crença que parecia justificada durante o governo Lula. Quando essa visão se mostrou incorreta foi considerada devidamente como um desastre”, disse Williamson.

Veja abaixo a íntegra da entrevista:

O Financista: O senhor acredita que o Brasil pode retornar ao seu rumo com a criação de um novo consenso? Algo como um Consenso de Brasília?
John Williamson: Eu não considero o consenso como algo que um governo pode criar, embora ele deva pensar da mesma forma que a maior parte da população para que um consenso exista.
O que importa, mais do que se existe um consenso ou não, é se as ações do governo são motivadas por uma visão coerente do que os governos podem fazer para melhorar o estado das coisas.
Em retrospecto, foi um exagero imaginar que existiu um consenso em 1989, quando a Guerra Fria terminou e políticas econômicas sensatas foram muito predominantes.
Certamente eu não detecto nenhum consenso hoje. (Se o consenso existe e tem o nome de qualquer cidade, isso me parece sem importância).

O Financista: Quais são, em sua opinião, os elementos fundamentais que o governo deveria perseguir, 20 anos depois, pensando no Brasil?
Williamson: Vou argumentar sobre os elementos que acredito que devam ser perseguidos pelos governos. Estes incluem os principais temas que já foram identificados em 1989, ou seja, disciplina macro, internacionalização, e um papel-chave para o setor privado (como para o governo) na economia.
Os principais temas que surgiram no último quarto de século são a importância fundamental da educação e da importância da construção de instituições sólidas e funcionais.

O Financista: O senhor vê algum paralelo entre o Brasil de hoje o da década de 1990?
Williamson: Não, eu considero os problemas enfrentados pelo governo brasileiro hoje como substancialmente diferentes da década de 1990. O problema dominante na década de 1990 foi a inflação; controle da inflação no início de 1990, e ter certeza de que o controle era permanente até o final da década.
O problema agora é o baixo crescimento. Este também foi um problema na década de 1990, mas naquela época havia uma crença generalizada de que o crescimento saudável seria retomado quando outros problemas tivessem sido tratados - uma crença que parecia justificada durante o governo Lula. Quando essa visão se mostrou incorreta foi considerada devidamente como um desastre.

O Financista: O Brasil conseguirá algum dia chegar a algum consenso sobre o crescimento, ou a fraqueza das suas instituições e a fragmentação política sempre serão um maior impedimento para atingir isso?
Williamson: Concordo que um consenso político em torno do crescimento é útil para alcançá-lo, embora eu duvido que seja essencial para atingir um crescimento rápido. Sobre a questão de se o Brasil nunca vai alcançar instituições robustas e evitar a fragmentação política, gostaria de fazer duas observações: (1) elas, sem dúvida, apresentam sérios obstáculos e (2) eles não são imutáveis.

O Financista: Uma ruptura política, como um impeachment, pode ser vista como uma oportunidade para um novo “contrato social” para os brasileiros e o seu governo?
Williamson: Eu duvido que um impeachment seria seguido por um novo contrato social.

O Financista: Agora, de uma forma geral, você está mais otimista ou pessimista com o Brasil?
Williamson: Gostaria de me definir como esperançoso em vez de decididamente otimista ou pessimista.

O Financista



O Foro de São Paulo: o maior inimigo do Brasil

Mario Guerreiro

Há uns vinte anos, quando Olavo de Carvalho denunciou a existência do Foro de S.Paulo e chegou a mostrar algumas de suas atas como comprovação de suas ideias e finalidades, a grande mídia não deu a menor bola. Omissão dolosa, para proteger o PT?

Alguns midiáticos devem ter pensado que a suposta existência era uma das fantasias da mente conspiracionista de Olavo. Outros acharam que o Foro de fato existia, apesar de ser sido criado por Lula e El Coma Andante à socapa, sem que a mídia tivesse sido notificada da inauguração.

Apesar disso, era coisa sem maiores consequências políticoeconômicas, apenas uma reunião de velhos comunistas saudosistas dos gloriosos tempos da guerra fria e da finada URSS que, como os imortais da ABL, costumavam se reunir todas quartas às 5h. em ponto para tomar chá com torradas e jogar conversa fora.

Até mesmo pessoas bem formadas e bem informadas não deram a menor importância ao Foro, mas nos últimos anos, as coisas mudaram um pouco: os bem informados já sabem que uma das realizações do Foro foi a UNASUL (União das Nações da América do Sul).
Seus membros são quase os mesmos do MERCOSUL, de onde se destacam Brasil, Argentina e Venezuela), ao passo que Chile, Peru e Colômbia, juntamente com o México, fazem parte da Aliança do Pacífico, que recentemente se juntou a ALCA (Aliança de Livre Comércio das Américas, tendo como membros EEUU, Canadá e México), para formar o Acordo do Pacífico.

George W. Bush tinha convidado o Brasil para entrar para a ALCA, mas Lula recusou o convite sob a alegação que era necessário primeiro fortalecer o mercado regional, o MERCOSUL, para posteriormente pensar em uma aliança maior com outro bloco econômico. Será que era mesmo isso que ele alegou na sua recusa ou mera desculpa esfarrapada para acobertar outros interesses?

Com a criação da Aliança do Pacífico, Obama anunciou sua intenção de fazer um acordo com a Comunidade Europeia gerando, assim, o maior bloco econômico do mundo.

Mas, não tendo entrado para a ALCA, o Brasil está fora desse fabuloso mercado em que uma das razões era uma competição melhor com a China que, nos últimos anos, tornou-se o maior parceiro comercial do Brasil.

Hoje, o Brasil faz com a China o que as esquerdas raivosas acusavam o Brasil de fazer com os EEUU: exportar matérias primas e importar produtos industrializados, para o desalento da indústria nacional. Mas como a China é um país, metade comunista, metade capitalista – “um pais, dois sistemas”, como dizia Deng-Chiao-Ping – as esquerdas não se incomodaram nem um pouco com o desaquecimento da nossa indústria.

Desde que o PT assumiu o poder em 2002 e se mantém no mesmo há 12 anos, que eu tenho considerado nossa política externa uma coisa canhestra, desastrosa e terceiromundista.

A começar pela criação do MERCOSUL, uma área de supostamente livre comércio com a Argentina, um país fortemente protecionista; com a Bolívia, um país que só tem gás para vender e pouco dinheiro para comprar; com o Paraguai, um país cuja maior receita vem do contrabando e da inundação, na América do Sul, com mil bugigangas Made in Taiwan e, por fim, com a Venezuela, uma monocultura do petróleo empobrecida pelo chavismo.

De um ponto de vista econômico, o MERCOSUL é um completo fracasso! O que me permite levantar a suspeita de que não se trata de um mercado econômico de fato, mas sim de um mercado político estreitamente ligado a UNASUL cujo telos precípuo é o fortalecimento dos vínculos com determinados Estados da América do Sul. Sim, pois estão no MERCOSUL Brasil, Argentina, Bolívia e Venezuela (que entrou após a saída do Paraguai por ter dado um impeachment no tresloucado esquerdista Fernando Lugo).

Minha hipótese é de que que tanto o MERCOSUL como a UNASUL foram ambos criados de acordo com um projeto mais ambicioso desconsiderando os interesses econômicos das suas nações componentes em nome dos interesses políticos transnacionais de uma futura União das Repúblicas Socialistas da América do Sul, a URSAS.

O fato é que desde sua criação, por influência direta do Foro de S.Paulo, as esquerdas assumiram o poder com Chávez na Venezuela, Lula no Brasil, o casal Kirchner na Argentina e Evo Morales na Bolívia. Não por acaso países pertencentes ao MERCOSUL e a UNASUL.
Venezuela, Brasil e Argentina não por mero acaso são países que, em 2015, enfrentam graves crises politicoeconômicas, ao passo que os países da Aliança do Pacífico (Chile, Peru e Colômbia) não só não enfrentam crises do mesmo quilate, como também são os países que mais crescem na América do Sul!

De minha parte, tenho razões para suspeitar que essas megacrises, juntamente com um desemprego uma inflação crescentes dos supramencionados países deve-se, em grande parte, a três fatores conjugados: Foro de S.Paulo, MERCOSUL e UNASUL, que tem orientado as desastrosas políticas externas de países como Venezuela, Brasil e Argentina.

E os índices macroeconômicos só confirmam os nossos 12 anos de precariedade geral. Eis apenas alguns deles: (1) O Brasil só participa em cerca de 1% do comércio internacional, (2) ocupa a 123.o lugar no ranking internacional de qualidade dos portos – e esta posição não deve ser muito diferente das da qualidade dos aeroportos e das estradas -, (3) O Brasil está no 48.o lugar em competitividade econômica. Disponho de muitos outros dados alarmantes, mas acho que esses 3 já dão uma ideia da coisa.

Mas o como tem agido, especialmente, a política externa brasileira? Em geral, até um cego pode ver a ausência da promoção dos verdadeiros interesses da nação e a presença da defesa dos interesses do comunismo transnacioanal representado pelo trio fantástico: Foro de S.Paulo, MERCOSUL e UNASUL.

Isso se revela nos empréstimos bilionários feitos, principalmente, pelo BNDES, sendo alguns deles com cláusulas contratuais secretas – só podendo serem reveladas 20 anos após sua realização – a ditaduras de esquerda da África e do Caribe, como é o caso da reconstrução do Porto de Mariel em Cuba. E porque não investir na modernização de nossos portos jurássicos? Ora, porque isso só atende aos particulares interesses do Brasil.

Tais empréstimos tem cumprido uma tripla finalidade: 1) Ganhar a simpatia de ditaduras de esquerda para o Brasil modificar as regras da ONU, de modo a ocupar um lugar permanente no Conselho de Segurança. Para que? Para dar pitacos, não decidir nada, diante de 5 potências bélicas e econômicas e ainda ter que pagar pelo lugar ocupado?! 3) para faturar propinas dos ditadores enviadas para o propinoduto dos políticos do PT, PP e PMDB?

Isto é uma forte violação da Constituição, uma vez que empréstimos internacionais têm que ser submetidos ao aval do Congresso Nacional e não levados a cabo por atos autoritários do Poder Executivo!
Mas minha suspeita é de que somente estão em jogo os interesses da UNASUL, não os interesses do Brasil, a não ser os de alguns brasileiros corruptos. E essa suspeita cresce bastante com o patético episódio da expropriação de duas refinarias de petróleo da Petrobras na Bolívia valendo cerca de dois bilhões de reais!

E conversando com um funcionário da Petrobras ainda tive que ouvir esta pérola digna de um megainvestidor como George Soros, que perdeu alguns bilhões de dólares no mercado acionário russo. Disse o petroleiro: “Isto não tem a menor importância: a Petrobras ganha isso em um mês!” Com isso, ele se mostrou um forte candidato ao Rincão dos Boçais criado por um membro da Rede Liberal.

Evo Morales mandou o exército boliviano para resguardar as refinarias de uma possível reação brasileira. Mas o que fez Lula? Absolutamente nada!, a não ser assumir uma atitude “caridosa” aplaudida pelos padrecos vermelhos e outros esquerdistas imbecilizados.
Lula disse que não se importava com a coisa, porque a Bolívia era um país pobre. Mas se ele continuasse torrando nosso dinheiro quem se tornaria um país mais pobre seria o Brasil.

Nossos hermanitos, que nos invejam e nos detestam, sempre fizeram proezas semelhantes. Lembro-me bem do gasoduto proposto por Chávez, saindo da Bolívia, atravessando o Brasil e chegando à Venezuela. Não foi novidade, uma vez que proposta da mesma cepa já havia sido feita ao Presidente Geisel.

E eis como ele respondeu: “E o que eu faço, se eles resolverem fechar a torneira? Mando o Exército Brasileiro lá para abrir?!
Felizmente, esse projeto do supergasoduto chavista não saiu do papel, porque se tivesse saído e a torneira fosse fechada, certamente não seria o invertebrado Lula que, apesar de ser o Chefe Supremo das Forças Armadas, mandaria o Exército lá para abrir!

Não obstante, Chávez fez o seu golzinho chorado quando fez um acordo com o Brasil para a construção da refinaria Abreu e Lima em Pernambuco, tendo em mente o refinamento do petróleo bruto venezuelano, o único que a Venezuela exporta e que custa muito mais barato do que o refinado. E, por isso mesmo, ele queria uma refinaria, para não ter que refinar seu petróleo no Monstruo, entenda-se: os EEUU.

A Petrobras iniciou a construção da refinaria, mas passou o tempo e Chávez morreu sem ter mandado um centavo da parte devida pela Venezuela. E não vou mencionar aqui o superfaturamento da Abreu e Lima, que faz parte das delações premiadas do Petrolão.

Todavia, passados alguns anos do patético episódio da expropriação boliviana, aconteceu algo muito mais grave do que simplesmente patético. Num discurso esfuziante e arrebatador na sede da CUT em São Paulo (SP), Lula disse – para quem quisesse e para quem não quisesse ouvir – que ele tinha dado de mão beijada as refinarias a pedido de Evo!
E mais: que a coisa tinha sido combinada com o índio cocalero, e a mobilização do exército boliviano não passou de uma encenação barata [destinada a um ganho político de Evo, o defensor dos interesses bolivianos, escusos ou não].

Temos assim um réu confesso de um crime de lesa-pátria e o meliante ainda anda solto por aí em sua campanha de “oposição” a Presidente em 2018. É dose! E o Ministério Público onde está? Assistindo tudo, com seus Procuradores não tendo achado nada!

Diante desses e de outros lamentáveis acontecimentos, tenho razões para acreditar que o trio fantástico: Foro de S.Paulo, MERCOSUL e UNASUL caminham unidos dentro do projeto da URSS requentado pela URSAS. E ainda tem muita gente que diz: “O Brasil não é a Venezuela”.
Eles estão certos. Só faltou acrescentar “ainda” ou “por enquanto”.

Mario Guerreiro
Doutor em Filosofia pela UFRJ

A Voz do Cidadão