segunda-feira, 31 de julho de 2017

Na economia, Bolsonaro se alinha ao PT

Raphael Di Cunto
(*)

Conservador nos costumes, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), segundo colocado em pesquisas para a Presidência em 2018, está longe do pensamento liberal da direita na economia. Ele admite entender pouco do assunto e adota posições públicas contraditórias.

Como deputado, tem posições corporativistas, combate o ajuste fiscal e o "Estado mínimo". Ferrenho adversário dos petistas, esteve mais vezes alinhado ao PT em votações do que seu discurso agressivo deixa transparecer.

Contradição marca ideário econômico de Jair Bolsonaro
Conservador nos costumes, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), segundo colocado em pesquisas de intenção de voto para a presidência da República em 2018, está longe do pensamento liberal da direita na economia, área que admite dominar pouco e onde sua atuação e posições públicas são por vezes contraditórias.

Militar de carreira, marcou seus mandatos por uma postura corporativista e de combate a projetos de ajuste fiscal, é contra a liberação da venda de terras para estrangeiros, não concorda com o conceito de "Estado mínimo" e a venda de todas as estatais e critica o uso da taxa de juros para controlar a inflação. Ferrenho crítico dos petistas, esteve mais vezes alinhado ao PT em votações do que o discurso radical deixa transparecer.

Em meio a maior recessão da história do país, o Valor conversou com aliados, familiares e o próprio Bolsonaro ao longo das últimas semanas para entender o que pensa o presidenciável. Também fez um levantamento de vídeos em suas redes sociais, onde tem 4,4 milhões de seguidores, declarações em eventos e do histórico de votações nos seus sete mandatos na Câmara.

O Valor não é o único a procurá-lo. Com o crescimento nas pesquisas, agentes do mercado e empresários tentam conhecer suas ideias para tirar o país da crise. "Semana passada um grupo de grandes banqueiros queria falar comigo. Adiei a conversa", conta. "O cara falou: querem te ouvir sobre economia. Falei: você está de brincadeira. Eu é que tenho que ouvir os banqueiros sobre economia", relata. "É a mesma coisa que eu ir no [hospital] Albert Einstein e ensinar medicina".

Bolsonaro, porém, já participou de três reuniões com agentes do mercado em São Paulo e no Rio. E não se constrange ao falar que não domina a área. "Se sou candidato a presidente, tenho que entender economia com profundidade? Então tenho que entender medicina também porque vou indicar o ministro da Saúde. E tem que ser PhD em português porque, afinal de contas, vou indicar o ministro da Educação", diz, desviando a conversa para sua zona de conforto - segurança pública, acusações contra o PT e movimentos LGBT.

Mas, segundo aliados, o deputado ficou especialmente incomodado com entrevista em maio à rádio "Jovem Pan" com o historiador Marco Antônio Villa, que o acusou de não entender nada de economia. Brigaram ao vivo por 45 minutos. Depois da discussão, Bolsonaro passou a tratar mais do tema e pediu indicações de economistas e estudiosos. Reestudou o atlas para citar de cabeça dados sobre Estados, geografia e jazidas minerais do país.

O deputado disse ao Valor que já tem o apoio de um economista de peso, que não revela o nome, e que consulta antes de entrevistas. "Porque depois vai vir uma palavra errada minha sobre economia e vão ficar em cima daquilo para tentar me desgastar. Não vou cair nessa", afirma. Questionado se defende o liberalismo econômico, rebate que "hoje você fala em ser liberal mais para diminuir o assédio do Parlamento sobre as estatais".

Um de seus filhos, o também deputado Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), é apontado por aliados como uma influência mais à direita e é autor, por exemplo, de projeto para quebrar o monopólio dos Correios sobre serviços postais. Terceiro da linhagem, ele faz pós-graduação sobre o pensamento econômico da escola austríaca no Instituto Mises Brasil, batizado em homenagem ao fundador dessa linha de pensamento, Ludwig Von Mises, defensor radical do liberalismo. Na visão do filho, o pai ficou com a pecha de corporativista e estatizante por causa de um segundo momento do regime militar, com a criação de estatais como a Embrapa. "Mas ele é o candidato perfeito para o mercado", sustenta.

Deputado é a favor de flexibilizar a legislação trabalhista, mas faltou quando a Câmara aprovou a terceirização

O pai minimiza. "Ele é garoto, ele é garoto. Você tem que diminuir a influência do Estado sim, mas não é abrir as porteiras", pontua. O pré-candidato defende que parte das 148 empresas estatais do governo federal deve ser extinta, "por serem cabides de emprego", e parte privatizada, mas o setor de energia, especialmente, deve ser preservado. Ele ainda não sabe dizer qual o destino que daria para cada uma. "Isso vou decidir junto com o BNDES. Quem sou eu para dizer o que tem que fazer com a estatal X?", questiona.

Apesar do discurso forte e decidido, na prática sua atuação se mostrou, muitas vezes, contraditória. Defensor de regras trabalhistas mais flexíveis, Bolsonaro se ausentou nas duas vezes em que a Câmara votou e aprovou a regulamentação dos serviços de mão de obra nesta legislatura. Em um vídeo, alegou que "tomaria pau" da imprensa e da população não importasse qual fosse sua posição no assunto.

Mesmo pregando a redução do Estado, ele nunca esteve alinhado à agenda de contenção de gastos nesses sete mandatos de deputado. Pelo contrário, atuou em grande parte do tempo para defender corporações do funcionalismo, em especial os militares, sua base eleitoral, a favor de reajustes salariais, pensões e questões relacionadas as carreiras.

Crítico ferrenho dos petistas e da esquerda, o parlamentar não hesitou em se aliar ao PT na luta contra as reformas de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ganhou nota 9 de 10 do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) pela atuação "pró-trabalhadores" no período. Os demais deputados de seu partido na época, o PP, tiverem média 1,5.

Bolsonaro foi favorável ao texto principal de um dos marcos da gestão FHC, a Lei de Responsabilidade Fiscal em 1999. Mas votou com os petistas em cinco das oito emendas para desidratar a proposta, que elevariam o limite de gastos com pessoal, impediriam que novas despesas tivessem que ser compensadas com cortes em outras áreas ou aumento de receitas e que o contingenciamento orçamentário excluísse o pagamento da dívida pública.

O pacote de ajuste fiscal proposto pela ex-presidente Dilma Rousseff em seus dois mandatos também foi combatido pelo deputado - que, contudo, usou pouco a tribuna da Câmara para expor suas opiniões. Bolsonaro, já de saída do PP para o PSC com a intenção de concorrer à Presidência, votou contra todas as medidas provisórias, de restrições a benefícios trabalhistas e previdenciários até as de aumento de impostos.

A oposição intransigente ao PT ocorreu mesmo em contradição com seu discurso. AoValor, o deputado criticou a reforma da Previdência Social proposta por Temer e, como alternativa, afirmou que era preciso "expor" os bancos em vez de tirar sangue dos aposentados. "Cadê o sacrifício do sistema financeiro?", pergunta. Mas, no governo Dilma, ele foi o único do PP a votar contra o aumento na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para bancos. O Valor tentou falar com ele sobre essa divergência, mas não teve retorno.

Em outras ocasiões, Bolsonaro afirmou ser favorável à redução da carga tributária, e nesse ponto sua atuação sempre foi na mesma linha. Foi um dos dois deputados do PP a votar contra a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) no governo Lula e também contrariou o partido na gestão de Dilma, contra o fim da desoneração da folha de pagamentos e aumento de outros impostos.

Pré-candidato defende manter parte das estatais como públicas e discorda da política de controle de inflação

Ao Valor, o pré-candidato discordou da política monetária do governo. "Taxa Selic alta é a política de controle da inflação do doutor Henrique Meirelles para fazer você comprar uma TV na Casas Bahia e pagar por duas", afirma. Para ele, essa é uma ideia errada e desestimula investimentos no setor produtivo. "Se taxa de juros servisse para conter inflação, com honestidade, por que no Japão a taxa de juros é negativa? Lá a inflação devia ser 500%. E não próxima de zero", defende. A Selic só tem caído, sustenta, porque os próprios bancos estão com medo de calote devido aos altos juros.

As posições contra um ajuste fiscal que penalize o funcionalismo público continuaram sob Temer. Bolsonaro votou contra o plano de recuperação proposto pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para seu Estado, o Rio, que vive situação calamitosa nas contas públicas. O governo local ficará até seis anos sem pagar a dívida com a União em troca da venda de estatais, aumento de alíquota previdenciária, contenção de despesas pela inflação.

Também criticou, ao longo de semanas, a proposta de emenda à Constituição (PEC) do Teto de Gastos, que limitou o crescimento das despesas do governo federal à inflação. Dizia que isso congelaria por 20 anos os salários e pensões dos servidores e que o correto era o corte de juros. "Muito triste é ver o governo apunhalar as Forças Armadas de forma mais que draconiana", acusou.

No dia, contudo, votou a favor da PEC e se explicou nas redes sociais num vídeo de um minuto em que defende, de forma sucinta, que o projeto permitirá a retomada do emprego. Metade da gravação é dedicada à sua categoria: diz que acertou com o governo que a proposta não atrapalhará a revisão da carreira dos militares.

A intenção de atrair investimentos externos é confrontada com uma postura dura contra iniciativa da bancada ruralista de permitir a venda de grandes áreas de terras para estrangeiros. Nesse ponto, fala mais alto a veia militar e a defesa do território nacional. "Nossa segurança alimentar vai ficar na mão da China, assim como nossa segurança energética. Vamos ser turistas no Brasil", diz. Por outro lado, ele se alia aos ruralistas pela flexibilização do licenciamento ambiental e nos ataques a índios e quilombolas.

A veia militar também surge na promessa de que tocará as grandes obras com a ampliação dos batalhões de engenharia do Exército. "A corrupção está concentrada no Ministério dos Transportes", pontua, ignorando que, com o aumento das obras nas mãos de militares, cresceram também denúncias de irregularidades na corporação.

Do governo Temer, elogia a reforma trabalhista, que "achava até que tinha que ser mais profunda". Cita Paraguai e Estados Unidos, dois países que pretende visitar até o ano que vem, como exemplo de onde menos direitos teriam dado resultado. "Aqui [Brasil] é o país dos direitos, mas o povo está insatisfeito. Nos Estados Unidos não tem direitos, não tem férias, mas então por quê um monte de gente quer trabalhar lá?", questiona.

A flexibilização dos direitos para os trabalhadores da iniciativa privada já era defendida por ele na década de 1990, quando votou para que a negociação entre sindicatos e empresas prevalecesse sobre a legislação - o que passará a valer agora com a reforma. Bolsonaro repete frase, que atribui a empresários, de que a população deve decidir sobre "menos direitos e emprego ou todos os direitos e desemprego". Faz questão de reforçar que a frase não é sua, "que tentaram usa-la para desgastá-lo", embora não deixe clara qual sua opinião.

Valor Econômico

(*) Comentário do editor do blog-MBF:  defesa das empresas estatais. Este é um tema que encontra muita ressonância nas FFAA.
- O nacionalismo desenvolvimentista. Isto começou com Getúlio Vargas.
- Investir em estatais, independente do controle da inflação e do aumento da dívida. Geisel fez isto e quebrou o país. Só voltamos a respirar em 1994 com o Plano Real.
Um candidato que não tem opinião formada sobre economia e defende a implantação de empresas estatais, é uma temeridade. Empresas estatais só podem ser aceitas, se forem administradas como toda empresa privada é: com eficiência e respeito aos acionistas. A primeira providência é a proibição absoluta da prática do empreguismo; todos seus funcionários sob a legislação da CLT; do apadrinhamento nos cargos de diretoria e gerencia; da interferência dos políticos na sua administração. Políticos tem que ser proibidos de adentrar nos escritórios da empresa.
Se isto for conseguido, pode haver empresas onde o governo é acionista majoritário. 

Capitalismo Social: por estas e outras que defendo o fim dos partidos políticos e a livre participação dos cidadãos como candidatos aos cargos eletivos.
http://capitalismo-social.blogspot.com.br/2017/05/706-sistema-eleitoral.html

O reajuste do funcionalismo

Editorial

A secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, informou que o governo estuda adiar os reajustes salariais do funcionalismo já aprovados para 2018 e que resultarão em um custo adicional de R$ 22 bilhões. A simples menção a essa possibilidade bastou para que sindicatos de servidores partissem para a ameaça de greve, desconsiderando o delicado momento pelo qual passam as contas públicas. O País não pode continuar refém de corporações para as quais nada interessa senão benesses, em total desconexão com a realidade nacional.

A maior parte dos reajustes ao qual Ana Paula Vescovi se referiu foi concedida pelo presidente Michel Temer em junho do ano passado, quando ainda era interino, durante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Compreende-se que, naquela ocasião, na interinidade, Temer se sentisse obrigado a respeitar os compromissos assumidos por Dilma, além de precisar arrefecer a pressão dos funcionários públicos, incitados pelo PT. Uma vez efetivado no cargo, Temer anunciou um severo regime de austeridade de gastos. E hoje, quando a equipe econômica luta para encontrar uma forma de cumprir a meta fiscal e paira no ar a ameaça até mesmo de suspensão do funcionamento de partes da máquina estatal por falta de recursos, está claro que a concessão aos servidores foi um erro.

Durante os governos de Lula da Silva e de Dilma Rousseff, o quadro de funcionários públicos cresceu exponencialmente. Foram adicionados 131 mil servidores nesse período, um acréscimo de 27%, depois de uma tentativa de enxugamento na administração de Fernando Henrique Cardoso. Além de mais numerosos, esses funcionários, de um modo geral, foram contemplados com generosos aumentos salariais, tornando-se mais bem remunerados, em média, do que empregados com formação equivalente no setor privado.

Em junho e dezembro de 2016, foram concedidos aumentos ao funcionalismo que, somados, representam um custo de R$ 64 bilhões até 2019. Na ocasião, Temer argumentou que esses reajustes haviam sido negociados por Dilma Rousseff. Entre os benefícios estão, por exemplo, o pagamento de bônus de eficiência de R$ 3 mil para auditores fiscais da Receita Federal – inclusive aposentados e pensionistas. Dos 45 mil beneficiados, 27 mil já não trabalham, razão pela qual é difícil compreender como se pode falar em “eficiência” nesse caso. Além disso, o vencimento básico inicial de um auditor da Receita foi fixado em R$ 19.211,01. Em 2019, esse valor salta para R$ 21.029,09. Não há nada parecido com esse piso no setor privado.

Assim, é compreensível que um dos primeiros sindicatos a manifestar repúdio à possibilidade de adiamento do reajuste tenha sido o dos auditores fiscais. “Certamente as entidades não ficarão paradas”, informou o presidente do Sindicato dos Auditores Fiscais (Sindifisco), Claudio Damasceno. Já a Confederação Nacional dos Servidores Públicos (CNSP) anunciou que entrará na Justiça para impedir o adiamento. Seu argumento é que, durante a negociação, o governo de Dilma Rousseff não mencionou o estado deplorável das contas públicas. “A outra parte (o governo) tinha de ter colocado o problema na mesa”, disse o presidente da CNSP, Antonio Tuccilio. Ou seja, a notória falta de transparência de Dilma tornou-se desculpa para a manutenção de um reajuste que obviamente não deveria ter sido acertado. “Uma vez que o aumento foi decidido, tem de ser cumprido”, disse o sindicalista.

Assim, mais uma vez, a incapacidade dos governantes de enfrentar a corporação dos funcionários públicos resulta em prejuízo para o País. Enquanto a maioria dos trabalhadores do setor privado luta para manter seu emprego e para ter um salário ao menos suficiente para pagar as contas, em meio aos efeitos da gravíssima crise econômica, o setor público, beneficiando-se de seu livre trânsito no meio político, mantém privilégios e deles não abre mão.

O adiamento de um reajuste salarial que nem deveria ter sido concedido seria uma rara vitória da sensatez num ambiente em que predomina a irresponsabilidade.

O Estado de S. Paulo


domingo, 30 de julho de 2017

Mansão de ex-ministro de Lula vai a leilão e é vendida por quase o dobro do preço

Flávia Pierry
(*)

Governo tenta se desfazer de imóveis públicos em Brasília, mas resultado geral foi um fracasso. Dos 25 imóveis colocados à venda, apenas sete foram arrematados

“Dos R$ 28 milhões que se pretendia arrecadar, foram obtidos R$ 15,7 milhões, ou 56% do valor que se esperava com o leilão. Porém, a venda de um dos imóveis surpreende: uma casa no Lago Sul, na Península dos Ministros, avaliada em R$ 6,645 milhões foi vendida por quase o dobro desse valor: R$ 11,385 milhões – um ágio de 71% sobre o preço pedido. A casa de 795 metros quadrados, com piscina e acesso ao Lago Paranoá, foi utilizada pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega nos governos Lula e Dilma Rousseff.”

“Médico arrematou mansão que foi de Mantega
De acordo com o resultado do leilão, publicado no Diário Oficial, o comprador da mansão do ex-ministro Guido Mantega foi o médico ortopedista Rafael Borsoi Leal. Uma consulta às citações ao nome do médico aponta que ele é proprietário de diversas empresas nos ramos da saúde (como hospitais e empresas de produtos para a saúde em Brasília) e também estacionamentos, alimentação e imóveis.”

“Em 2015, Borsoi Leal foi chamado a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados no caso que foi chamado de Máfia das Órteses e Próteses no Brasil (CPIORTES). O caso foi mostrado em reportagem do Fantástico, da TV Globo, e a CPI investigava se houve “a cartelização na fixação de preços e distribuição de Órteses e Próteses, e criação de artificial direcionamento de demanda para interesse privado”.
O médico foi ouvido como proprietário da Medicato Produtos Médicos Ltda. Segundo o requerimento, o objetivo era ouvir o médico e seu sócio “para prestarem esclarecimentos sobre o funcionamento e procedimento de venda, distribuição, suposto esquema de pagamentos de comissões a médicos e dentistas citada na reportagem do Fantástico, em rede nacional, por distribuidores de próteses e implantes, e que isto estaria ocorrendo em cinco estados da federação”. Não houve qualquer decisão contra sua empresa.”

Gazeta do Povo
Curitiba

(*) Comentário do editor do blog-MBF:  na Suécia, ministro vai de trem e bicicleta para o trabalho, e se ele é do interior, não tendo residência própria na capital, mora em apto. de 25m2.
No Brasil, país riquíssimo, ministro mora em mansão de R$ 11 milhões de reais, e vai em carro de luxo para o trabalho, com motorista particular.
Quando vendem a mansão, quem é o comprador ? Um fornecedor do governo.
Ministro da esquerdalha, defensora do pooooooooooovo, morando em mansão de R$ 11 milhões e pagando R$ 150,00/mês de bolsa-família em troca do voto dos analfabetos.
Alguém acredita que nosso país tem solução ? Se permanecermos na frigideira, saímos queimados; se pularmos, caímos nas patas da esquerdalha. Não sei o que é pior.

Como Lula nadou

Demétrio Magnoli

O gato de sete vidas continua à tona, apoiando-se nos cadáveres que boiam ao seu redor para não afundar

"Eles vão perceber que não dá para nadar teoricamente. Entra na água e vai nadar, porra". Isso aí, o trecho da entrevista consagrado às "frescuras do PSOL" (Folha, 20/7), é puro Lula. O ex-presidente cultiva o pragmatismo em grau máximo, devotando solene desprezo tanto à ideologia quanto a valores e princípios. Foi assim que ele nadou –e, no percurso, afogou a esquerda brasileira.

Lula, o Pragmático, opera segundo as circunstâncias. No primeiro mandato, diante das desconfianças do mercado, conservou-se fiel à política econômica ortodoxa herdada de FHC, completando-a com a política social de agressivas transferências de renda, que se destinava a enraizar o lulopetismo no eleitorado pobre. A fórmula bifronte seguia as receitas do Banco Mundial. Não era "de esquerda" e nem mesmo social-democrata. Mas a esquerda brasileira, um organismo lulodependente, celebrou-a como uma revolução de emancipação popular. "Quando Lula fala, o mundo se ilumina", disse Marilena Chaui.

O sucesso do primeiro movimento, associado à evolução do ciclo internacional de commodities e ao trauma político da crise do "mensalão", provocou a substituição da fórmula econômica. O nado peito, lento e constante, deu lugar ao esforço extremo do nado borboleta. No segundo mandato, Lula convocou Guido Mantega et caterva para soldar uma santa aliança entre o Estado e o alto empresariado. Configurou-se, ali, o capitalismo de Estado lulopetista, uma versão modernizada do programa econômico moldado por Vargas e, mais tarde, aprofundado por Geisel.

"Quando Lula fala...". A esquerda interpretou a mudança como a revolução verdadeira: uma aurora de ruptura. Dilma, a sucessora indicada pelo "dedazo", tingiu a escolha pragmática com as tintas de suas obsessões ideológicas. Do teclado irresponsável de seus assessores econômicos nasceu a expressão "Nova Matriz Macroeconômica". Eike Batista definiu o BNDES como o "melhor banco de investimento do mundo", uma opinião certamente compartilhada por Marcelo Odebrecht e Joesley Batista.

A história da ascensão e declínio do capitalismo de Estado lulopetista é contada em dois registros diferentes, mas complementares. A narrativa econômica de uma depressão mais funda que a dos anos 30 evidencia o curto horizonte do nado borboleta. A narrativa policial e judicial da Lava Jato ilumina uma falência ética calamitosa. Lula, o pragmático oportunista, foge das implicações de ambas, escondendo-se atrás da pobre Dilma, no caso da primeira, e desviando os holofotes para o PT, um de seus sacos de pancada prediletos, no caso da segunda. O gato de sete vidas continua à tona, apoiando-se nos cadáveres que boiam ao seu redor para não afundar.

Luiza Erundina reclamou das críticas lulistas ao PSOL, instando o ex-presidente a atacar os "parceiros de direita que o traíram". Mas ninguém traiu Lula. O PMDB, tão pragmático como ele, foi fiel a si mesmo, agarrando-se ao mastro do poder. Marcelo Odebrecht resistiu o quanto pôde, até o chão afundar. Já Joesley Batista mantém a antiga parceria, selecionando politicamente os alvos prioritários de sua delação. O que Erundina recusa-se a enxergar são os frutos podres de uma política econômica que forma o denominador comum da esquerda brasileira.

A pátria de Lula é Lula, e nenhuma outra. Ele calcula o que fala –e fala exclusivamente aquilo que interessa à sua carreira política. Mas, num ponto específico, tem razão: "não dá para nadar teoricamente". O PSOL, alternativa esquerdista a um PT dizimado pelo lulismo, repete incansavelmente as orações ideológicas de uma bíblia encanecida e ajoelha-se diante das lápides de seus estimados tiranos, que se chamam Castro, Che ou Chávez. O legado de Lula é uma esquerda prostrada, de olhos fixos no passado. Do ponto de vista da nossa democracia, eis um desastre ainda maior que os outros.

Folha de S. Paulo


sábado, 29 de julho de 2017

Regime do funcionalismo precisa de reforma

Editorial

Não fazem sentido, diante da dificuldade para se atingir a meta fiscal, aumentos para servidores, e também deve-se tratar de rever a própria estabilidade no emprego

Há problemas que, engavetados, fermentam, crescem, até exigirem soluções rápidas e drásticas. É o que aconteceu com a folha de salários do funcionalismo. Ela foi inflada durante os governos Lula e Dilma, devido ao clássico descompromisso lulopetista com o equilíbrio das contas públicas — a ponto de esta irresponsabilidade custar a Dilma a presidência. E o problema terminou agravado pela miopia de Michel Temer de, ao assumir o Planalto, manter os reajustes de servidores claramente incompatíveis com a crise que já avançava.

Não foi por falta de alerta que Temer, num ato de varejo político, confirmou acordos feitos por Dilma com categorias de servidores, distribuindo reajustes até 2019, numa infração indiscutível à Lei de Responsabilidade Fiscal, que proíbe a geração de despesas que invadam mandatos seguintes.

Esses aumentos, formalizados em 2016, beneficiam 1,1 milhão de servidores, de diversas categorias. No momento em que há o risco de mesmo a meta de um elevado déficit de R$ 139 bilhões, para este ano, não ser atingida, é correta a intenção de áreas do governo de suspender esses reajustes.

Apenas este ano, eles acrescentam R$ 12 bilhões à folha. Para o ano que vem, serão R$ 7,1 bilhões, e, em 2019, no próximo governo, R$ 7,6 bilhões. Não bastasse a própria falta de dinheiro levar a medidas drásticas como esta e a outras, a folha dos servidores, também por força desses aumentos, já subiu 11,3% acima da inflação, sobre 2016, um enorme contrassenso devido à crise.

O quadro fica muito mais difícil porque a isso se soma a expansão, também real, de 6,9%, das despesas com a Previdência. Há possibilidade objetiva de perda de controle fiscal.

As premissas de evolução do PIB e, como consequência, das receitas tributárias, não têm se confirmado, e assim o Planalto precisa mesmo fazer um ajuste dentro do ajuste. Pois rever a meta do déficit tem cheiro de Dilma Rousseff, e prejudicaria a confiança. É preciso mesmo adiar a entrada em vigor dos reajustes, além de outras medidas.

Temer, na luta incessante para se manter no cargo, gasta na “compra” de apoios por meio da liberação de emendas parlamentares. Portanto, toca fogo na própria casa, e terá de enfrentar a contradição de, por outro lado, precisar reduzir despesas com a folha de salários. Sem deixar de levar em conta que ele também necessita dar algum impulso à reforma da Previdência. Por sinal, é o atraso dela que ajuda a complicar a situação das contas públicas.

É crucial debelar este incêndio, mas sem ilusões: o tamanho e o crescimento da folha da União, segundo item mais pesado do Orçamento, são assuntos tão sérios e merecedores de uma reforma estrutural quanto o primeiro item de gastos, a Previdência.

Será inevitável enfrentar a questão, por exemplo, do regime que concede estabilidade a todo o funcionalismo, algo adequado, apenas, a carreiras de Estado. Assim como a crise leva a mudanças previdenciárias, ela induz esta nova reforma, em que se devem discutir também, por exemplo, mecanismos que fazem a folha de salários crescer de forma vegetativa.

O Globo

O Brasil tem jeito ?

Bolívar Lamounier
(*)

Com os três principais partidos incapazes de se transformar, País não periga dar certo

Num texto publicado neste espaço no dia 13/7, intitulado O puma, os piratas e outros bichos, o senador José Serra (PSDB-SP) fez uma instigante análise da pulverização partidária brasileira. Misericordioso, Serra fez o possível para não melindrar seus leitores; consciente de que se trata de uma realidade trágica, optou por pintá-la no tom pastel das boas comédias.

Meticuloso, não se esqueceu de ressaltar paralelo entre o famigerado imposto sindical, a água turva na qual o peleguismo se alimenta desde a ditadura Vargas, com o atual Fundo Partidário, sem o qual a exponencial fissão partidária que conspurca nossa vida política já teria sido interrompida há muito tempo. A esse respeito, Serra escreveu: “A criação em série de partidos, no Brasil, não visa a preencher novos espaços doutrinários, trata-se de abocanhar recursos do Fundo Partidário, subvencionado pelo Orçamento federal, e, sobretudo, tirar proveito do tempo gratuito de TV”.

A fim de estancar tal processo, José Serra propõe o fim das coligações partidárias em eleições legislativas, a cláusula de barreira e a implantação do voto distrital misto. O ilustre senador paulista mostra-se otimista quanto à possibilidade de, em médio prazo, o Congresso Nacional aprovar essas três medidas.

Tal proposta me parece tímida (realista, caso se prefira); é melhor que nada, mas é pouco. Isoladamente ou em conjunto, as três medidas citadas podem de fato reverter o processo de fragmentação, mas por si só isso não significa que as mazelas de nosso sistema político serão decisivamente extirpadas. Consideremos, por exemplo, a cláusula de barreira - um porcentual mínimo da votação nacional para um partido se fazer representar na Câmara dos Deputados. Com sua notória timidez, os parlamentares geralmente propõem barreiras de dois ou três por cento. Suponhamos que se aprovasse uma barreira de cinco ou dez por cento. Aí, sim, teríamos poucos partidos. Mas quem garante que seus integrantes teriam outra mentalidade e um entendimento mais responsável da atividade parlamentar - outra concepção de política, enfim?

Antes de avançar nesta linha de argumentação, creio ser imprescindível pôr em relevo alguns aspectos da presente conjuntura brasileira. Somos um país aprisionado na armadilha da renda média - ou seja, incapaz de crescer. Nossa renda anual por habitante sofreu um baque de dez por cento por obra e graça da recessão de três anos engendrada pelos governos Lula e Dilma. Em tal cenário, o conflito redistributivo - “farinha pouca, meu pirão primeiro” -, desde sempre agudo em razão da espinha dorsal corporativista sobre a qual se sustentam a nossa sociedade e o próprio aparelho do Estado, atingiu alturas nunca vistas. Certos Estados - com destaque para o Rio de Janeiro - estão quebrados e à beira da desordem. Mais educação, saneamento, etc.

Volto à mentalidade dos partidos que provavelmente sobreviverão à cláusula de barreira.

O PT, que tantas esperanças despertou quando de sua fundação, já lá se vão 37 anos, evoluiu do assembleísmo e de certo socialismo de sacristia para o populismo lulista. Enganou-se redondamente quem pensou que a brava agremiação havia atingido o fundo do poço. Dias atrás, suas senadoras encenaram uma festa de Babete na Mesa do Senado, cena que percorreu o mundo e deu ensejo a sonoras gargalhadas. Mas o pior estava por vir: em viagem à Nicarágua, sua presidente, a senadora Gleisi Hoffmann, teceu rasgados elogios ao que a América Latina produziu de pior nas últimas décadas, a começar, naturalmente, por Nicolás Maduro, o presidente venezuelano, que não sossegará enquanto não levar seu país à guerra civil.

O que o PT chama de política econômica, como bem sabemos, é a ideia de que o Estado pode produzir riqueza, ou pelo menos dar uma mãozinha a empresários campeões - alguns dos quais têm atualmente um apetrecho eletrônico amarrado aos pés.

Que dizer do PMDB? Que ideias tem ele a oferecer ao País? Seus próceres sabem que, cedo ou tarde, o Brasil terá de pegar no tranco - mediante reformas estruturais profundas e um ambiente econômico propício a grandes investimentos, e nesse aspecto, justiça seja feita, o governo de Michel Temer vinha saindo melhor que a encomenda. Mas o partido é uma federação de grupos estaduais dotados de agudo faro pecuniário; por favor, não me falem em capitanias hereditárias, pois me refiro a formas modernas de aglutinação política, não raro azeitadas por hábeis incursões no domínio do ilícito.

O caso do PSDB poderia ser menos grave, mas não o é, por uma razão facilmente perceptível. Não, não me refiro à eterna rivalidade entre seus caciques, muito menos ao seu temperamento hamletiano, também conhecido como “murismo”. Um partido ter vários líderes é um sinal de modernidade, muito melhor que não ter nenhum (como o PMDB), ou ter um só, dedicado em tempo integral a impedir o surgimento de uma nova geração (como Lula e “seu” PT). O problema do PSDB é sua eterna crise de identidade.

Os tucanos parecem nutrir em segredo uma vontade de ser como o PT. Querem ser “sociais”. Apoiam o princípio do mérito, compreendem a necessidade de uma política fiscal séria, abominam a herança populista da América Latina, mas fogem do adjetivo liberal como o diabo foge da cruz. Gaguejam toda vez que falam em economia de mercado e temem sufragar com clareza os valores da classe média. Tanto isso é verdade que nunca assumiram de peito aberto o legado do governo Fernando Henrique.

Com as três principais entidades partidárias incapazes de se transformar, não há dúvida, o Brasil não periga dar certo.

O Estado de S.Paulo

(*) Comentário do editor do blog-MBF:  o Brasil tem jeito sim, mas antes precisa acabar com as organizações criminosas que o mantém no atraso, desde sempre: os partidos políticos.
São essas corporações que se unem para cuidar dos seus interesses de grupo, uma para cada atividade, e onde o país e seu povo nunca é considerado, salvo na hora de referendar os bandidos que eles nos impõem como candidatos, nesta farsa de eleições. 

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Vinte e quatro anos na esquerda

Carlos I. S. Azambuja

“O texto abaixo foi escrito por Jarbas Passarinho (foi ministro de Estado, governador e senador) e publicado no Correio Braziliense em 12 de setembro de 2006”

Alain, grande entre os grandes pensadores franceses, dizia, ainda nos alvores do século 20, que se alguém lhe afirmasse que esquerda e direita eram nomes anacrônicos que não mais se diferenciavam ideologicamente, ele tinha certeza de que esse alguém era de direita.

Em 1982, as esquerdas venceram as eleições em nove dos 10 mais importantes estados da Federação. Ficaram com cerca de 80% do PIB nacional. Em 1985, março, as esquerdas dominavam o PMDB e eram o Richelieu do presidente Sarney. A economia, que receberam, era a 8ª do mundo. A anistia fora votada, mas foi unilateral porque as esquerdas eram revanchistas. Devastadores foram os dois choques do petróleo. A inflação, que no governo Médici foi de 14%, chegou a 220% ao ano. Mas na chamada República Nova passou de 12 mil por cento ao ano.

O Plano Cruzado fracassou e o governo escondeu o fracasso até as eleições (estelionato eleitoral), nas quais as esquerdas elegeram quase todos os governadores. Editado o 2º Plano Cruzado, Collor venceu Lula, anunciando que “a direita ficaria indignada e a esquerda perplexa”, sugerindo fazer governo de esquerda. Durou pouco. Itamar assumiu. Vinha de simpatizante da esquerda. Condecorou o MST e o chefe do PC do B com a Grande Medalha da Inconfidência. A esquerda, com ampla maioria na Constituinte, escreveu uma Constituição xenófoba e estatizante, que já tem 50 emendas, inclusive do governo atual.

Fernando Henrique, que fizera agitação nas portas das fábricas ao lado de “Lula, o metalúrgico”, no período do ciclo militar, de líder do PMDB no Senado passou a líder do PSDB, partido semelhante ao russo de 1898, social democrata, de Lênin, antes de bolchevique. Lula fundava o PT, a facção mais radical da esquerda, confirmando a tradição da inevitável divisão das esquerdas. Nas eleições de 1994, Fernando Henrique venceu o antigo companheiro, que reclamava para o PT a bandeira da ética política, e poucos anos antes participara do Fórum de São Paulo, iniciativa do Partido Comunista Cubano, com preeminentes líderes da esquerda armada mundial disposta “a fazer dar certo o que fracassara no comunismo do Leste Europeu”.

Fernando Henrique, na Presidência da República, aprovou a reelegibilidade, acusado pelo PT de haver comprado votos de deputados. Sempre se definindo como homem de esquerda, venceu de novo Lula. No 2º mandato enfrentou as crises econômicas do México e da Rússia, as reservas do BC viraram pó, fez privatizações, o crescimento do PIB foi mínimo, sua política cambial um desastre e seu prestígio, em declínio com o “apagão” e a desvalorização do real.

O PT pedia, nas ruas, em passeatas, o impeachment, bradando “Fora FHC”. Afastou a farda dos ministérios e do Gabinete Militar, que mudou de nome. Ao revés, premiou os esquerdistas, da luta armada ou não, com indenizações por vezes milionárias e salários mensais altos e livres do Imposto de Renda. Não os conquistou. Votaram contra seu candidato à sua sucessão, gerando um slogan: “Assim como Kerenski deu — sem querer — o poder a Lênin, FHC o deu a Lula”, beneficiado da impopularidade do governo. Agora, algo tardiamente, escreve carta aberta a Lula, a quem acusa de “faltar condição moral para governar”.

Reconhece a verdade. Em quatro anos de governo do fundador do PT, qual o saldo da esquerda? Moralidade, zero, com o mensalão mostrando que a ética do governo petista merece, na linguagem de uma cantora, que veio do PT, ser comparado a “São Jorge na parede da casa de tolerância”. Que é feito do Fome Zero que o projetou no mundo como o salvador dos pobres? Nos transportes não construiu uma só estrada. Nas vésperas das eleições mandou tapar-lhes os buracos que as faziam imprestáveis. Em cada buraco um comício comemorativo. À concessão da Bolsa Escola, auxílio à alimentação e vale gás, da política assistencialista tucana, chamou de “esmolas quando deveria dar empregos ao povo”.

Era a esquerda que se dizia diferente e pura a atacar, inclemente, a outra esquerda apelidada de neoliberal. Sagaz, aproveitou as “esmolas”, deu-lhes o nome de Bolsa Família e aumentou o valor mensal. Os empregos, em que via a solução correta, na campanha prometeu criar 10 milhões deles. Não satisfez nem aos quatro milhões de jovens que chegaram aos 18 anos e procuraram empregos entre 2003 e 2006.

Elevou os juros às taxas mais altas do mundo. Estagnou, em conseqüência, o crescimento do país e aumentou a dívida pública a mais de R$ 1 trilhão. O ex-presidente do Bank Boston, neste ano eleitoral, baixou os juros e garantiu os superávits primários para alegria do FMI, de que Lula se livrou para calar os que demonizavam o Fundo. Ideologicamente é desprezado devido a sua metamorfose. Fundadores do PT, decepcionados, dizem-no “o Adhemar de Barros do momento”.

Ou seja: rouba mas faz. Faz o quê? A CNI, que não lhe é adversa, publicou a Visão da Indústria, em que registra: “Nos últimos 10 anos, o Brasil cresceu sistematicamente abaixo da média mundial. Mantida a média de crescimento da renda per capita de 0,7% ao ano, da última década, o Brasil levará 100 anos para dobrar sua renda, ou seja, um século para atingir a atual renda per capita de Portugal”.

Assim a esquerda governa o Brasil, desde o mandarinato do PMDB, faz 24 anos, metade dos quais na Presidência da República. E assim parece querer nosso povo, por mais quatro anos.

Lembrete novamente: o artigo foi escrito em 2006...

Alerta Total

Tensão e emoção no segundo semestre, se Temer sobreviver

Murillo de Aragão

A denúncia “tabajara” do procurador geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer, o afastamento temporário do senador Aécio Neves do mandato e a condenação do ex-presidente Lula pelo juiz Sergio Moro aprofundaram ainda mais a confusão em que o país está metido. O que vai acontecer? Algumas tendências estão desenhadas.

A reforma previdenciária, apesar de urgente e essencial, ficou prejudicada. Poderá voltar em uma versão “light” se houver empenho bastante do governo. A denúncia de Janot deve ser rejeitada pela Câmara, salvo se ocorrer, de hoje até a semana que vem, algum fato novo. Acho que não, mas todo cuidado é pouco. Coisas improváveis acontecem no Brasil, como país, e no Botafogo, como time.

A segunda denúncia de Janot, sobre a qual ele disse não ter pressa de soltar, deve ter igual destino. Afinal, não funcionou a bala que ele e o empresário Joesley Batista, da JBS, fabricaram e o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, endossou.

A condenação de Lula, amparada em excessivas duzentos e tantas páginas, deve ser mantida, mas já causou o efeito de colocar Lula como candidato presidencial. É o que resta a Lula: incluir a narrativa de perseguido por Moro em seu currículo. Somente os incautos podem acreditar em tamanha baboseira. O Brasil, como sabemos, é um país de incautos.

No final, acho que Lula, para o bem das esquerdas, vai ser impedido de disputar as eleições em 2018. O ideal seria que o aparato “lulopetista” e quejandos apoiasse o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, fraco e “poseur”, porém menos arcaico que os demais. Só um pouco melhor.

Se o povo soubesse da real necessidade de fazer a reforma previdenciária, ela já teria sido aprovada. Sem mexer na Previdência, o Planalto passa o tema para a agenda prioritária do próximo governo. Seja ele qual for.

Se sobreviver – o que é provável –, Temer terá uma nova maioria que deverá, contudo, ser menor do que aquela que apoiou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. A fracassada bala de prata de Janot destruiu a base e, como efeito colateral, antecipou as preocupações com as eleições.

Os “cabeças pretas” do PSDB, preocupados com o patrulhamento da mídia, debandaram e não estão dispostos a salvar Temer. Pensam que serão justiçados pelas urnas. É natural que pensem dessa forma, pois temem não se eleger. Não sabem que a grande mídia pode destruir alguns, mas não a maioria, que se elege de carona no quociente eleitoral dos outros.

A questão vai ser resolvida, como sempre, na caneta. E a caneta de Temer ainda tem muita tinta, mesmo em meio à crise fiscal. Paradoxalmente, a tinta da caneta do presidente pode ter o condão de eleger muitos.

Uma palavra sobre Lula e o PT: ao invés de fazerem uma viagem para o futuro, ambos estão de volta ao passado. Apoiam, inacreditavelmente, o regime de Nicolás Maduro na Venezuela e não aceitam fazer uma autocrítica. Vivem no autoengano. Um horror para as forças verdadeiramente progressistas – se é que elas existem por aqui – e para o futuro.

O PT resolveu disputar a vaga do rebaixamento no ranking das forças políticas retrógradas. Pau a pau com o PSOL e o deputado Jair Bolsonaro. Não devo esquecer-me de mencionar Aécio Neves, uma decepção para muitos.

A certeza que fica é que o segundo semestre será tenso e emocionante. Tanto pelos fatos em si quanto pela evidente intenção de quem noticia transformar tendência ou hipótese em realidade.

Diário do Poder


quinta-feira, 27 de julho de 2017

Coreia do Norte ameaça Estados Unidos com ataque nuclear preventivo

XAVIER FONTDEGLÒRIA

Em comemoração aos 64 anos do fim da Guerra da Coreia, ministro elevou tom contra adversários

Coreia do Norte ameaçou nesta quarta-feira lançar um ataque nuclear preventivo contra os Estados Unidos no caso de Washington decidir optar pela via militar para acabar com o programa de armamento nuclear do país asiático.Trata-se da enésima advertência do regime de Kin Jong-un contra o que considera “constantes agressões e atos de guerra”. A última foi os comentários do diretor da CIA, Mike Pompeu, sobre a possibilidade de tirar do poder o ditador como via para solucionar o problema norte-coreano e desnuclearizar a península.

“Se nossos inimigos interpretam mal nossa situação estratégica e insistem que suas opções passam por realizar um ataque preventivo nuclear contra nós, lançaremos um ataque nuclear preventivo no coração da América como um implacável castigo e sem advertências”, afirmou o ministro da Defesa norte-coreano, Park Yong-sik. Suas declarações, divulgadas pela agência estatal KCNA, se inserem nos atos de comemoração do 64º aniversário do fim da Guerra da Coreia, um conflito que terminou com um armistício que nunca desembocou em um Tratado de Paz.

A efeméride é celebrada nesta quinta-feira, feriado na Coreia do Norte para festejar o que chamam de “o Dia da Vitória”. Os observadores acreditam que o regime poderia efetuar nesse dia um novo teste de mísseis balísticos, dada sua predisposição de levá-los a cabo em datas especiais, seja para o calendário norte-coreano ou de outros países. O último de seus ensaios foi em 4 de julho, quando a naçãodisparou pela primeira vez e com sucesso um foguete de alcance intercontinental. Kim Jong-un disse depois que o míssil era “um presente aos bastardos dos Estados Unidos” por seu Dia da Independência.

Não é a primeira vez que a Coreia do Norte ameaça atacar preventivamente e com armas nucleares os Estados Unidos. Isso é parte da habitual retórica belicista que o regime utiliza, exacerbada nos últimos meses em razão do aumento das sanções econômicas a Pyongyang, o ritmo e o alcance cada vez maior dos testes de armamento e a elevação de tom que chega de Washington, onde foi proclamado o fim da era baseada na “paciência estratégica”.

A propaganda norte-coreana explodiu com as declarações do diretor da CIA, Mike Pompeo, que em um evento sobre segurança falou da necessidade de encontrar uma forma de separar Kim Jong-un de seu arsenal nuclear. “O mais perigoso é o caráter da pessoa que tem o controle sobre essas armas (...). Do ponto de vista da Administração, o mais importante que podemos fazer é separar as armas nucleares de alguém que possa ter a intenção de usá-las”, disse, segundo a CNN.
O secretário de Estado, Rex Tillerson, sempre afirmou que o Governo norte-americano não busca uma mudança de regime na Coreia do Norte.

Um porta-voz do Ministério de Relações Exteriores norte-coreano, não identificado na notícia, afirmou à mídia estatal que “buscarão e liquidarão onde quer que for que se encontrem” os que tentem tirar do poder Kim Jong-un. “A República Popular Democrática da Coreia (nome oficial do país) estipula por lei que se o seu máximo dignitário se vê ameaçado deve aniquilar de modo preventivo os países e entidades envolvidos direta ou indiretamente nisso, mobilizando todos os tipos de meios de ataque, incluindo os nucleares”.

EL PAÍS

Polícia Marcada

Renato Sant’Ana

Com a morte do sargento Hudson Silva de Araújo, em 23/07, Durante patrulhamento na Favela do Vidigal, o Rio de Janeiro contabilizou 91 policiais assassinados em 2017: um a cada 54 horas. É uma guerra, na qual bandidos estão em vantagem.

Será que algum dos ditos (e falsos) ativistas de direitos humanos manifestou mínima preocupação com a vida dos policiais e suas condições de trabalho, e solidariedade com as famílias enlutadas? Não! O que se vê é rigorosamente outra coisa: tratam o criminoso como "vítima social" e o policial como algoz.

Mas não é só aqui! Em 2016, durante os movimentos grevistas da França, a TV mostrou um cartaz - ao que parece, colocado por sindicalistas -, em que se lia: "O povo odeia a polícia!". Mentira! Artifício ideológico! Mera tentativa de instilar, na população, ódio contra a polícia. No Brasil, cada vez que bandidos levam a pior num enfrentamento, uma turminha bem identificada, antes mesmo de conhecer as circunstâncias dos fatos, levanta a voz para acusar os policiais de "excessos". Redes sociais e a própria imprensa servem a esse jogo sujo.

Mas não há improviso. Desqualificar a polícia é parte de um discurso legitimador de crimes, o que, por sua vez, é parte da estratégia de degradar a sociedade para o fim de instalar um regime totalitário. Antonio Gramsci, com um pé na psicose e outro na psicopatia, concebeu tudo isso em pormenores. O mais perverso, porém, é que a "revolução cultural" concebida por Gramsci é feita em geral por gente que nunca sequer prestou atenção no nome dele, que desconhece a teoria que está por trás do movimento, mas que segue fielmente os mandamentos daquele profeta sórdido.

Atacar "isto que está aí", que ele chama de "sociedade burguesa", é a preparação do cenário para implantar o seu "paraíso revolucionário", coisa que a maioria dos apóstolos faz sem o saber. E é da lógica dessa práxis não corrigir, mas tirar proveito ideológico de eventuais erros da instituição policial, já que, nessa etapa da "revolução", o que importa é "desconstruir".

Mas não se vai aqui tapar o sol com a peneira. Há muito a ser feito para corrigir desvios da polícia, assim como para combater a criminalidade. Agora, nada de bom e justo será possível sem desmascarar os ativistas ideológicos que, estrategicamente, se empenham na destruição das instituições, na subversão dos valores mais caros da democracia, na degradação moral da sociedade e no exercício populista de manipular consciências.

O discurso antipolícia visa, em última análise, a subordinar a corporação policial aos desígnios da "revolução". Todavia, a desejável paz social requer que a subordinação da polícia seja unicamente ao Estado de Direito, jamais a esta ou àquela ideologia.

Por fim, registre-se que, em regiões como o Rio Grande do Sul, em que o "catecismo" de Gramsci causou mais estragos, a bandeira antipolícia produziu resultados bem palpáveis: hoje há policiais com medo de agir, receando ter de responder, dentro da corporação, a um inquérito policial militar, o qual já foi, muitas vezes, conduzido na estreiteza do politicamente correto. Sem mais comentários.

Renato Sant'Ana
Psicólogo e Bacharel em Direito.

Alerta Total

quarta-feira, 26 de julho de 2017

A Esquerda Acabou. Saiba Por Quê.

Stephen Kanitz
(*)

Mataram a galinha dos ovos de ouro

esquerda sempre precisou de dinheiro, de muito dinheiro para se sustentar.

direita por sua vez, não.

Isso porque a direita é composta de adolescentes que estudaram quando estudantes, trabalharam quando jovens, pouparam quando adultos, e portanto se sustentar não é um grande problema.

A direita progride, enquanto a esquerda protesta nas Ongs e nos cafés filosóficos.

A esquerda sempre viveu do dinheiro dos outros.
Karl Marx é o seu maior exemplo, sempre viveu às custas de amigos, heranças e do companheiro Friedrich Engels.

Não conheço um esquerdista que não viva às custas do Estado, inclusive os empresários esquerdistas que votam no PT e PSDB e vivem às custas do BNDES.

Nos tempos áureos a esquerda tomou para si até países inteiros.
China, União Soviética, Cuba, por exemplo, onde a esquerda se locupletou anos a fio com Dachas e Caviar.

Essa esquerda gananciosa foi lentamente sugando a totalidade do Capital Inicial usurpado da sua direita, até virar pó.

Foi essa a verdadeira razão do fim do muro de Berlim.

A esquerda faliu os Governos que eles apoderaram.
No Brasil, a esquerda também aparelhou e tomou Estados e Municípios, e também conseguiu quebrá-los.

Socialistas Fabianos como Delfim Netto, FHC, Maria da Conceição Tavares ainda vivem às custas do Estado com duas ou mais aposentadorias totalmente imorais.

Só que o dinheiro grátis acabou.

Sem dinheiro, a esquerda brasileira começou a roubar, roubar e roubar com uma volúpia jamais vista numa democracia.

Mas graças à Sergio Moro, até esse canal se fechou para a esquerda brasileira.

Sem a Petrobras, as Estatais, o BNDES, o Ministério da Previdência, o Ministério da Educação, a esquerda brasileira não tem mais quem a sustente.

O problema da esquerda hoje é outro e muito mais sério.

Como esquerdistas irão se sustentar daqui para a frente?

Como artistas plásticos, professores de Filosofia e Estudos de Gênero da FFLCH, apadrinhados políticos, vão se sustentar sem saberem como produzir bens e produtos que a população queira comprar?

Que triste fim para todos vocês que se orgulhavam de pertencer à esquerda brasileira.

Stephen Kanitz – Artigos e Comentários


(*) Comentário do editor do blog-MBF:  no RS (República Socialista) ela não acabou. Ainda. Lá, na trilha aberta à esquerda por Brizola, enveredou o PT comunista, que ainda se mantém vivo. Quem sabe até saírem definitivamente de cena os fundadores do PT, pois a 2ª geração dos vermelhinhos, está mais para dona de casa.

A sede pela preservação do poder

Maria Clara R. M. do Prado

Provavelmente o futuro auspicioso previsto por Zweig há 76 anos não estará garantido a partir das eleições de 2018

Deslumbrado com a exuberância da floresta amazônica, com a pujança de São Paulo e com a criatividade do povo, Stefan Zweig, escritor austríaco e autor, entre outros, do livro Brasil, um País do Futuro (1941), impôs ao país a marca que ficaria para sempre registrada no imaginário popular. A sensação de um futuro que nunca chegará, de um futuro eterno e inalcançável, acabou por firmar-se, com os desmandos e a mediocridade prevalente no sistema político, como a mais realística interpretação do vaticínio de Zweig.

Já se disse que no Brasil até o passado é incerto. O futuro, então, não passaria de uma miragem recheada por um misto de devaneio, esperança e torcida. Via de regra, o futuro dificilmente se confirma no presente, o que o coloca sempre mais distante.

Pior do que um futuro fora de alcance é a cegueira que persiste em não querer enxergar o futuro como desdobramento natural das condições conforme se apresentam no presente. O aumento de impostos determinado pelo governo sobre o preço dos combustíveis é um exemplo claro da resistência em perceber que a ampliação da carga tributária seria, mais uma vez, a alternativa para compatibilizar a receita com a despesa do setor público diante do tremendo quadro de recessão que tem afetado o país nos últimos três anos.

Não basta o eufemismo, nem o marketing político. O crescimento da economia depende da conjugação de vários fatores, como se sabe, mas tem hoje estreita relação com a absoluta incerteza quanto à situação política atual e, ainda mais obscuro, com a sucessão presidencial em janeiro de 2019.

Vive-se no Brasil ao sabor dos altos e baixos, entre os acontecimentos que impactam a política pela via das investigações da Lava-Jato e das denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR) e o fôlego do governo Temer em resistir no poder. É possível que o ritmo de gangorra se mantenha por mais tempo, mas isso não alivia os efeitos perversos que a insegurança política causa na economia.

Com Temer ou sem Temer à frente do poder executivo até o final deste período presidencial, começa a ganhar cada vez mais relevância os exercícios de adivinhação sobre quem vencerá as eleições do ano que vem. Em um país que não tem futuro porque não se prepara para ele, tudo pode acontecer. Em especial, considerando a acefalia de lideranças reconhecidamente legítimas por parte da sociedade, fica difícil imaginar um governo sucessório com capacidade de implementar políticas que atendam aos interesses dos eleitores e não da classe governante. Ainda mais se não houver alternância do grupo que tem garantido a maioria no Congresso.

Independentemente de ser mais à direita ou mais à esquerda, é importante a eleição de parlamentares conscientes de que os desejos particulares não devem prevalecer e de que não são eleitos para formarem grupos políticos com o objetivo de perpetuarem-se indefinidamente no poder.

As implicações da corrupção no setor público sobre o desenvolvimento econômico são dramáticas e, pode-se dizer, auto-alimentadas pelos mesmos efeitos daninhos que provocam. A lista é longa. Segundo estudos do Banco Mundial, a corrupção:

• influencia a formação de cartéis que afetam os preços e a qualidade de produtos e serviços, tornando a economia vulnerável à inflação e a baixos níveis de competitividade;
• contribui para a ineficiência na alocação dos recursos, pois viabiliza a expansão da riqueza de indivíduos e grupos privados que sustentam interlocutores corruptos na administração pública;
• estimula o desequilíbrio na distribuição de renda porque opera de forma a manter desproporcionalmente reduzido o tamanho da classe média e a dificultar as atividades dos pequenos empreendedores;
• desestimula o avanço tecnológico pela desconfiança sobre os retornos com patentes e o uso das inovações;
• afeta a qualidade da educação porque desvia recursos do setor, deixando de priorizar a melhoria da formação educacional e profissional da grande massa em idade escolar;
• compromete a qualidade da saúde na medida em que não há controle sobre o uso da verba pública em postos de saúde e hospitais, nem sobre a qualidade e a presteza do atendimento médico;
• dificulta o equilíbrio fiscal pelo comprometimento dos canais de arrecadação, de um lado, e pelo uso do dinheiro em finalidades não previstas no orçamento.

Não é difícil perceber que a continuidade das situações adversas provocadas pela corrupção e pela malversação do dinheiro público acaba por alimentar um ciclo vicioso que, de tão enraizado, dificulta o rompimento do paradigma.

É certo que a Lava-Jato e tudo o mais levantado por juízes e procuradores têm a fantástica função de funcionar como condutores a uma mudança de comportamento no sistema político brasileiro, mas desanimam os procedimentos na Câmara dos Deputados com o intuito de introduzir no Código de Processo Penal mudanças nas regras da delação premiada e na prisão preventiva com claro objetivo de diminuir o poder dos procuradores.

O Brasil vive uma espécie de batalha subliminar entre forças organizadas, que pretendem manter o status quo através de manobras e artimanhas que lhes garantam preservar o poder, e o anseio difuso e desorganizado de uma sociedade interessada em radical transformação no sistema político, onde os representantes dos eleitores no legislativo e no executivo possam atuar nos moldes de uma democracia civilizada.

Tudo depende do voto e o voto depende da conscientização dos eleitores para as grandes questões que estão em jogo. Muito provavelmente, o futuro auspicioso previsto por Zweig há 76 anos não estará garantido a partir das eleições de 2018, mas com boa vontade pode-se esperar que esteja mais próximo de ser alcançado. Ilusão?

Valor Econômico


terça-feira, 25 de julho de 2017

Demo+kracia

Martim Berto Fuchs

Desde que os gregos desenvolveram o sistema de governo conhecido por “demokracia” (demo=povo + kracia=governo), que este peca pela incoerência

Quando os gregos o colocaram em prática, a primeira medida foi deixar de fora das decisões o “povo” compreendido pelas mulheres, pelos estrangeiros, e pelos não proprietários. Quer dizer, desde o início, o sistema de governo que conhecemos como governo do povo, separou o povo em duas categorias: o “povo” que podia decidir e o “povo” que não podia, o povão.

No Brasil de sempre, quem pode decidir é o “povo” que compõe a Corte da nossa Monarquia Republicana. O outro “povo”, o povão, a maioria, apenas decide como arranjar dinheiro para pagar a conta. Essa Corte, que já foi composta só de aristocratas, e que depois recebeu os burgueses ricos, hoje é composta também pelos “sem culotte”, aquele pessoal das bandeirinhas vermelhas escritas CUT, UNE, MST e afins, que adora emprego, desde que sem trabalho.

Estes, assim como aqueles, vivem às custas do dinheiro arrecadado do povão, e se alguém tentar mudar esta desfaçatez, eles, se sentindo prejudicados nos seus direitos “legitimamente” adquiridos, partem para a briga, para o quebra-quebra; zumbis militontos e fantasiados de block bostas.

Mais uma vez esta lógica perversa se faz sentir, pois como a atividade econômica vem declinando por culpa única e exclusiva do setor público, e a arrecadação não é mais suficiente para cobrir suas folhas de pagamento, eles novamente apelam para aumentos daqui e dali dos impostos, para continuar vivendo à tripa gorda, sem no entanto atacar a causa do problema. Aí, os integrantes dos três podres poderes fazem cara de paisagem.

O que mantém esta ignomínia é, em primeiro lugar, o sistema eleitoral, onde os candidatos são escolhidos entre o “povo” da Corte, e impostos ao outro “povo”, o povão, para serem referendados.
O cúmulo da safadeza vem depois, quando o “povo” ungido e eleito troca os pés pelas mãos, e os analistas políticos bradam em alto e bom som que o povão não sabe votar. É muito escárnio.

Para termos um governo do povo no sentido correto do termo, todos devem ter oportunidade de se candidatar, e não apenas os escolhidos pelos donos dos partidos políticos e seus financiadores, como acontece até hoje.

Regras tem que haver, como em qualquer atividade, mas que não exclua pura e simplesmente todos aqueles que não se enquadram nas “normas internas” das organizações criminosas que no Brasil chamamos de partidos políticos.

É a sociedade quem deve decidir, independente de raça, cor, religião, conta bancária ou diplomas, quem pode ser candidato a cargos eletivos e depois administrar a res pública, sendo esta decisão levada a efeito e posta em prática pela Justiça Eleitoral, à quem caberá então decidir quem pode ou não ser candidato.

A esquerda adora falar em nome do povão, mas na verdade fala em nome do seu “povo”, aquele que quando consegue chegar ao poder, cobra comissão até para intermediar o destino do dinheiro arrecadado pelos impostos. Nos últimos anos, desde que participam do butim na Corte, empregaram no setor público todo seu “povo”, ou, todos que estavam filiados aos seus partidos; agora que foram chutados do governo por incompetentes e desonestos, perderam o gosto por este modelo de “democracia”, e querem virar a mesa.

Nem sei porquê se admirar, pois a esquerda sempre foi claramente contra qualquer tipo de democracia. Gostam de usar e ostentar o termo, mas apenas para definir suas idiossincrasias junto ao seu eleitorado cativo: analfabetos, pobres e estudantes doutrinados, três categorias que se deixarem de ser o que são, não os acompanham mais.

Em algum momento a sociedade brasileira terá que redefinir, ou definir corretamente, a expressão governo do povo. Temos que ter consciência de que povo somos todos nós, e que somos nós que devemos escolher os candidatos aos cargos eletivos, bem assim como definir regras para uso da Justiça Eleitoral e quais serão os cargos a serem disputados e para quê.

Governo do povo não pode ser interpretado, como prega a esquerda, como governo dos pobres, dos analfabetos e dos doutrinados ideologicamente, e conduzidos como manada pela sua “nomenklatura”; e aqueles que não se enquadram, considerados como inimigos.

A este tipo de governo dá-se o nome de comunista, socialista ou bolivariano, que combina muito bem com manada, que é o "povo" que eles gostam; aquele que só se manifesta mugindo, através de slogans, dogmas e palavras de ordem.

http://capitalismo-social.blogspot.com.br/2017/05/707-prova-de-qualificacao.html


A miséria da esquerda

Editorial

Os intelectuais petistas começam a admitir em voz alta aquilo que seus colegas militantes apenas murmuravam aqui e ali: a esquerda - como eles a entendem - é totalmente dependente de Lula da Silva para existir como força eleitoral. Sem o demiurgo petista e suas bravatas demagógicas, reconhecem esses amuados ativistas, os partidos do dito “campo popular” dificilmente serão capazes de comover os eleitores com seu discurso estatizante, baseado na puída tese marxista da luta de classes. Ou alguém acredita que Dilma Rousseff, que se julga herdeira de Leonel Brizola e seu esquerdismo terceiro-mundista, teria sido eleita e reeleita presidente da República não fosse seu padrinho?

“Impedir o PT de ter um candidato competitivo a um ano do pleito equivale a banir a esquerda da vida política”, sentenciou o professor de História da USP e autor do livro História do PT, Lincoln Secco, em recente entrevista ao Estado. Segundo Secco, “a esquerda não tem plano B sem o Lula”. Mais do que isso: o professor petista considera que, “sem apoio do Lula, nenhum candidato da esquerda se viabiliza”.

O professor Secco não está sozinho nessa avaliação. A sentença do juiz federal Sérgio Moro que condenou Lula a mais de nove anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro teve o condão de fazer com que outros militantes manifestassem sua preocupação com o futuro eleitoral da esquerda, depois de mais de uma década de bonança petista. Para essa turma, é preciso começar a encarar a vida sem Lula na cédula de votação em 2018.

O mais curioso desse diagnóstico é que Lula da Silva jamais foi de esquerda. Sua carreira como líder sindical e depois como político se notabilizou pelo oportunismo desbragado. “Eu nunca fui um esquerdista”, disse o chefão petista em 2006, quando era presidente, buscava a reeleição e tinha de convencer o mercado de que nada mudaria na condução prudente da política econômica. Já quando precisa insuflar a militância esquerdista, Lula não tem dúvida em bradar, como fez no mais recente congresso do PT, que é necessário fazer “a esquerda voltar a governar o País”. Cabe aos ingênuos escolher em qual Lula se deve acreditar.

Diante da perspectiva muito concreta de passar os próximos anos na cadeia, Lula da Silva parece ter intuído que o melhor a fazer no momento é travestir-se de esquerdista, vociferando palavras de ordem contra o capital, a imprensa e a classe média, de modo a eletrizar os tolos que ainda se dispõem a defendê-lo, a despeito de todas as evidências. Sua intenção é óbvia: transformar seu julgamento em um caso político, como se sua condenação judicial, acompanhada de carradas de provas, fosse uma ação da “direita”, interessada em destruir as chances eleitorais da “esquerda”.

Essa encenação para engambelar esquerdistas bocós conta com a participação ativa da cúpula do PT, ciente, é claro, do risco de ver o partido encolher drasticamente nas próximas eleições caso Lula não possa concorrer. No mais recente encontro do Foro de São Paulo - o notório convescote de partidos esquerdistas da América Latina que acabam de se reunir em Manágua -, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, disse que “a direita reacionária e golpista não descansa” em seu intento de “destruir o PT e impedir que o maior líder popular brasileiro, Lula, seja nosso candidato nas eleições presidenciais de 2018”. Segundo a petista, “mais do que nunca necessitamos de um governo de esquerda de volta ao nosso país”. No mesmo discurso, sem ruborizar, a senadora aproveitou para se solidarizar com as ditaduras da Venezuela, de Cuba e da Nicarágua.

A estratégia petista de vincular o destino de Lula ao da esquerda - não só brasileira, mas latino-americana - parece estar funcionando bem, a julgar pelo lamento dos esquerdistas que já se consideram órfãos do chefão petista. Isso só comprova a miséria do pensamento dito “progressista” no País. Afinal, se essa esquerda, para existir, depende de um rematado demagogo condenado por corrupção, então é mesmo o caso de considerá-la moralmente extinta.

O Estado de S. Paulo