Geraldo Samor
10 ideias heréticas para melhorar já a vida do
brasileiro
Para o
Brasil mudar, você tem que colocar o dedo na(s) ferida(s).
Não tem outro jeito.
O Governo está
trabalhando na “Agenda Brasil”, uma longa pauta econômica pactuada entre o
Senador Renan Calheiros e o Ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
A coluna sugere uma outra agenda,
ainda mais ousada, com 10 ideias que o País deveria adotar agora.
Se são ideias heréticas — ou puro
bom senso — cabe a você julgar como leitor, eleitor e contribuinte.
1)
Fica proibido aos titulares do Executivo Federal, Estadual e Municipal
organizar ou participar de cerimônias de inauguração de obras. Primeiro, porque
elas quase nunca significam que a obra está pronta — só que o governante
está louco para aparecer bem na foto. Segundo, elas custam dinheiro e
dão a muitos eleitores a sensação de que o governante lhes fez um
favor quando, em realidade, não fez mais que a obrigação. A partir de agora, se
a hidrelétrica ficou pronta, liguem as turbinas e vida que segue.
2) Os
membros dos três poderes passarão a se referir aos cidadãos brasileiros como “o
patrão.” Esta obrigatoriedade valerá para documentos públicos, discursos nas
tribunas do Congresso e decisões dos tribunais superiores, onde o ar
costuma ser mais rarefeito. Semanticamente, já tentamos o caminho aberto pela
Revolução Francesa: a palavra ‘cidadão’ tentou nivelar a todos (governantes e
governados), mas nem por isso conseguimos fundar uma ‘Res’ pública. Tentemos
agora a perspectiva protestante, anglo-saxã: quem paga a conta é que manda. Os
brasileiros trabalham um terço do ano para pagar impostos. Os políticos são
seus funcionários. Tá na hora de mostrarem respeito e tratarem o chefe pelo
nome.
3) Lei
Cristóvam Buarque: Os filhos de todo aquele que conquistar mandato
eletivo, se em idade escolar, deverão ser matriculados em escolas públicas
e ali permanecer durante todo o exercício do mandato do pai ou da mãe. Não
haverá exceções. Guardem o mimimi até que a rede pública esteja a cara de um
internato suíço.
4) O
Código Penal tipificará como ‘crime contra as finanças públicas’
qualquer empréstimo do BNDES a empresas na lista das 100 maiores do Brasil. É
pra elas começarem a usar uma novidade aí… chamada ‘mercado de capitais’.
Coisa fina. (Pra você que não é do ramo: o BNDES é o táxi, e o mercado de
capitais é o Uber do dinheiro.) Parágrafo segundo: o BNDES muda de nome e passa
a ser o BPME: o Banco da Pequena e Média Empresa, com guichês de atendimento em
todos os Estados e análise de crédito centralizada em sua sede na Avenida
Chile, no Rio. O banco também criará fundos — o FIP Garagem I, Garagem II e
assim por diante — para um grande esforço de investimento em startups e capital
semente. Está na hora de oxigenar a economia com inovação e turbinar quem
tem talento, não só quem já é grande o suficiente para contribuir nas
campanhas.
5) A
CVM (o xerife da Bolsa) e o COAF (o xerife da lavagem de dinheiro) terão
dotação orçamentária própria, autônoma e não-contingenciável. A remuneração de
seus diretores, gerentes e analistas será em linha com salários do setor
privado. A quarentena será de dois anos. E como todo xerife precisa impor
respeito, a sede da CVM será transferida para um daqueles prédios de granito e
mármore na Faria Lima, que os bancos de investimento ocupam para tentar
impressionar os clientes. As multas da CVM, cujos valores máximos hoje são
fixados, por lei, em reais (e assim ficam defasados com a inflação),
passarão a ser atreladas à cota do Fundo Verde.
6)
Presidentes e ministros cujos ajustes fiscais atingirem o fornecimento de
medicamentos de uso contínuo para pacientes de câncer, AIDS e diabetes serão
punidos com exposição direta ao HIV, radiação cancerígena ou doses cavalares de
açúcar.
7)
Revoga-se a tarifa de importação de servidores, roteadores, desktops e laptops,
num empurrão à produtividade do País. Esta reserva de mercado é da época dos
militares. Eles foram embora há 30 anos e já há até infelizes aí pedindo
a sua volta, mas a reserva de mercado ainda está aí, firme e forte. Ao
contrário do que seus defensores esperavam, ela não pariu uma Apple
brasileira, mas garantiu que um computador importado custe aqui quase três
vezes mais do que lá fora. Quando vamos acabar com esta palhaçada? (Rachid,
mata essa no peito, cara!)
8) No
mercado de construção pesada, o Governo fará um grande e espetaculoso esforço
para atrair empreiteiros internacionais. Vamos recebê-los como os parisienses
receberam os americanos em 1945. Faremos uma brochura promocional com as fotos
de todos os empreiteiros encarcerados na Lava Jato, mostrando que instauramos a
moralidade e prometendo que, como diz a canção, “daqui pra frente, tudo vai
ser diferente.” Os americanos não precisarão ficar de fora do Brasil por
temer que uma propina paga aqui os leve à cadeia lá. (Cena cômica: Já
imaginaram o Vaccari pedindo um ‘pixuleco’ — em inglês — a um empreiteiro
alemão?)
9) Nos
três poderes da República, ficam proibidos carros oficiais, garçons nos
gabinetes e ascensoristas nos elevadores. Estes benefícios, concebidos para
facilitar o trabalho de deputados, senadores, ministros e juízes de tribunais
superiores, transformaram-se com o tempo em símbolos do descolamento da
realidade, do desalinhamento destes servidores com o interesse público.
Ministros, deputados e desembargadores dirigirão seus próprios carros (ou
contratarão um motorista com seus salários), e não há motivo algum que impeça
alguém de pegar seu próprio café e apertar o andar de destino no elevador
(contanto que não seja o “13”. Neste caso, vá de escada.)
10) O haraquiri fica instituído como a
saída jurídica preferencial para os ocupantes dos três poderes que traírem
o interesse público. A outra é a Papuda.
Se
você gostou dessas ideias, compartilhe-as no Facebook ou
num email para seu deputado ou senador. Só dá pra consertar o Brasil
reinventando-o — e questionando tudo, de cima pra baixo.
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