Martim Berto Fuchs
Leio que dia 02 de outubro do corrente ano haverá uma
consulta pública para decidir a secessão da região Sul, do restante do Brasil.
Não está descrito no artigo, como fazer para se
manifestar, nem onde. Mas mesmo antes de descobrir, me manifesto sobre dito
artigo.
No artigo o autor elenca o que considera 6 pontos principais:
1. Geográfico.
2. Religião.
3. Instituições.
4. Cada povo tem o governo que merece.
5. Influência do magnetismo do planeta terra sobre a pobreza
ou riqueza dos povos.
6. Fator genético.
Posso até concordar com a maior parte da análise exposta do
porquê o Brasil é o que é. Só não posso concordar com a solução proposta: secessão.
Nasci no RS em 1945, tendo por lá residido até 1972. De lá me
transferi para o PR, onde permaneci até fins de 1983. Em janeiro de 1985 vim
residir em SC, onde me encontro até hoje.
Posso dizer que conheço a região Sul, sem contar o fato de
que, nesses anos todos, por força do trabalho, viajei por quase todo o estado,
enquanto em cada um. Além disto, acompanho política desde a campanha e eleição
do homem da “vassoura”, o indigitado Jânio da Silva Quadros, em 1960.
O depauperamento do Brasil e não apenas da região Sul é um
processo que tornou-se evidente; não há quem em sã consciência consiga negar.
Mas não bastam os 6 tópicos assinalados para explicar o caos em que nos
encontramos; ele vem de um processo que atinge a todos e tem sua origem no
sistema político, desde suas origens e este, mesmo que ocorresse a secessão,
não está sendo levado em conta. Logo, os problemas para o “novo país”,
persistiriam.
Portugal se notabilizava, de acordo com diversos
historiadores não oficiais, à viver do trabalho alheio. Quase toda sua riqueza
vinha do trabalho realizado nas colônias. Viveram no luxo e no ócio, e que era
cultivado, mesmo depois que Napoleão os obrigou mudar de endereço.
A família imperial em sua mudança, trouxe em suas 44 naus,
escoltadas pelos ingleses (ponto importante, pois ainda não paramos de pagar
esta conta), entre 10.000 e 15.000 pessoas, dependendo do autor. Se por um lado
deixamos de ser colônia, em nenhum momento o país deixou de ser explorado.
Desde então aceitamos resignados a obrigação de arcar com as custas desta
prática, qual seja, sustentar quem não
trabalha.
Desde o início, 1808, somos obrigados a manter em alto estilo
o padrão de vida da nossa “nobreza”, TODA encastelada no setor público.
Com o fim da escravatura explícita (a não explícita
continua), os ricos “comerciantes” de carne humana se transformaram também em
cortesãos, passando a fazer parte da Corte como burgueses, e passando então a
investir os excepcionais lucros conseguidos com o tráfico, em, principalmente,
rendas, como rentistas. O único homem que poderia ter colocado o Brasil em
igualdade de condições com os atuais países ricos, Irineu Evangelista de Souza,
foi, digamos assim, “dissuadido” de seus intentos pela “nobreza” e pelos
rentistas, pois isso exigiria iniciativa e muito trabalho, e trabalho causava
urticária, doença até hoje sem medicamento eficaz.
Após a golpe da república, 1889, nossos burgueses iniciaram
um processo de industrialização, que, traduzindo, consistia em trazer empresas
estrangeiras para o país, constar de donos e viver à larga, mantendo todos os
dependentes que não cabiam nas “suas” empresas, nas folhas de pagamento do
setor público. Velho hábito já enraizado.
Até a revolução de 1930, nossa Corte era composta pelos
“nobres” servidores públicos, indemissíveis por decreto imperial, e pelos
dependentes não aquinhoados, principalmente de qualidades, dos burgueses.
Getúlio Vargas, ex-Ministro da Fazenda de Washington Luiz e
depois Presidente do Rio Grande do Sul, conhecia bem nossa Corte e sua aversão
pelo trabalho. Considerando a época em que isto se deu, década de 30, a grande
Europa se dividia em comunistas (Rússia), fascistas (Itália), nazistas
(Alemanha) e democracias (Inglaterra e França). Portanto, a maior parte eram
regimes autoritários.
Optou pelo autoritarismo, quem sabe por conhecer nossa Corte,
copiando um pouco de cada país europeu de então. Da Inglaterra a terminologia
do trabalhismo, da Rússia as empresas estatais, da Itália os sindicatos pelegos
para fazer frente ao comunismo, da Alemanha nazista, boa parte do seu amparo ao
trabalhador. Desta salada, surgiu o terceiro grupo à participar da Corte, ainda
que na época, de forma incipiente: os “trabalhistas”, cultivadores do emprego,
mas com certa aversão ao trabalho.
Este processo continuado de empreguismo, nunca interrompido,
foi extrapolado com a entrega da chave do cofre aos sindicalistas pelegos,
através do fenômeno Lula, em 2002, que absorveram os antigos “trabalhistas”, agora irmanados na defensa
do 2 x 1: um trabalha e dois assistem.
O que começou com 10.000 usufrutuários em 1808, há alguns
anos somam 5,5 milhões - sem contar mais alguns milhões de aposentados que
nunca trabalharam -, pois dos 11 milhões de pessoas constantes das folhas de
pagamento do setor público hoje, a metade não tem trabalho, só o emprego, e frise-se,
melhor remunerado do que aqueles que trabalham e ainda mantém este país em pé.
Propor secessão como solução é o mesmo que mirar na codorna e
acertar no cachorro. Os três estados do Sul estão com o câncer do empreguismo
em estágio tão avançado como os outros 24 estados. Se não atacarem esta doença,
não há solução para este “novo país”.
5,5 milhões de inúteis pendurados nas folhas de pagamento do
setor público significam, sem contar a despesa que automaticamente geram, R$
260 bilhões/ano, o que multiplicado pelos 13 anos do lulo-petismo que aumentou
sem dó nem piedade esta fatura, R$ 3,38 trilhões de reais. Fora os que nunca
trabalharam e hoje estão recebendo como aposentados, com vencimento integrais.
Se esta consulta pública vier, votarei contra, pois o Brasil
é meu país.
O embrião da corrupção é o empreguismo !!! Daí advém todo
restante do processo, que como um câncer, corrói as entranhas do nosso país.
O empreguismo é também a causa primeira da nossa dívida
pública, que só se tornará administrável se a doença for energicamente
combatida.
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