quarta-feira, 31 de julho de 2019

Nossa Democracia Participativa

Gaudêncio Torquato

O clima de polarização que se instalou no país, cuja origem está na construção da equação “nós e eles”, de autoria do PT, gera uma bateria de efeitos, nem todos negativos. Se é verdade que a dose de bílis tem escorrido com maior intensidade pelas veias sociais, é plausível a hipótese de que a conscientização política se expande entre os grupamentos organizados. Fenômeno positivo.

São palpáveis os sinais de que a política passou a fazer parte do menu cotidiano dos brasileiros. A par das duas grandes correntes que se manifestam intensamente, enaltecendo ou criticando as posições do governo Bolsonaro, subgrupos se multiplicam aqui e ali, falando de política, discorrendo sobre temáticas variadas em encontros e reuniões ou nas redes sociais. O fato é que o discurso político se faz presente na interlocução social, a denotar o interesse dos cidadãos na construção do pensamento nacional.

Essa massa expressiva tem escoado para espaços formados pelos movimentos sociais, alguns fortes, outros em estágio de crescimento, e todos eles ligados a setores sociais ou a categorias profissionais. São movimentos em defesa de gênero, minorias étnicas e raciais, contra ou a favor de determinadas temáticas (aborto, porte e posse de armas, escola sem partido), ou núcleos que desfraldam a bandeira de categorias organizadas, como servidores públicos, (forças armadas, policiais militares), professores, ruralistas etc.

O fato é que a movimentação dessas categorias passa a influir intensamente na elaboração e no ajuste de políticas públicas, como temos visto nesse ciclo de debates sobre a reforma da Previdência. Cada setor quer incluir suas demandas no projeto que vai ao segundo turno na Câmara, sem esquecer que Estados e municípios também criam sua frente de demandas.

Nunca se viu no país uma movimentação tão forte como a que se assiste no momento. A Constituição de 1988, claro, envolveu intensamente certos grupos, mas a pressão maior esteve todo tempo na esfera da representação política, com destaque para o centrão, que acabou imprimindo sua marca na Carta. Hoje, a organicidade social ganha fôlego, descendo aos andares mais baixos da pirâmide social e, de certa forma, constituindo novos polos de poder.

Essa é a boa novidade. O processo democrático passa a ganhar a voz das ruas, sendo balizado de forma centrípeta, ou seja, das margens para o centro. Significa que estamos andando, mesmo devagar, na rota de uma democracia participativa. A miríade de entidades criadas nos últimos anos começa a dar o tom na orquestração das demandas sociais.

Sob esse prisma, é lamentável ver a desconstrução de conselhos e associações que canalizavam a expressão de grupamentos, fazendo o devido encaminhamento aos órgãos do governo. Medida recente baixada pelo presidente Jair Bolsonaro acaba com um conjunto de entidades representativas da sociedade junto ao governo. Essa modelagem contribuía para consolidar nossa democracia participativa.

A propósito, convém lembrar que na Carta Magna temos três instrumentos voltados para firmar a democracia participativa, também designada de democracia direta: o plebiscito, o referendo e o projeto de lei de iniciativa popular, este que carece de assinatura de 1,5 milhão de eleitores. A larga estrutura dos conselhos formados para colaborar com o governo é, agora, esfacelada. O presidente prefere governar sem o apito social, o que mostra forte viés autoritário.

De qualquer maneira, a movimentação social, imune à decisão do presidente ou de outras autoridades, deverá continuar. Lembremos a gigantesca movimentação de junho de 2013. Por enquanto, os movimentos acompanham, atentos, os programas. Ainda estão vivendo o período de lua de mel. Mas poderão, a qualquer momento, encher as ruas. A divisão social em duas grandes bandas – nós e eles – (agora de maneira invertida), sugere que o país tende a ser um grande palanque, de onde emergirão pleitos em muitas frentes. Depois da Previdência, teremos a reforma tributária. E na mira, estará a reorganização do Estado.

Os programas de hoje e de amanhã passarão pelo crivo social. É bom saber que uma decisão unilateral, de cima para baixo, não vingará sem o cidadão aprová-la. A democracia participativa avança, mesmo sob objeção de governantes.

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação

Alerta Total


terça-feira, 30 de julho de 2019

O xeque-mate avança à medida que as peças se movimentam

Luiz Antônio P. Valle

O jogo avança no ritmo cinético dos eixos, conforme já expus, em função da atenção concentrada no bispo (eixo do sistema de crenças), no cavalo (eixo do poder armado), na torre (eixo da economia), segundo a estratégia definida pelo jogador que vê de uma perspectiva mais elevada.  O Rei é peça, mas observa a rainha e as demais peças em seus movimentos.

O bispo avança na diagonal. Na semana passada o milionário Jeffrey Epstein foi encontrado “quase inconsciente” com “marcas no pescoço” em posição fetal no chão da cela que ocupa no Centro Correcional Metropolitano (MCC), em Manhattan. Certamente é uma pessoa que sabe muito sobre as práticas abusivas perpetradas por “poderosos” ao longo de muitos anos.

Uma pequena pesquisa sobre o tema pode revelar bastante sobre como funcionam, de verdade, alguns mecanismos de poder. Todavia, para enxergar é preciso querer ver. As pessoas têm dificuldades de assimilação quando seus fundamentos são abalados, fato explicado pelo conceito de “Túnel de realidade” cunhado por Timothy Leary, mostrando que os indivíduos possuem um filtro mental com o qual percepcionam a realidade.

Ao estudar este conceito foi verificado que as pessoas só ouvem, enxergam ou entendem o que se encaixa dentro do seu sistema de crenças, abdicando do discernimento. Por isso Jesus escolheu seus discípulos entre pessoas iletradas, mas de mente aberta com poucos filtros. Quando se aproxima uma disruptura, para percebê-la antecipadamente, é necessário ter “olhos de ver e ouvidos de ouvir”. 

O cavalo se posiciona para o momento decisivo, sabe que vai precisar de força. As novas famílias de armas escalares, bem como novas tecnologias mudaram o uso dos recursos no tabuleiro. O poder destrutivo exercido com sutileza tem sido amplamente utilizado porque não provoca reações extremas da opinião pública (https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/07/23/algo-aconteceu-com-os-cerebros-de-diplomatas-dos-eua-em-cuba-diz-estudo.ghtml).

As potências ocidentais agrupam forças no Estreito de Hormuz, no Mar do Sul da China e nas fronteiras com a Rússia. Seus oponentes, dentre eles Rússia, China, Irã, Síria e Coreia do Norte também se posicionam, a Índia aguarda. Uma nova corrida armamentista está em curso e a guerra cibernética e de inteligência precede o ato final, encontrando-se em decisivo andamento, (https://securityaffairs.co/wordpress/88657/intelligence/fsb-contractor-sytech-hacked.html). 

A torre teve os seus movimentos anteriores plotados e seus futuros lances parecem ir numa direção não regressiva. Os grandes bancos, pilares do sistema financeiro internacional e colunas da economia, tem mostrado um comportamento passível de cuidadoso acompanhamento, senão vejamos.
O HSBC sofreu em 2014 uma investigação vigorosa por parte do Senado americano (http://www.hsgac.senate.gov/subcommittees/) que concluiu, segundo o The Guardian, que o gigante bancário “ignorou os sinais de alerta de que suas operações globais estavam sendo usadas por lavadores de dinheiro e potenciais terroristas” - http://www.guardian.co.uk/. No ano seguinte outro escândalo veio à tona onde o banco britânico foi acusado de “ajudar” clientes ricos a evitar o pagamento de milhões de dólares em impostos por meio de sua filial na Suíça - http://www.bbc.co.uk/. Os documentos incluem dados sobre 5.549 contas secretas de brasileiros, entre pessoas físicas e jurídicas, com um saldo total à época de US$ 7 bilhões (R$ 19,5 bilhões).

Em 2016 foi a vez do Goldman Sachs ocupar os holofotes, pagando multas de US$ 5 bilhões, após a conclusão de uma investigação do Departamento de Justiça dos EUA que sentenciou: “Esta resolução torna o Goldman Sachs culpado por má conduta e por mentir a investidores ao afirmar que os títulos eram apoiados por hipotecas saudáveis“, disse Stuart Delery, do Departamento de Justiça - http://epocanegocios.globo.com.

O banco criou “credibilidade” para o que não tinha lastro. A reportagem ainda diz: “O anúncio é o mais novo capítulo da série de esforços de autoridades do Departamento de Justiça, em conjunto com outros Estados, de penalizar bancos por impulsionarem a bolha imobiliária que resultou no colapso financeiro de 2008. Instituições como o J.P. Morgan Chase, Bank of America, Citigroup e Morgan Stanley já pagaram, juntos, quase US$ 40 bilhões para encerrar investigações parecidas. Fonte: Dow Jones Newswires”.

Entenda-se por “impulsionarem a bolha imobiliária” como óbvia manipulação do mercado, do contrário não haveria punição. Fica claro que o pagamento de multas conjuntas de cerca de US$ 40 bilhões foi para “para encerrar investigações parecidas”, o que saiu barato para os bancos, do contrário eles não pagariam. Quem já fez antes pode fazer de novo.

Este ano foi a vez, como já comentado em outro artigo da série “xeque-mate”, do Deutsche Bank, um gigante da Europa. Há indícios que o banco pode estar envolvido no vultoso escândalo do fundo de desenvolvimento 1MDB (1Malaysia Development Berhad) da Malásia, tendo violado as leis de corrupção estrangeira e/ou lavagem de dinheiro, informou o Wall Street Journal. Isso surgiu quando o The New York Times noticiou  que os gerentes do Deutsche Bank negligenciaram as advertências do pessoal de Compliance em suas negociações com Jeffrey Epstein. A situação do banco tornou-se tão aguda que ele anunciou a demissão de 18.000 funcionários e a venda de € 150 bilhões (US$ 168 bilhões) de saldos mantidos em carteira para o francês BNP Paribas.

Os analistas bem informados percebem que algo está vindo, os sinais já são visíveis para olhos treinados. Desde o comportamento dos fundos de investimento, citado em outro artigo, como o RenTec de James Simons, aos “avisos” do próprio analista do Deutsche Bank, Robin Winkler, quando diz:  “a tensão cíclica nos desequilíbrios financeiros globais atingiu níveis vistos pela última vez na véspera da crise financeira”, tudo leva a crer que a luz vermelha acendeu-se. Robin Winkler demonstrou isso graficamente:
  Outro analista, Michael Cembalest, do J.P.Morgan, prevendo a possibilidade do dólar não resistir a próxima crise, mostrou de uma forma gráfica que as moedas de reserva não duram para sempre e o dólar também perderá o seu status.
Cembalest disse: “Eu me lembro do seguinte comentário do falecido economista do MIT, Rudiger Dornbusch: 'A crise leva muito mais tempo do que você pensa, e então acontece muito mais rápido do que você imagina'”. O status de moeda de reserva está sendo questionada, e ninguém menos que o Private Bank do J.P.Morgan pergunta, na estratégia de investimento deste mês, se o “privilégio exorbitante do dólar” está chegando ao fim? Eles dizem: "Acreditamos que o dólar poderia perder seu status de moeda dominante do mundo (o que poderia levá-lo a depreciar no médio prazo) devido a razões estruturais e a impedimentos cíclicos". Por que eles tocam neste assunto agora?

Atualmente, 85% de todas as transações cambiais envolvem o dólar, ainda que a participação do PIB estadunidense seja de cerca de 25% do PIB global.
Segundo estudos, dos estimados US$ 30 trilhões em crescimento de consumo da classe média entre 2015 e 2030, espera-se que somente US $ 1 trilhão venha das economias ocidentais de hoje. Na medida que outras regiões crescem e se tornam relevantes na economia, a participação de transações que não utilizam o dólar inevitavelmente aumentará, o que provavelmente reduzirá a importância do dólar como reserva de valor.

Países de todo o mundo já estão desenvolvendo mecanismos de pagamento que evitam o uso do dólar. A China já possui em funcionamento o “payment versus payment”, lançado em 9 de outubro de 2017. Com o sistema é possível realizar transações em moedas nacionais, por exemplo, da Rússia e da China, sem utilização do dólar. A Gazprom (Rússia) e a CNPC (China), duas gigantes do ramo de energia, assinaram um contrato, válido por 30 anos, de fornecimento de gás russo à China no valor total de US$ 400 bilhões de dólares, pagos em yuans, sem uso de dólares. Este sistema está em expansão para novas moedas no intuito, inclusive, de contornar as sanções americanas que utilizam o sistema SWIFT como instrumento de pressão.

Segundo Peter Koenig, o PIB dos estadunidenses será de US$ 21,1 trilhões em 2019 (estimativa do Banco Mundial), com uma dívida atual de US$ 22 trilhões, ou seja, 105% do PIB. O PIB mundial está projetado para 2019 em US$ 88,1 trilhões (Banco Mundial). De acordo com a Forbes, existem cerca de US$ 210 trilhões de “passivos não financiados” (valor presente líquido de obrigações futuras projetadas, mas não financiadas, principalmente previdência social, Medicaid e juros acumulados sobre dívidas), um número cerca de 10 vezes o PIB dos EUA, ou duas vezes e meia a produção econômica mundial. Além disso, há cerca de um a dois quatrilhões de dólares (ninguém sabe a quantia exata) dos chamados derivativos flutuando em todo o mundo. Esta dívida monstruosa é parcialmente detida na forma de títulos do Tesouro como reservas cambiais por países em todo o mundo - https://www.globalresearch.ca.

O grande problema da perda do status do dólar como moeda de referência global é que os EUA são totalmente dependentes deste status para “rolar” seu monstruoso déficit gêmeo e consequente colossal dívida. A perda futura desta liquidez do dólar levaria a economia dos EUA ao caos, e obter autorização do congresso para elevar continuamente o teto da dívida atual, como vem fazendo, não vai ajudar.

Até mesmo a candidata presidencial democrata Elizabeth Warren, segunda colocada nas pesquisas para indicação do partido, chama a atenção para os sinais crescentes de problemas na economia. Num artigo que ela divulgou na segunda-feira da semana passada, alerta para um "estouro econômico" se aproximando. Ela disse:

“Quando olho para a economia hoje, vejo muito com o que me preocupar novamente. Eu vejo uma recessão no setor manufatureiro. Eu vejo uma economia precária que é construída sobre a dívida - tanto a dívida das famílias quanto a dívida corporativa - e isso é vulnerável a choques. E vejo uma série de choques sérios no horizonte que podem fazer com que os alicerces instáveis de nossa economia desmoronem”.

“Uma geração de salários estagnados e custos crescentes para o básico, como moradia, creches e educação, forçaram as famílias americanas a assumir mais dívidas do que nunca. A dívida do estudante "mais do que dobrou desde a crise financeira". A dívida do cartão de crédito americano corresponde ao seu pico de 2008. A dívida de empréstimos de automóveis é a mais alta desde que começamos a rastreá-la há quase 20 anos, e um número recorde de 7 milhões de americanos estão atrasados em seus empréstimos para automóveis - muitos dos quais têm características abusivas semelhantes às hipotecas subprime pré-colisão. 71 milhões de adultos americanos - mais de 30% dos adultos no país - já têm dívidas na arrecadação. As famílias podem ter condições de arcar com esses pagamentos de dívidas agora, mas um aumento nas taxas de juros ou uma desaceleração na renda poderiam levar as famílias a um precipício”.

O que os governos das potências estão fazendo para proteger-se desta perspectiva?

O ouro é reconhecido como uma reserva de valor segura a muitos séculos. Sobre esta questão não há muitas controvérsias entre aqueles que entendem do assunto. Os países investem milhões para construir estruturas seguras para custodiar seu ouro físico porque sabem que ele é uma reserva de valor inquestionável, do contrário por que o fariam? Numa crise ele é considerado um refúgio seguro, diferentemente de papeis de crédito sujeitos a especulação advinda de percepções de credibilidade e de liquidez. O governo dos EUA afirma ter 8.133,5 toneladas de ouro físico em suas reservas oficiais. Cinquenta e oito por cento são mantidos em Fort Knox, no Kentucky, 20% em West Point, no estado de Nova York, 16% estão na casa da US Mint em Denver, Colorado e 5% são mantidos nos cofres do NY Fed (Federal Reserve Bank of New York).

As reservas de ouro da Rússia totalizaram 2.208 toneladas, informou o Banco Central da Rússia (CBR), estimando o valor de suas reservas de ouro em US $ 100,3 bilhões em 1º de julho. Só em junho, a Rússia acrescentou 18 toneladas do metal precioso às suas reservas. Aumentando seus estoques de ouro, a Rússia também está diminuindo sua participação nos títulos do Tesouro dos EUA - Sputnik.

Como eu já afirmei em outro artigo da série xeque-mate: “A compra de ouro dos bancos centrais nos primeiros cinco meses deste ano é 73% maior do que um ano antes, com a Turquia e o Cazaquistão também se unindo a China e a Rússia como os quatro maiores compradores. É possível constatar que 2018 foi o ano em que bancos nacionais / centrais adquiriram mais ouro desde 1968 e estes volumes atuais estão ultrapassando o volume do ano passado em 73%, tornando possível, se a tendência continuar, prever que 2019 será o maior ano para aquisições de ouro na história”. Todos de movem rapidamente e decisivamente para proteger suas economias.

E o Brasil, como vem se posicionando neste assunto?

Em outro artigo da série xeque-mate eu fiz a seguinte menção: “Segundo dados do Bacen em maio de 2019 o Brasil possuía reservas US$ 388,09 bilhões, o que vem se mantendo em patamar semelhante a sete anos consecutivos, uma vez que em maio de 2012 nossas reservas eram de US$ 373,91 bilhões. Esta reserva atual é considerada por muitos economistas como elevada e confortável, uma vez que se considerarmos o PIB brasileiro, dá uma sensação de segurança em função do seu montante.

Entretanto, além de quantidade deve ser considerada a qualidade dos ativos, vez que poderíamos vê-la como segura, não fosse pela natureza da sua composição. Surpreendentemente destes US$ 388,09 bilhões temos US$ 363,32 bilhões em títulos e somente US$ 7,98 bilhões em moedas estrangeiras, ou seja, 93,62% das nossas reservas são títulos, o que é uma exposição muito acima dos demais países!

Não bastasse a vulnerabilidade óbvia é um péssimo negócio financeiro, pois em 2018 pagamos, em média, 9,5% a.a. sobre os títulos brasileiros que financiam a dívida pública, emitidos para 5 anos, e recebemos 3% a.a pelos títulos norte-americanos que compramos, emitidos para o mesmo prazo. Para deixar mais clara a frágil situação, que é contrária a estratégia dos demais países que mostrei, a participação do ouro nas reservas brasileiras é de insignificantes US$ 3,05 bilhões, ou seja, 0,79% do total”.

Numa crise global, de acentuado aspecto de liquidez, se os emissores dos papeis que mantemos em nossas reservas virarem para o Brasil e disserem que precisam dilatar o prazo do vencimento devido a crise, ou que simplesmente não podem honrá-los, o que o Brasil faria? Qual instrumento de pressão ele tem para forçá-los? Óbvio que nenhum.

A governo estadunidense, que tem informações de qualidade de suas agências de inteligência, parece estar se preparando para possíveis distúrbios. O Exército dos EUA inundou os céus de Washington D.C. em 22 de julho de 2019 com helicópteros de combate fortemente armados, tendo também apoio em terra, num exercício militar para proteger prédios federais sem prazo para término, talvez prevendo um possível agravamento da situação interna dos EUA - https://www.bloomberg.com/. O Congresso dos EUA aprovou uma lei (H.R. 6566) que obriga a FEMA (Federal Emergency Management Agency) a preparar-se para um “planejamento de morte em massa” enquanto os cemitérios e funerárias estiverem lotados pela consequência de um “atentado terrorista”, “desastres naturais” ou “outro tipo de crise”.

A torre quer “rocar” com o rei antes do xeque para proteger também a rainha.
O Rei, mais experiente, percebe que está chegando a hora de sacrificar a rainha inocente para chegar ao mate. Ele e o Jogador são prudentes como a serpente. Observam os movimentos e as peças serem postas em posições estratégicas, aguardando pacientemente a hora do “mate”.

Trump e Bolsonaro, dentre outros como na Itália, foram “surpreendentemente” galgados a cadeira que hoje ocupam. Talvez eles tenham sido postos ali com a finalidade de, ao final, pagar a conta. Alguém terá de pagar a dívida/bolha que vem se acumulando. Depois do “mate” alguém tem de levar a culpa.

Todo jogo acaba ou muda de fase. Crie a situação, espere a reação e ofereça a solução. O xeque-mate se aproxima.

Luiz Antonio Peixoto Valle é Professor e Administrador de Empresas.

Alerta Total

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Previdências nos estados têm rombo de R$ 1,12 milhão por servidor Esse percentual é mais elevado em alguns entes da Federação, no DF e em Minas está próximo de 33%

Redação

Estados e Distrito Federal têm em conjunto uma dívida de R$ 1,12 milhão com cada um dos servidores incluídos em seus RPPSs (Regimes Próprios de Previdência Social).

O cálculo faz parte do estudo especial da IFI (Instituição Fiscal Independente), do Senado, sobre a situação das previdências estaduais.
O valor se refere ao déficit atuarial das unidades da Federação, que registra a diferença entre receitas e despesas projetadas em prazo mais longos.
Nesse caso, obteve-se um resultado negativo total de R$ 5,2 trilhões, valor que representa quase nove anos da receita líquida dos entes.

A IFI usou a estimativa informada pelos governos estaduais para a composição do Anuário Estatístico da Previdência Social de 2017, com cálculos que consideram hipóteses e períodos distintos.

Os valores “devem ser interpretados como uma referência mínima, passíveis de subestimação”, segundo Josué Pellegrini, diretor da instituição responsável pelo estudo.

O cálculo considera a estimativa do total de compromissos assumidos pela previdência de cada estado junto aos segurados, incluindo inativos e servidores em atividade.

A conta equivale ao gasto projetado do primeiro mês de aposentadoria até o falecimento ou, no caso dos pensionistas, da perda de condição de dependente.

O valor já considera também as contribuições a serem feitas por ativos e inativos ao longo de todo o período coberto pela avaliação atuarial.

Em relação ao resultado financeiro das previdências estaduais, que é a diferença entre receitas e despesas no ano, o mesmo estudo mostra que os estados brasileiros gastam, em média, cerca de um quarto da sua receita líquida com despesas previdenciárias.

Esse percentual é mais elevado em alguns entes da Federação. No Distrito Federal e em Minas Gerais, está próximo de 33%; no Rio Grande do Sul, em 42%; e no Rio de Janeiro, em 47%.

Se os estados forem incluídos na reforma, considerando as regras apresentadas na primeira versão do projeto do governo Jair Bolsonaro, a economia poderia chegar a R$ 350,7 bilhões em dez anos, segundo projeção da IFI.

A Câmara votará o segundo turno da reforma em agosto.

Isso representaria uma redução de cerca de 40% no déficit. Ficariam aquém dessa média estados como Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

“Nesses casos, é possível que providências complementares precisassem ser tomadas”, segundo Pellegrini.

Estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) do economista Marcelo Caetano, ex-secretário de Previdência de Michel Temer (MDB), calculou em 49% a alíquota previdenciária que deveria ser cobrada de ativos, inativos e pensionistas para equilibrar o sistema entre 2015 e 2050.
Os motivos dos desequilíbrios nas previdências estaduais foram abordados em outro estudo do Ipea, que aponta os fatores do aumento de 50% no déficit de 2006 a 2015, em dados atualizados pela inflação.

Entre as explicações estão o aumento de 38% no número de inativos e de 33% no valor médio dos benefícios.

Hoje, em quatro estados, já há mais inativos do que ativos: Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Entre os rombos mais elevados estão os dois últimos.

Segundo a IFI, são dois entes com despesas elevadas e baixa arrecadação na comparação com os pares.

O Rio de Janeiro é recordista em receitas e despesas, mas a arrecadação é insuficiente para tirar o estado da lista dos piores déficits.

Em São Paulo, segundo a IFI, os indicadores da previdência estadual estão próximos da média do país. Medidas como redução no número de servidores e correção nas contribuições em 2007 e 2008 ajudaram a evitar uma piora mais acelerada nos números.(Com informações FolhaPress)

Diário do Poder

domingo, 28 de julho de 2019

Vou fazer o Reino Unido grande novamente, diz Boris Johnson

Reuters

Boris Johnson prometeu nesta quinta-feira que o Brexit tornará o Reino Unido o melhor lugar do mundo, ecoando a retórica patriótica do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em seu discurso inaugural como primeiro-ministro diante do parlamento.

Johnson, que foi saudado por Trump como sua versão britânica, prometeu fechar um novo acordo de divórcio com a União Europeia e energizar a quinta maior economia do mundo, depois do que ele considera como um melancólico mandato de Theresa May.

Ao entrar em Downing Street na quarta-feira, Johnson preparou o Reino Unido para um confronto com a UE, prometendo negociar um novo acordo do Brexit e ameaçando que, se o bloco se recusar, ele vai tirar o país da UE sem um acordo em 31 de outubro.

“Nossa missão é entregar o Brexit em 31 de outubro com o propósito de unir e reenergizar nosso grande Reino Unido e fazer deste país o melhor lugar do mundo”, disse Johnson ao parlamento em seu primeiro discurso como primeiro-ministro.

Ele disse que não estava sendo exagerado e afirmou que o Reino Unido poderá ser a economia mais próspera da Europa até 2050, um feito que significaria superar a França e a Alemanha.

Irlanda diz que abordagem de Johnson sobre Brexit é pouco colaborativa
O ministro das Relações Exteriores da Irlanda, Simon Coveney, disse que a abordagem do novo premiê britânico, Boris Johnson, sobre negociações acerca do Brexit é pouco colaborativa e não levará a um acordo.

Johnson disse ao Parlamento na quinta-feira que não quer impedir o chamado “backstop”, elaborado para manter o livre controle de fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda, Estado membro da União Europeia, caso a tentativa de um acordo no Brexit não se concretize.

“As declarações do primeiro-ministro britânico na Câmara dos Comuns ontem foram pouco colaborativas a esse processo”, afirmou Coveney a repórteres nesta sexta-feira após se reunir com o novo secretário de Estado para a Irlanda do Norte em Belfast.

“Ele parece ter feito uma decisão deliberada para direcionar o Reino Unido por uma rota de colisão com a União Europeia e a Irlanda no que diz respeito às negociações do Brexit, e eu acredito que apenas ele pode responder ao porquê de estar fazendo isso”, acrescentou.

Premiê britânico Johnson expôs posição sobre Brexit a Macron, diz porta-voz
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, conversou com o presidente francês, Emmanuel Macron, na quinta-feira à noite, disse o porta-voz de Johnson a jornalistas, acrescentando que o novo líder britânico usou o telefonema para reiterar sua posição sobre o Brexit.

“Quando o primeiro-ministro tiver essas conversas com outros líderes e a discussão seguir para o Brexit, ele apresentará a mesma mensagem que entregou na Câmara dos Comuns ontem”, disse o porta-voz a repórteres nesta sexta-feira.

“Que ele quer fazer um acordo e ele será enérgico na tentativa de buscar esse acordo, mas que o acordo de retirada foi rejeitado três vezes pela Câmara dos Comuns, não vai passar, então isso significa reabrir o acordo de retirada”, acrescentou.

Johnson também conversou por telefone com líderes políticos do País de Gales, da Escócia e da Irlanda do Norte, disse o porta-voz.

DefesaNet

sábado, 27 de julho de 2019

Foco do Brasil na presidência do Brics será inovação Combate a crimes internacionais como tráfico de drogas

Redação

Em reunião entre ministros das Relações Exteriores do Brics, bloco de países formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, destacou que o foco do país na presidência pro tempore do bloco, função que exerce este ano, será a inovação, economia digital e combate a crimes internacionais, como lavagem de dinheiro e tráfico de drogas.

“Cresceu muito essa agenda que a presidência brasileira está conduzindo. São áreas onde nós estamos chegando a projetos completos. No caso da inovação, por exemplo, pretendemos inaugurar na Cúpula do Brics, em novembro, lançar oficialmente o IBrics, o sistema de inovação do Brics. Houve muita convergência em torno do tema do combate ao terrorismo, é uma prioridade para os cinco países”, disse o ministro brasileiro.

Participaram do encontro o ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia, Sergey Lavrov, das Relações Exteriores da China, Wang Yi, de Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul, Naledi Pandor, e o vice-ministro dos Transportes Rodoviários da República da Índia, Vijay Kumar Singh.

Araújo destacou também que os cinco países ressaltaram a importância das conversas multilaterais.

Venezuela
De acordo com o chanceler brasileiro, a principal questão de relações internacionais enfrentada pelo Brasil atualmente na região é a situação da Venezuela. Segundo ele, o tema foi debatido durante a reunião e o Brasil reiterou o apoio ao presidente interino autoproclamado do país, Juan Guaidó.

“Nós fizemos esse apelo de que ouçam o anseio do povo venezuelano por liberdade e por democracia, algo que para o Brasil é extremamente próximo e dramático. Nós consideramos que a solução deve ser centrada no governo que nós consideramos legítimo, que é o governo do Juan Guaidó. A solução seria basicamente uma transição democrática seguida de eleições.”

Na reunião, o ministro russo Sergei Lavrov destacou que o tema deve ser decidido exclusivamente pelo povo venezuelano, por uma questão de soberania. Os representantes dos outros países não mencionaram publicamente a situação da Venezuela, mas destacaram a necessidade de que o bloco incentive os diálogos multilaterais na busca de soluções pacíficas.

A ministra da África do Sul, Naledi Pandor destacou que é preciso criticar ações unilaterais arbitrárias dos países na promoção de conflitos armados e assegurar os preceitos da carta das Nações Unidas. “Quando saem as armas, entram os investimentos”, afirmou.

Para o ministro chinês, Wang Yi, é preciso respeitar a soberania dos países e potencializar os diálogos multilaterais no sistema ONU. “Temos que suportar os princípios da ONU e celebrar juntos os 50 anos das Nações Unidas. Ser contra o uso arbitrário da força e respeitar a soberania dos países envolvidos. Nos opomos a sanções internacionais”.

O representante da Índia, Vijay Singh, pontuou que as decisões do Brics podem criar impactos globais no sentido de alavancar a paz e a segurança mundial.

Na parte da tarde, os ministros fazem reuniões bilaterais, sem previsão de novas conversas com a imprensa.(ABr)

Diário do Poder

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Boris Johnson: 'Trump britânico' abre caminho para aliança transatlântica com Bolsonaro ?

Nathalia Passarinho

O cabelo muito loiro, penteado de maneira curiosa, as gafes, as frases polêmicas, o estilo que destoa dos políticos tradicionais e o nacionalismo são algumas das características usadas para descrever este líder.

Poderíamos estar falando do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas trata-se do novo primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, que assumiu a chefia de governo do país e a liderança do Partido Conservador na quarta (24/7).

As semelhanças entre os dois governantes já rendem a Johnson o apelido de "Trump do Reino Unido" ou "Trump britânico".

"Ele é um homem bom, é duro e é inteligente. Eles o chamam de Trump do Reino Unido. Isso é uma coisa boa. Eles gostam de mim lá. É o que eles queriam, é o que eles precisam. Boris vai fazer um bom trabalho", disse Donald Trump, após a vitória de Johnson ser anunciada na disputa pela liderança do Partido Conservador.

Se as comparações forem justas, Trump já tem um sósia na América do Sul e na Europa. Afinal, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, é apelidado de "Trump dos trópicos" pela imprensa internacional - e se orgulha disso.

Mas o que as supostas semelhanças entre Johnson e Trump podem representar para as relações do Brasil de Jair Bolsonaro com o Reino Unido? Há espaço para uma aliança transatlântica entre esses líderes?

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que os interesses comerciais do Reino Unido e a defesa de Bolsonaro ao liberalismo econômico devem contar muito mais para uma aliança com Johnson do que similaridades de personalidade ou de ideologia.

Além disso, há diferenças substanciais entre Johnson e Trump, principalmente em relação à defesa de direitos LBGT, igualdade de gênero e meio-ambiente, que tornam a aproximação a nível pessoal entre Bolsonaro e o novo premiê britânico improvável.

"Em termos de posição sobre direitos sociais, direitos humanos e questões de costumes, Bolsonaro e Trump são criaturas completamente diferentes de Boris Johnson", disse à BBC News Brasil o professor de Relações Públicas Internacionais Christopher Sabatini, da Universidade de Columbia, em Nova York.

"Mas a necessidade de o Reino Unido firmar acordos comerciais pode promover uma aliança de conveniência com o Brasil", completa Sabatini, que também integra a Chatham House, uma das instituições de pesquisa mais respeitadas do Reino Unido.

As semelhanças Trump-Boris-Bolsonaro
A comparação de Boris Johnson com Trump não é estimulada só pelo presidente americano. A oposição no Reino Unido também se utiliza dela, mas para atacar o premiê.

Durante a primeira participação de Johnson em uma sessão do Parlamento, o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, destacou que o novo primeiro-ministro é conhecido como "Trump britânico".

"As pessoas temem que, longe de tomar de volta o controle sobre os rumos do nosso país, o primeiro-ministro nos torne um Estado vassalo da América de Trump", disse.

Na visão do professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas Oliver Stuenkel, o que aproxima Johnson de Trump é o estilo "populista" de vender "soluções fáceis para problemas complexos".

"Eles se assemelham na dimensão da retórica. Usam argumentos que não se sustentam do ponto de vista acadêmico e científico para promover propostas que carecem de detalhes", afirma.

Para difundir propostas sem ter de respaldá-las com dados que comprovem eficácia, os dois líderes se utilizam, segundo Stuenkel, das paixões evocadas pelo nacionalismo.

No caso de Johnson, a principal agenda é o Brexit- a saída do Reino Unido da União Europeia. O atual primeiro-ministro foi um dos líderes da campanha pelo Brexit no plebiscito realizado em 2016.

Apostando em ideias nacionalistas, de resgate da soberania e de retorno a um império global, o premiê aposta numa ruptura radical com a União Europeia apesar de o Banco da Inglaterra (equivalente ao Banco Central brasileiro) apontar para o risco de o Reino Unido entrar numa recessão pior que a provocada pela crise financeira internacional de 2008.

"Vejo semelhanças nessa estratégia de oferecer soluções simplistas a problemas que são muito complexos e que requereriam participação ativa da população", avalia Stuenkel.

O professor americano Christopher Sabatini também aponta o nacionalismo, a retórica e a aparência como principais semelhanças entre Trump e Johnson.

"Claramente tanto Boris Johnson quanto Trump compartilham da vontade de sacudir o sistema internacional atual e os dois são nacionalistas. Boris Johnson quer um Brexit radical e Trump tem focado nos interesses dos Estados Unidos em acordos comerciais com a União Europeia e em decisões da ONU", diz.

"Eles usam a mesma estratégia de fomentar uma base eleitoral nacionalista em busca de apoio para isso."

'Outsiders'?
Johnson se vende como irreverente, tem um aspecto físico até parecido com Trump e é conhecido por frases polêmicas. Mas, diferentemente do presidente americano, ele não é um "outsider" ou uma figura de fora da política tradicional.

Foi parlamentar, prefeito de Londres, ministro de Relações Exteriores e ocupou postos de destaque no partido político mais tradicional do Reino Unido.

Nisso, Johnson também se difere de Bolsonaro, que embora tenha sido deputado por 27 anos, sempre foi do baixo clero e nunca ocupou postos de liderança nos partidos que integrou.

"Boris Johnson pertence ao 'establishment', enquanto Trump e Bolsonaro não. Boris é mais afeito ao toma-lá-dá-cá da política. Ele é um produto do partido, embora tenha um aspecto e estilo diferentes dos políticos britânicos tradicionais", ressalta Sabatini, da Universidade de Columbia.

Já Stuenkel acredita que, embora Johnson tenha um currículo tradicional como político britânico, o novo primeiro-ministro se utiliza de gafes "programadas" e do estilo irreverente para se apresentar como "diferente dos políticos tradicionais".

"Ele usa de maneira bem pensada gafes para se diferenciar. Inclusive diz em entrevistas que tem plantado gafes para confundir seus inimigos. Claro que essa é uma maneira de projetar autenticidade e de difundir a imagem de que ele não é aquele político cauteloso, burocrata."

Mas a principal diferença entre Bolsonaro, Trump e Johnson diz respeito a questões de costume e direitos sociais, apontam Sabatini e Stuenkel. E são essas diferenças que tornam difícil a possibilidade de uma "tripla aliança".
Igualdade de gênero, aborto e direitos LGBT.

O novo premiê britânico é defensor de amplos direitos reprodutivos para as mulheres (o aborto é liberado no Reino Unido), do respeito aos direitos LGBT e de medidas ambiciosas no combate ao aquecimento global.

Como prefeito de Londres, ficou conhecido por estimular o "transporte limpo" na cidade, com ampliação de ciclovias e estímulo para que bicicletas passassem a ser distribuídas para aluguel em todos os pontos da capital britânica.

Johnson também não é afeito a ataques diretos à imprensa profissional, diferentemente de Trump e Bolsonaro.

"Nesse sentido, acho que Boris Johnson não é como Trump e Bolsonaro. Ele não tem posições ultraconservadoras em relação a questões como aborto e liberdade de expressão. Esses não são temas dele. Johnson tem uma veia mais liberal que os populistas de direita", diz Stuenkel.

Bolsonaro é um político conservador e eu diria que até retrógrado em questões relacionadas a inclusão social, direitos LGBT, direitos das mulheres e direitos humanos em geral", opina Christian Sabatini, da Universidade de Columbia e da Chatham House.

"Boris Johnson não é isso. O que quer que pensemos sobre as visões dele sobre Brexit, nacionalismo e populismo, o gabinete dele é diverso e inclui ingleses de origem indiana, paquistanesa, mulheres... Algo que está longe de ser do DNA de Bolsonaro."

E como deve ser a relação Reino Unido-Brasil na gestão Boris Johnson?
Jair Bolsonaro reagiu com entusiasmo à eleição de Johnson. Como costume, publicou no Twitter sua visão sobre o novo primeiro-ministro.

"Parabéns @BorisJohnson, novo Primeiro-Ministro do Reino Unido, eleito com o compromisso louvável de respeitar os desígnios do povo britânico. Conte com o Brasil na busca por livre comércio, na promoção da prosperidade para nossos povos, e na defesa da liberdade e da democracia", escreveu o presidente no Twitter.

Para o professor Oliver Stuenkel, as necessidades econômicas do Reino Unido em caso de um Brexit radical com a União Europeia serão o fator decisivo numa relação mais ou menos próxima com o Brasil.

Johnson tem reiterado que seu país vai deixar o bloco europeu no dia 31 de outubro (data marcada para o Brexit) com ou sem acordo comercial e de transição com os europeus.

Se isso ocorrer, o Reino Unido terá que firmar rapidamente acordos comerciais com outros países, para evitar desabastecimento e suprir o consumo de produtos antes importados a preços baratos da União Europeia.

Atualmente, 28% dos alimentos consumidos pelos britânicos chegam de países europeus. O Brasil, como um dos maiores exportadores de commodities do mundo, seria um candidato natural a parcerias comerciais.

Da BBC News Brasil em Londres

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Mercosul pode fechar acordo com mais países europeus até o fim do ano O bloco tentará acordo com Suíça, Islândia, Noruega e Liechtenstein

Redação

Depois da União Europeia, o Mercosul pode fechar mais um acordo com países europeus até o fim do ano, disse hoje (24) o secretário de comércio exterior do Ministério da Economia, Lucas Ferraz. O bloco sul-americano formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai terá mais duas rodadas de negociação com EFTA, grupo que reúne Suíça, Islândia, Noruega e Liechtenstein, e o governo federal está otimista com a possibilidade de concluir as negociações.

“Assinaremos ainda este ano, com alto grau de certeza”, disse Lucas Ferraz, que participou da reunião da diretoria da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), no Rio de Janeiro. “É um acordo importante. Apesar de ser pequena, é uma região que é provavelmente o PIB per capita mais alto da Europa. Tem mais de uma vez e meia o PIB da Argentina, algo como 1,1 trilhão de dólares”.

Mercosul e EFTA devem retornar às negociações dentro de 30 dias e mais uma rodada de negociação deve acontecer até outubro. Até o fim de 2021, o secretário aposta ainda na conclusão de acordos comerciais do Mercosul com Canadá, Coréia do Sul e Cingapura, e, até o fim do mandato, o objetivo é se aproximar de um acordo com duas das maiores economias do mundo.

“Temos já um diálogo exploratório com Estados Unidos e Japão. É algo que está no nosso radar até o final desse governo. Estamos muito otimistas de que se consiga até o final desse mandato concluir essas negociações”, afirmou Ferraz.

Brexit
O secretário explicou que a forma como se dará a saída do Reino Unido da União Europeia pode fazer com que o Mercosul precise reiniciar as negociações com os britânicos, que têm até 31 de outubro para definir como se dará a separação, apelidada de Brexit.

A saída do bloco foi aprovada em um referendo popular em 2016, e, desde então, o governo britânico não conseguiu definir de que modo se dará o Brexit. A ex-primeira-ministra, Theresa May, conseguiu negociar um acordo que mantinha vantagens comerciais para britânicos e europeus, mas o parlamento britânico não aprovou os termos. Seu sucessor, Boris Johnson, assumiu com a disposição de levar o Brexit adiante mesmo sem acordo com a UE, caso não consiga renegociar os termos.

“Se o Reino Unido decide sair da União Europeia sem nenhum tipo acordo, ele passa a ser um país que não tem acordo especificamente com ninguém.

Ele vai ter que renegociar todos os seus acordos, e, possivelmente, ele teria que renegociar o acordo com o Mercosul”, disse Lucas Ferraz, que afirma ser difícil fazer qualquer especulação porque todos os cenários ainda estão na mesa. “Para o Brasil, o interessante é que a gente mantenha os parâmetros do acordo como eles estão hoje. Portanto, se sai o Reino Unido, a nossa ideia é que o Mercosul renegocie um possível novo acordo com o Reino Unido nos mesmos parâmetros que foram negociados com o continente europeu”.

O acordo entre Mercosul e União Europeia eliminará tarifas de importação para mais de 90% dos produtos comercializados entre os dois blocos. O secretário prevê que a discussão da parte comercial do acordo deve levar um ano e meio para ser aprovada pelos europeus, o que faria com que as tarifas começassem a ser reduzidas entre o fim de 2020 e o início de 2021.

Os países do Mercosul terão 15 anos para eliminar as tarifas previstas no acordo, enquanto os europeus farão o mesmo em 10 anos. Lucas Ferraz acredita que prazo de 15 anos será suficiente para que os setores da economia brasileira se preparem para a concorrência com os produtos europeus, e também para que o o governo implemente reformas voltadas para a redução do custo de produzir no Brasil, como melhoria de infraestrutura, reforma tributária e desburocratização. “A gente acredita que o tempo é um tempo razoável”.

O acordo entre Mercosul e União Europeia deve adicionar à economia brasileira R$ 1 trilhão em exportações e importações nos próximos 15 anos, além de um ganho de R$ 500 bilhões no PIB e de R$ 450 bilhões em investimentos.(ABr)

Diário do Poder

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Não tenho bandidos de estimação

Luiz Otávio da Rosa Borges

Primeiro, veja o vídeo exibido pela TV Globo em abril de 2016. Leia, depois, o resto da mensagem.


Viu o vídeo?  OK, seguem algumas observações (opiniões):
   
1 - EU NÃO SEI o que aconteceu com os fraudadores da Reforma Agrária. NEM SEI se algo aconteceu. Você provavelmente TAMBÉM NÃO SABE;
   
2 - eu e você, entretanto, SABEMOS que a principal causa das grandes roubalheiras é que os Cidadãos não conseguem fiscalizar os Poderes Públicos. Se conseguissem, destroçariam PREVENTIVAMENTE os esquemas de corrupção. Alguns esquemas funcionam durante anos (ou décadas);
   
3 - em relação à FISCALIZAÇÃO PELA SOCIEDADE, o Ministério Público (MP) impede, com omissões e mentiras, a criação de mecanismos práticos de fiscalização. Junta-se, portanto, às quadrilhas que, livres da fiscalização da População, brigam entre si  (ou fingem que brigam) pelo “direito” de oprimir e espoliar a Nação (cuja grande maioria é formada por remediados, pobres e miseráveis - exatamente os que não têm força política para reagir);
   
4 - o aspecto mais triste dessa situação é que Procuradores e Promotores são, na teoria, os Advogados da Sociedade (que sustenta, com seu sacrifício, os altos salários e penduricalhos dos Membros do MP);
   
5 - o MP e os Órgãos Públicos Brasileiros detestam Propostas de FISCALIZAÇÃO PELA SOCIEDADE. Eles sabem que, se a Sociedade tiver acesso a mecanismos práticos de fiscalização, o MP não mais poderá se comportar como “uma quadrilha a mais”.
   
Se você pensa que as frases acima são injustas e ofensivas, DEMONSTRE que errei ao escrevê-las: INDIQUE o nome e os telefones de um Procurador ou Promotor com coragem de conversar, EM REUNIÕES ABERTAS, sobre Propostas de Fiscalização pela Sociedade. São Propostas capazes de inviabilizar, PREVENTIVAMENTE, os esquemas de corrupção. Não estou pedindo 5, 10 ou 50 INDICAÇÕES. Estou pedindo SOMENTE UMA.
   
Agradeço antecipadamente sua atenção.
      
Em tempo (1): enviei, para Luiza Frischeisen e Blau Dallou, cópias desta postagem. Eles estão na lista tríplice de candidatos à Procuradoria Geral da República. Não enviei cópia para Mário Bonsaglia, outro nome da lista, pois ele já me pediu a retirada do nome dele de minha lista de destinatários.
   
Em tempo (2): se você quiser saber mais sobre a essencialidade da FISCALIZAÇÃO PELA SOCIEDADE, veja os Vídeos da Série VENHA CONSTRUIR UM BRASIL SEM CORRUPÇÃO. Os 13 Vídeos da Série foram postados entre 13 de outubro e 29 de novembro de 2018. A Série inclui uma pequena AMOSTRA de Propostas. Estão contidas nos Vídeos 8 a 11.


Luiz Otávio da Rosa Borges é Auditor Aposentado da Receita Federal.


Alerta Total

terça-feira, 23 de julho de 2019

O trabalhador paga o imposto para continuar a trabalhar e a turma do sindicato?

Junia Turra

Sindicalistas na dolce vitta… a Esquerda caviar…
Recordar é viver…
A foto que o casal sindical postou em 2017, mostra o quanto essa esquerdalha gosta de uma vida simples e “cubana”.

O carro foi alugado, pertence ao casal ? Não sei…
Vai que é pose pra foto. Mas estão na Itália, com roupas de marca. Olha a marca da roupitcha na sacola de compra. Marca cara… E que tal fazer um levantamento das viagens, das festas, das compras, dos bens?

E na ordem das coisas nem são dos primeiros escalões.

Que tal um levantamento do patrimônio de todos os presidentes e ex-presidentes de sindicatos? Das Centrais Sindicais, de todos das diretorias.
Testemunhas não faltam. Especialmente na imprensa. Viram o “crescimento patrimonial de muitos deles”, mas continuam caladinhos.

Alguns gritando “Lula Livre” mas fazendo tipo intelectual na TV, nos jornais paulistanos , Folha e Estadão, principalmente, e usando as redes sociais. Pra turma deles nunca falta emprego. E são “superestimados”. Na verdade, são apenas da turma. Currículo? “Sou da turma”.

E cuidado com os que posam de neutros e são contra Lula… Na verdade, são farinha do mesmo saco. Jornalistas que faziam campanha política e ganhavam em dólar via caixa 2 . E as empresas de TV, Jornais , etc, liberavam os profissionais. Aí com esse “ganho em dólar” compravam apartamentos, carros, davam um “up” no patrimônio.

Mais ou menos como os 15% que as construtoras e afins pagavam aos políticos. Todos sabiam, todos aceitavam. E foi piorando “rouba mas faz” e “estupra mas não mata”. Isso toda a imprensa sabe…

Até que FHC emplacou Lula, depois do próprio Boca de Godê Duplo assinar o contrato do gasoduto com a Bolívia: deu a refinaria!

Lula cumpriu o contrato. E daí em diante, a coisa foi outra. O sindicalista no poder transformou jornalistas em “vacas de cooperativa”. Tem que abrir firma ou “pagar pela nota fiscal a quem tem firma aberta.”

Eu estava lá…
Rutinha Cardoso, a corna, disse pra mim e a uma jornalista conhecida, em um dos intermináveis plantões na rua Maranhão em SP onde reside FHC, que parecíamos mendigos na porta da casa do presidente. Que fôssemos lutar por melhores salários, porque éramos mesmo mendigos: ganhávamos menos que um lavador de carro.
Levantamos e fomos atrás dela rua abaixo: “a senhora está irritada porque o presidente, depois da Miriam Dutra, continua a roncar em solenidade”,
eu disse …. e pisquei para a outra, hoje apresentadora, que completou: “e a investir até em produtora, via Operação Padrão”? Rutinha saiu pisando duro. Com chifres e salto alto… Ah, a “Operação Padrão “do presidente…

O aparelhamento
A turma da esquerda caviar montou produtoras, verba desviada e equipamentos caríssimos que iam “para faculdades particulares”. De lá sumiam e apareciam em TVs educativas em prefeituras do PT e para produtoras da turma.

E é por essas e outras que pelo menos um dos capos, o mais falastrão está condenado e preso. O tal que levou caminhões de mudança carregados com o patrimônio do povo. Até Cristo barroco de Aleijadinho. Mas não se falou nada. Não foi sequer preso em flagrante…

E pra lembrar… certo fulano que foi chefe de jornalismo de algumas emissoras foi passear na Itália e de lá postou foto colocando um postal para Lula numa caixa de correio. Na legenda da foto: “vamos todos mandar nosso apoio postal a Lula”. Me deu uma vontade de pedir o levantamento das contas dele no exterior…

Mas, na foto…. os amigos dele:

– Monica Zerbinato que foi secretária do presidiário Lula por mais de uma década e o maridão Osvaldo Bargas, diretor da Central Única dos Trabalhadores (CUT) . Tem bom gosto, não?

Fortes e felizes, esbanjando saúde, dentes bem cuidados, muito bem vestidos.

Os filhos deles são muito bem criados nos melhores moldes familiare . Família burguesa.

Aos demais, a fila do SUS, o mundo trans e a igualdade na miséria, abaixo da linha da favela fortemente armada pelo crime organizado contra o cidadão e a favor deles.

Junia Turra
Jornalista radicada na Suíça e Alemanha há muitos anos

o Boletim

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Por que a América Latina é a região mais violenta do mundo

Gerardo Lissardy

Quatro pessoas morreram em Puebla, no México, num tiroteio do lado de fora de uma festa de formatura de um jardim de infância. Em Córdoba, na Colômbia, um líder local foi decapitado. E em Manaus, um tiroteio entre grupos rivais deixou três mortos e cinco feridos.

Tudo isso aconteceu na semana passada na América Latina, onde todos os dias novas vítimas fazem crescer os índices da violência, reforçando o título de região mais violenta do mundo.

O subcontinente tem as maiores taxas de homicídio do mundo, segundo um relatório divulgado na semana passada pelas Nações Unidas.

Do total de homicídios registrados em todo planeta, 37% foram contabilizados na América Latina, que concentra apenas 8% da população mundial.

Desde 2000, mais de 2,5 milhões de latino-americanos foram violentamente assassinados, conforme levantamento feito pelo Instituto Igarapé, organização sem fins lucrativos que faz análises e estudos nas áreas de segurança, justiça e desenvolvimento com sede no Brasil.

O número de vítimas se compara ao da população de Medellín (Colômbia), Guayaquil (Equador) ou de Belo Horizonte (MG).

As taxas de homicídio na América Latina podem ser descritas como uma epidemia, nas palavras de Angela Me, diretora de pesquisa e estatísticas do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).

O fenômeno é geralmente atribuído a problemas econômicos, mas o crime aumentou durante o "boom" de commodities que a região experimentou na última década, quando as taxas de pobreza caíram.

Fala-se ainda com frequência em falta de investimentos em segurança. No entanto, o montante gasto com segurança em relação ao total de gastos públicos na América Latina é quase o dobro da média do mundo desenvolvido, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Outro argumento usado para justificar a escalada da violência é a suposta falta de uma "mão pesada" contra o crime. Mas a população carcerária nas Américas (excluindo os Estados Unidos) cresceu 121% desde 2000, segundo o World Prison Report.

Por que então a América Latina é tão violenta, mesmo gastando com segurança e prendendo mais?

Crime organizado, armas e impunidade
Por trás da onda de violência não há apenas um, mas vários fatores, explicam especialistas.
"Na América Latina, o crime organizado e as gangues são mais violentos", diz Me, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime. Ela acrescenta que esses grupos violentos podem influenciar de 25% a 70% de todos os homicídios na região.

Segundo estudo da ONU, o crime organizado é responsável por um número de mortes similar ao gerado por conflitos armados no resto do mundo.

Outras partes do mundo também têm crime organizado e gangues. Mas é na América Latina onde esses grupos provocam as maiores taxas de mortes ao disputarem um negócio lucrativo: o narcotráfico. A região é a única onde se produz cocaína.

Na luta por uma fatia desse mercado estão desde os cartéis da Colômbia e do México até gangues da América Central.

Vários governos latino-americanos têm promovido uma "guerra às drogas" com políticas repressivas que fizeram aumentar também a violência e a corrupção em suas próprias forças de segurança.

Soma-se a isso o fácil acesso a armas de fogo que, segundo a ONU, foram usadas em 3 de cada 4 homicídios cometidos nas Américas em 2017, número bem acima da média global.

"A ampla disponibilidade de armas de fogo nas Américas, juntamente com a proliferação de gangues e grupos do crime organizado, ajuda a explicar por que muitos países da região experimentam um nível mais alto de homicídios do que seria esperado em seu nível de criminalidade", diz relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime.

Para piorar a situação, há uma impunidade generalizada na América Latina, o que reduz o custo de cometer um assassinato e incentiva a justiça com as próprias mãos.

"A diferença entre as altas taxas de homicídio e as baixas taxas de condenação em 2016 foi mais ampla nas Américas, onde houve apenas 24 condenações para cada 100 vítimas", indica o relatório.

Em algumas partes da América Latina, como Venezuela ou Brasil, a taxa de resolução de assassinatos é ainda menor.

Desigualdade e urbanização
A América Latina também é uma das regiões mais desiguais do mundo e isso pode agravar o problema de violência, segundo especialistas.

"Os países com maior desigualdade de renda são mais propensos a ter taxas mais altas de homicídio do que países com menos desigualdade", indica a ONU.

Robert Muggah, cofundador do Instituto Igarapé, assinala que os altos níveis de violência se associam aos elevados índices de desemprego de homens jovens latino-americanos - a taxa de homicídios envolvendo esse segmento da população na América Latina é muito superior ao registrado em outras partes do mundo.

A rápida urbanização também complicou as coisas na América Latina.
"Na América Latina, houve uma das transições mais notáveis de uma sociedade rural para uma urbana nos últimos 50 anos", disse Muggah. "Muitas das cidades maiores cresceram de forma descontrolada."

A falta de serviços providos pelo Estado, como educação e saúde, em muitas dessas áreas de crescimento acelerado resultou em áreas marginais e densamente povoadas, como as favelas no Brasil ou as "villas" na Argentina.

Gangues e o narcotráfico ganharam força em muitos desses territórios, às vezes totalmente controlados por traficantes.

Nas grandes cidades e também nas de porte médio, aproximadamente 4 em cada 5 assassinatos acontecem em apenas 2% das ruas, segundo os dados de Muggah.

"Ao contrário da crença popular", diz o especialista, "os homicídios tendem a ser altamente concentrados em áreas de desvantagem e marginalização socioeconômica".

O exemplo europeu
Tudo isso representa enormes desafios para a América Latina e afeta a democracia, diz Muggah, do Instituto Igarapé. Segundo ele, a violência crescente aumenta a fadiga dos cidadãos com os governantes e a busca por receitas "linha-dura" que pouco ou nada resolvem o problema.

Parte do desafio é obter dados e tecnologia que permitam reconhecer as "zonas vermelhas" da violência latino-americana e responder com políticas apropriadas.

Enquanto globalmente a taxa de homicídios é de 6,1 por 100 mil habitantes, na América Central chega a 25,9 e na América do Sul chega a 24,2, segundo a ONU.

O cofundador do Instituto Igarapé observa que a Europa medieval e moderna experimentaram níveis de homicídios comparáveis aos das Américas hoje. Mas o velho continente conseguiu reverter esse quadro e tem agora uma das menores taxas do mundo: uma média de 1 homicídio por 100 mil habitantes.

"Na Europa, você vê uma evolução, em particular das instituições, do estado de direito, do investimento na educação, uma justiça criminal na qual as pessoas confiam. E este é um processo que não ocorre tão fortemente em partes da América Latina" diz Me, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime. "Podemos aprender com o que funciona para reduzir a violência a níveis semelhantes."

BBC News Mundo