Thomas Sowell
A esquerda sempre se arrogou a
função de protetora dos “pobres”. Esta é uma de suas principais
reivindicações morais para adquirir poder político. Porém, qual a real
veracidade desta alegação?
É verdade que líderes de esquerda em
vários países adotaram políticas assistencialistas que permitem aos pobres
viverem mais confortavelmente em sua pobreza. Mas isso nos leva a uma questão
fundamental: quem realmente são “os pobres”?
Se você se baseia em uma definição
de pobreza inventada por burocratas, como aquela que inclui um número de
indivíduos ou de famílias abaixo de algum nível de renda arbitrariamente
estipulado pelo governo, então realmente é fácil conseguir estatísticas sobre
“os pobres”. Elas são rotineiramente divulgadas pela mídia e gostosamente
adotadas por políticos. Mas será que tais estatísticas têm muita relação
com a realidade?
Houve um tempo em que “pobreza” tinha
um significado concreto — uma quantidade insuficiente de comida para se manter
vivo, ou roupas e abrigos incapazes de proteger um indivíduo dos elementos da
natureza. Hoje, “pobreza” significa qualquer coisa que os burocratas do
governo, que inventam os critérios estatísticos, queiram que signifique.
E eles têm todos os incentivos para definir pobreza de uma maneira que abranja
um número suficientemente alto de pessoas, pois isso justifica mais gastos
assistencialistas e, consequentemente, mais votos e mais poder político.
Em vários países do mundo, não são
poucas as pessoas que são consideradas pobres, mas que, além de terem acesso a
vários bens de consumo que outrora seriam considerados luxuosos — como
televisão, computador e carro —, são também muito bem alimentadas (em alguns
casos, até mesmo apresentam sobrepeso). No entanto, uma definição
arbitrária de palavras e números concede a essas pessoas livre acesso ao
dinheiro dos pagadores de impostos.
Esse tipo de “pobreza” pode
facilmente vir a se tornar um modo de vida, não apenas para os “pobres” de
hoje, mas também para seus filhos e netos.
Mesmo quando esses indivíduos
classificados como “pobres” têm o potencial de se tornar membros produtivos da
sociedade, a simples ameaça de perder os benefícios assistencialistas caso
consigam um emprego funciona como uma espécie de “imposto implícito” sobre sua
renda futura, imposto este que, em termos relativos, seria maior do que o
imposto explícito que incide sobre o aumento da renda de um milionário.
Em suma, as políticas
assistencialistas defendidas pela esquerda tornam a pobreza mais confortável ao
mesmo tempo em que penalizam tentativas de se sair da pobreza. Exceto
para aqueles que acreditam que algumas pessoas nascem predestinadas a serem pobres
para sempre, o fato é que a agenda da esquerda é um desserviço para os mais
pobres, bem como para toda a sociedade. Ao contrário do que outros dizem,
a enorme quantia de dinheiro desperdiçada no aparato burocrático necessário
para gerenciar todas as políticas sociais não é nem de longe o pior problema
dessa questão.
Se o objetivo é retirar pessoas da
pobreza, há vários exemplos encorajadores de indivíduos e de grupos que
lograram este feito, e nos mais diferentes países do mundo.
Milhões de “chineses expatriados”
emigraram da China completamente destituídos e quase sempre iletrados. E
isso ocorreu ao longo dos séculos. Independentemente de para onde tenham
ido — se para outros países do Sudeste Asiático ou para os EUA —, eles sempre
começaram lá embaixo, aceitando empregos duros, sujos e frequentemente
perigosos.
Mesmo sendo frequentemente mal
pagos, estes chineses expatriados sempre trabalhavam duro e poupavam o pouco
que recebiam. Era uma questão cultural. Vários deles conseguiram,
com sua poupança, abrir pequenos empreendimentos comerciais. Por
trabalharem longas horas e viverem frugalmente, eles foram capazes de
transformar pequenos negócios em empreendimentos maiores e mais
prósperos. Eles se esforçaram para dar a seus filhos a educação que eles
próprios não conseguiram obter.
Já em 1994, os 57 milhões de
chineses expatriados haviam criado praticamente a mesma riqueza que o bilhão de
pessoas que viviam na China.
Variações deste padrão social podem
ser encontradas nas histórias de judeus, armênios, libaneses e outros
emigrantes que se estabeleceram em vários países ao redor do mundo —
inicialmente pobres, foram crescendo ao longo de gerações até atingirem a prosperidade.
Raramente recorreram ao governo, e
quase sempre evitaram a política ao longo de sua ascensão social.
Tais grupos se concentraram em
desenvolver aquilo que economistas chamam de “capital humano” — seus talentos,
habilidades, aptidões e disciplina. Seus êxitos frequentemente ocorreram
em decorrência daquela palavra que a esquerda raramente utiliza em seus
círculos refinados: “trabalho”.
Em praticamente todos os grupos
sociais e étnicos, existem indivíduos que seguem padrões similares para
ascenderem da pobreza à prosperidade. Mas o número desses indivíduos em
cada grupo faz uma grande diferença para a prosperidade ou a pobreza destes
grupos como um todo.
A agenda da esquerda — promover a
inveja e o ressentimento ao mesmo tempo em que vocifera exigindo ter “direitos”
sobre o que outras pessoas produziram — é um padrão que tem se difundido em
vários países ao redor do mundo.
Esta agenda raramente teve êxito em
retirar os pobres da pobreza. O que ela de fato logrou foi elevar a esquerda a
cargos de poder e a posições de autoexaltação — ao mesmo tempo em que promovem
políticas com resultados socialmente contraproducentes.
Thomas Sowell
Um dos
mais influentes economistas americanos, é membro sênior da Hoover Institution
da Universidade de Stanford. Seu website:
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