Konrad
Lorenz
“Seria
presunçoso acreditar que aquilo que cada um sabe não é compreensível à maioria
das outras pessoas. O conteúdo deste livro é bem mais fácil de assimilar, em
seu conjunto, do que o cálculo integral ou diferencial que todo aluno de curso
superior é obrigado a aprender. Todo perigo perde muito de seu impacto
assustador, se conhecemos suas causas.”
Resumo
1. A superpopulação da terra, que leva cada um de nós a se defender da profusão de contatos sociais de uma forma profundamente desumana e que, pelo amontoar de numerosos indivíduos num espaço restrito, provoca inevitavelmente a agressividade.
2.
A devastação do meio ambiente natural, que atinge não só o mundo exterior no
qual vivemos, como destrói no homem todo respeito pela beleza e pela grandeza
de uma criação que o ultrapassa.
3.
A corrida disputada pela humanidade com ela mesma, que o
desenvolvimento da tecnologia torna, para nossa infelicidade, cada dia mais
rápida. Essa obrigação de exceder torna os homens cegos aos valores verdadeiros
e os priva de tempo para pensar, atividade indispensável e humana por
excelência.
4.
O desaparecimento de todos os sentimentos fortes e de toda e emoção, devido ao
enfraquecimento, e o progresso da tecnologia e da farmacologia provocando uma
intolerância crescente a tudo o que possa provocar o mínimo desagrado. O
desaparecimento simultâneo da capacidade humana de alcançar uma felicidade que
só pode ser alcançada vencendo obstáculos, ao preço de muito esforço. O ritmo,
estabelecido pela natureza, de contrastes balanceados entre o fluxo e o refluxo
dos sofrimentos e das felicidades se atenua até uma oscilação imperceptível,
acarretando um tédio mortal.
5.
A degradação genética. Fora do “sentido natural do direito” e de alguns
restos herdados do direito corrente, não existem, no interior da sociedade
moderna, fatores de seleção capazes de exercer sua pressão no desenvolvimento e
na manutenção das normas de comportamento, embora elas se tornem cada dia mais
necessárias devido ao desenvolvimento da sociedade. É impossível que
infantilismos, responsáveis pela transformação de numerosos jovens rebeldes de hoje
em parasitas sociais, sejam de origem genética.
6.
A ruptura das tradições, resultante do fato de termos atingido um ponto crítico em
que as jovens gerações não conseguem mais se entender culturalmente com as
velhas, e ainda menos se identificar com elas, passando então a tratá-las como
um grupo
étnico estrangeiro e a enfrentá-las com um pódio nacional. As razões dessa perturbação da identificação originam-se antes de mais nada na falta de contato entre pais e filhos, o que já nos bebês provoca sintomas patológicos.
étnico estrangeiro e a enfrentá-las com um pódio nacional. As razões dessa perturbação da identificação originam-se antes de mais nada na falta de contato entre pais e filhos, o que já nos bebês provoca sintomas patológicos.
7.
A receptividade crescente da humanidade à doutrinação. O aumento do
número de homens reunidos num só grupo cultural, acrescido do extremo
aperfeiçoamento dos meios técnicos levam a possibilidades, nunca antes
atingidas na história humana, de influenciar a opinião pública e de criar
uniformemente opiniões. Devemos além disso ressaltar que o poder de sugestão de
uma doutrina, firmemente aceita, progride talvez em progressão geométrica em
relação ao número de crentes. Já agora, em certos lugares, um indivíduo que se
esquiva deliberadamente à influência da “mídia de massa”, da televisão, por
exemplo, é considerado um caso patológico.
Os efeitos despersonalizantes desses meios são recebidos com prazer por todos aqueles que querem manipular as multidões. Pesquisas de opinião, técnicas publicitárias e uma moda habilmente divulgada permitem aos magnatas da produção – de um lado da cortina de ferro – e aos funcionários – do outro lado – exercer um idêntico poder sobre as massas.
Os efeitos despersonalizantes desses meios são recebidos com prazer por todos aqueles que querem manipular as multidões. Pesquisas de opinião, técnicas publicitárias e uma moda habilmente divulgada permitem aos magnatas da produção – de um lado da cortina de ferro – e aos funcionários – do outro lado – exercer um idêntico poder sobre as massas.
8.
O armamento nuclear,
que faz pesar sobre a humanidade um perigo mais fácil de evitar que os sete
processos ameaçadores descritos acima. Esses fenômenos de desumanização, dos
quais falamos do primeiro ao sétimo capítulo, são favorecidos por uma doutrina pseudodemocrática
que afirma que o comportamento social e moral do homem não é absolutamente
determinado pela evolução filogenética do seu sistema nervoso ou de seus órgãos
sensoriais, mas é influenciado unicamente pelo “condicionamento” sofrido ao
longo de sua ontogênese em virtude do seu ambiente cultural.
Artigo
publicado pela primeira vez em nosso portal a 10/05/2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário