LUCY CRAYMER de Hong Kong e
RHIANNON HOYLE de Sydney
Enquanto
o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, promete revigorar a indústria do
país e recuperar o espaço perdido para a China, o processo já está em andamento
no setor de fertilizantes, onde as empresas americanas vêm crescendo
fortemente.
A produção
de ureia, um importante fertilizante a base de nitrogênio, aumentou em cerca de
10% no ano passado, impulsionada por várias novas unidades e outras que foram
expandidas em vários Estados, que ajudaram a aumentar a capacidade total em
24%. Enquanto isso, a produção na China, o principal produtor mundial de
fertilizantes, caiu 7% em 2016 e as exportações recuaram em cerca de 35%.
Essas
mudanças nos rumos do setor não se devem à intervenção do governo, como maiores
tarifas de importação ou súplicas para “comprar nos EUA”. Em vez disso, elas se
devem em grande parte às tendências do mercado global de petróleo.
Os
fabricantes de fertilizantes estão se beneficiando da revolução gerada pelo
petróleo de xisto. A combinação do fraturamento hidráulico e da perfuração
horizontal têm ampliado significativamente a produção, reduzindo o custo do
gás.
E, nos
EUA, o gás é um ingrediente chave para os fertilizantes a base de nitrogênio,
como a ureia — que é principalmente usada diretamente no solo — e amônia, que
normalmente é misturada com outros produtos, ou refinada para produzir ureia.
Enquanto
isso, seus concorrentes na China têm sido prejudicados pela forte alta nos
preços do carvão, o que se seguiu à decisão de Pequim no ano passado de limitar
a produção, restringindo as antes amplas ofertas do combustível. Em torno de
75% da ureia da China é produzida a partir da transformação de carvão em gás.
“O baixo
custo do gás de xisto nos EUA transformou a competitividade de vários setores
onde a energia representa uma grande fatia dos custos dos insumos”, diz Rajiv
Biswas, economista-chefe para Ásia e Oceania da firma de pesquisa IHS Global
Insight. “Um dos maiores beneficiados foi o setor químico americano.”
O
aumento na produção de fertilizantes nos EUA vai provavelmente continuar este
ano, à medida que novas fábricas planejadas há tempos entram em operação. A
capacidade de produção de amônia nos EUA pode aumentar 2 milhões de toneladas
este ano, para cerca de 11,4 milhões de toneladas, estima o chefe de pesquisa
agrícola doSociété Générale, Rajesh
Singla.
A
capacidade de produção de ureia também pode crescer 4,1 milhões este ano, com
pelo menos cinco novas fábricas gigantescas, de acordo com a firma provedora de
dados de mercado ICIS, colocando os EUA rumo a um aumento de 50% em sua
capacidade de produção entre 2015 e 2020.
A
fabricante de fertilizantes CF
Industries, com sede no Estado de Illinois, apenas concluiu um desses
projetos, a expansão da sua fábrica de nitrogênio Port Neal, no Estado de Iowa,
no centro do cinturão do milho nos EUA.
“Considerando
o custo do gás nos EUA que vislumbramos no longo prazo, pensamos que este era o
lugar certo para investir”, diz o diretor-presidente da empresa, Tony Will. A
estimativa é que a fábrica produza 816,5 mil toneladas de amônia e 1,27 milhão
de toneladas de ureia por ano, empregando cerca de 100 pessoas.
Com uma
produção maior de fertilizantes migrando para os EUA, a importação de ureia
caiu 34% no ano passado. Apesar de a China ainda ser o maior exportador, a sua
participação no mercado global de ureia caiu de 43% para 39% entre 2015 e 2016,
de acordo com o CRU Group, consultoria especializada em commodities.
A
vantagem de custo dos EUA é crucial. O custo médio da produção de uma tonelada
de ureia nos EUA usando gás é de US$ 130, estima o CRU. Já na China, usando
carvão antracito, esse valor fica entre US$ 180 e US$ 210. O gás representa em
torno de 60% e 80% dos custos de produção, dependendo da eficiência da fábrica
e do preço do gás, de acordo com a fabricante OCI Americas Inc.
“Muitas
fábricas [chinesas] ineficientes saíram da indústria [..] 12,6 milhões de
toneladas de capacidade de produção de ureia saíram da indústria entre 2013 e
2016”, diz Gavin Ju, consultor sênior do CRU em Pequim.
O custo
barato de energia tem atraído empresas de fora dos EUA, como a australiana Incitec Pivot Ltd., que
decidiu em 2013 instalar uma fábrica de amônia de US$ 850 milhões em Waggaman,
na Luisiana. A unidade, com capacidade de 800 mil toneladas, começou a operar
em outubro e deve este ano ir gradativamente ampliando o volume atual de produção.
“Por
causa da vantagem energética possibilitada pela revolução do gás de xisto, os
produtores de fertilizantes dos EUA estão entre os mais competitivos do mundo”,
diz o diretor-presidente da Incitec Pivot, James Fazzino. Segundo ele, o
investimento em Waggaman hoje se mostra melhor do que quando foi aprovado.
“Se o
atual governo cumprir as promessas em torno da vantagem energética, cortando a
burocracia desnecessária e desenvolvendo um ambiente tributário atraente, essa
vantagem vai se tornar ainda mais pronunciada”, diz ele.
A
holandesa OCI Americas, enquanto isso, está prestes a concluir uma fábrica de
fertilizantes nitrogenados em Wever, no Iowa, com capacidade para entre 1,5
milhão e 2 milhões de toneladas. Só ela será capaz de ampliar a capacidade de
produzir ureia nos EUA em mais de 10%. A proximidade com clientes dos EUA,
especialmente os 2,1 milhões de produtores agrícolas do país, é outro fator
importante.
“Os
produtores estrangeiros têm custos logísticos significativos para entregar o
produto nos EUA, incluindo frete marítimo e terrestre, armazenagem e taxas de
processamento, que podem chegar a US$ 100 a tonelada dependendo do produto”,
diz Ahmed El-Hoshy, diretor-presidente da OCI Americas.
A alta
dos preços da ureia conforme as exportações chinesas diminuem é outro fator
positivo na indústria americana de fertilizantes.
Com
certeza, os preços mais altos para a venda do produto, somados aos preços mais
baixos do carvão e ao yuan desvalorizado, poderiam revigorar as vendas chinesas
de fertilizantes ricos em nitrogênios no mercado global.
Ainda
assim, os fabricantes americanos devem continuar registrando margens melhores
do que a maioria dos concorrentes em outros lugares, mantendo intacto o boom na
indústria e permitindo que os EUA reduzam significativamente as importações nos
anos que estão por vir, segundo analistas do Citigroup Inc.
The Wall Street
Journal
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