Demétrio Magnoli
(*)
Os intelectuais de esquerda que
assinam o manifesto do 'Volta Lula' são arautos do 'Estado-Odebrecht'
Na lista
de Janot, dois nomes devem ser separados, como indicadores políticos: Antonio
Palocci e Guido Mantega. O "Italiano" e o "Pós-Italiano"
das planilhas do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht eram os
titulares do Ministério da Fazenda entre 2003 e 2015. Isso diz algo crucial
sobre a remontagem do Estado conduzida pelo lulopetismo.
"Fazenda"
significa grande propriedade rural e, ainda, os recursos financeiros do poder
público. A ambiguidade etimológica entre o patrimônio privado e a coisa pública
condensa o dilema principal da formação política do Brasil. Não deixa de ser
uma ironia e tanto que os governos do PT, o grande partido de esquerda, tenham
eliminado a tensão entre os dois significados, tornando-os equivalentes. Se os
investigadores da Lava Jato não se enganam na decifração das planilhas, Palocci
e Mantega ocupavam-se, antes de tudo, com a macroeconomia da corrupção. A
"fazenda" do ministério comandado por eles era, essencialmente, o
patrimônio privatizado oriundo do desvio de recursos públicos.
A
esquerda costuma descrever o Ministério da Fazenda como instrumento dos
interesses econômicos gerais da burguesia. Sob essa ótica, Lula e Dilma
estreitaram sua função, convertendo-o em ferramenta dos interesses particulares
de uma fração do alto empresariado que se associou à coalizão governista. Os
intelectuais de esquerda que assinam o manifesto do "Volta Lula" são
arautos do "Estado-Odebrecht", versão radical, pós-moderna, do
patrimonialismo tradicional brasileiro.
No seu
depoimento judicial, Emílio Odebrecht ofereceu, além de um espetáculo de
cinismo, uma confissão relevante. Dos tempos de seu pai, Norberto, fundador da
empresa, passando pelos dele e chegando aos do herdeiro, Marcelo, a Odebrecht
consagra-se a corromper políticos, operando perenemente como uma quadrilha. A
riqueza acumulada pelo conglomerado, sua "fazenda", é fruto do
parasitismo, da corrosão da coisa pública.
A
justificativa empregada por Emílio, de que seguia-se o "modelo
reinante", deve ser classificada, no plano ético, como um tapa na cara de
incontáveis empresas que curvam-se às leis e um escárnio dirigido à imensa
maioria das pessoas comuns, vítimas desse "modelo reinante". Porém,
no campo da análise política, ela deve ser examinada mais de perto, pois
destina-se a erguer uma muralha de neblina. O depoimento tenta ocultar que a
cessão do Ministério da Fazenda à máfia político-empresarial representou uma
singular evolução do "modelo reinante".
Emílio e
o PT usam o mesmo álibi: fizemos o que todos fazem. A ecumênica lista de Janot
confere ilusória verossimilhança à tese compartilhada. Mas o papel desempenhado
pelo "Italiano" e pelo "Pós-Italiano" a desmente. No
depoimento, em atos falhos, Emílio mencionou o "nosso Brasil" e o
"nosso Palocci".
O
pronome possessivo ilumina a corrupção 2.0: a Odebrecht governava em aliança
com o PT. É por isso que tanto o generoso prêmio judicial pelas delações de
Emílio e Marcelo quanto o acordo de leniência que se costura com a Odebrecht
equivaleriam ao sepultamento da Lava Jato.
A
Odebrecht ocupa lugar especial no cenário do assalto à coisa pública. As demais
empreiteiras operaram segundo as regras criminosas do tal "modelo
reinante". Já o conglomerado de Emílio e Marcelo assumiu a coordenação
executiva do sistema de corrupção.
Não por
acaso, foi agraciado com os mais vultosos contratos com estatais e com os
maiores financiamentos do BNDES para obras no exterior. A justificativa do
instituto da delação premiada é chegar ao cume da pirâmide. Na ponta
empresarial da máfia, o cume é a Odebrecht.
Seus
controladores devem experimentar o inteiro peso da lei, não mansão com vista
para o mar. A empresa deve ser extinta, pela transferência de sua direção a
gestores públicos e pelo arresto de seu patrimônio.
Folha de S. Paulo
(*) Comentário do editor do blog-MBF:
quando surgiu a Lava Jato, sugeri punir os atuais sócios majoritários das
empresas envolvidas, com uma multa equivalente as suas ações na sua companhia,
recebê-las em pagamento da multa, e transferir estas ações para todos seus
empregados e parte para novos controladores, estes totalmente livres de pendências
com a Justiça.
O pagamento por parte dos novos
sócios por estas ações, para o Governo, se daria com o lucro destas empresas*.
O que não deve sob hipótese alguma, é transformar estas empresas em estatais, pois a emenda seria pior que o soneto.
Nesse caso, é melhor liquidar logo as empresas, pois o rombo com certeza
aumentaria.
*Empresas Sociais: http://capitalismo-social.blogspot.com.br/2016/02/68-empresas-sociais.html
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