Percival Puggina
A simplicidade da sede do governo britânico é um
exemplo para nós
Diariamente, milhares de turistas em
visita a Londres percorrem a pé a pequena distância que separa Westminster do
mais famoso beco do mundo, a Downing Street, em cujo nº 10 trabalha e mora o
First Lord of Treasury, cargo tradicionalmente comissionado ao
Primeiro-Ministro britânico. Através das grades de uma cerca metálica pintada
de preto, elegante mas sem floreios, pode-se espichar os olhos na direção do
famoso endereço. A impressão que se recolhe, como brasileiro, é a total
desproporção entre a importância do cargo e a sobriedade do edifício.
Alvenaria de tijolos à vista, uma
porta estreita abrindo para a rua sobre uma soleirinha de dez centímetros não é
exatamente o que se imagina para quem ocupa posto de tal relevo.
Embora doada a Sir Robert Walpole em
1732 pelo rei George II, este a recusou como presente e propôs que fosse
destinada ao uso dos ocupantes do cargo que ele então exercia. Muitos dos
sucessores de Walpole, contudo, preferiram outros endereços por considerar
aquele destituído da necessária dignidade. O nº 10, já então, estava longe de
ser incluído entre os domicílios ou escritórios elegantes de Londres.
LOTAÇÃO ESGOTADA
Ao retornar dali para o hotel onde
estava hospedado, dias atrás, busquei informações sobre o número de pessoas
naquele local. Chamara-me a atenção a tranquilidade reinante na Downing Street.
Havia muito mais gente espiando através das grades do que em circulação nas
áreas externas da sede do governo. E lá dentro? Pesquisando, descobri que o
primeiro-ministro britânico tem a sua disposição 85 postos da burocracia estatal e que no nº 10 trabalham, ao todo,
cerca de 170 pessoas. Em Brasília, no Palácio do Planalto, sede do governo
brasileiro, segundo informou o jornalista Claudio Humberto, em sua coluna do
dia 27 de novembro de 2013, estão lotados 4,6 mil funcionários. À época, o jornalista observou que esse número era 10 vezes maior do que o staff total da
Casa Branca. E, pelo que constatei em minha pesquisa, 27 vezes maior do que
o staff operando na sede do governo do Reino Unido.
BONS EXEMPLOS
Quanto poderíamos aproveitar dos bons
exemplos! Em vez disso, parece que aprendemos dos gregos. É evidente que com
tais esbanjamentos, vivendo à forra, não pode sobrar dinheiro, por exemplo,
para construir os presídios de cuja existência tanto dependem a credibilidade e
efetividade da legislação penal e nossa segurança pessoal. Esse modelo pródigo
de gestão só será rompido, com imensa economia de recursos se e quando
adotarmos um sistema racional, que separe o Estado do governo e ambos da
administração pública.
Vejam que ao referir o Palácio do
Planalto, mencionei apenas um local, um edifício. Há muito mais luxo, requinte
e esbanjamento ao redor da mesma praça onde se situa o endereço profissional da
senhora presidente.
http://capitalismo-social.blogspot.com.br/2015/07/207-anos-de-enrolacao-chega.html
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