Julia Affonso, Fausto Macedo e Ricardo Brandt, enviado especial a
Curitiba
O
Ministério Público Federal apontou a vida de alto padrão e os presentes de
luxo, como uma Land Rover avaliada em R$ 200 mil dada para o ex-diretor da
Petrobrás Nestor Cerveró (Internacional), como forma o de o suposto operador de
propinas do PMDB Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, ocultar
dinheiro desviado da Petrobrás.
“Expediente
utilizado por Fernando Soares para a ocultação/dissimulação da origem criminosa
dos valores que repassava à Nestor Cerveró era o oferecimento de ‘presentes’ ao
ex-diretor da estatal”, sustenta a força-tarefa da Operação Lava Jato, nas
alegações finais da ação penal em que o ex-diretor e o operador, supostos elos
do PMDB na estatal, respondem pelo recebimento de US$ 40 milhões, por dois
contratos de navios-sonda da Petrobrás.
“Em
27 de julho de 2012 o acusado Fernando Soares, para encobrir o pagamento de
vantagem indevida devida a Nestor Cerveró, fruto dos crimes acima mencionados,
negociou e comprou em favor de Nestor Cerveró e de sua esposa, Patrícia
Cerveró, o veículo Land Rover Evoque Dynamic 5D”, informa o Ministério Público
Federal.
Para a força-tarefa
não há dúvidas de que o veículo nunca foi pago pela mulher de Cerveró, como
sustentou a defesa do casal, quando ele foi preso em janeiro. O ex-diretor está
detido em Curitiba.
Para
ocultar e dissimular a origem criminosa dos valores relativos a esse bem, tal
automóvel foi registrado em nome da mulher do ex-diretor da Petrobrás. “Mesmo
tendo sido Fernando Soares o responsável pelo pagamento”, diz o MPF, no pedido
de condenação dos acusados por corrupção e lavagem de dinheiro.
Ele
mesmo utilizava, segundo o pedido de condenação do MPF, quatro camionetes de
luxo: três Land Rover e uma Toyota Hilux.
Empresas
de fachada. Para tentar ocultar a origem e propriedade dos valores
movimentados para Cerveró e para seu próprio patrimônio, a Procuradoria da
República informa que existem “diversas provas que indicam a utilização” de
duas empresas de fachada, a Hawk Eyes e a Technis, por Fernando Baiano.
“Ambas
empresas eram utilizadas para ocultar e dissimular o imenso patrimônio que
Fernando constituiu após a intermediação da propina das sondas”, escrevem os
nove procuradores da força-tarefa da Lava Jato.
A própria
residência de Fernando Baiano, no Rio, é citada dado como exemplo do conforto
do operador. “Trata-se de uma cobertura do bloco 1 do Condomínio Parque
Atlântico Sul (antigo Edifício Vieira Souto), localizado na Av. Lúcio Costa,
3600, Barra da Tijuca, um dos mais luxuosos da cidade.”
A
cobertura de luxo do operador do PMDB está em nome da Hawk Eyes. As empresas
foram usadas também para compra da Evoque de Cerveró, as outras três
caminhonetes que ele mesmo utilizava, bem como para o recebimento de parte dos
US$ 40 milhões recebidos do lobista Julio Gerin Camargo, em nome do estaleiro
coreano Samsung Heavey Industries.
A
Hawk Eyes, que era uma empresa de papel como a Technis, também serviu para
registro da uma lancha de 55 pés, chamada “Cruela 1”. “A qual possui dois
motores de 800 HP e capacidade para 18 passageiros, e que custa em média R$ 4,5
milhões”, diz a Procuradoria.
“Por
‘coincidência’ esta lancha foi adquirida de Otávio Marques de Azevedo,
ex-presidente do grupo Andrade Gutierrez, que atualmente encontra-se preso
preventivamente na Polícia Federal em Curitiba”, afirma o Ministério Público
Federal em alegações finais no processo.
Os procuradores
apontaram, além do imóvel “de altíssimo padrão” em que Fernando Baiano morava,
a compra de “uma mansão de veraneio” no condomínio Vale do Segredo, na Praia de
Trancoso/Arraial D’ Ajuda, em Porto Seguro (BA) – em nome da empresa Technis.
Lavagem
moderna
A
prática de ocultação de valores e bens em carros de luxo, imóveis e presentes
como quadros, auxiliam a compreender o esquema criminoso desbaratado na
Petrobrás, por meio do qual partidos e políticos desviavam de 1% a 3% do valor
dos contratos, em conluio com empreiteiras.
“Como
próprio nestes tipos de crime, complexos por natureza, foram empregados pelos
réus várias tipologias de lavagem de dinheiro reconhecidamente utilizadas nesse
tipo de delito. Isso é sinal do alto nível de sofisticação dos instrumentos
usados, com a combinação de várias técnicas de lavagem, em especial, a técnica
do trade based money laudering, de offshore (técnica de uso de terceiros) e de
estruturação”, afirmam os procuradores da Lava Jato.
As
alegações finais do MPF no processo representam a etapa derradeira da ação
penal, que será julgada nas próximas semanas pelo juiz federal Sérgio Moro.
Foi nesse processo
em primeiro grau que o lobista Julio Camargo, após ser reintimado a pedido do
operador de propina do PMDB Fernando Baiano, afirmou que pelo menos US$ 5
milhões dos US$ 40 milhões de propina tiveram como beneficiário o presidente da
Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Por
causa da citação, a defesa de Cunha pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que
impeça o juiz Sérgio Moro de julgar a ação penal e que ela seja levada para a
Corte máxima do Judiciário, por envolver seu nome – como parlamentar, o
presidente da Câmara só pode ser julgado pelo Supremo.
Para
o MPF, “são vários os elementos que indicam a prática, por parte de Júlio
Camargo, Fernando Soares, Nestor Cerveró e Alberto Youssef, todos em conluio e
com unidade de desígnios, de atos de ocultação e dissimulação da natureza,
origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos
ou valores provenientes, direta ou indiretamente, das infrações penais por eles
praticadas em face da Petrobrás”.
Estadão – 26.07.15.
Comentário do blog: por esses motivos que as empresas estatais tem que ter Diretoria profissional. Não é mais possível os políticos indicarem pilantras para administrar essas empresas, e depois, por óbvio, roubarem juntos.(MBF)
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