Hélio
Duque
Nos
últimos 12 anos, os governos Lula/Dilma seguiram com disciplina a filosofia do marqueteiro
João Santana: não lidar com conceitos como verdade, mas com a percepção do
cidadão. Nos primeiros 4 anos, colheu os frutos das árvores plantadas pelo
Plano Real, ou seja, uma economia sustentável proporcionando às famílias avanço
social garantido pela estabilização econômica.
No
segundo mandato de Lula e no primeiro de Dilma, ao abandonarem os fundamentos
que alicerçavam o Plano Real e não promoverem as reformas que modernizariam a
economia brasileira, era questão de tempo a debacle. Colheram a realidade
econômica, social e política que estamos vivendo. Jogaram os brasileiros em uma
tempestade violenta onde a crise econômica e social está vitimando os
trabalhadores, a classe média e importantes setores produtivos.
Indiscutivelmente
a presidente da República, Dilma Rousseff, vive estágio de dissonância
cognitiva. Nome científico onde coerência e lógica são vítimas indefesas. O
ex-presidente Lula da Silva, apostando na amnésia, falta de memória do povo
brasileiro, assume ares de oposição. Ignorando que foi no seu governo que
ocorreu o maior assalto ao dinheiro público na história republicana. Semana
passada, em Brasília, durante reunião com dirigentes do PMDB, proclamou que a
apuração da roubalheira contamina a política e a economia, afirmando: “A Lava
Jato não pode ser a agenda do País”. Resta perguntar: por que a operação
conduzida pelo Ministério Público Federal, Polícia Federal, Receita Federal e a
competência jurídica de Sergio Moro, vem pautando o Brasil?
A
Petrobrás respondeu, ao oficializar o seu “Plano de Negócios e Gestão:
2015-2019”, por que a Lava Jato é a agenda do País. Escancarando com realismo,
o crime de lesa pátria que vitimou a empresa. Reduzindo de US$ 206 bilhões para
US$ 130 bilhões os seus investimentos ao longo daqueles anos. Igualmente o seu
tamanho com a venda nos próximos quatro anos de partes do seu ativo no total de
US$ 58 bilhões. Ante a perigosa situação de registrar dívida bruta de R$ 380
bilhões (em dólares, 110 bilhões).
Os
números atestam que gestões temerárias levaram a estágio de quase enfarte uma
empresa sólida e historicamente lucrativa. A nomeação de militantes e
sindicalistas para a sua direção levou a empresa ao estágio de anomia.
Caracterizada pela desintegração das normas que regem a conduta empresarial. Estrangularam
o seu caixa e levaram ao endividamento recorde para o tamanho da sua estrutura.
Somente o desalinhamento dos preços de combustíveis, gerou prejuízo estimado em
R$ 65 bilhões. A Petrobrás era usada como “biombo da inflação”, importando
derivados a preços altos e vendendo no mercado interno a preços baixos.
Hoje
o valor de mercado da empresa é de US$ 56 bilhões. Há alguns anos, o valor era
muito superior a US$ 200 bilhões. Recolocar a Petrobrás no caminho andado por
50 anos (dos seus 62 anos que fará em 3 de outubro), recuperando a
credibilidade e sendo a grande alavanca do desenvolvimento, é o desafio que
precisa ser enfrentado.
Priorizando
a sua atividade fundamental, a exploração e a produção de petróleo. No Plano de
Negócios está definido que a área receberá 83% dos investimentos,
correspondente a US$ 108 bilhões, significando US$ 27 bilhões/ano.
Paralelamente, a venda de ativos objetiva apurar o total de US$ 58
bilhões, sendo US$ 15 bilhões em 2015/16 e US$ 43 bilhões em 2017/18.
O
dinheiro viria certamente da venda de algumas participações minoritárias no
pré-sal, além de ativos nos EUA, postos de combustíveis na América do Sul,
usinas térmicas, distribuidoras de gás e abertura de capital da subsidiária BR
Distribuidora.
A
“Operação Lava Jato” foi responsável pelo escancaramento da corrupção e
“roubança” que vitimava a empresa. O “propinoduto”, roubo institucionalizado
pelos seus diretores delinquentes e empresários poderosos ficou comprovado.
Além dos projetos de refinarias sem viabilidade econômica e absurda coleção de
investimentos temerários, tipos Refinaria de Pasadena ou a Refinaria de Okinawa
(Japão), com integral aprovação do governo.
Na
época Dilma Rousseff era responsável pelo Ministério das Minas e Energia e
posteriormente passou para a Casa Civil, mas sempre ocupando a presidência do
Conselho de Administração da Petrobrás. São os dois grandes responsáveis pelos
momentos dramáticos que a empresa vive hoje. Não é, portanto, a Lava Jato quem
pauta a agenda do País, mas a incompetência aliada à corrupção que penetrou não
só estatal, mas na administração pública brasileira pautando a vida nacional.
É
o retrato em preto e branco da demagogia do “nunca antes na história desse
País”.
Helio
Duque é
doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista
(UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a
economia brasileira.
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