segunda-feira, 11 de maio de 2020

SUN TZU E O ÚLTIMO PREGO

Márcio Freyesleben

Nesse jogo do poder,intrigas e perfídias palacianas fazem o gozo da mídia engajada.

Yuri Bezmenov, ex-agente da KGB, expôs com riqueza de detalhes o processo de subversão de uma sociedade para a implantação do comunismo. A KGB, inspirada em “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu, transpôs esquemas militares para o terreno cultural e político. Na guerra e na paz, a subversão passa por quatro etapas: 

Desmoralização, desestabilização, crise e normalização.

          A desmoralização é a etapa por meio da qual se empreende o ataque às bases da sociedade. Estimulam-se todas as ações e movimentos que contestem seus valores: a moral religiosa, os bons costumes, as tradições, o respeito às autoridades constituídas, a beleza estética, a verdade suprema, o bem maior, os heróis e os feitos da nação. Tudo é contestado e, no curso de uma geração, tudo é desconstruído para ser reconstruído em bases terrivelmente diferentes. Na cultura, Duque de Caxias é substituído por Che Guevara; Carlos Gomes é substituído, no início, pela Tropicália e, no fim, pelo funk carioca; em lugar de Guimarães Rosa e Machado de Assis, ninguém... Na religião,   as festas religiosas tradicionais dão lugar aos  folguedos dionisíacos. De resto, todos são convencidos de que “política não é coisa para gente séria”, e os homens sérios se afastam dela, assim consumando a profecia auto-realizável.
  O sistema penal é o cimo da etapa de desmoralização. Os policiais são retratados como pessoas  ignorantes, truculentas e emocionalmente desequilibradas. Os bandidos tornam-se vítimas do sistema capitalista excludente e perverso.

          Na etapa da desestabilização, opera-se a divisão da sociedade mediante a radicalização das relações sociais. A violência e o ódio passam a ser vistos como algo normal, uma vez que a desmoralização tornou impossível o consenso. Nas telas de Hollywood, é a vez do herói bandido, o carismático policial desajustado capaz de enfrentar o mal por meio do mal. Na vida civil, a boa-fé desaparece, e os negócios que eram apalavrados no fio do bigode agora são postos no papel, fornidos de infindáveis cláusulas de garantia, testemunhas, fiadores e firmas reconhecidas. A desconfiança generaliza-se. Situações que   eram resolvidas consensualmente tornam-se conflituosas, e as cortes judiciais são abarrotadas de casos irrelevantes de uma sociedade cada vez mais  antagônica e incapaz de solucionar mesmo pequenos conflitos. Grupos de vitimização autocomplacente passam a demandar sua inclusão no processo político, e as suas especificidades são elevadas à condição de direito humanos. As instituição são aparelhadas e vigora o jogo do nós contra eles, do bem contra o mal. 

          A crise é a etapa em que, uma vez realizada a total desmoralização da religião, da política e da cultura, as instituições  detentoras da legitimidade popular (o Legislativo e o Executivo) caem em completo descrédito e perdem a capacidade de impor  as suas opções políticas ao país. O vazio de poder é suprido por organismos “confiáveis”. A ONU e suas sucursais, como Unesco, Unicef e, atualmente, a OMS, assumem perante a população o papel de autoridades confiáveis, com o apoio interno da mídia, de ongs ativistas e, dentro da estrutural estatal, de instituições não legitimadas pelo voto.   É o colapso do Executivo e do Legislativo, que caem em descrédito, e o centro das decisões políticas muda de mãos.

          A normalização  é a etapa que se segue ao colapso institucional. A  população exausta e descrente ergue-se  e clama por um governo forte e centralizador (um salvador da pátria), que irá, após a supressão de liberdades e de direitos,  livrar-se de todos os elementos desestabilizadores que geraram a crise, por meio  físico inclusive.

Diferentemente do marxismo clássico, no neomarxismo o processo revolucionário é obra da esquerda em pareceria com os globalistas. 
Não deveria causar espécie, portanto, o fato de que de David Rockefeller tenha afirmado que a Nova Ordem Mundial emergirá do caos:  uma  grande crise, um evento que mexesse com todo o planeta e que tornasse os governos locais (as soberanias nacionais) incapazes de enfrentar sozinhas o problema, para   que o Governo Mundial se apresente como solução. Quando isso acontecer – disse o magnata –, o mundo não apenas a aceitará, mas pedirá por um Governo Mundial.  Também não deveria causar surpresa o fato de  Luigi Ferrajoli, o pai do garantismo penal, haver dito ao Jornal El Pais, em  4 de abril, que as crises globais exigem soluções globais e que era  hora de criar uma Constituição mundial.

          Qualquer pessoa com mais de 60 anos de idade foi testemunha ocular da desmoralização e da desestabilização da sociedade brasileira, e é vítima da crise. O relativismo e a pós-modernidade confinaram a religião nos limites do foro íntimo, e a moralidade pública e privada esfarelou-se. Intrigas e perfídias palacianas fazem o gozo da mídia engajada. A leis e atos normativos, que outrora consultavam o Legislativo, agora dependem da chancela da mídia e de órgãos estatais legitimados pelo concurso público, que os esquadrinham com esquadro e compasso do arquiteto do universo onusianos, sedentos por bater o último prego no caixão da soberania popular.


Tribuna Diária

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