Márcio
Freyesleben
Nesse jogo do
poder,intrigas e perfídias palacianas fazem o gozo da mídia engajada.
Yuri
Bezmenov, ex-agente da KGB, expôs com riqueza de detalhes o processo de
subversão de uma sociedade para a implantação do comunismo. A KGB, inspirada em
“A Arte da Guerra”, de Sun Tzu, transpôs esquemas militares para o terreno
cultural e político. Na guerra e na paz, a subversão passa por quatro
etapas:
Desmoralização,
desestabilização, crise e normalização.
A desmoralização é
a etapa por meio da qual se empreende o ataque às bases da sociedade.
Estimulam-se todas as ações e movimentos que contestem seus valores: a moral
religiosa, os bons costumes, as tradições, o respeito às autoridades
constituídas, a beleza estética, a verdade suprema, o bem maior, os heróis e os
feitos da nação. Tudo é contestado e, no curso de uma geração, tudo é
desconstruído para ser reconstruído em bases terrivelmente diferentes. Na
cultura, Duque de Caxias é substituído por Che Guevara; Carlos Gomes é
substituído, no início, pela Tropicália e, no fim, pelo funk carioca; em lugar
de Guimarães Rosa e Machado de Assis, ninguém... Na religião, as
festas religiosas tradicionais dão lugar aos folguedos dionisíacos. De
resto, todos são convencidos de que “política não é coisa para gente séria”, e
os homens sérios se afastam dela, assim consumando a profecia auto-realizável.
O sistema penal é o cimo da etapa de desmoralização. Os policiais são
retratados como pessoas ignorantes, truculentas e emocionalmente
desequilibradas. Os bandidos tornam-se vítimas do sistema capitalista
excludente e perverso.
Na etapa da desestabilização,
opera-se a divisão da sociedade mediante a radicalização das relações sociais.
A violência e o ódio passam a ser vistos como algo normal, uma vez que a
desmoralização tornou impossível o consenso. Nas telas de Hollywood, é a vez do
herói bandido, o carismático policial desajustado capaz de enfrentar o mal por
meio do mal. Na vida civil, a boa-fé desaparece, e os negócios que eram
apalavrados no fio do bigode agora são postos no papel, fornidos de infindáveis
cláusulas de garantia, testemunhas, fiadores e firmas reconhecidas. A
desconfiança generaliza-se. Situações que eram resolvidas
consensualmente tornam-se conflituosas, e as cortes judiciais são abarrotadas
de casos irrelevantes de uma sociedade cada vez mais antagônica e incapaz
de solucionar mesmo pequenos conflitos. Grupos de vitimização autocomplacente
passam a demandar sua inclusão no processo político, e as suas especificidades
são elevadas à condição de direito humanos. As instituição são aparelhadas
e vigora o jogo do nós contra eles, do bem contra o mal.
A crise é a etapa em que, uma vez
realizada a total desmoralização da religião, da política e da cultura, as
instituições detentoras da legitimidade popular (o Legislativo e o
Executivo) caem em completo descrédito e perdem a capacidade de impor as
suas opções políticas ao país. O vazio de poder é suprido por organismos
“confiáveis”. A ONU e suas sucursais, como Unesco, Unicef e, atualmente, a OMS, assumem perante a população o papel de autoridades
confiáveis, com o apoio interno da mídia, de ongs ativistas e, dentro da
estrutural estatal, de instituições não legitimadas pelo voto.
É o colapso do Executivo e do Legislativo, que caem em descrédito, e o centro
das decisões políticas muda de mãos.
A normalização
é a etapa que se segue ao colapso institucional. A população exausta e
descrente ergue-se e clama por um governo forte e centralizador (um salvador
da pátria), que irá, após a supressão de liberdades e de direitos,
livrar-se de todos os elementos desestabilizadores que geraram a crise, por
meio físico inclusive.
Diferentemente do
marxismo clássico, no neomarxismo o processo revolucionário é obra da esquerda
em pareceria com os globalistas.
Não deveria causar espécie, portanto, o
fato de que de David Rockefeller tenha afirmado que a Nova Ordem Mundial
emergirá do caos: uma grande crise, um evento que mexesse com todo
o planeta e que tornasse os governos locais (as soberanias nacionais) incapazes
de enfrentar sozinhas o problema, para que o Governo Mundial se
apresente como solução. Quando isso acontecer – disse o magnata –, o mundo não
apenas a aceitará, mas pedirá por um Governo Mundial. Também não deveria
causar surpresa o fato de Luigi Ferrajoli, o pai do garantismo penal,
haver dito ao Jornal El Pais, em 4 de abril, que as crises globais exigem
soluções globais e que era hora de criar uma Constituição mundial.
Qualquer pessoa com mais de 60 anos de idade foi
testemunha ocular da desmoralização e da desestabilização da sociedade
brasileira, e é vítima da crise. O relativismo e a pós-modernidade confinaram a
religião nos limites do foro íntimo, e a moralidade pública e privada
esfarelou-se. Intrigas e perfídias palacianas fazem o gozo da mídia engajada. A
leis e atos normativos, que outrora consultavam o Legislativo, agora dependem
da chancela da mídia e de órgãos estatais legitimados pelo concurso público,
que os esquadrinham com esquadro e compasso do arquiteto
do universo onusianos, sedentos por bater o último prego no caixão da
soberania popular.
Tribuna
Diária
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