Zhou Zhiwei
Nos últimos dez anos, a China se
tornou a fonte de investimento mais importante do Brasil
Desde
2020, ocorreram alguns episódios incomuns nas relações bilaterais China-Brasil.
Um pequeno número de pessoas no governo brasileiro realizou observações não tão
amigáveis em relação à China. No entanto, com os esforços de ambos os países,
esses episódios não mudaram a tendência geral da cooperação bilateral, e as
relações bilaterais entre a China e o Brasil permaneceram no caminho frutífero.
Na
última semana de abril, dois sinais positivos surgiram nas relações
sino-brasileiras, o que também evidenciou a vontade e a determinação do Brasil
em cooperar com a China. O primeiro sinal positivo foi que o vice-presidente do
Brasil, Hamilton Mourão, comparou a relação China-Brasil a “um casamento
inevitável”, quando falou sobre a futura cooperação da Embraer com a China.
Essa
metáfora resume vivamente a base, a motivação e as expectativas da cooperação
entre a China e o Brasil. Sem uma base sólida de “sentimentos”, como pode haver
um casamento natural? Sem que haja uma motivação apaixonada um pelo outro, como
pode haver um casamento duradouro? Sem uma boa expectativa de vida futura, como
pode haver um casamento duradouro? A palavra “inevitável” enfatizada por Mourão
reflete apenas a realidade de que China e o Brasil são “inseparáveis”.
De fato,
desde o início do novo século, a cooperação China-Brasil alcançou uma série de
avanços que atraíram a atenção da comunidade internacional: em 2009, a China se
tornou o maior parceiro comercial do Brasil; em 2012, as relações bilaterais
foram atualizadas para uma parceria estratégica global; em 2018, o volume do
comércio bilateral entre a China e o Brasil excedeu 100 bilhões de dólares,
fazendo com que o Brasil se tornasse o primeiro país da América Latina a
atingir esse volume comercial.
Nos
últimos dez anos, o superávit comercial do Brasil com a China representou cerca
de 40% do superávit total do comércio exterior do Brasil.
Ao mesmo
tempo, a China se tornou a fonte de investimento mais importante do Brasil.
Obviamente,
a cooperação econômica e comercial entre os dois países deu um impulso valioso
ao desenvolvimento econômico e social do Brasil. É extremamente importante que
a cooperação no campo da alta tecnologia também tenha alcançado avanços
significativos.
Desde os
anos de 1980, a cooperação aeroespacial entre os dois países por mais de 30
anos deram frutos, e os dois lados desenvolveram e lançaram em conjunto seis
satélites de recursos terrestres (CBERS) para fornecer ao governo brasileiro
meios de alta tecnologia para monitorar a floresta amazônica e as mudanças ambientais
nacionais.
A
cooperação do CBERS é um exemplo bem-sucedido de cooperação no campo
aeroespacial nos países em desenvolvimento, quebrando o monopólio dos países
desenvolvidos na tecnologia de sensoriamento remoto, e é aclamado pelos líderes
de ambos os lados como um modelo de cooperação Sul-Sul no campo da alta
tecnologia.
Evidentemente,
a Embraer mencionada por Mourão também tem estreita cooperação com a China. No
final de maio de 2000, foi estabelecido em Beijing o escritório de
representação da Embraer para entrar formalmente no mercado chinês.
Em
janeiro de 2003, a Embraer, juntamente com a Corporação da Indústria de Aviação
da China (AVIC, na sigla inglesa) e sua subsidiária Harbin Aircraft Industry
Group Co., Ltd., investiram em conjunto no estabelecimento da Harbin Embraer
Aircraft Industry Co., Ltd. (HEAI) para produzir aeronaves a jato ERJ145 de 50
assentos na China.
Até o
final de maio de 2019, a joint venture Harbin Embraer entregou um total de 41
jatos ERJ145 e 5 jatos executivos Legacy 650 ao mercado chinês.
Atualmente,
a China está desenvolvendo aeronaves civis, mas isso não causará transtornos à
cooperação na aviação entre a China e o Brasil. Como afirmou Mourão, o Brasil
tem tecnologia e a China tem demanda. O mais importante é como corrigir essa
relação de oferta e demanda. A esse respeito, podemos aprender com a cooperação
China-Brasil no campo aeroespacial.
A
segunda notícia positiva foi a Reunião Extraordinária dos Ministros das
Relações Exteriores do BRICS a respeito do surto da pandemia de Covid-19. Esta
é a primeira reunião de coordenação do BRICS sobre a epidemia, cujas
palavras-chaves foram duas: multilateralismo e solidariedade.
Em
particular, a Reunião dos Ministros das Relações Exteriores enfatizou que os
países do BRICS devem aderir ao multilateralismo, fortalecer a solidariedade e
a cooperação, compartilhar informações e realizar intercâmbios sobre surtos,
conduzir pesquisas sobre drogas e vacinas e cooperação para o desenvolvimento,
responder com mais eficácia a epidemias, manter a segurança da saúde pública
mundial e se esforçar para mitigar os efeitos negativos do surto.
Objetivamente,
a vídeo-conferência enviou um sinal positivo dos cinco países para fortalecer a
unidade e a cooperação e combater a epidemia em conjunto, o que é de grande
importância.
Foi
comunicada também a diferença de conscientização entre os países membros do
BRICS em relação à epidemia, o que inclui a recente politização e
estigmatização da epidemia por membros individuais do gabinete brasileiro.
De fato,
a fonte da epidemia é uma questão que precisa ser cientificamente comprovada:
qualquer definição superficial é irresponsável, além de ser um desrespeito aos
outros países, e o respeito mútuo é o critério básico de qualquer
relacionamento internacional.
Além disso,
a China sempre se comprometeu com a cooperação global no combate às epidemias e
no compartilhamento da experiência da China, sendo o ponto de partida baseado
no espírito humanitário, sem considerações ideológicas e sem a busca de
interesses privados geopolíticos.
De fato,
qualquer país tem o direito de escolher parceiros, mas qualquer cooperação não
deve ser construída com base em danos a países terceiros, porque o momento
atual se difere muito do período da Guerra Fria, mesmo a China abandonou o pensamento
do jogo com soma zero e tem realizada uma cooperação mutuamente benéfica com
todos os países do mundo.
Os fatos
provaram que a reforma e o pensamento pragmático da China alcançaram bons
resultados. Diante da epidemia no Brasil, a China nunca esqueceu de auxiliar,
implantar ativamente recursos médicos para apoiar o Brasil e se esforçar para
coordenar o intercâmbio on-line entre especialistas de ambos os países.
As
empresas chinesas e os chineses estrangeiros no Brasil participaram ativamente
do processo de combate à epidemia em demonstração de amor ao Brasil, e seu
trabalho e dedicação devem ser respeitados pelo Brasil.
O Brasil
é um país que ama a paz e mantém um relacionamento harmonioso com os países
vizinhos da América do Sul. Essa também é uma característica importante da
diplomacia brasileira. Pode até ser considerado “poder brando”. O Brasil também
foi altamente reconhecido pela comunidade internacional por isso. Como diz o
ditado: “Um amigo na necessidade é um amigo de verdade”.
Essa
crise global de saúde pública prova completamente que, no mundo global em que
todos vivemos, o relacionamento entre os países é realmente o mesmo que o de
vizinhos. O núcleo do relacionamento com o vizinho é o respeito mútuo,
consideração de interesses e a solidariedade mútua.
Talvez
essa epidemia seja um teste importante das relações sino-brasileiras, mas
escolho ter expectativas mais positivas e que se assemelham com a fala do
vice-presidente Mourão: como um casamento inevitável, a melhor maneira para
mantê-lo depende de haver o amor recíproco e o zelo.
Zhou Zhiwei, pesquisador do
Instituto Latino-Americano da Academia
Chinesa de Ciências Sociais e diretor
executivo do Centro de Pesquisa do Brasil
China hoje
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