Guilherme Fiúza
Das
redes sociais aos telejornais, a patrulha viral está em pé de guerra –
recitando números de mortos para dizer que mortos não são números. E quem é que
pensa que mortos são números? Você! (segundo eles). A mensagem é clara: quem
não se converter à Seita da Terra Parada é desumano e está brincando com vidas.
Aí aconteceu o que ninguém esperava.
O
governador de Nova York, Andrew Cuomo, adversário de Donald Trump e adepto do
isolamento horizontal, deu uma entrevista bombástica. Nota rápida: governadores
e prefeitos em várias partes do mundo hoje em dia passam a vida dando
entrevistas bombásticas – e intermináveis, porque com recordes sucessivos de
audiência não se brinca. Frequentemente são entrevistas macabras, como aquela
do prefeito de São Paulo enumerando urnas funerárias, sacos para cadáveres e
abertura de valas. Mas essa de Andrew Cuomo mudou tudo.
Segundo
o governador do estado americano mais atingido pela epidemia de coronavírus,
84% das pessoas que estão hoje hospitalizadas com Covid-19 estavam cumprindo as
medidas de confinamento. Vamos repetir, porque você está achando que leu
errado: apenas 16% dos pacientes de coronavírus internados hoje na rede
hospitalar de Nova York não estavam na quarentena horizontal. Andrew Cuomo, que
é adepto fervoroso do “fique em casa”, informou com todas as letras, “chocado”
(nas palavras dele mesmo), que a imensa maioria dos doentes de Covid-19 estava
em casa.
E agora?
Agora é
o seguinte: você aí, militante furibundo da Seita da Terra Parada, que passa o
dia patrulhando os outros nessa sua obsessão doentia de apontar assassinos, vai
ter que se virar. Abrir a porta de casa e botar o pé na calçada, querido
caçador de bruxas, não pode mais ter tipificado por você e seus capangas
ideológicos como tentativa de homicídio. Que pena, né? Tava tão bom brincar de
bancar o herói da ética humanitária contra o genocida da esquina, não tava?
Pois é, mas agora acabou.
O seu
pretexto covarde, que nunca teve nada de científico (mas você fingia que tinha)
se desmanchou ao vivo na televisão – logo ela, que tanto te serviu para
perseguir os outros. E veja que coisa curiosa: a revelação do governador de
Nova York sumiu – simplesmente sumiu – do noticiário. Uma informação que
demarca absolutamente todo o conjunto de premissas no combate à pandemia caiu
na clandestinidade – ao menos nas primeiras 48 horas, o que é uma eternidade
para quem vive gritando que cada minuto é precioso para salvar vidas enfiando
todo mundo em casa.
A
própria OMS – principal referência de vocês, os falsos seguidores da ciência,
para a política do trancamento geral – já tinha alertado sobre a migração das
frentes de contágio para dentro das casas. E não era culpa do velhinho que foi
à padaria – como vocês, sempre covardemente, tentavam alegar para manter o seu
dogma. Era culpa do vírus. Ele é que foi à padaria, ao banheiro, ao quarto, à
sala e a todos os lugares de carona com humanos que nem sabiam dele.
Mas
vocês, os científicos oniscientes, sempre souberam onde estava cada covid, e
mandaram a humanidade se trancar em casa que o vírus ia morrer de fome do lado
de fora. Mas ele fez a festa no aconchego dos lares, e será eternamente grato a
vocês, os talibãs da quarentena burra (e devastadora).
Agora
vamos ver como as vítimas do sequestro consentido farão para recuperar a
liberdade – aquela que é muito fácil perder e muito difícil conquistar. Os
tiranetes de São Paulo, João Dória e Bruno Covas, estão soldando as portas do
comércio, numa boa, como se estivessem na União Soviética. Os tiranetes do Rio
de Janeiro, Wilson Witzel e Marcelo Crivella, querem o lockdown total – para
que o cidadão só possa ir à farmácia pedindo a autorização deles.
Nunca se
viu tanta estupidez e covardia per capita. Acordem, antes que a noite se
instale de vez.
Guilherme Fiúza é Jornalista
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