Silvia Caetano
Lisboa –
Não será surpresa se Angela Dorothea Merkel encerrar com chave de ouro sua
carreira como Chanceler da Alemanha, cargo que ocupa desde novembro de 2005 e
cujo mandato expira no próximo ano. Ela já disse que não concorrerá à
reeleição, mas antes disso, com apoio da França de Macron, pretende quebrar o
tabu da mutualização da dívida da União Europeia que dominou a política do seu
país até agora.
Não
importa o nome da medida, eurobonds ou o que for, mas não será um empréstimo
como defendem os Países Baixos, apelidados como grupo dos frugais. Isso Merkel
não aceita. Ela quer criar um Fundo de Recuperação da Dívida de 500 mil milhões
de euros, a fundo perdido,para ajudar os Estado membros mais afetados pela
Pandemia
Não será
a primeira vez que Merkel confronta a União Europeia-UE-, como quando, por
exemplo, abriu as fronteiras da Alemanha às centenas de milhares de refugiados
da Síria e de zonas de guerra e crise vizinhas enquanto os demais países que se
fecharam. Novamente, ela está empenhada em atravessar uma fronteira até então
considerada intransponível. Vai fazê-lo porque sabe que em risco
está o futuro da UE.
Merkel
não acredita na possibilidade de uma república europeia dos iguais num
Continente tão diverso como o atual, com um Norte rico e um Sul pobre e a
enfrentar dificuldades gravíssimas, sobretudo decorrentes da Pandemia. Ela
defende que, sem solidariedade e leis que estabeleçam um grupo de iguais com
direitos comuns, o sonho dos pioneiros UE se perderá nas sombras do egoísmo dos
mais ricos.
No
longínquo 1933, ano do avanço nazista, o escritor Francês, Julien Benda,
escreveu um discurso à Europa apelando aos europeus a se unirem em torno dos
seus valores universalistas e contra o monstro do nacionalismo que crescia. A
Europa marchava para a morte e poucos sonhavam com o impossível. O perigo agora
é outro,mas Angela Merkel costuma correr atrás do impossível .
Ela sabe
que sem a união dos Estados membros, a União Europeia chegará ao fim. O projeto
franco-alemão é financiar os países mais necessitados através de um fundo de
emissão da dívida europeia, sob a forma de subvenção. Seria uma transferência
de recursos, ainda que passando pela Comissão Europeia, dos Estados com maior
capacidade de endividamento para os com menos capacidade.
A
proposta é ousada, mas que Merkel não é nenhum aprendiz na política. Tem anos
de estrada e já deve ter acertada com seus parceiros favoráveis à medida. Foi
também a fórmula que ela encontrou para contornar a decisão do Tribunal
Constitucional alemão, que se meteu na política monetária do Banco Comum
Europeu, vetando este tipo de ajuda. Se a lei alemã, não permite Merkel,
recorre à via orçamental, contra a qual a Justiça alemã nada pode.
O
dinheiro chegaria ao Estado necessitados através de programas comunitários
existentes e só seria devolvido no exercício de 2028. Os custos da operação
seriam proporcionais à contribuição de cada país para o orçamento comunitário,
cuja maior parcela de 27% é da própria Alemanha.
A ideia
será apreciada na apresentação do plano para o relançamento da economia
europeia, que deve ocorrer na próxima semana quando também será discutida a
proposta de revisão do próximo quadro financeiro plurianual do Conselho
Europeu. Fica aqui a lembrança da frase de Merkel que se tornou famosa: Nós
vamos conseguir.
Diário do Poder
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