Redação
O
reaproveitamento de rejeitos de concentrado de lítio, resultantes da produção
de tântalo de duas antigas barragens desativadas desde 2018, construídas a
montante em uma mina no município de Nazareno, em Minas Gerais, vai reforçar a
pauta de exportações do Brasil. O projeto, que conta com financiamento do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é realizado pela empresa
AMG Mineração S.A.. Em consequência dos rompimentos das barragens em Brumadinho
e em Mariana, o método a montante foi proibido no Brasil pela Agência Nacional
de Mineração (ANM).
O BNDES
entra no projeto com o financiamento de R$ 221 milhões, que representam 18% do
investimento total e, segundo o chefe do Departamento de Indústria de Base e
Extrativa do BNDES, Flávio Mota, está prevista a produção de 90 mil toneladas
por ano do concentrado de lítio.
Todo o
material extraído nos três primeiros anos já tem como destino a exportação para
a China, o que resultará no aumento em 10 vezes da produção nacional de
concentrado de lítio, insumo considerado de alto valor agregado e de crescente
demanda internacional, especialmente para a energia renovável.
“É
emblemático para o Brasil. Hoje o país produz 9 mil toneladas de concentrado de
lítio por ano. Esse projeto multiplica por dez a capacidade de produção do
Brasil de concentrado de lítio. O projeto passa a produzir 90 mil toneladas por
ano e isso insere o Brasil como fornecedor relevante nessa cadeia de alto
valor”, revelou o chefe do Departamento.
Mota
informou ainda que essa produção vai favorecer também a produção de energia
renovável. “O aumento da capacidade de armazenamento de energia renovável é
considerado um fator super importante neste momento da economia global para uma
matriz de baixo carbono. Esse projeto conversa diretamente com isso, porque o
viabilizador do movimento são as baterias de lítio, que têm impacto na
sociedade como um todo”, concluiu.
As
barragens estão localizadas em uma mina operada há 38 anos pela AMG, que
integra um grupo holandês com atuação nos setores de mineração, metalurgia e
engenharia de materiais. A empresa identificou que nos rejeitos do tântalo,
principal elemento químico explorado no local, havia um nível de concentrado de
lítio e que seria interessante a sua exploração econômica. “Eles vão pegar os
rejeitos dessas barragens, vão extrair o concentrado de lítio, que vai ser
comercializado. O concentrado de lítio é a primeira etapa do processo para a
obtenção do elemento químico para a aplicação final nas baterias ou produtos
eletrônicos. Ele já é considerado de alto valor agregado”, observou.
Descaracterização da barragens
O
projeto vai contribuir para a descaracterização das duas barragens desativadas
e dar um fim econômico e social aos rejeitos, reduzindo os riscos para a
população, além de contribuir na produção de energia renovável. “Ao mesmo tempo
em que ajuda a empresa em seus resultados econômicos, por meio da exploração de
um material de alto valor agregado em uma cadeia associada à utilização de
baterias, que é uma demanda hoje no mundo bastante crescente, ataca o problema
que a gente vive hoje aqui no Brasil, e o grande start foi o acidente de
Brumadinho, que é a questão de descaracterização de barragens que teve a sua
expansão via método a montante”, observou.
Geração de empregos
O projeto
gerou 2 mil postos de trabalho indiretos durante as obras e 130 novos empregos.
A prioridade é para a mão de obra local das cidades de Nazareno e São Thiago.
Não está descartada a possibilidade de o banco apoiar iniciativas semelhantes
em outras mineradoras. De acordo com Mota, sempre que a instituição identificar
ou receber projetos com impacto social e ambiental estará disposto a analisar.
Isso se estende a outras áreas da mineração.
“Hoje
tem aplicações diversas para esses resíduos, que têm impactos sociais muito
diretos. Por exemplo, estuda-se utilizar a aplicação de rejeitos na fabricação
de tijolos para a construção de casas, outra alternativa é na fabricação de
material asfáltico para fazer rodovia e pavimentação. Então, existem outras
aplicações. O BNDES tem contato com alguns parceiros no intuito de estudar e
ajudar a viabilidade desses projetos de dar uma aplicação aos rejeitos”.
“A
participação do BNDES no projeto está alinhada com a estratégia da instituição
de investir mais no social”, completou.
O Sul
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