Marcia Carmo
Além dos
ministros da área econômica, a missão do Fundo Monetário Internacional
conversou com os ministros da área social, por sugestão do governo argentino.
Nas
reuniões com a missão do FMI, que passou uma semana em Buenos Aires, os
ministros da Saúde, Ginés González García, e do Desenvolvimento Social, Daniel
Arroyo, fizeram uma radiografia da situação social na Argentina. Altos índices
de pobreza (em torno de 35%) e até falta de vacinas essenciais para a infância
na rede pública.
A
realidade, que inclui desemprego de cerca de 10% e uma série de pequenas e
médias empresas (além de algumas de grande porte) que quebraram ou estão à
beira da quebra, contribuiu para o comunicado do Fundo Monetário
Internacional divulgado na quarta-feira (19). Nele, em sete parágrafos, o
organismo diz que a dívida argentina "não é sustentável" e pede a
"contribuição" dos credores privados, que investiram em títulos
públicos do país, para que aceitem uma reestruturação do que esperam receber.
Mais
tarde, na mesma quarta-feira, o Ministério da Economia divulgou comunicado
ratificando as declarações feitas pelo Fundo. Na quinta-feira (20), o
presidente Alberto Fernández comemorou que o FMI tivesse dado
"a razão à Argentina".
Quase
50% da dívida mundial com o organismo pertence à Argentina, observam
economistas. "Ao pedir aos credores que aceitem uma reestruturação e um
pagamento com descontos, o Fundo também está tentando cuidar do próprio bolso.
Foi o que me disseram credores.
O FMI sabe
que a Argentina não tem dinheiro para pagar a todos (credores e Fundo)",
disse o analista político Sergio Berensztein à emissora de televisão TN,
de Buenos Aires.
O
ministro da Economia, Martín Guzmán, tem reiterado, nas entrevistas
coletivas em Buenos Aires e nos encontros internacionais, que a dívida
argentina é insustentável. Por isso ele também incluiu, para surpresa de
alguns economistas, a dívida do país com o Clube de Paris no pacote do que
pretende reestruturar.
O Prêmio
Nobel de Economia Joseph Stiglitz, próximo de Guzmán, disse, há alguns dias,
que os credores deveriam aceitar um "desconto importante" (no que
devem receber). Parecia abrir caminho para o que o Fundo acabou anunciando em
seu comunicado desta semana.
Mas no
dia seguinte ao comunicado, o mercado "castigou" a Argentina e a taxa
de risco-país, que mede a confiança financeira num país, subiu.
Fernández
tem repetido que primeiro quer resolver a dívida para abrir caminho para o
crescimento do país. Ele tomou posse há pouco mais de dois meses, em dezembro
passado, e já aplicou medidas fortes, como o fim, por decreto, do esquema de
aumento das aposentadorias. Ele disse que o sistema era insustentável. Um grupo
de aposentados avisou que apelará à Justiça.
Seja
como for, a medida, dura para os inativos diante de uma inflação que em 2019
ficou acima dos 50% e que registrou tendência de leve queda em janeiro, agradou
ao FMI, segundo fontes da área econômica no país. Em 2018, a Argentina contraiu
empréstimo recorde na história do organismo, US$ 57 bilhões, dos quais 44
bilhões já foram desembolsados, que ainda não sabe como pagar.
Por
isso, neste caso, pede os adiamentos dos prazos previstos para honrar a bolada.
O Fundo, sobre este capítulo da dívida argentina, ainda não deu sua resposta. E
ela ainda pode demorar. Ao contrário da situação dos credores, os pagamentos ao
organismo não começam a vencer em 2020.
El Clarín
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