Wagner Hertzog
Sem
dúvida nenhuma, alguns dos meus artigos sobre a China – especialmente a relação
do atual governo com o dragão asiático – tem despertado algumas polêmicas entre
os leitores, especialmente por parte dos eleitores mais ardorosos do presidente
e do seu governo. No entanto, basta analisa-los para entender que eles são
muito mais de conteúdo ético e moral do que político. Explico.
Hoje, a
China sem dúvida nenhuma é a pior de todas as ditaduras totalitárias, e o
governo dirigido pelo PCC (Partido Comunista Chinês) está ativamente envolvido
no assassinato da própria população. Pessoas de todas as religiões – cristãos,
budistas, muçulmanos – estão sendo arbitrariamente encarcerados, porque o
governo ditatorial pretende estabelecer um estado totalitário ateu. Bíblias
estão sendo confiscadas, cristãos estão sendo presos, e a ditadura afirmou que
pretende reinterpretar a Bíblia de acordo com os princípios do
socialismo.
Membros
de uma religião chamada Falun Gong são sequestrados por agentes do estado para
serem assassinados – para terem seus órgãos internos extraídos –, com o
objetivo de alimentar o tráfico internacional de órgãos humanos. Isso é realizado
como política de estado. Mais recentemente, um ativista americano, Steven
Mosher, descobriu que o governo está retirando os órgãos com as vítimas ainda
vivas. Turcomenos uigures, que são de maioria muçulmana, são mantidos em campos
de concentração, onde são sistematicamente torturados e forçados à renunciar as
suas crenças, para jurar lealdade absoluta e incondicional ao governo chinês.
Atualmente, mais de um milhão deles estão encarcerados.
Dizer
que a China é o novo III Reich é abrandar demais a situação. É muito pior do
que isso. A Alemanha nazista, por comparação, seria um governo dos ursinhos
carinhosos.
A China
tem a distinção de ser a pior ditadura totalitária que já existiu na história
humana. Durante o período maoísta (1949-1976), aproximadamente sessenta milhões
de chineses morreram, embora alguns estudiosos afirmem que esta estimativa é
bastante modesta, e que os números factuais seriam bem mais elevados. O Grande
Salto Adiante – que provocou a Grande Fome da China – e a Revolução Cultural,
que foi um festival de atrocidades, execuções e carnificinas, sem dúvida
nenhuma foram os piores e mais dramáticos eventos deste período.
Depois
de Mao, vieram Deng Xiaoping, e depois deste, Jiang Zemin, que reintroduziram o
capitalismo e afrouxaram um pouco os grilhões tirânicos que asfixiavam e
castigavam o povo chinês. Não obstante, desde 2012, a China tem como líder
máximo o déspota Xi Jinping, que é descrito por não poucos estudiosos e
comentaristas políticos como o novo Mao. Com Xi Jinping no poder, uma nova era
de terror totalitário teve início, e agora o povo chinês está experimentando um
período renovado de atrocidades, perseguições e violência estatal
institucionalizada, com um nível de furor e brutalidade que deixaria os
próprios nazistas parecendo um grupinho de adolescentes amadores.
Por isso
é tão deplorável ver o atual governo se envolvendo em negócios com a China, e
pior ainda, ver pessoas aplaudindo e comemorando. Onde está a ética? Onde está
a moralidade? Princípios morais não podem ser abandonados. Estamos falando de
crueldade gratuita cometida contra seres humanos pacíficos. Evidentemente,
ninguém vai poder criticar o PT por fazer negócios com ditaduras totalitárias,
se estamos fazendo a mesma coisa.
Seria
correto fazer negócios com a Alemanha Nazista? Não, não seria. Da mesma forma,
não é correto fazer negócios com a China. Persistir nesse erro é assinar um
atestado de condescendência, é afirmar que somos coniventes com um governo
totalitário que está ativamente empenhado em assassinar pessoas pacíficas e
inocentes, e exterminar a própria população. O que ocorre hoje na China é um
morticínio monumental, executado com níveis inenarráveis de brutalidade, como
pouquíssimas ditaduras no mundo foram capazes de igualar.
Jamais
vou me isentar de criticar aquilo que está errado, meu humanitarismo não o
permitiria. E vou criticar o governo sempre que achar necessário. Se este
governo continuar no caminho em que está, irá invariavelmente se igualar ao PT,
tornando-se apenas mais um governo tupiniquim parceiro de ditaduras
socialistas. Seres humanos vem em primeiro lugar, não a economia, muito menos
formalidades diplomáticas ou políticas. Não podemos ignorar o que está
acontecendo hoje na China, em nome de um suposto pragmatismo material. A
crueldade contra seres humanos é o que o socialismo tem de mais deplorável, e a
primeira coisa que o atual governo deveria fazer seria debater estas questões
delicadas, e afastar-se impreterivelmente da China, a pior ditadura que o mundo
já viu.
Re-União
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