Jorge
Castro
Os EUA e o
Brasil assinaram em Miami, no dia 6 de março, o "Acordo de Pesquisa,
Desenvolvimento, Teste e Avaliação (RDT&E), na área de Defesa, que é o
primeiro resultado do relacionamento entre os dois países após os EUA terem
classificado o Brasil como aliado preferencial extra OTAN, em 2019.
O objetivo do acordo é incorporar a indústria brasileira de defesa - a
Embraer em primeiro lugar - ao imenso complexo militar-industrial americano, o
primeiro do mundo tanto em poder financeiro e de investimento quanto em
capacidade tecnológica (nos últimos quatro anos, os EUA investiram US$ 2,5
bilhões em suas forças armadas - Exército, Marinha, Força Aérea, Corpo de
Fuzileiros Navais e Guarda Costeira -, valor superior aos gastos em Defesa dos
demais países do sistema global somados).
A incorporação do Brasil a esse imenso complexo produtivo, tecnológico
e militar tem sua peculiaridade mais relevante no processo de investimento do
sistema, com um significado imediato para a Embraer após a aquisição
da controladora por US$ 4,2 bilhões pela Boeing Corp.
Neste ano, os EUA, por decisão do presidente Donald Trump,
criaram a sexta força armada, o "Comando Espacial", para enfrentar a
guerra no espaço.
O gasto com defesa estabelecido no orçamento 2019/2020 dos Estados
Unidos totaliza US$ 741 bilhões, e é de longe o primeiro do mundo (o da China,
que é o segundo, chega a US$ 280 bilhões).
"O objetivo do RDT&E é que o Brasil e os EUA desenvolvam
em conjunto projetos de defesa de alta tecnologia”, disse o Almirante de
Esquadra Craig Faller, da Marinha dos EUA, atual comandante do Comando Sul. O
segundo comandante é o general brasileiro Alcides Faria, ex-chefe da 5ª Brigada
de Cavalaria Blindada.
O RDT&E dá à indústria brasileira de defesa acesso imediato ao
"Fundo do Departamento de Defesa dos EUA", de US$ 100 bilhões,
destinado ao desenvolvimento de projetos de alta tecnologia. A adesão ao
RDT&E significa que após o acordo político/estratégico/militar assinado por
Donald Trump e Jair Bolsonaro em Washington, o Brasil mudou seu status
internacional e saiu da estrutura regional da América do Sul.
Assim, o Brasil retoma a política externa lançada pelo Barão do
Rio Branco (ministro das Relações Exteriores do Brasil de 1902 a 1912), o
primeiro estadista sul-americano a perceber a importância mundial dos EUA,
depois de o país se impor à Espanha na guerra entre Cuba e as Filipinas
(1898/1899) e de forçar a paz como mediador entre a Rússia e o Japão na Guerra
da Manchúria (1904/1905) na presidência de Theodore Roosevelt (1901/1909).
A partir de então, o Brasil se tornou o principal aliado estratégico
dos EUA na América do Sul, o que foi um fator decisivo na disputa geopolítica
com a Argentina. O país manteve essa posição até a década de 1950 e seu ponto
culminante foi a participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na
Campanha Italiana (1944/1945) contra o Terceiro Reich, na Segunda Guerra
Mundial, liderada pelos generais João Mascarenhas e Zenóbio da Costa,
enquadrada no 5º Exército Americano comandado pelo General Mark Clark.
Entre outras, a Força Expedicionária Brasileira participou das
batalhas de Montecastelo, Castelnuovo e Montese, bem como em Montecassino
contra os paraquedistas alemães do general Kurt Student, consideradas as
melhores forças de infantaria da Segunda Guerra Mundial.
O Brasil agora pretende estabelecer um acordo de livre-comércio com os
EUA, condicionado apenas à implementação prévia de quatroreformas fundamentais:
a reforma do sistema de previdência social, já sancionada; a reforma tributária
destinada a cortar o “custo Brasil”, que impõe uma sobretaxa de 40% à produção
brasileira; a privatização de mais de 140 empresas estatais, exceto a
Petrobras; e a última e decisiva, a abertura da economia brasileira, a mais
fechada do mundo depois da do Sudão.
O dado central da inserção do Brasil na economia global nos últimos 25
anos é a produtividade zero ou negativa de sua indústria e, portanto, sua
absoluta incapacidade de competir no mercado internacional, exceto no Mercosul,
ou seja, na Argentina, protegida pela "tarifa zero" que caracteriza o
acordo regional como uma "zona de livre-comércio", a partir do
Tratado de Assunção de 1991/1994.
O RDT&E é um ponto de inflexão na história do Brasil e das
relações da América Latina com os EUA e coloca a nação brasileira,
pela segunda vez, - a primeira foi quando Getúlio Vargas, antes de enviar a
Força Expedicionário para lutar na Itália, cedeu aos EUA quatro bases militares
no Norte e Nordeste - diante da possibilidade de cumprir sua mais profunda e
até agora sempre frustrada vocação para alcançar o status de potência mundial
nas condições do século 21.
Clarín em
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