Ney Lopes
Uma tese
recorrente tem sido a coincidência de mandatos no país. Diversas vezes o
Parlamento debateu essa proposta e dividiu opiniões.
Sem
dúvida, tema polêmico, que deve, entretanto, ser analisado à luz da
racionalidade e do pragmatismo político.
Agora,
com a tragédia do coronavirus volta à cena a possibilidade de prorrogação dos
mandatos dos atuais vereadores e prefeitos e realização de eleição geral em
2022.
Não se
pode negar que a não-coincidência de mandato é prejudicial à administração
pública. Na prática, quando um governador assume o cargo, o prefeito está
renunciando ou se desincompatibilizando para concorrer a próxima eleição. O fato
causa nociva descontinuidade. O ideal, portanto, na realidade brasileira é que
as eleições fossem ao mesmo tempo.
Nos
Estados Unidos pode não ser., Mas no Brasil é assim.
Ao
contrário da alegação de que a realização de eleições de dois em dois anos aperfeiçoa
a democracia, fazer as eleições ao mesmo tempo seria mais democrático, além de
significar economia dos recursos públicos.
Considerem-se
algumas circunstancias concretas no quadro econômico, social e político do
Brasil atual.
Além de
menos dinheiro gasto e barateamento das campanhas eleitorais cabe analisar que
a eleição geral fortaleceria os partidos políticos, tendo em vista que
exigiria de cada legenda maior controle e coerência com os princípios do
estatuto partidário nas coligações homologadas. A principal consequência seria
o favorecimento da governabilidade, o que resultaria em políticas públicas mais
eficazes nas áreas de saúde, saneamento, segurança pública e educação. Os
eleitos teriam compromissos efetivos com as teses de campanha, ao invés da
“babel” atual, em que termina uma eleição e começa outra.
Tramita
no Congresso a emenda à Constituição (PEC) 56/19, de autoria do deputado
Rogério Peninha Mendonça (MDB-SC), que propõe a prorrogação por dois anos dos
mandatos dos atuais prefeitos e vereadores eleitos em 2016, adiando o término
para 2023, mesmo ano em que se conclui os mandatos dos governadores, deputados
federais e estaduais eleitos em 2018. O objetivo é unificar as eleições.
O quadro
de dificuldades que vive o Brasil torna oportuno o debate urgente da proposta
contida na PEC 56/19. Além das reformas inadiáveis, sempre prejudicadas por
questões políticas, a pandemia do coronavirus exige da Nação somas fabulosas de
dinheiro para tranquilizar a população. Portanto, aprovar eleições gerais no
momento significaria economia de recursos públicos.
Uma
eleição é fonte de despesas, legais e ilegais, além de acirrar ânimos e
aumentar tensões. Não se nega que esse fenômeno é normal e útil às democracias,
por gerar contraditório. Sem dúvida. Porém, nas eleições de 2020 existe
concretamente uma “excepcionalidade”, que é a pandemia que atinge todo o
planeta. Além do mais, o objetivo final não seria restringir o debate
democrático, mas sim ampliá-lo através de uma eleição geral, que, em
2022, poderia ser realizada até com a vigência da necessária reforma
eleitoral, política e partidária.
Outra
circunstância que colocaria muito bem a classe política seria a destinação do
atual fundo eleitoral de R$ 2 bilhões de reais, previsto para gastar nas
eleições municipais, que passaria a ser usado no combate ao coronavirus, diante
dos riscos à saúde pública nacional.
Os
partidos já têm como sobreviver, independente do Fundo Eleitoral, pela
existência do Fundo Partidário, criado em 1995 para bancar as despesas
administrativas cotidianas, além do funcionamento de Institutos para análises
de temas que levem ao aperfeiçoamento democrático. Em 2020 esse fundo
ultrapassa a cifra de um bilhão de reais.
O debate
acerca de eleições gerais em 2022 está aberto! Sobretudo, o gesto nobre da
classe política aprovar a destinação dos 2 bilhões de reais do Fundo Eleitoral
para atender as despesas no combate a pandemia do coronavirus.
Diário do Poder
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