Isaac Averbuch
O
recente episódio envolvendo o ex-Secretário de Cultura levou muita gente,
especialmente na esquerda, a um repentino e surpreendente frenesi democrático que
permite vislumbrar muito de ignorância e, em vários casos, má fé nos
posicionamentos. Pessoas aparentemente tomadas de fervor humanista
apressaram-se a reiterar sua condenação ao nazismo (o que não é nada demais,
porque quase todo mundo condena, mesmo), mas essas mesmas pessoas, em muitos
casos apoiam outros regimes totalitários, sem que isso lhes perturbe a
consciência.
É preciso esclarecer alguns pontos:
1) o
nazismo foi um regime totalitário, da mesma forma que o fascismo e o comunismo
(em suas diversas manifestações, inclusive rebatizado de socialismo);
2) mas o
que diferencia o nazismo dos demais (inclusive do fascismo)? basicamente, o
componente racista, algo particularmente odioso. A crença numa raça superior e
numa cultura superior, que deveria exterminar as demais, para o progresso da
humanidade, sob a liderança germânica. Para Hitler não bastava subjugar e
escravizar outros povos (como fizeram seus aliados japoneses), era necessário
eliminá-los, para evitar futuras possíveis "contaminações". Assim,
pretendia exterminar não apenas judeus (ao contrário do que muitos pensam), mas
também eslavos, além de ciganos, Testemunhas de Jeová, homossexuais,
esquerdistas ou livres-pensadores e religiosos em geral. Curiosamente, Hitler
mantinha relações de amizade com destacados líderes muçulmanos, sendo os árabes
de origem semita como os judeus, e aliou-se aos japoneses, que muitos europeus
consideravam uma "raça inferior" (pouco desenvolvidos fisicamente e
de cultura estranha e atrasada). Não sei se Hitler tinha planos para os negros.
Felizmente não houve tempo de descobrir.
3)
Embora o nazismo buscasse a "raça pura", a eugenia não foi criação
dos nazistas. Já foi considerada ciência em muitas partes do mundo.
4) Há
inúmeras semelhanças entre nazismo, fascismo e comunismo: forte interferência
do estado na Economia, supressão das liberdades individuais, partido único,
ausência de Poderes independentes, militarismo - o que se conjuga com
nacionalismo extremo, ausência de imprensa livre, política cultural dirigida pelo
Estado, grupos paramilitares, sindicatos controlados pelo Estado, polícia
política poderosa, anticlericalismo (ou ateísmo), propaganda massiva do regime,
moralismo exacerbado na área dos costumes, culto à personalidade do líder....
tudo isso existe ou existiu na Itália de Mussolini e na Alemanha de Hitler, mas
também em Cuba, na China, na União Soviética, na Coreia do Norte, na Albânia,
no Cambodja e caminha na mesma direção na Venezuela. Só que nada disso incomoda
os esquerdistas, que até hoje defendem esses regimes e tentam implantá-lo no
nosso país. Quando alguém acusa outro de "utilizar métodos fascistas"
poderia, sem erro, falar em "utilizar métodos comunistas", porque
ambos os regimes atuavam de modo muito semelhante, lembrando que o mais
provável é que os fascistas tenham copiado os comunistas, já que esses surgiram
antes.
5) Todos
os regimes citados acima mataram centenas de milhares ou milhões. Todos tiveram
campos de concentração ou de reeducação forçada (não há muita diferença). Todos
se envolveram em guerras (próprias ou por procuração, como Cuba). O que os
distingue? Primeiramente, o regime nazista tinha uma disciplina que vinha da
cultura alemã e promoveu uma estrutura industrial de matar gente, algo nunca
visto ou repetido (felizmente) na história da humanidade. Os demais, embora
tenham perpetrado massacres terríveis, nunca chegaram a tal requinte: as mortes
eram produzidas, digamos assim, em bateladas...
6) Outra
diferença: Hitler perpetrou grande parte do seu morticínio contra cidadãos estrangeiros
(judeus que não eram nascidos ou não viviam na Alemanha) e em tempo de guerra.
Os demais se voltaram para seus próprios cidadãos e em tempos, tecnicamente, de
paz, ou seja, não no bojo de uma guerra civil. Assim foram a Revolução Cultural
na China, os Gulags de Stalin, o confinamento de gays numa ilha por Fidel
Castro, os campos de reeducação do regime de Pol Pot e os campos de trabalho
escravo que ainda existem na Coreia do Norte.
7) mais
uma diferença é a tentativa de exportação da ideologia. Os comunistas se
envolveram diretamente em guerras e revoluções para implantar ou defender
regimes ideologicamente semelhantes em diversos locais do mundo. É uma
ideologia internacionalista (ou como se fala atualmente, globalista). A única
participação nazista foi na Guerra Civil Espanhola, mas poucos frutos Hitler
colheu, já que a Espanha não se envolveu na Segunda Guerra Mundial.
Mas
porque o nazismo e o fascismo são tão (merecidamente) execrados e o comunismo
não passa pela mesma condenação? entendo que há quatro razões:
- primeiramente,
porque o comunismo nunca passou por um julgamento como o de Nuremberg, onde os
crimes nazistas foram expostos detalhadamente, ainda sobre as cinzas de uma
guerra mundial. Além disso, Stalin foi muito importante para a vitória contra
Hitler e até então seus crimes não eram conhecidos e o comunismo se restringia
à URSS, um país do qual pouco se sabia e cujo povo nunca conheceu a liberdade.
- Em
segundo lugar porque o comunismo se apresenta com várias faces, o que permite
aos seus defensores escapar com um "ah, no país X houve erros, mas aquilo
não é o verdadeiro comunismo - ou socialismo", e prometer que na próxima
experiência será diferente (já houve cerca de 70, todas fracassadas).
- Em
terceiro, os nazistas enfrentaram uma guerra direta com os EUA, o que gerou uma
infinidade de livros e filmes de Hollywood sobre os horrores nazistas, algo que
nunca ocorreu entre americanos e comunistas, à exceção do Vietnam, país
inexpressivo que não incorporava o arquétipo ideológico do comunismo e de onde
os americanos saíram desmoralizados.
- Por
fim, há um incansável esforço de escritores e artistas comunistas em reescrever
a história, apresentando como herois criminosos sanguinários, como Che Guevara,
e criando mitos como o de que Cuba antes de Fidel não passava de um prostíbulo
para os americanos...quem, ingenuamente, acha que a ideia de que uma mentira
deve ser repetida até se tornar verdade é uma exclusividade dos nazistas é
porque ainda não observou como agem os comunistas.
Para
resumir: o regime nazista foi o mais letal da história da humanidade, na medida
em que causou diretamente milhões de mortes e provocou outros milhões em
consequência da guerra que provocou. Outros regimes de inspiração totalitária,
mas no lado esquerdista, ao longo da história também mataram milhões e somados
superam as cifras do nazi-fascismo e seus assemelhados, com o agravante de
serem mais duradouros - o Terceiro Reich durou 12 anos, o regime soviético
durou mais de 70, o chinês, o cubano e o norte-coreano ainda estão aí...
Que
fique claro, então: um verdadeiro democrata, alguém humanista, que se preocupa
com as liberdades individuais, rejeita tanto o nazi-fascismo quanto o comunismo
(em suas várias apresentações). Quem condena o totalitarismo de direita e ao
ser questionado sobre os de esquerda começa a resposta com "mas, veja
bem..." pode ser tudo, menos um verdadeiro democrata. Em tempo: há cerca
de quatro meses o Parlamento Europeu considerou nazismo e comunismo formas
equivalentes de totalitarismo.
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