Reuters
O Cade
(Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou sem restrições nesta
segunda-feira (27) a venda
do controle da divisão de aviação comercial da Embraer para a norte-americana
Boeing, segundo decisão assinada pelo superintendente-geral da autarquia,
Alexandre Cordeiro Macedo.
"Não
há indícios para afirmar que a operação comercial foi estruturada com o intuito
de inviabilizar uma eventual concorrência futura da Embraer nos mercados de
aeronaves comerciais com capacidade maior que 150 assentos ou que a operação
possa ter esse efeito", afirma parecer do Cade usado por Macedo para
aprovar o negócio anunciado em 2018 e contestado por acionistas minoritários da
companhia brasileira.
O
negócio foi anunciado na forma de uma joint venture em que a Boeing terá 80% da
principal geradora de caixa da Embraer e
a companhia brasileira ficará com o restante. O preço do negócio é de R$ 17,68
bilhões (US$ 4,2 bilhões) e inclui uma parceria na comercialização do cargueiro
KC-390, desenvolvido pela Embraer.
O
governo do presidente Jair Bolsonaro já havia dado aval para o negócio no
início do ano passado. A operação ainda precisa de aprovação da União Europeia,
que no início do mês prorrogou prazo para uma decisão para 30 de abril.
"A
aprovação do acordo pelo órgão regulador brasileiro é uma demonstração clara da
natureza pró-competitiva de nossa parceria", disse Francisco Gomes Neto,
CEO e presidente da Embraer. "A decisão não apenas beneficiará nossos
clientes, mas também permitirá o crescimento da Embraer e da indústria
aeronáutica brasileira como um todo."
As ações
da Embraer encerraram o dia em queda de 1,8%, a R$ 18,22, em meio à ampla queda
do mercado brasileiro diante de preocupações com os impactos do coronavírus na
China.
Após a
aprovação, se não houver um pedido de conselheiro do Cade para que a operação
seja levada ao tribunal da autarquia em 15 dias, e a decisão de se fazer essa
reanálise for aprovada por maioria dos conselheiros, a transação será aprovada
em definitivo, informou a autarquia.
Segundo
o órgão, apenas cerca de 3% dos casos aprovados pela superintendência geral do
Cade são levados para reanálise pelo tribunal da autarquia.
Apesar
do negócio incorporar as operações de aviação comercial da Embraer no catálogo
de produtos da Boeing, o parecer de 62 páginas do Cade que aprovou o negócio
afirma que a transação pode acabar gerando mais competição.
"Apesar
da alta concentração do mercado e do baixo número de agentes (que diminuiria
com a efetivação do negócio com a retirada da Embraer), a ampliação do
portfólio da Boeing com a incorporação dos E-jets permitiria à empresa uma
maior capacidade de exercer pressão competitiva contra a líder Airbus, que
domina amplamente esse mercado", afirma o parecer do Cade se referindo aos
jatos da companhia brasileira.
"Nesse
sentido, alguns relatos obtidos no teste de mercado enfatizaram que a operação
comercial poderia, inclusive, intensificar a rivalidade observada no
mercado", acrescentou o documento, citando que o Cade fez uma análise
concorrencial em 8 diferentes mercados.
Em
comunicado à imprensa, o Cade afirmou ainda que "a operação resultará em
benefícios para a Embraer, que passará a ser um parceiro estratégico da Boeing.
Dessa maneira, a divisão que permanece na Embraer – aviação executiva e de
defesa – contará com maior cooperação tecnológica e comercial da Boeing".
"Além
disso, os investimentos mais pesados da divisão comercial, que possui forte
concorrência com a Airbus, ficarão a cargo da Boeing", acrescentou o órgão
incumbido pela defesa da competição no Brasil.
A
aprovação ocorre no momento em que a Boeing tenta retomar os voos de seu avião
mais vendido, o 737 MAX, interrompidos
desde ano passado após duas quedas que mataram centenas de pessoas. Na
semana passada, analistas de Wall Street calcularam em US$ 25 bilhões o impacto
da interrupção dos voos 737 MAX.
Nesta
segunda-feria, a CNBC publicou que a Boeing assegurou mais de R$ 50,52 bilhões
(US$ 12 bilhões) em financiamento junto a mais de uma dezena de bancos.
R7 - Economia
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