Gazeta do Povo com
Washington Post"
"O
Lago Maracaibo já foi a salvação econômica da Venezuela. Agora é um grande
desastre ambiental do qual pouco se ouve falar. Petróleo bruto e gás natural
borbulham até a superfície. Uma reportagem da agência de notícias AFP,
divulgada nesta quinta-feira (3), mostrou em imagens o alcance da poluição,
causada por um "derramamento permanente de petróleo": água machada
com óleo espesso, enorme quantidade de lixo nas margens do lago, peixes,
crustáceos e aves reféns do líquido preto e uma população ribeirinha que se vê
obrigada a buscar sua alimentação e sustento no lago poluído.
"Às
vezes você não consegue dormir por causa do cheiro de gás produzido pelo
petróleo", disse à AFP um pescador que mora às margens do Lago Maracaibo,
no noroeste da Venezuela. "Nos leva aos pulmões, principalmente das
crianças"."
"A
indústria petrolífera venezuelana foi construída com base no petróleo leve de
Zulia. Há cerca de duas décadas, o petróleo mais espesso do Cinturão do
Orinoco, mais ao sul, se tornou o centro de produção venezuelana, mas o lago
Maracaibo permaneceu vital para a economia nacional."
"Seu
declínio é um dos capítulos da história. No início dos anos 2000, Hugo Chávez,
o falecido pai do estado socialista da Venezuela, quebrou os sindicatos da
companhia estatal de petróleo PDVSA. Engenheiros, trabalhadores de plataformas
e gerentes treinados foram substituídos por nomeados políticos. Eles afundaram
a empresa."
"Em
2008, quando os preços globais do petróleo caíram, Chávez nacionalizou as
empresas que forneciam suprimentos, mantinham e ofereciam transporte para as
perfurações do lago."
"À
medida que o governo de Maduro afundava ainda mais em seu buraco financeiro, os
reparos foram diminuindo e depois praticamente pararam."
"Os
reflexos desse descaso estão nos números. Zulia produzia 1,55 milhão de barris
por dia em 2001, de acordo com a Caracas Capital Markets, uma empresa focada na
indústria de petróleo venezuelana. Em 2018, a produção havia caído para 250 mil
barris. Cinco mil poços estavam operacionais no lago em 2002. Hoje, segundo os
trabalhadores sindicais, menos de 400 estão funcionando."
"Yurasi
Briceño, bióloga do Instituto Venezuelano de Pesquisa Científica, contou à AFP
que no sul do lago, área onde ela trabalha, há cerca de oito plataformas que já
não estão em funcionamento, três das quais estão vazando petróleo continuamente
desde outubro."
"Além
da poluição do petróleo, o ecossistema do lago sofre com gangues criminosas que
se especializaram na caça de botos-cinza e de peixes-boi que existem lá.
"De um boto, eles obtêm de sete a oito quilos de carne muscular
comestível", disse a bióloga em entrevista para a Deutsche Welle em maio,
explicando que a crise econômica impulsionou os crimes contra o meio ambiente
nos arredores do Lago Maracaibo."
"Abaixo,
veja as imagens que mostram a poluição do Lago Maracaibo."
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