André Vargas
Robério de Ogum prevê que 2020 será o ano da cassação de
poderes e de grandes perdas entre a classe artística
Aos 65
anos, o paulista Robério Alexandre Bavelone, o Robério de Ogum, é um dos mais
influentes médiuns do País. Adepto do candomblé e com fortes conexões
espíritas, ele diz que o Brasil e os brasileiros vão passar por um ano de 2020
turbulento na política e na economia, com a morte de dois ex-presidentes e de
algumas grandes figuras da classe artística.
Guiado
por Ogum, entidade correlacionada com São Jorge no sincretismo brasileiro, seu
dom mediúnico se manifesta por meio de previsões que lhe são comunicadas por
entidades espirituais. Nos anos 1980, Robério previu a morte de Tancredo Neves.
Em 2004, falou do falecimento do papa João Paulo II. E, no ano passado, disse
que o Brasil perderia um grande comunicador em 2019. Gugu Liberato morreu em um
acidente doméstico em novembro.
Robério
recebeu ISTOÉ no Ilê de Axé Megê, casa que coordena em Barueri, na Grande São
Paulo. Ele também falou sobre como seus dons se manifestaram e as preocupações
que lhe causam a intolerância e a tóxica mistura de política e fé no Brasil:
“Quem monta bancada para sua religião não está falando de Deus”.
O que irá acontecer com o Brasil em
2020?
Teremos
um ano cheio de sacrifícios para os brasileiros na economia. Será o verdadeiro
ano da revolução e da cassação de poderes, com muito peso para as questões de
justiça, conflitos entre as instituições e mudancas de comportamento na
sociedade. Dois ex-presidentes vão morrer em 2020. A classe artística vai
sofrer com a perda de quatro comunicadores que fizeram história, além de dois
cantores e sete atores e atrizes muito queridos.
Como ficará o governo e o presidente
Bolsonaro?
Um
espírito tanto pode prejudicar uma família quanto um governante. Temos um
presidente bem intencionado e honesto, mas espiritualmente agoniado e afoito.
Ele puxa negatividades do nada. Vejo pessoas como o Marco Feliciano [pastor e
deputado federal paulista] rezando sem sucesso. Se o presidente se
equilibrasse, as coisas funcionariam. Mas ele sofre de muita falta de paz de
espírito.
Mas
alguma vez Bolsonaro foi calmo? Ele agride as pessoas quase sempre.
Eu não o
vejo assim. Ele adota um escudo para se defender e está cercado de muita gente
que brilha pela incompetência. Rezo para que ele tenha paz em suas decisões,
pois preside o pobre e o rico, o branco e o preto, o católico, o evangélico, o
budista e o espírita. Fico triste quando ouço sobre a bancada da bíblia e da
bala. Balas e bíblias não combinam. Religioso não nasceu para ter cargo
político. Veja o que está ocorrendo no Rio de Janeiro. Quem tem uma missão
religiosa precisa trabalhar para o povo.
As entidades espirituais olham para
o que ocorre na política?
Eu disse
que 2016 seria um ano de Ogum, um ano voltado para a busca da justiça, e que
veríamos muita gente importante presa, com políticos importantes cassados e que
seria uma grande revolução. Como pudemos ver, foi o que ocorreu.
Mas questões de fé e de política
podem se misturar?
Só se
pode falar de fé onde não há negociatas, com leis e projetos favorecendo
alguns. Quem pensa em montar bancada para sua religião não está falando de
Deus. Isso me agonia.
Qual foi a previsão mais
surpreendente de sua vida?
A mais
inédita ocorreu em 1993. O Palmeiras perdeu o primeiro jogo da final do
Paulistão para o Corinthians por 1 x 0, gol de Viola. Eu fui ao programa Faixa
Nobre do Esporte, na Bandeirantes, com o Elia Júnior e o Juarez Soares. Eles me
perguntaram quem seria o campeão. Tentei falar e não saiu. Ogum disse que o
Palmeiras seria o campeão, com uma vitória de 3 x 0 no tempo normal. O título
viria com o quarto gol na prorrogação e a expulsão de três corintianos. Quando
voltei a mim, pensei: “Tô morto”. Como é que eu poderia acertar todos aqueles
detalhes. Fui massacrado, mas acabei ganhando o respeito das torcidas.
Sua ligação com futebol é antiga.
Quando começou?
Digo que
tenho mais de 20 títulos. Fiz previsões para o Flamengo de Cláudio Coutinho, lá
no final dos anos 1970. Trabalhei com o Vanderlei Luxemburgo desde seus tempos
de Bragantino, passando por Palmeiras e Corinthians. Antes, acompanhei o Santos
vitorioso de Juary e de Nilton Batata.
Que
previsões fora do mundo do futebol tiveram mais repercussão?
Em 1985,
afirmei ao antigo jornal Notícias Populares que um grande político iria morrer,
causando comoção nacional. Também disse que Paulo Maluf aceitaria a derrota no
Colégio Eleitoral e manteria o PDS em pé. Registrei a previsão em cartório
dizendo que Tancredo Neves iria falecer.
Quando começaram suas visões?
Eu havia
acabado de entrar no seminário. Tinha uns 11 ou 12 anos. Estava no lavatório
escovando os dentes. Quando ergui o rosto, vi no espelho um homem grisalho e de
barba carregando um livro debaixo do braço. Me apavorei e, ao me virar, o vi
bem diante de mim. Gritei. Foi um susto enorme. Quando vi aquele homem pela
primeira vez, logo deixei de ter medo, pois ele me trazia paz. Ele me parecia
uma pessoa real, usava um terno. Eu nunca o identifiquei exatamente, mas a
realidade se mantinha ao meu redor. Essa cena se repetiu mais umas três vezes,
sempre no lavatório.
Médiuns costumam manifestar seus
dons na infância. Algo assim ocorreu com o senhor?
Em
Itápolis [SP], na minha infância, tive um contato com o mundo espiritual, mas
não entendi o episódio. Eu brincava na serraria do meu tio. Do nada uma serra
ligou e me cortou fundo, perto da virilha. No desespero, vi uma mulher alta —
que hoje sei que é Iansã. Ela jogava uma luz lilás no meu ferimento e pedia
calma. Não senti dor. A seguir, veio um homem, Ogum, que fez o mesmo. Fui para
o hospital, mas não havia médico. Eles tentavam me fazer dormir com
medicamentos. Queriam fazer um enxerto de pele. Do meu lado, via Ogum fazendo
sinal de não. Foram horas. Quando o médico chegou, dormi. Não precisei fazer os
enxertos de pele. Daí até o seminário, nada mais aconteceu comigo.
Essas manifestações foram mudando
com o tempo?
Eu
sempre entendi tudo que as entidades me falavam, mas no início não conseguia
responder. Felizmente, ao longo do tempo a comunicação ficou mais simples e
fácil. Hoje, respondo como se estivesse falando com você. Antes, não havia
diálogo. Só que eu não falo com eles de verdade. A coisa se dá em outro plano.
Até a temperatura do meu corpo muda. Fica mais quente. O corpo físico não é
mais sentido. Parece que estou leve e flutuando. O custo físico existiu só
quando comecei, pois não tinha domínio sobre o meu corpo.
Qual é a missão de um médium?
É
mostrar que existe uma vida além desse plano. Chico Xavier mostrou isso por
meio de suas psicografias, Zé Arigó e Edson Cavalcante Queiroz o fizeram por
meio de curas, enquanto Divaldo Franco recebe espíritos e faz palestras. No meu
caso, faço previsões. A maior missão de um médium é proteger os seres humanos
dos espíritos do mal. Somos alertados diariamente sobre isso e, daqui em
diante, as coisas ficarão bem piores para todos.
O senhor sugere que o mundo corre
perigo?
Sim. O
mundo está muito mais repleto de lixos humanos do estava que antes. A fila para
novas reencarnações é infinita. O ser humano logo vai chegar facilmente aos 100
anos de idade. Só que os carmas não serão cumpridos como antes, quando tínhamos
menos tempo de vida. Isso quer dizer que as pessoas vão se tornar presas mais
fáceis para os espíritos obsessores. Quando vemos um filho que mata seus pais e
outros crimes bárbaros do cotidiano, saiba que é coisa de uma pessoa possuído e
transformada em um lixo em forma de gente. A função de todo e qualquer médium é
defender as pessoas desses perigosos ataques, não importa quem sejam.
Mas qual é o grande problema da
humanidade?
Quando
morremos, vamos para o mundo espiritual. Lá, dizem que erramos e temos que
voltar para corrigir o que fizemos. Mas Deus, em sua infinita bondade, nos deu
livre arbítrio para guiarmos nossos destinos, para mudarmos para melhor ou para
pior. Além dessa opção, há o problema da maldição, que surge quando correntes
obsessoras atacam. A vítima se torna aquilo que os espíritos querem que ela
seja.
Quando o senhor percebeu que sua
missão era cuidar do aspecto espiritual das pessoas?
Sei
disso desde os meus 14 anos. Até tentei mudar de vida, tocar uma empresa, ser
pecuarista. Nunca deu certo. Queria uma vida mais tranquila, mais leve, pois o
médium é um sofredor. Tenho uma missão, mas muita coisa não me faz bem. Quando
prevejo uma tragédia, não me faz bem, já que não posso mudar nada. Ainda bem
que os espíritos me dão paz. Eles me ajudam a carregar esse grande fardo.
O público só parece preocupado com a
previsão de quem vai morrer no ano que vem. Isso não te frustra?
Lógico.
Em 2004, quando afirmei que o papa João Paulo II iria morrer, também disse que
desejava estar errado. Não estava. Muitas vezes eu pergunto para as entidades
por qual razão tenho que lidar com coisas tão negativas.
O senhor
disse que Silvio Santos morreria…
Jamais
disse isso. Ano passado afirmei que ele teria muitos problemas, o que ocorreu.
E que um grande comunicador iria nos deixar. Foi o caso do Gugu Liberato,
infelizmente.
Qual sua opinião sobre o quadro
satírico do Porta dos Fundos?
Acho que
é preciso respeitar os ateus, mas eles também precisam respeitar os demais. Um
diretor de TV não pode reinventar a história bíblica junto com meia dúzia de
malucos. Qual prova eles têm de que Jesus era gay? O que fizeram com a figura
de Maria foi um absurdo. O Fábio Porchat [humorista], que é ateu, e seus
colegas do Porta dos Fundos, só querem aparecer ao mexer com os fiéis do maior
país católico do mundo. Jesus dá ânimo e fé para mais de 90% dos brasileiros
todos os dias.
Há alguns anos o senhor disse que o
Brasil viveria uma guerra santa. Ela está ocorrendo?
Quando
fiz essa afirmação, em 1995, duas semanas depois um pastor [Sérgio Von Helder]
chutou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Houve muita indignação.
O Brasil está se tornando um País de
intolerantes?
Eu nunca
fui perseguido, mas alguns colegas foram. Eles iam rezar e chegava a polícia.
Na hora de fazer um despacho, eram presos. No Rio, criminosos fanáticos destroem
terreiros. Só que nos templos evangélicos, os pastores não está pregando. Estão
é tirando espírito de corpos. Tem o dia da amarração, dia de desamarração,
gente subindo no palco para o capeta sair. Resultado: nós, os espíritas, vamos
sempre pagar por isso.
O que fazer para preservar sua fé?
Tentaram
destruir nossa fé muitas vezes. Eu já fui negro em outras vidas. Foram os
africanos que trouxeram o candomblé para o Brasil e sofreram o maior
preconceito. Por isso, é uma religião de dor, que te prepara para a vida
eterna. Na minha concepção, não somos humanos. O corpo é só uma carcaça. Nosso
lado pensante só funciona aqui. Se eu morro, desencarno e reencarno. O que
sobra é espírito. Jesus nos deu esse exemplo. Ele sabia o que iria sofrer, que
seria traído e renegado. Nós não somos fortes como ele, mas podemos ser um
pouco melhores do que somos.
Qual a origem dessa rejeição?
A
religião virou venda de fé. O sujeito precisa ganhar milhões de reais para
pagar o horário de TV. No espiritismo e no candomblé não há a pretensão de ser
grande. Zé Arigó, Chico Xavier, Bezerra de Menezes e Allan Kardec não agiam
desse jeito. Não acho que os outros estejam errados, mas é errado atacar outras
religiões. Afinal, Deus é amor.
E quando chegar sua vez?
Tenho
certeza que vou voltar. Deus me deu muitas oportunidades, mas acho que não me
dediquei o suficiente. Em alguns momentos faltou humildade. Não fui o
mensageiro que deveria ter sido, alguém como o Chico Xavier foi. Espero ter
tempo para corrigir alguns dos meus erros.
É possível ser feliz de verdade?
Paz de
espírito não significa felicidade. É algo que vem antes. Quem tem paz pode
passar por dificuldades sem se abalar. A felicidade nasce da paz de espírito e
não o contrário.
Isto É
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