Jorge Serrão
A gestão do Lixo, que no Brasil costuma ser “um lixo de
incompetência e roubalheira”, é uma das maiores fontes de corrupção na
administração pública. Agora, o ambientalista Sérgio Ricardo faz uma gravíssima
denúncia sobre contaminação das praias da Baía da Guanabara, rios e poços
artesianos. O líder da ONG Baía Viva protesta que o lixão “desativado” do Morro
do Céu, no bairro do Caramujo, em Niterói, produz, anualmente, 118 milhões de
litros de chorume. Altamente poluente, o rejeito é precariamente diluído na
estação de tratamento de esgotos de Icaraí e acaba lançado no mar pelo
emissário submarino. É uma gigantesca tragédia ambiental
Ontem (4 de dezembro 2019), o Movimento Baía Viva
protocolou uma Representação judicial sobre o problema na Procuradoria Geral da
República e no Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro. Foi pedida a
imediata proibição da "diluição" de chorume em diversas Estações
de Tratamento de Esgotos (ETEs) operadas pela CEDAE e concessionárias privadas
em vários municípios fluminenses. Também foi requerida a responsabilização
criminal, por Crime Ambiental e Crime de Improbidade Administrativa, dos
dirigentes da Companhia Municipal de Limpeza urbana (CLIN), do Instituto
Estadual do Ambiente (INEA-RJ) e da concessionária privada Águas de Niterói
S/A.
Desde 19 de julho de 2018, o movimento Baía Viva denuncia
aos Ministérios Públicos Estadual e Federal a crise do chorume não-tratado no
Estado do Rio de Janeiro. Estima-se um despejo anual de 1 bilhão de litros de
chorume despejado, ilegalmente, nas águas, manguezais e praias da Baía da
Guanabara. Além do despejo diário de 3 milhões de litros de chorume, outro
problema é o volume de 500 mil metros cúbicos de chorume, sem tratamento,
precariamente estocado em “lagoas” ou tanques de estabilização localizados em
lixões “desativados” ou aterros sanitários.
Nos períodos de chuva, estes tanques transbordam vazando
diretamente para as águas da baía, rios e manguezais prejudicando a pesca
artesanal, a balneabilidade das praias e provocando doenças nos pescadores e
nas populações locais. Sérgio Ricardo não perdoa: “Enterrar materiais
recicláveis em grandes aterros sanitários, num momento em que vivenciamos uma
emergência climática em escala global, é um atraso do ponto de vista
civilizatório, além de ser uma grande burrice do ponto de vista econômico!”.
O ecologista Sérgio Ricardo relembra que entre 2006 e
2007, foi proposta como alternativa a criação de um Ecopolo de
Energia e Reciclagem na área do antigo Lixão do Morro do Céu. Na época,
estudos de viabilidade desenvolvidos pela Coppe/UFRJ indicavam que era possível
produzir energia limpa (biogás), adubo orgânico, construção de Ecofábricas com
matérias primas oriundas do lixo, bem como incentivar a implantação da coleta
seletiva e de programas de reciclagem com participação de cooperativas de
catadores de materiais recicláveis. O tempo passou... E nada aconteceu até
agora...
O Brasil ainda tem 3.500 lixões. Todos sem controle da
poluição gerada no meio ambiente e corpos hídricos. A falsa alternativa (aterros
sanitários) é considerada mais cara e, portanto, completamente insustentável
para os cofres públicos a médio e longo prazos. Os “cemitérios de lixo” são a
marca da péssima gestão dos resíduos no Brasil durante os anos 1970, que gerou
milhares de passivos ambientais ainda existentes.
A coleta e transporte de lixo mexem com interesses
milionários. Muitas campanhas eleitorais são financiadas pelos consórcios do
lixo... Por isso, o jogo sujo não é interrompido. A corrupção não deixa...
A questão do lixo – que poderia ser fonte de geração
expressiva de renda e de produção de energia – é mais um dos assuntos sérios
que a sociedade brasileira não discute correta e seriamente. A extrema mídia só
cuida do assunto quando acontece alguma tragédia gigantesca. Isto tem de mudar!
Alerta Total
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