Luiz
Antônio P. Valle
O jogo avança no ritmo cinético dos eixos, conforme já expus, em
função da atenção concentrada no bispo (eixo do sistema de crenças), no cavalo
(eixo do poder armado), na torre (eixo da economia), segundo a estratégia
definida pelo jogador que vê de uma perspectiva mais elevada. O Rei é
peça, mas observa a rainha e as demais peças em seus movimentos.
O bispo avança na diagonal. Na semana passada o milionário Jeffrey
Epstein foi encontrado “quase inconsciente” com “marcas no pescoço” em posição
fetal no chão da cela que ocupa no Centro Correcional Metropolitano (MCC), em
Manhattan. Certamente é uma pessoa que sabe muito sobre as práticas abusivas
perpetradas por “poderosos” ao longo de muitos anos.
Uma pequena pesquisa sobre o tema pode revelar bastante sobre como
funcionam, de verdade, alguns mecanismos de poder. Todavia, para enxergar é
preciso querer ver. As pessoas têm dificuldades de assimilação quando seus
fundamentos são abalados, fato explicado pelo conceito de “Túnel de realidade”
cunhado por Timothy Leary, mostrando que os indivíduos possuem um filtro mental
com o qual percepcionam a realidade.
Ao estudar este conceito foi verificado que as pessoas só ouvem,
enxergam ou entendem o que se encaixa dentro do seu sistema de crenças,
abdicando do discernimento. Por isso Jesus escolheu seus discípulos entre
pessoas iletradas, mas de mente aberta com poucos filtros. Quando se aproxima
uma disruptura, para percebê-la antecipadamente, é necessário ter “olhos de ver
e ouvidos de ouvir”.
O cavalo se posiciona para o momento decisivo, sabe que vai precisar
de força. As novas famílias de armas escalares, bem como novas tecnologias
mudaram o uso dos recursos no tabuleiro. O poder destrutivo exercido com sutileza
tem sido amplamente utilizado porque não provoca reações extremas da opinião
pública (https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/07/23/algo-aconteceu-com-os-cerebros-de-diplomatas-dos-eua-em-cuba-diz-estudo.ghtml).
As potências ocidentais agrupam forças no Estreito de Hormuz, no Mar
do Sul da China e nas fronteiras com a Rússia. Seus oponentes, dentre eles
Rússia, China, Irã, Síria e Coreia do Norte também se posicionam, a Índia
aguarda. Uma nova corrida armamentista está em curso e a guerra cibernética e
de inteligência precede o ato final, encontrando-se em decisivo andamento, (https://securityaffairs.co/wordpress/88657/intelligence/fsb-contractor-sytech-hacked.html).
A torre teve os seus movimentos anteriores plotados e seus futuros
lances parecem ir numa direção não regressiva. Os grandes bancos, pilares do
sistema financeiro internacional e colunas da economia, tem mostrado um
comportamento passível de cuidadoso acompanhamento, senão vejamos.
O HSBC sofreu em 2014 uma investigação vigorosa por parte do Senado
americano (http://www.hsgac.senate.gov/subcommittees/)
que concluiu, segundo o The Guardian, que o gigante bancário “ignorou os
sinais de alerta de que suas operações globais estavam sendo usadas por
lavadores de dinheiro e potenciais terroristas” - http://www.guardian.co.uk/. No ano seguinte outro escândalo
veio à tona onde o banco britânico foi acusado de “ajudar” clientes ricos a
evitar o pagamento de milhões de dólares em impostos por meio de sua filial na
Suíça - http://www.bbc.co.uk/.
Os documentos incluem dados sobre 5.549 contas secretas de brasileiros, entre
pessoas físicas e jurídicas, com um saldo total à época de US$ 7 bilhões (R$
19,5 bilhões).
Em 2016 foi a vez do Goldman Sachs ocupar os holofotes, pagando multas
de US$ 5 bilhões, após a conclusão de uma investigação do Departamento de
Justiça dos EUA que sentenciou: “Esta resolução torna o Goldman Sachs culpado
por má conduta e por mentir a investidores ao afirmar que os títulos eram
apoiados por hipotecas saudáveis“, disse Stuart Delery, do Departamento de
Justiça - http://epocanegocios.globo.com.
O banco criou “credibilidade” para o que não tinha lastro. A
reportagem ainda diz: “O anúncio é o mais novo capítulo da série de esforços de
autoridades do Departamento de Justiça, em conjunto com outros Estados, de
penalizar bancos por impulsionarem a bolha imobiliária que resultou no colapso
financeiro de 2008. Instituições como o J.P. Morgan Chase, Bank of America,
Citigroup e Morgan Stanley já pagaram, juntos, quase US$ 40 bilhões para
encerrar investigações parecidas. Fonte: Dow Jones Newswires”.
Entenda-se por “impulsionarem a bolha imobiliária” como óbvia
manipulação do mercado, do contrário não haveria punição. Fica claro que o
pagamento de multas conjuntas de cerca de US$ 40 bilhões foi para “para
encerrar investigações parecidas”, o que saiu barato para os bancos, do
contrário eles não pagariam. Quem já fez antes pode fazer de novo.
Este ano foi a vez, como já comentado em outro artigo da série
“xeque-mate”, do Deutsche Bank, um gigante da Europa. Há indícios que o banco
pode estar envolvido no vultoso escândalo do fundo de desenvolvimento 1MDB
(1Malaysia Development Berhad) da Malásia, tendo violado as leis de corrupção
estrangeira e/ou lavagem de dinheiro, informou o Wall Street Journal. Isso surgiu quando o The New York Times noticiou que os gerentes do
Deutsche Bank negligenciaram as advertências do pessoal de Compliance em suas
negociações com Jeffrey Epstein. A situação do banco tornou-se tão aguda que
ele anunciou a demissão de 18.000 funcionários e a venda de € 150 bilhões (US$
168 bilhões) de saldos mantidos em carteira para o francês BNP Paribas.
Os analistas bem informados percebem que algo está vindo, os sinais já
são visíveis para olhos treinados. Desde o comportamento dos fundos de
investimento, citado em outro artigo, como o RenTec de James Simons, aos
“avisos” do próprio analista do Deutsche Bank, Robin Winkler, quando diz:
“a tensão cíclica nos desequilíbrios financeiros globais atingiu níveis vistos
pela última vez na véspera da crise financeira”, tudo leva a crer que a luz
vermelha acendeu-se. Robin Winkler demonstrou isso graficamente:
Outro analista, Michael Cembalest, do J.P.Morgan, prevendo a
possibilidade do dólar não resistir a próxima crise, mostrou de uma forma
gráfica que as moedas de reserva não duram para sempre e o dólar também perderá
o seu status.
Cembalest disse: “Eu me lembro do seguinte comentário do falecido
economista do MIT, Rudiger Dornbusch: 'A crise leva muito mais tempo do que
você pensa, e então acontece muito mais rápido do que você imagina'”. O status
de moeda de reserva está sendo questionada, e ninguém menos que o Private Bank
do J.P.Morgan pergunta, na estratégia de investimento deste mês, se o
“privilégio exorbitante do dólar” está chegando ao fim? Eles dizem:
"Acreditamos que o dólar poderia perder seu status de moeda dominante do
mundo (o que poderia levá-lo a depreciar no médio prazo) devido a razões
estruturais e a impedimentos cíclicos". Por que eles tocam neste assunto
agora?
Atualmente, 85% de todas as transações cambiais envolvem o dólar,
ainda que a participação do PIB estadunidense seja de cerca de 25% do PIB
global.
Segundo estudos, dos estimados US$ 30 trilhões em crescimento de
consumo da classe média entre 2015 e 2030, espera-se que somente US $ 1 trilhão
venha das economias ocidentais de hoje. Na medida que outras regiões crescem e
se tornam relevantes na economia, a participação de transações que não utilizam
o dólar inevitavelmente aumentará, o que provavelmente reduzirá a importância
do dólar como reserva de valor.
Países de todo o mundo já estão desenvolvendo mecanismos de pagamento
que evitam o uso do dólar. A China já possui em funcionamento o “payment versus
payment”, lançado em 9 de outubro de 2017. Com o sistema é possível realizar
transações em moedas nacionais, por exemplo, da Rússia e da China, sem
utilização do dólar. A Gazprom (Rússia) e a CNPC (China), duas gigantes do ramo
de energia, assinaram um contrato, válido por 30 anos, de fornecimento de gás
russo à China no valor total de US$ 400 bilhões de dólares, pagos em yuans, sem
uso de dólares. Este sistema está em expansão para novas moedas no intuito,
inclusive, de contornar as sanções americanas que utilizam o sistema SWIFT como
instrumento de pressão.
Segundo Peter Koenig, o PIB dos estadunidenses será de US$ 21,1
trilhões em 2019 (estimativa do Banco Mundial), com uma dívida atual de US$ 22
trilhões, ou seja, 105% do PIB. O PIB mundial está projetado para 2019 em US$
88,1 trilhões (Banco Mundial). De acordo com a Forbes, existem cerca de US$ 210
trilhões de “passivos não financiados” (valor presente líquido de obrigações
futuras projetadas, mas não financiadas, principalmente previdência social,
Medicaid e juros acumulados sobre dívidas), um número cerca de 10 vezes o PIB
dos EUA, ou duas vezes e meia a produção econômica mundial. Além disso, há
cerca de um a dois quatrilhões de dólares (ninguém sabe a quantia exata) dos
chamados derivativos flutuando em todo o mundo. Esta dívida monstruosa é
parcialmente detida na forma de títulos do Tesouro como reservas cambiais por
países em todo o mundo - https://www.globalresearch.ca.
O grande problema da perda do status do dólar como moeda de referência
global é que os EUA são totalmente dependentes deste status para “rolar” seu
monstruoso déficit gêmeo e consequente colossal dívida. A perda futura desta
liquidez do dólar levaria a economia dos EUA ao caos, e obter autorização do
congresso para elevar continuamente o teto da dívida atual, como vem fazendo,
não vai ajudar.
Até mesmo a candidata presidencial democrata Elizabeth Warren, segunda
colocada nas pesquisas para indicação do partido, chama a atenção para os
sinais crescentes de problemas na economia. Num artigo que ela divulgou na
segunda-feira da semana passada, alerta para um "estouro econômico"
se aproximando. Ela disse:
“Quando olho para a economia hoje, vejo muito com o que me preocupar
novamente. Eu vejo uma recessão no setor manufatureiro. Eu vejo uma economia
precária que é construída sobre a dívida - tanto a dívida das famílias quanto a
dívida corporativa - e isso é vulnerável a choques. E vejo uma série de choques
sérios no horizonte que podem fazer com que os alicerces instáveis de nossa
economia desmoronem”.
“Uma geração de salários estagnados e custos crescentes para o básico,
como moradia, creches e educação, forçaram as famílias americanas a assumir
mais dívidas do que nunca. A dívida do estudante "mais do que dobrou desde
a crise financeira". A dívida do cartão de crédito americano corresponde
ao seu pico de 2008. A dívida de empréstimos de automóveis é a mais alta desde
que começamos a rastreá-la há quase 20 anos, e um número recorde de 7 milhões
de americanos estão atrasados em seus empréstimos para automóveis - muitos dos
quais têm características abusivas semelhantes às hipotecas subprime
pré-colisão. 71 milhões de adultos americanos - mais de 30% dos adultos no país
- já têm dívidas na arrecadação. As famílias podem ter condições de arcar com
esses pagamentos de dívidas agora, mas um aumento nas taxas de juros ou uma
desaceleração na renda poderiam levar as famílias a um precipício”.
O que os governos das potências estão fazendo para proteger-se desta
perspectiva?
O ouro é reconhecido como uma reserva de valor segura a muitos
séculos. Sobre esta questão não há muitas controvérsias entre aqueles que entendem
do assunto. Os países investem milhões para construir estruturas seguras para
custodiar seu ouro físico porque sabem que ele é uma reserva de valor
inquestionável, do contrário por que o fariam? Numa crise ele é considerado um
refúgio seguro, diferentemente de papeis de crédito sujeitos a especulação
advinda de percepções de credibilidade e de liquidez. O governo dos EUA afirma
ter 8.133,5 toneladas de ouro físico em suas reservas oficiais. Cinquenta e
oito por cento são mantidos em Fort Knox, no Kentucky, 20% em West Point, no
estado de Nova York, 16% estão na casa da US Mint em Denver, Colorado e 5% são
mantidos nos cofres do NY Fed (Federal Reserve Bank of New York).
As reservas de ouro da Rússia totalizaram 2.208 toneladas, informou o
Banco Central da Rússia (CBR), estimando o valor de suas reservas de ouro em US
$ 100,3 bilhões em 1º de julho. Só em junho, a Rússia acrescentou 18 toneladas
do metal precioso às suas reservas. Aumentando seus estoques de ouro, a Rússia
também está diminuindo sua participação nos títulos do Tesouro dos EUA - Sputnik.
Como eu já afirmei em outro artigo da série xeque-mate: “A compra de
ouro dos bancos centrais nos primeiros cinco meses deste ano é 73% maior do que
um ano antes, com a Turquia e o Cazaquistão também se unindo a China e a Rússia
como os quatro maiores compradores. É possível constatar que 2018 foi o ano em
que bancos nacionais / centrais adquiriram mais ouro desde 1968 e estes volumes
atuais estão ultrapassando o volume do ano passado em 73%, tornando possível,
se a tendência continuar, prever que 2019 será o maior ano para aquisições de
ouro na história”. Todos de movem rapidamente e decisivamente para proteger
suas economias.
E o Brasil, como vem se posicionando neste assunto?
Em outro artigo da série xeque-mate eu fiz a seguinte menção: “Segundo
dados do Bacen em maio de 2019 o Brasil possuía reservas US$ 388,09 bilhões, o
que vem se mantendo em patamar semelhante a sete anos consecutivos, uma vez que
em maio de 2012 nossas reservas eram de US$ 373,91 bilhões. Esta reserva atual
é considerada por muitos economistas como elevada e confortável, uma vez que se
considerarmos o PIB brasileiro, dá uma sensação de segurança em função do seu
montante.
Entretanto, além de quantidade deve ser considerada a qualidade dos
ativos, vez que poderíamos vê-la como segura, não fosse pela natureza da sua
composição. Surpreendentemente destes US$ 388,09 bilhões temos US$ 363,32
bilhões em títulos e somente US$ 7,98 bilhões em moedas estrangeiras, ou seja,
93,62% das nossas reservas são títulos, o que é uma exposição muito acima dos
demais países!
Não bastasse a vulnerabilidade óbvia é um péssimo negócio financeiro, pois
em 2018 pagamos, em média, 9,5% a.a. sobre os títulos brasileiros que financiam
a dívida pública, emitidos para 5 anos, e recebemos 3% a.a pelos títulos
norte-americanos que compramos, emitidos para o mesmo prazo. Para deixar mais
clara a frágil situação, que é contrária a estratégia dos demais países que
mostrei, a participação do ouro nas reservas brasileiras é de insignificantes
US$ 3,05 bilhões, ou seja, 0,79% do total”.
Numa crise global, de acentuado aspecto de liquidez, se os emissores
dos papeis que mantemos em nossas reservas virarem para o Brasil e disserem que
precisam dilatar o prazo do vencimento devido a crise, ou que simplesmente não
podem honrá-los, o que o Brasil faria? Qual instrumento de pressão ele tem para
forçá-los? Óbvio que nenhum.
A governo estadunidense, que tem informações de qualidade de suas
agências de inteligência, parece estar se preparando para possíveis distúrbios.
O Exército dos EUA inundou os céus de Washington D.C. em 22 de julho de 2019
com helicópteros de combate fortemente armados, tendo também apoio em terra,
num exercício militar para proteger prédios federais sem prazo para término,
talvez prevendo um possível agravamento da situação interna dos EUA - https://www.bloomberg.com/.
O Congresso dos EUA aprovou uma lei (H.R. 6566) que obriga a FEMA (Federal
Emergency Management Agency) a preparar-se para um “planejamento de morte em
massa” enquanto os cemitérios e funerárias estiverem lotados pela consequência
de um “atentado terrorista”, “desastres naturais” ou “outro tipo de crise”.
A torre quer “rocar” com o rei antes do xeque para proteger também a
rainha.
O Rei, mais experiente, percebe que está chegando a hora de sacrificar
a rainha inocente para chegar ao mate. Ele e o Jogador são prudentes como a
serpente. Observam os movimentos e as peças serem postas em posições
estratégicas, aguardando pacientemente a hora do “mate”.
Trump e Bolsonaro, dentre outros como na Itália, foram
“surpreendentemente” galgados a cadeira que hoje ocupam. Talvez eles tenham
sido postos ali com a finalidade de, ao final, pagar a conta. Alguém terá de
pagar a dívida/bolha que vem se acumulando. Depois do “mate” alguém tem de
levar a culpa.
Todo jogo acaba ou muda de fase. Crie a situação, espere a reação e
ofereça a solução. O xeque-mate se aproxima.
Luiz
Antonio Peixoto Valle é Professor e Administrador de Empresas.
Alerta
Total
Nenhum comentário:
Postar um comentário