Karina
Gomes
Trens são
confortáveis e têm até restaurante, mas frequentemente atrasam, deixando
passageiros revoltados. No país da pontualidade, companhia estatal Deutsche
Bahn ainda batalha para atingir meta de cronograma.
Tudo programado para chegar por volta das dez da noite em Munique, um
dia antes do início da Oktoberfest. A viagem corre bem até que, de repente, o
trem para na linha. Depois de 20 minutos de espera, vem o aviso: "Teremos
um atraso de 40 minutos por causa de um problema".
A conexão com o segundo trem que eu pegaria em Hannover foi perdida.
Ao chegar lá com uma hora de atraso, sou informada de que não há mais
trens rápidos disponíveis. A opção seria pegar outros dois trens regionais.
Situações piores podem acontecer. Já perdi uma conexão e, quando
peguei um outro trem, ele parou na linha apenas dez minutos depois da partida.
"O trem parou de funcionar", diz o aviso. Esperamos por duas horas. A
lanchonete do trem está fechada. Quando isso acontece, a companhia oferece
garrafas de água para as pessoas não perecerem. Temos que aguardar um
"trem-guincho" para puxar o trem de volta à estação.
Chegando lá, a opção é pegar três trens regionais para chegar a uma
cidade onde teria uma conexão para o meu destino. Mas os trens regionais também
atrasam, e a conclusão é que, quando chegamos, a estação já estava fechada. Não
havia mais trem nem ônibus. A companhia de trens ofereceu um táxi, que
ficou dando voltas no centro da cidade fingindo não saber o caminho para meu
endereço final.
O descontentamento e a indignação ficam estampados no rosto dos
passageiros que, muitas vezes, pagam altos valores pelos bilhetes de viagem.
"É inacreditável", "não é possível", esbravejam entre as
plataformas.
Os trens alemães são operados pela empresa federal Deutsche Bahn (DB).
Faz anos que a companhia fracassa em atingir a meta de ter 80% dos trens
circulando dentro do cronograma. As principais causas dos atrasos no país da
pontualidade são os canteiros de obras – neste ano, há 800 nas linhas de
todo o país – e pouca capacidade livre nas rotas mais utilizadas.
Em julho, a DB anunciou um investimento de 100 milhões de euros para
aumentar a taxa de pontualidade. No primeiro semestre deste ano, 77,4% dos
trens chegaram na hora marcada.
Apesar de os trens terem conforto, banheiros e lanchonetes, os atrasos
provocam muita revolta. Para reduzir o descontentamento, a DB permite que os
passageiros recebam uma restituição parcial do valor da passagem caso o atraso
seja de uma hora ou mais. Eu já apresentei uns cinco formulários de reclamação
e, apesar de a resposta demorar um pouco, recebi parte do valor de volta.
Para isso, é preciso enviar por correio ou entregar num posto de
informação da DB nas estações um formulário preenchido com o horário previsto e
o horário real de chegada, o bilhete e, em alguns casos, um documento
carimbado por um funcionário da DB comprovando o atraso – uma reparação justa
dado o estresse que se passa e o valor que se paga pelas passagens.
DW - Deutsche
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