GIL ALESSI - AFONSO
BENITES
Grupo mais próximo do candidato tem
familiares e parlamentares conservadores. Militares também atuam e cerca de 40
deles se reúnem semanalmente para debater os planos de Governo
O
candidato à presidência da República Jair Bolsonaro (PSL)
é frequentemente chamado por seu círculo mais próximo pelo apelido de 01, uma
referência ao papel de liderança que o capitão da reserva desempenha na
campanha. Se ele é o 01, o cargo de 02 é disputado por vários membros de sua entourage,
composta por familiares, amigos da caserna e parlamentares. A internação de
Bolsonaro após o ataque
sofrido em Juiz de Fora mostrou que sem o capitão, peça responsável
por unir a polifonia de vozes dentro sua campanha, todos
batem-cabeça. Veja quais são os diferentes núcleos que rodeiam Bolsonaro, e
quem são os principais “soldados” do candidato.
O chefão do PSL
O
advogado Gustavo Bebianno, presidente interino do PSL, é um
dos mais próximos de Bolsonaro. Foi responsável pelas negociações entre o
deputado e seu novo partido em um momento no qual o capitão era assediado por
outras legendas ao anunciar que deixaria o PSC, no início do ano. Bebiano diz
que Bolsonaro foi dispensado pelos Patriotas, com quem negociava havia quase um
ano. Uma das razões foi que o partido não queria entregar sua direção a seu
grupo, o que o PSL prontamente fez. Assim, Bebiano assumiu o comando do PSL
logo após se filiar, colocando Luciano Bivar (que disputa uma vaga na Câmara),
o dono da sigla, temporariamente para escanteio.
Há mais
de uma década está ao lado de Bolsonaro. Antes, trabalhou no Jornal do Brasil,
na área administrativa. Com perfil centralizador, o advogado é responsável pela
estratégia jurídica da campanha, além de ser um conselheiro de Bolsonaro para
praticamente todos os assuntos. Assim que o capitão foi esfaqueado, ele
declarou à imprensa que a guerra do bem contra o mal havia começado. Foi um dos
poucos de fora do círculo familiar do candidato a ter acesso a ele durante todo
período de internação no hospital Albert Einstein. Costuma dizer que não
entende de política e que só preside o PSL para proteger Bolsonaro.
O czar da economia
O
economista e banqueiro Paulo
Guedes dá as cartas na campanha quando o assunto é economia. Antes de
assumir o plano econômico de um possível Governo do capitão, no entanto, Guedes
chegou a tentar convencer o apresentador Luciano Huck a
disputar a presidência. Quando a campanha do global fez água antes de começar,
ele migrou para o bloco bolsonarista. Apesar de ter muita autonomia, concedendo
entrevistas e falando seus planos para a Fazenda, o economista também levou
puxões de orelha do candidato, o mais recente após defender
a volta do imposto CPMF, Contribuição Provisória sobre Movimentação
Financeira. No twitter o candidato escreveu que "equipe econômica trabalha
para redução de carga tributária, desburocratização e desregulamentações”.
Apesar da campanha negar que qualquer um de seus integrantes sofra qualquer
restrição na hora de se pronunciar publicamente, após o episódio do imposto
Guedes desmarcou alguns eventos de sua agenda.
O núcleo fardado
Capitão
reformado do Exército, Bolsonaro se cerca de militares para tentar cumprir a
missão mais difícil de sua longa carreira política. O mais próximo dele é o
general Augusto Heleno, que chefiou a missão de paz da ONU no Haiti. Heleno chegou a ser
cotado para ser seu vice, mas o partido dele, o PRP, não quis se vincular
oficialmente a Bolsonaro. A função acabou caindo no colo do generalHamilton
Mourão, que já defendeu uma intervenção militar durante os anos de crise
política vividos pelo Governo Dilma Rousseff.
Mourão
já foi comandante de Bolsonaro na década de 1980 e, agora como comandado, tem
sido apontado muitas vezes como uma pedra em seu sapato. Já proferiu
declarações polêmicas, como a que disse que lares comandados por mães e
avós são propícios para gerarem filhos desajustados, assim como a que sugere o
fim do 13º salário e o de adicional de férias dos trabalhadores brasileiros ou
ainda a que prevê a criação de uma constituinte formada por “notáveis”, sem a
participação doCongresso
Nacional. Depois da série de desvios de rumos, Mourão entrou na semana que
antecede o primeiro turno no modo low profile. “Temos de manter a calma
nessa última semana. Não vou aos debates de vice-presidente por orientação do
Bolsonaro (...) Agora estou quietinho”, disse o general nesta segunda-feira ao
desembarcar para encontros familiares em Brasília.
Sem se
candidatar à vice, Heleno se dedicou voluntariamente a fazer a ponte com outros
membros das Forças
Armadas e a comandar grupos técnicos de discussões setorizadas. Duas
vezes por semana, ele reúne em Brasília cerca de 40 técnicos e militares que
debatem os planos de Governo de Bolsonaro. Discutem desde infraestrutura, até segurança
pública, de esportes à questão indígena. Entre os participantes desses
grupos estão os generais Oswaldo Ferreira, ex-chefe do departamento de
engenharia e construção do Exército, e Aléssio Ribeiro Souto, que já chefiou o
Centro Tecnológico do Exército. Eles são assessorados por civis que não os veem
como uma ameaça para a democracia, como o professor de economia da UnB Paulo
Coutinho e o professor da FGV e cientista político Antônio Flávio Testa.
Nos
Estados, Bolsonaro incentivou candidaturas de generais para que servissem de
palanque a ele e, em caso de eleitos, pudessem fazer parte de sua base de
Governo. Nesse grupo encontram-se os generais Sérgio Roberto Petterneli (SP),
Elieser Girão Monteiro (RN) e Mário Araújo e Marco Felício (ambos de MG). Outro
que costuma ser ouvido por Bolsonaro é o general Paulo Chagas, que concorre com
chances reduzidas ao Governo do Distrito Federal.
Família Bolsonaro
O
capitão tem três filhos na política: o também deputado federal Eduardo
(PSL-SP), o deputado estadual pelo Rio Flávio, e o
vereador carioca Carlos.
Os dois
primeiros desempenham papel importante na campanha – principalmente Eduardo,
que faz campanha em São Paulo e pôde acompanhar o pai durante a internação no
hospital Albert Einstein. Carlos chegou a pedir licença não-remunerada da
Câmara para poder ficar junto ao pai. Com Bolsonaro fora de campo
temporariamente por ordens médicas, os filhos se dividem em eventos de campanha
na reta final do pleito. Cabe aos filhos também o papel de rebater acusações e
críticas contra o capitão nas redes sociais – muitas vezes recorrendo a
fake News.
Os congressistas
Quatro
parlamentares de fora da família desempenham papel importante na campanha de
Bolsonaro. São eles os deputados federais Major Olímpio (PSL-SP), Fernand
Franchischini (PSL-PR) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS), e o senador Magno Malta
(PR-ES). Este último chegou a ser cotado para assumir o cargo de vice na chapa
bolsonarista, mas declinou para continuar no Congresso. Os quatro são ligados
às bancadas da bala e evangélica do Congresso.
Olímpio
que disputa vaga ao Senado, tenta colar sua imagem à do capitão usando até
mesmo o slogan “Bolsolímpio”. Assim como seu padrinho, o deputado defende o
rearmamento da população, a redução da maioridade penal e outras pautas
conservadoras. Olímpio desempenha o papel de coordenador de campanha de
Bolsonaro em São Paulo.
O
senador Malta, que é próximo do polêmico pastor Silas Malafaia –
com quem visitou o capitão no hospital – é considerado um dos principais
articuladores políticos a serviço da campanha bolsonarista. O parlamentar tem
se empenhado em construir alianças para fortalecer o candidato à presidência em
um eventual segundo turno, principalmente
dos partidos do centrão que atualmente orbitam em torno de Geraldo Alckmin (PSDB).
O DEM e o PSD são alguns dos maiores alvos do assédio de Malta.
Lorenzoni,
que se destacou como o relator do projeto das 10
medidas contra a corrupção, é cotado para ocupar a Casa Civil caso
Bolsonaro seja eleito. Filiado ao DEM, partido do centrão que apoia Alckmin até
o momento, o deputado também terá a tarefa de costurar alianças.
Outro
que auxilia nesse trabalho é o deputado Fernando Francischini, delegado de
polícia aposentado, ele seria candidato ao Senado pelo Paraná, mas como não
conseguiu coligações locais, seu tempo de TV ficou diminuto (menos de 10
segundos), o que fez com que ele concorresse para deputado estadual. “Se eu
saísse para senador, não teria tanto tempo para me dedicar ao Bolsonaro. E para
federal, estou lançando meu filho. Para estadual, eu consigo viajar mais com
ele”. Francischini também é o responsável por angariar novos seguidores para os
bolsonaristas nas redes sociais. Suas transmissões no Facebook rendem até 1
milhão de visualizações, segundo seus cálculos.
Adendos setorizados
Além de
todos esses grupos, a rede de Bolsonaro também tentou incluir alguns
especialistas setorizados. Vice-presidente do PSL e candidato a deputado
federal, o empresário da segurança Julian Lemos, da Paraíba, é o principal cabo
eleitoral do presidenciável no Nordeste. Foi ele quem intermediou o contado com
a agência de comunicação responsável por fazer as peças publicitárias da
campanha.
Lemos
conheceu Bolsonaro há cerca de dois anos quando sua empresa foi contratada para
fazer a segurança de uma palestra que o deputado federal faria em Belém. O auditório
em que ocorreria o encontro estava lotado de manifestantes favoráveis ao
candidato e, após um princípio de confusão, Lemos agiu praticamente sozinho
para garantir a segurança de Bolsonaro. As relações entre eles se estreitaram e
ele foi convencido a entrar para a política.
Na área
de agronegócios, o principal assessor e apoiador de Bolsonaro é Luiz Antonio
Nabhan Garcia, presidente da União Democrática Ruralista. Mas o diretor da
Sociedade Rural Brasileira, Frederico D’Ávila, que já assessorou o PSDB, também
tem apresentado suas sugestões.
EL PAÍS
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