RICARDO
DELLA COLETTA
Na seção
desta semana, que ouve os eleitores que estreiam nas urnas, o paranaense
Leonardo Bello, 18, diz sonhar em seguir carreira no Exército como fez seu
candidato
Leonardo Henrique Bello passeava de bicicleta numa manhã de setembro
em um parque em Curitiba vestindo uma camiseta com o retrato de Jair
Bolsonaro. Em meio a uma das campanhas presidenciais mais polarizadas que o
Brasil já viveu, o aluno de ensino médio sabe que é um gesto provocativo. Há
quem o repreenda na rua, o chame debolsominion, mas muitos também o
parabenizam. "Se podem andar com a camiseta pedindo
'Lula Livre', por que eu não posso andar com a minha?", questiona.
Aos 18 anos, Bello votará pela primeira vez agora em outubro. Sua
admiração pelo capitão reformado do Exército vai além de uma mera identificação
com as suas bandeiras de campanha, como a liberação do porte de armas ou a
oposição ao chamado kit
gay — nome pejorativo com o qual o projeto Escola sem Homofobia, que foi
vetado pelo Governo Dilma Rousseff em 2011, ficou conhecido. O estudante
quer servir o Exército no ano que vem e depois disso sonha em seguir carreira
militar: "[Eu admiro] o valor, a ética e a vida do militar. Acho a
disciplina e a história bonitas.
Sempre gostei muito", diz Bello.
Jair Bolsonaro é hoje o líder das pesquisas de opinião. De
acordo com o último Ibope, ele soma 32% da preferência do eleitorado. A
menos de uma semana da eleição, é um desempenho que o coloca com os dois pés no
segundo turno. Boa parte desse eleitorado diz nas pesquisas que não vai mudar
de candidato até o dia da eleição. A julgar pelo fervor com que defende o
capitão reformado do Exército, Bello parece ser um deles: "Às vezes falam:
'ah, o Bolsonaro é um cara homofóbico, um cara racista'. Ele só está lá lutando
porque não quer aquela porcaria de kit gay nas escolas.
[Ele não quer] ensinar esse tipo de porcaria, a ideologia de gênero,
para criancinha", exclama o jovem.
Bello é de uma família de classe média que vive na região
metropolitana de Curitiba. O pai é caminhoneiro e a mãe, auxiliar de serviços
gerais em um hospital. Segundo ele mesmo define, seus pais ganham o suficiente
para sobreviver e para "tirar algum lazer" — o próprio Bello
conciliou os estudos durante um tempo com um trabalho de operador de caixa num
mercado. Um perfil que parece se enquadrar bem no que Paulo Guedes, o guru
econômico de Bolsonaro, definiu em entrevista ao EL PAÍS como "classe
média esquecida e abandonada, agredida em seus princípios e valores, e que quer
ordem". "Essa coisa [do Bolsonaro] de focar em segurança pública,
de ser um pouco mais radical nessa coisa de lei, é a parte que eu apoio. Eu sei
que está precisando, eu já fui assaltado. Você perder uma coisa que você lutou
para ter não é legal", afirma Bello.
O estudante repete também fielmente a retórica de Bolsonaro para a
área de segurança pública. Para Bello, policial
tem que ter "carta branca" para agir— "o cara tem que
levar dois tiros para poder reagir contra um bandido?" — e a população
precisa ter acesso a armas de fogo. "Tem que seguir o exemplos dos Estados
Unidos, lá o pessoal anda armado, cara. E a média de crime de homicídio lá? Não
chega nem a um quarto do que tem aqui", expõe. "A parte de segurança,
se o Bolsonaro entrar, é uma coisa que tá precisando mesmo".
A receita belicosa de Bolsonaro para a segurança pública gera temor
entre especialistas da área, que dizem que o amplo armamento da população pode
ter o efeito justamente inverso ao apregoado pelos seguidores do candidato do
PSL. "Se esse faroeste, esse bangue-bangue, for instituído, o número de
mortes pode mais do que dobrar", afirmou em agosto Renato Sérgio de Lima,
diretor do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
"Ele é
bem direto, né?"
Não é só o conteúdo radical das declarações de Bolsonaro que seduz
Bello. Perguntado sobre o que mais o agrada no capitão reformado do Exército, o
estudante não titubeia: gosta do jeito simples e sem rodeios que o político usa
para se comunicar. "Ele é bem direto, né cara? É aquela coisa, o cara
pergunta e ele manda resposta", comenta. "De vez em quando dá uma
exageradinha, ele faz umas brincadeiras que o pessoal não curte muito".
Bello se informa sobretudo pela Internet, mas não em sites dos jornais
e portais de notícias mais conhecidos. "O PT, eu acho que ele manipula
muito o pessoal com mídia", diz. "Eu leio sobre [o Bolsonaro], vejo
vídeo. [Na] Internet, esses sites e links de página no Facebook, esse
tipo de coisa". Meios de comunicação tradicionais, só mesmo na tevê. Bello
acompanhou a entrevista do seu candidato no Jornal Nacional, o telejornal
de maior audiência do país. Gostou do que assistiu: "É aquela coisa, o
Bolsonaro fala o que o povo quer ouvir".
EL
PAÍS
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