Editorial
– Gazeta do Povo
Os
fundos de pensão, depois de terem sido aparelhados pelo petismo, foram
instrumentalizados para ajudar os tradicionais “amigos do rei”
O
PT pode ter saído do governo federal, mas sua lista de escândalos segue
crescendo. Dias atrás, a Operação Greenfield, da Polícia Federal, mostrou com
que gana o partido estendeu seus tentáculos sobre os fundos de pensão de
empresas estatais, especialmente o Petros (da Petrobras), o Postalis (dos
Correios), o Previ (do Banco do Brasil) e o Funcef (da Caixa Econômica
Federal).
O
principal modus
operandi exposto pela
Greenfield foi o “superfaturamento” de Fundos de Investimento em Participações
(FIPs), usados por empresas que desejam captar dinheiro no mercado. Os fundos
de pensão pagavam por cotas de FIPs mais do que elas realmente valiam, segundo
Vallisney Oliveira, juiz da 10.ª Vara Federal de Brasília que autorizou a
operação. Entre as companhias beneficiadas estão algumas encrencadas na Lava
Jato, como OAS, Engevix e Sete Brasil, e os investigados incluem alguns dos
“campeões nacionais” que já contaram com generosas ajudas do BNDES, como os
irmãos Batista, controladores da JBS.
O PT prejudicou o presente de inúmeros aposentados e o futuro de
milhares de funcionários das estatais
Embora
nenhum político tenha sido alvo da Greenfield, Ministério Público Federal e
Polícia Federal estão certos de que o esquema tinha a participação de
“autoridades políticas” que tinham “clara ascendência sobre os diretores dos
fundos de pensão que são indicados pelas entidades patrocinadoras”, nas
palavras usadas no pedido de busca e apreensão – um dos mandados teve como alvo
a casa do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.
Em
muitos países, os fundos de pensão são uma força importante da economia –
apenas nos Estados Unidos eles detêm mais de US$ 20 trilhões. Que eles usem
esse dinheiro para investir no mercado financeiro, em empresas ou em
infraestrutura é absolutamente normal – e, em alguns casos, muito importante;
basta lembrar o papel que os fundos tiveram nas maiores e mais recentes
privatizações e leilões de concessão ocorridos no Brasil, como da Vale, da
Embraer, das empresas de telecomunicações e, mais recentemente, de aeroportos
em todo o país. Em praticamente todos esses casos houve participação pesada de
Petros, Previ e Funcef.
E,
em busca de uma melhor remuneração para quem coloca seu dinheiro nos fundos de
pensão, o gestor corre o risco, sim, de cometer erros e fazer escolhas
equivocadas – imaginar o contrário seria ter uma expectativa irreal a respeito
desses profissionais. Mas o que a Operação Greenfield mostrou foi algo muito
diferente de um investimento feito de forma honesta e que deu errado. Os fundos
de pensão, depois de terem sido aparelhados pelo petismo, foram
instrumentalizados para ajudar os tradicionais “amigos do rei”, no Brasil e no exterior,
em detrimento dos próprios pensionistas atuais e futuros. Que explicação
decente haveria para que o Postalis despejasse dinheiro em títulos da dívida
argentina e venezuelana, dois países que estavam praticamente falidos? Na
melhor das hipóteses, apenas a condenável camaradagem ideológica; na pior
delas, essa mesma camaradagem aliada a esquemas escusos, de acordo com
investigações da Polícia Federal realizadas já no fim do ano passado.
Quando
afirmamos, em editorial no último fim de semana, que “o aparelhamento da
máquina pública ainda terá consequências por muito tempo”, a Operação
Greenfield ainda não havia sido realizada. Mas já se sabia que os empregados
das estatais teriam de pagar o preço desse aparelhamento: aposentados e
funcionários dos Correios terão 17% de seus vencimentos descontados por 23 anos
para cobrir o rombo do Postalis; os da Caixa terão de ajudar com pouco menos de
3% por 17 anos; algo similar deverá ocorrer no Petros. O PT prejudicou – para
ficar em uma expressão bondosa, porque a realidade parece ser bem mais cruel –
o presente de inúmeros aposentados e o futuro de milhares de funcionários das
estatais; façanha notável para um partido que se diz “dos Trabalhadores”.
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