sábado, 8 de fevereiro de 2020

Salários do funcionalismo público

Felippe Hermes

Não é novidade alguma para você: os nossos políticos vivem num mundo encantado, cheio de regalias. Por aqui, cada parlamentar tem direito a quatorze salários por ano, além de outros benefícios suficientes para colocá-los entre os 0,5% mais ricos da população. Por ano, cada deputado custa R$ 3,6 milhões e cada senador outros R$ 8,4 milhões. É grana que não acaba mais.

Mas não fica apenas nisso. No mesmo Congresso, outros 28 mil funcionários ajudam - e muito - a preencher um orçamento que, apenas nesse ano, ultrapassará a casa dos R$ 10 bilhões - o dobro do que custa a USP e 5 vezes o que pesa a UFRJ aos cofres públicos. Não faz ideia do tamanho da brincadeira? Imagine que o Congresso Nacional gasta mais para manter a sua própria máquina funcionando do que Santa Catarina e o Rio Grande do Sul gastam juntos com saúde para 17 milhões de habitantes.

Sim, 28 mil nobres funcionários selecionados contra 17 milhões de pagadores de impostos. Parece injusto? Só piora. Pelo país inteiro, a situação se replica. E da forma mais nonsense possível. Só a Câmara Municipal de São Paulo gasta o seu dinheiro da seguinte forma:
Cada motorista recebe entre R$ 6.026,00 e R$ 12.323,00 por mês. Cada garagista, responsável por estacionar os carros, leva outros R$ 12.943,00. O lavador de carros? R$ 10.007.

E se nós sairmos da garagem e irmos para a construção civil, a coisa só piora. O pedreiro da Câmara Municial de São Paulo recebe R$ 10.286. O vidraceiro ganha R$ 9.731. O encanador outros R$ 12.669. O eletricista fatura R$ 12.793. Já o chaveiro outros R$ 12.555.

No salão de beleza à disposição dos vereadores, o barbeiro leva pra casa todo mês R$ 9.629, enquanto o engraxate embolsa R$ 9 mil, já descontados todos os impostos e contribuições.

No mesmo prédio, o ascensorista responsável pelos elevadores fatura R$ 10.195, enquanto as nove telefonistas levam, cada uma, R$ 9.923 por mês. O garçom? Outros R$ 12.007 - menos do que os profissionais do Senado Federal, que embolsam R$ 14,6 mil para fazer o mesmo trabalho. A auxiliar de copeira ainda leva outros R$ 11.533, sem qualquer necessidade de curso superior.

Já o digitador ganha R$ 10.492, contra R$ 18.893 do taquígrafo - mais ao sul, na Câmara de Porto Alegre, o mesmo cargo, de taquígrafo, chega a custar R$ 29.516, enquanto os jornalistas da Casa recebem R$ 18.885.

Mas não se espante. Se em São Paulo pode soar estranho que um engraxate ou um manobrista ganhe mais que o presidente da Câmara Municipal, saiba que em Brasília você pode ganhar mais que um Senador: basta trabalhar na gráfica do Senado, onde o salário pode chegar a R$ 33.613,83 mensais. E se você tem sonhos mais humildes, também pode arriscar trabalhar em outras áreas. Um porteiro do mesmo Senado - aliás, porteiro não: técnico de portaria - leva pra casa incríveis R$ 20.301 todo mês. Sonho de vida, não?

Dinheiro limpo, oportunidade única, direto na conta corrente, pago por aquele que é universalmente conhecido como o patrão mais estúpido que se tem notícia na história da humanidade: você, o pagador de impostos brasileiro.

Spotniks

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