Felippe Hermes
Não é
novidade alguma para você: os nossos políticos vivem num mundo encantado, cheio
de regalias. Por aqui, cada parlamentar tem direito a quatorze salários por
ano, além de outros benefícios suficientes para colocá-los entre os 0,5% mais
ricos da população. Por ano, cada deputado custa R$ 3,6 milhões e cada senador
outros R$ 8,4 milhões. É grana que não acaba mais.
Mas não
fica apenas nisso. No mesmo Congresso, outros 28 mil funcionários ajudam - e
muito - a preencher um orçamento que, apenas nesse ano, ultrapassará a casa dos
R$ 10 bilhões - o dobro do que custa a USP e 5 vezes o que pesa a UFRJ aos
cofres públicos. Não faz ideia do tamanho da brincadeira? Imagine que o
Congresso Nacional gasta mais para manter a sua própria máquina funcionando do
que Santa Catarina e o Rio Grande do Sul gastam juntos com saúde para 17
milhões de habitantes.
Sim, 28
mil nobres funcionários selecionados contra 17 milhões de pagadores de
impostos. Parece injusto? Só piora. Pelo país inteiro, a situação se replica. E
da forma mais nonsense possível. Só a Câmara Municipal de São Paulo gasta o seu
dinheiro da seguinte forma:
Cada
motorista recebe entre R$ 6.026,00 e R$ 12.323,00 por mês. Cada garagista,
responsável por estacionar os carros, leva outros R$ 12.943,00. O lavador de
carros? R$ 10.007.
E se nós
sairmos da garagem e irmos para a construção civil, a coisa só piora. O
pedreiro da Câmara Municial de São Paulo recebe R$ 10.286. O vidraceiro ganha
R$ 9.731. O encanador outros R$ 12.669. O eletricista fatura R$ 12.793. Já o chaveiro
outros R$ 12.555.
No salão
de beleza à disposição dos vereadores, o barbeiro leva pra casa todo mês R$
9.629, enquanto o engraxate embolsa R$ 9 mil, já descontados todos os impostos
e contribuições.
No mesmo
prédio, o ascensorista responsável pelos elevadores fatura R$ 10.195, enquanto
as nove telefonistas levam, cada uma, R$ 9.923 por mês. O garçom? Outros R$
12.007 - menos do que os profissionais do Senado Federal, que embolsam R$ 14,6
mil para fazer o mesmo trabalho. A auxiliar de copeira ainda leva outros R$
11.533, sem qualquer necessidade de curso superior.
Já o
digitador ganha R$ 10.492, contra R$ 18.893 do taquígrafo - mais ao sul, na
Câmara de Porto Alegre, o mesmo cargo, de taquígrafo, chega a custar R$ 29.516,
enquanto os jornalistas da Casa recebem R$ 18.885.
Mas não
se espante. Se em São Paulo pode soar estranho que um engraxate ou um
manobrista ganhe mais que o presidente da Câmara Municipal, saiba que em
Brasília você pode ganhar mais que um Senador: basta trabalhar na gráfica do
Senado, onde o salário pode chegar a R$ 33.613,83 mensais. E se você tem sonhos
mais humildes, também pode arriscar trabalhar em outras áreas. Um porteiro do
mesmo Senado - aliás, porteiro não: técnico de portaria - leva pra casa
incríveis R$ 20.301 todo mês. Sonho de vida, não?
Dinheiro
limpo, oportunidade única, direto na conta corrente, pago por aquele que é
universalmente conhecido como o patrão mais estúpido que se tem notícia na
história da humanidade: você, o pagador de impostos brasileiro.
Spotniks
Nenhum comentário:
Postar um comentário