Redação
O
governo britânico admite abandonar as negociações com a União Europeia (UE)
para um acordo pós-Brexit se não houver progressos até junho, diz um documento
publicado hoje (27) com a posição do Reino Unido.
O
documento de 40 páginas estabelece a posição inicial do Reino Unido para as
negociações de um acordo comercial com a UE, que começam na próxima semana,
afirma o empenho em “trabalhar de maneira rápida e determinada” até junho,
quando está marcada uma cúpula de alto nível para avaliar os progressos.
“O
governo espera que, até lá, o esboço geral de um acordo esteja claro e possa
ser finalizado rapidamente em setembro. Se esse não for o caso na reunião de
junho, o governo vai ter de decidir se a atenção do Reino Unido deve se afastar
das negociações e se concentrar apenas em continuar os preparativos internos
para sair do período de transição de maneira ordenada”, diz o documento.
O
governo britânico identifica como principal ponto de discórdia a exigência da
UE de respeito pelas regras e leis europeias pós-Brexit, propondo como
alternativa um “relacionamento baseado na cooperação amigável entre iguais
soberanos, com ambas as partes respeitando a autonomia legal e o direito de
gerir os seus próprios recursos como entenderem”.
“Aconteça
o que acontecer, o governo não negociará qualquer acordo em que o Reino Unido
não tenha controle de suas próprias leis e vida política. Isso significa que
não concordaremos com nenhuma obrigação para que as nossas leis sejam alinhadas
com as da UE ou que as instituições da UE, incluindo o Tribunal [Europeu] de
Justiça, tenham jurisdição no Reino Unido”, diz o texto.
Na
Declaração Política que acompanhava o Acordo de Saída da UE estava escrito que,
“dada a proximidade geográfica e a interdependência econômica da União Europeia
e do Reino Unido, o relacionamento futuro deve garantir uma concorrência aberta
e justa, englobando compromissos sólidos para garantir condições equitativas”.
Porém, o
conteúdo do documento não era vinculativo, e o governo britânico argumenta que
o programa eleitoral com que foi eleito com maioria absoluta em dezembro
determinava a intenção de “retomar o controle das fronteiras, leis e dinheiro”.
Declaração no parlamento
Em uma
declaração hoje no parlamento, o ministro e Chanceler do Ducado de Lancaster,
Michael Gove, argumentou que o princípio da proximidade geográfica não foi um
critério usado em acordos de comércio em outras regiões, pelo que não deve ser
considerada uma razão para o Reino Unido ter de aceitar as regras europeias que
“ponha em causa da democracia”.
O
primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, já tinha informado de sua
preferência por um acordo de comércio livre semelhante ao que a UE tem com o
Canadá, que permite eliminar as tarifas aduaneiras sobre a maior parte dos
produtos.
Dá
também ao Reino Unido liberdade para negociar acordos com outros países e
estabelecer as próprias regras e leis, embora Johnson tenha rejeitado a
intenção de avançar com uma desregulamentação que resulte em dumping, seja
comercial, social ou ambiental”.
Porém,
este modelo de acordo não elimina completamente barreiras regulatórias nem
garante um acesso total ao mercado único incluindo a área de serviços, que
representa uma parte importante da economia britânica.
No
início do mês, o primeiro-ministro disse no parlamento que o “progresso rápido”
das discussões sobre serviços financeiros, que representam 7% da economia
britânica, e sobre a proteção de dados seriam um teste sobre a natureza
construtiva do processo de negociação.
Na
Declaração Política estava um compromisso para concluir um entendimento sobre
este setor até junho e sobre os dados até ao final do ano, mas estas datas
foram omitidas da posição de Bruxelas publicada na terça-feira.
Esta
semana, Barnier manifestou “preocupações” em relação às recentes posições
britânicas sobre a futura parceria entre Bruxelas e o Reino Unido, temendo um
“distanciamento” dos compromissos assumidos por Londres.
Em jogo
estavam só não só as declarações de Boris Johnson e outros ministros, mas
também notícias na imprensa britânica de que o governo não pretende construir
infraestruturas para realizar os controles aduaneiros sobre as mercadorias que
circulam entre a Irlanda do Norte e o resto do Reino Unido previstos no acordo
de saída.
Parceria ambiciosa
O
Conselho de Assuntos Gerais da União Europeia, que reuniu os 27 estados-membros
na terça-feira (25), deu “luz verde” formal à Comissão Europeia para iniciar as
negociações com Londres visando uma “parceria ambiciosa, abrangente e
equilibrada” com o Reino Unido, em “benefício de ambos os blocos”.
No
mandato dado à equipa negociadora chefiada por Michel Barnier, o Conselho
Europeu indica que “a futura parceria deve ser embasada por compromissos
sólidos para garantir condições equitativas de concorrência aberta e justa,
dada a proximidade geográfica e a interdependência econômica da UE e do Reino
Unido”, sublinha a estrutura.
Por
isso, nestas conversações, “a UE pretende estabelecer um acordo de livre
comércio com o Reino Unido que garanta a aplicação de tarifas e quotas zero ao
comércio de mercadorias”, bem como a “cooperação em aspectos aduaneiros e
regulatórios”.
Relativamente
ao setor de pesca, o bloco comunitário vai defender a “manutenção de um acesso
recíproco às águas e quotas estáveis” e que este acordo seja definido até 1° de
julho, forma a “determinar as possibilidades de pesca após o fim do período de
transição”.
A UE
vai, ainda, debater “disposições para cooperação futura em áreas como comércio
digital, propriedade intelectual, compras públicas, mobilidade, transportes e
energia”, bem como por uma futura colaboração “judicial em questões criminais e
de política externa, segurança e defesa”, conclui o Conselho da UE.
As duas
equipas de negociadores lançam, na próxima segunda-feira (2/3) em Bruxelas, a
primeira rodada de negociações, que irá prolongar-se até quinta-feira (5),
devendo a segunda rodada ter lugar ainda em março, em Londres.
As
rodadas de negociação serão realizadas alternadamente em Bruxelas e em
Londres.(ABr)
Diário do Poder
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