Percival Puggina
Foi ótima a ideia de usar o modo digital para
fornecer a Carteira Estudantil, não é mesmo? Estimou o governo que isso
proporcionaria uma redução de custos da ordem de R$ 1 bilhão por ano e
representaria para a UNE uma perda de receita em igual montante. A carteira
fornecida pela entidade aos estudantes custa R$ 35 mais frete. Se digital, o
fornecimento seria gratuito.
Arrepiaram-se alguns cabelos quando a respectiva
Medida Provisória (MPV) dispondo sobre o assunto, com amplo apoio entre os
cidadãos interessados em questões nacionais, deu entrada no Congresso. Lá
ganhou número (MPV Nº 895), aclamação das redes sociais e inimigos poderosos. O
presidente Rodrigo Maia e o deputado Orlando Silva do PCdoB se entendem muito
bem. A UNE já era comandada por partidos ou organizações comunistas quando eu,
no início dos anos 60, participava da política secundarista. Coerente com sua
história, escolheu Fidel Castro para patrono em 1999!
Seria necessário um milagre – tipo o Sol se pôr
a Leste – conseguir que em apenas três dias se constituísse a Comissão Especial
e fosse a MPV levada ao Plenário antes do dia 16 de fevereiro, dia em que
perderá a validade. Temos sido agraciados com incontáveis exemplos de que essas
coisas só andam assim, em “ritmo alucinante”, quando favorecem os maus
parlamentares.
Em longa entrevista ao UOL, publicada na última
quinta-feira (06/02), o líder do Centrão, deputado Arthur Lira, foi perguntado
sobre as possibilidades de algum projeto ser aprovado sem apoio do Centrão.
Resposta do parlamentar:
“É difícil. Você tem alguns partidos que compõe
a esquerda, PT, PSB, PDT, PC do B, PV, Psol, Rede. Tem uma parte do PSL votando
com o governo e tem os partidos de centro, 280, 300 deputados dependendo da
votação. E esses partidos, há de ser reconhecido, deram muita estabilidade para
o presidente da Casa.”
E seguiu o entrevistado confirmando algo que
tantas vezes denunciei ao longo do ano de 2019 sobre o papel que o bloco
desempenha na política brasileira desde a Constituinte:
“O Centrão teve um papel de muita importância.
Quando há um projeto que não tem apoio do centro ele sequer é pautado.”
Nada mais precisa ser dito. Está contada a
história da MPV Nº 895. Arthur Lira e Rodrigo Maia se entendem em nome de
interesses superiores...
Fica bem exposto diante de nossos óculos, limpos
e atualizados, o nó da correia das instituições nacionais: a menos que haja
maioria comprada e bem paga nos cambalachos do “é dando que se recebe”, o
parlamento faz o jogo dos parlamentares. E nossa grande imprensa, que antes denunciava
tais operações como o que de fato eram – aplicações cínicas da linda oração
atribuída a São Francisco – fechou o livro de preces e cerrou os olhos. Talvez
durma.
Imagine, leitor, uma situação inversa. Suponha
que a UNE fosse historicamente dominada por um partido político formado por
conservadores, ou por liberais. Qual seria a atitude de um governo de esquerda?
Preservaria sua descomunal fonte de financiamento?
Infelizmente, há no próprio corpo social
brasileiro quem entre em fila para fazer papel de bobo.
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