José Roberto Guzzo
“Previsões sobre o que vai acontecer amanhã sempre ficam
melhores quando são feitas depois de amanhã. O que temos na vida real é o hoje,
só isso — e o grande problema é chegar a alguma conclusão coerente sobre o que
está realmente acontecendo hoje. Há uma sugestão honesta para resolver isso;
infelizmente, ela dá trabalho, exige esforço mental e não pode ser encontrada
no Google. Como não há o mais remoto acordo sobre o dia de hoje — as coisas
estão melhores que ontem, ou nunca estiveram tão horríveis? —, a única
ferramenta disponível para ter alguma ideia decente das coisas é pensar. E
pensar, como se sabe, é uma das atividades humanas mais odiadas neste país,
sobretudo por aqueles que imaginam saber o que estão falando.”
“No caso, pensar significa olhar com um pouco mais de
atenção para onde o Brasil está indo. No fundo, é isso o que importa. O país
vai estar melhor daqui a três anos? Depende das decisões que estão sendo
tomadas agora. Se você está construindo a cada dia 1 quilômetro de estrada, por
exemplo, daqui a 100 dias terá 100 quilômetros de estrada construídos. Não pode
ser de outro jeito. Há uma única coisa que importa nisso: se aquele 1
quilômetro por dia está sendo construído mesmo. Se estiver, a realidade do país
estará sendo mudada para melhor. Se não estiver, a realidade continuará a
mesma. O resto é conversa inútil de sociólogo-politólogo-intelectuólogo. E
então: para onde estamos indo, com base nos fatos que se podem verificar hoje?”
“É certo, para começar, que há oito meses não se rouba
por atacado no governo federal, coisa que jamais ocorreu, na memória de
qualquer brasileiro vivo. Não há a mais remota denúncia de nada de errado por
aí, apesar da vontade imensa dos adversários do governo de denunciar tudo. Pode
haver daqui a meia hora — mas por enquanto não houve. É bobagem ignorar isso,
ou achar que não faz diferença — é claro que faz uma tremenda diferença. Também
não há dúvida sobre uma realidade raramente mencionada: o ministro da Economia
é Paulo Guedes, e Paulo Guedes é o primeiro capitalista de verdade a chefiar a
economia brasileira desde Roberto Campos, há mais de cinquenta anos. Guedes é
artigo genuíno: não tem compromisso nenhum com a “economia de Estado” e a sua
burocracia estúpida, sabe que não pode haver progresso duradouro no Brasil sem
o máximo de liberdade econômica e está convencido de que a única função útil de
um governo neste mundo é tornar mais cômoda a vida das pessoas.
É igualmente óbvio que isso vai mudar o país nos próximos
três anos.”
“É um fato que haverá uma reforma tributária — e,
qualquer que ela seja, as coisas não vão ficar como estão, nem a situação atual
dos impostos no Brasil vai piorar, pois isso é praticamente uma impossibilidade
científica. Não há nenhum motivo concreto para alguém acreditar que o Brasil passará
os próximos anos sem fazer privatizações, como passou os treze anos da era
Lula-Dilma. Também é uma realidade concreta que não falta capital para ser
investido no processo brasileiro de privatização já em andamento: estima-se que
existam no exterior, neste momento, entre 15 trilhões e 17 trilhões de dólares
aplicados a juros negativos. É possível que nenhum centavo venha para cá?
Possível é — mas aí seria preciso demonstrar qual a lógica de uma coisa dessas.
Também não há falta do que privatizar. O governo brasileiro é o maior
proprietário de imóveis do mundo; boa parte do que tem pode ir para o mercado.
O Brasil tem 72 000 torres de telefonia; a China tem 1 milhão. A razão sugere
que há alguma coisa a fazer nessa área — ou em saneamento, já que 100 milhões
de brasileiros não dispõem hoje de esgotos, por falta de investimento.”
“A Petrobras tem 12 000 funcionários a menos do que no
fim do governo Dilma; mais 10 000 serão dispensados no futuro próximo, e a
empresa estará enfim preparada para a privatização — depois de já ter vendido,
sem barulho algum, sua distribuidora BR e suas operações de gás, e posto à
venda oito de suas refinarias. Um dos resultados disso, pela lógica, será a
redução geral dos custos da energia no país. Por causa do monopólio estatal, o
preço do metro cúbico de gás no Brasil é de 12 dólares, em comparação com 7,70
na Europa e 2,80 nos Estados Unidos. Sem Petrobras, sem monopólio e com
concorrência, por que essa aberração iria continuar? Houve uma queda superior a
20% no número de homicídios neste primeiro semestre, segundo o site G1. A
inflação está perto de zero. Os juros são os mais baixos dos últimos trinta
anos. A construção cresce.”
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