Fernão Lara Mesquita
O que
muda de saída é que o objetivo da ação do Estado deixa de ser manter o PT
sozinho na arena política do presente e do futuro do Brasil ao qual tudo o mais
esteve subordinado nos ultimos 13 anos. Mudanças de rumo no interesse da nação
voltam a ser possíveis; o projeto de uma democracia brasileira retoma o seu
lugar no horizonte da nação.
Desse
ponto em diante massas imensas de entulho precisam ser removidas para que a
marcha possa prosseguir. Nu como esteja, o Brasil do “quéromeu” (o com e o sem
discurso “ideológico”) está longe de se render. Michel Temer sabe onde mora o
perigo e tem feito concessões a cada passo para que não lhe cassem antes da
primeira dose a licença para ministrar remédios à economia que estrebucha nas
suas mãos.
O que
põe dentes na acintosa desfaçatez dessa máfia é a figura do “direito adquirido”
na formulação pervertida de exceção ao direito geral que nas democracias só
vale se valer para todos que tem no Brasil. Ela torna a injustiça exigível nos
tribunais, perpétuos os privilégios e, ao autorizar o Estado a outorgá-los à
vontade, galopante a corrupção. Mais que o custo, é a subversão
institucionalizada que esse instrumento instala que nos mata.
Os
miseráveis do Brasil, que pagam Imposto de Renda a partir de pouco mais de dois
salários mínimos, sustentam todos os “auxílios”, gratificações, adicionais,
abonos, recessos e “vales”-tudo e mais alguma coisa livres de impostos mas
incorporados às aposentadorias precocíssimas das “excelências” e demais
empregados do Estado que, descontados todos esses extras, já paga salários duas
vezes maiores que os do Brasil real. A medida do quanto valem esses
penduricalhos todos é dada pelas aposentadorias do setor público 33 vezes
maiores, em média, que as dos “manés”. Bancam também os partidos sem eleitores
(35 na ativa, mais 29 no forno), os sindicatos sem trabalhadores em que eles se
inspiraram (115 mil mais 280 novos por ano), os “advogados” (trabalhistas) que
não advogam (exploram um sistema institucionalizado de achaque), os
empreendedores sem risco (R$ 323 bi ou 13 anos de Bolsa Família por enquanto),
os “movimentos sociais” sem cidadãos, as ONG’s sem voluntários (o PT fez
convênios com mais de 100 mil), os artistas sem público e toda a vasta multidão
que chora menos porque grita mais…
Os tais
funcionários “comissionados” enfiados na máquina publica e nas 140 estatais
expressamente para mamar, não são só os 23 mil da União. Nos estados ha mais
115 mil. Nos municípios, meio milhão. 15.500 são criaturas recentes do
Congresso; mais de 12 mil da Câmara dos Deputados onde são quatro vezes mais
numerosos que os concursados. É deles o grosso dos “direitos adquiridos” mais
aberrantes da teratológica coleção brasileira. São os tais garçons, motoristas,
acensoristas e amigos diletos e parentes “assessores” que ganham mais, muito
mais, que médicos e professores com mestrado e doutorado concursados e
efetivamente a serviço da população.
Nesse
mundinho particular, só uma coisa é sagrada: entrou não sai mais. Ponha-se o
câncer das favelas na fila de espera e os documentos históricos da Biblioteca
Nacional sob a chuva e tudo bem. “Normal”. Até idade mínima para aposentadoria
admite-se discutir de tão evidentemente razoável que é, sobretudo nesta hora de
tanta pobreza sendo transformada em miséria.
Mas ouse
tocar nos “direitos adquiridos” mais graficamente obscenos e injustificáveis e
as trombetas de Jericó atroarão os ares do Oiapoque ao Chuí, da Côte d’Azur ao
Baixo Leblon.
Ao fim
de um longo e tenebroso inverno temos um presidente da Republica permeável à
realidade e capaz de conversar e um “dream team” de profissionais do mundo real
nos postos-chave da Fazenda pública. Só que cotinua sendo contra a lei
consertar a economia do Brasil e inconstitucional manter a equação fiscal no
equilíbiro necessário para garantir o valor do resultado do trabalho dos
brasileiros que vivem do que produzem.
Como
obrigar congressistas fisiológicos articulados por um governo de transição que
nasce pendurado no ar num país onde todo mundo – a começar pelo todo poderoso
Judiciário que desfruta da maior de todas – tem pelo menos uma tetinha para
chamar de sua e acha isso muito justo é o desafio que se apresenta.
Parece
impossível mas não é. A necessidade é a maior força da natureza. Os números que
decretam o fim desse sistema medieval de opressão falam por si. Se exibidos
pelo governo com um mínimo de competência didática mudam completamente o jogo
de forças. O Brasil que mama está morto e não sabe. Mas logo vai ficar claro
que só sobreviverá quem sair da frente para passar a ajudar a empurrar. Vem dor
demais por aí para que isto pare numa simples manobra de ressuscitação.
A
imprensa é o fator decisivo para uma “virada” mais ampla. Se assumir a cruzada
que ha tanto tempo deve aos miseráveis do Brasil para esmiuçar cada parcela
dessa conta sob a baliza da igualdade perante a lei liberta já o país. Modo de
vida contra modo de vida, numero por numero, o escândalo desses privilégios
posto ao lado da miséria que eles custam fará o milagre.
Como na
Campanha Abolicionista que nos livrou daquela outra escravidão, vem das ruas, e
não dos palácios, o “basta” que, desde 2013, empurra o Brasil para fora da
Idade Média. Quem pôde o mais pode o menos. Lancetado o tumor da privilegiatura
“adquirida” o caminho para tomarmos definitivamente o direito à ultima palavra
sobre as decisões que afetam nossas vidas das mãos dessas mafiazinhas
subornáveis estará aberto.
Parlamentarismo?
Nova eleição? Chega de “mudar para que tudo fique igual”. As ferramentas
consagradas do voto distrital, do recall, e do referendo que tornam os
políticos totalmente dependentes de seus eleitores como devem ser estão aí para
quem tiver a coragem de exigi-las. Com elas nas mãos, o resto das reformas a
gente mesmo vai fazendo, na velocidade e na medida que a necessidade
encomendar.
VESPEIRO
Nenhum comentário:
Postar um comentário