sexta-feira, 13 de maio de 2016

Nunca tivemos democracia

Martim Berto Fuchs

Roma começou sem dono, surgiram os clãs, passaram a reis, mono-arquia, os ricos insatisfeitos a derrubaram, criaram o Senado, casa da “república”, com a qual se mantiveram mandando no país.

Em todo esse período, o tal de povo nem foi lembrado. Se alguém do povo se sobressai, ele entra para a elite e deixa de ser povo, pois passa à defender o andar de cima, em detrimento do de baixo.

No Brasil, com sua monarquia republicana ou república monárquica, estamos tendo agora mais uma demonstração de que o povo só entra nesta história, de 4 em 4 anos, quando é chamado à referendar alguns dos ungidos pelos donos do poder.

Se estivéssemos sob o guarda chuva da democracia, não poderia existir o Senado, e um processo de impeachment tinha que começar e terminar na Câmara de Deputados. Vejam que mais de 2/3 dos representantes do povo demitiram a atual Presidente, e isto de nada valeu.

Agora os representantes do status quo reinante, Senado, estão resolvendo, em duas etapas, sendo que uma já foi, se o povo representado pela Câmara será atendido ou não. Se entre eles chegarem à conclusão de que poderão sair de alguma forma prejudicados, voltam a colocar a Rainha da Mandioca em seu trono. E o país ? Que se expluda.

Como miséria pouca é bobagem, o andar de cima ainda detém um último trunfo, que chamam de Judiciário, que melhor seria fosse chamado de judasciário, e onde foram reunidos os 11 “juízes” indicados pelos réus para “julgá-los”. É a tal da “justiça” sem venda nos olhos. Olham bem, analisam bem, e só depois, dependendo de como vai a briga entre os “graúdos”, é que tomam partido, e ...“julgam” ?!?!?!

Nesta democracia exercida no Brasil e também na maior parte dos países ditos democráticos do ocidente – tudo começou na Itália passando pela França -, o povo é ludibriado astutamente por aqueles que chegam ao poder em seu nome.

Também podemos tomar como exemplo o golpe na monarquia russa em 1915, que teve seu desfecho em 1917. Para todos efeitos, foi o povo que se revoltou e derrubou o grupo no poder. Na prática, o que se viu foi o domínio de um novo grupo, onde o povo foi sistematicamente assassinado quando não concordava com as novas regras, regras firmadas sem sua participação e por conseguinte, concordância.

Esta nova modalidade de “democracia” (poder do povo), levou o nome de comunismo. No entanto, findo o comunismo, o mesmo grupo, agora já com a participação dos burgueses de alto coturno, permaneceu no poder, apenas passando a vestir camisa azul em vez de vermelha.

Em todas essas “mudanças”, um grupo jamais esteve de fora: os acumuladores de capital, que vivem de jogar um grupo contra o outro, financiando os dois lados e sendo festejado e paparicado pelo lado vencedor. Desnecessário dizer que são os maiores interessados em que as mudanças devem ser feitas para nada mudar.

Ao defender a intervenção militar nesta nossa “democracia”, não o faço para apenas reacomodar os grupos em disputa. Se fosse para isso, deixe que briguem entre si, pois de toda forma, para a grande maioria das empresas privadas nacionais e seus milhões de trabalhadores, esta mexida no poder, como está sendo feito agora, pouco significa.
Que a situação econômica vai se equilibrar, às nossas custas como sempre, não tenho dúvidas, pois piorar o estrago causado pelos sindicalistas pelegos é humanamente impossível. Mas o que deveria estar sendo levado em conta, é que será novamente uma melhora temporária, como foram todas anteriores.

Temos um sistema político que perpetua a separação entre Estado e sociedade. Observem que lá em Brasília ninguém está preocupado com a situação do país. Os políticos estão cuidando apenas dos seus interesses imediatos. Se esse negócio, que não deveria ser mas é um negócio, de impeachment perdurar por mais 180 dias, eles estarão lá fazendo seus “belos” e inflamados discursos. Uns, raivosos por perder as sinecuras. Outros, eufóricos por desalojar os adversários. Nós, a grande maioria, torcendo para que as coisas pelo menos melhorem.

Mudanças mesmo, para melhor e de forma consistente, só se mudarmos o conceito que temos de democracia. Este de hoje apenas nos dá a liberdade de sofrermos e sustentarmos nossos algozes, além de nos obrigar a aceitá-lo de modo bovinamente obediente.  

O grupo de políticos e sua grande família (cabos eleitorais, parentes, amantes e amigos) expulsos do paraíso, passarão os próximos 180 dias vociferando cobras e lagartos contra o grupo que os desalojou. Mas apenas isto. Vão atrapalhar mais ainda, mais do que já fizeram até agora, aguardando quem sabe uma virada de mesa por parte de seus colegas e amigos do STF e com isso retornar às benesses do poder.

Essas amebas ideológicas que perderam a chave do cofre não estão nem um pouco preocupadas com o restante do país, apenas com seus privilégios, momentaneamente perdidos.

Capitalismo Social é uma proposta que coloca o povo no poder, democraticamente, com ampla liberdade, e sem estar subjugado a grupos de pressão, a grupos ideológicos ou dogmáticos.

Nossos atuais políticos nem discutirão uma proposta dessas, salvo que se nomeie de forma coercitiva mas momentânea, com prazo pré-fixado, um grupo de pessoas qualificadas e aceitas pela sociedade para implementá-las. A própria sociedade já definiu que o único grupo que tem sua confiança são as FFAA.

Militares das três armas hoje na reserva, amadurecidos no convívio com nossas mazelas, podem implementar uma proposta realmente democrática alicerçada no povo, com a vantagem de ter o respaldo dos seus colegas da ativa. Estes garantiriam a transição e a implantação da verdadeira democracia.

Ou, vamos parar de falar em democracia, que não se pratica, e quem sabe passar a se referir a plutocracia, que está mais perto da nossa realidade. Até os pobres do sindicalismo pelego que foram os últimos a se beneficiar das benesses da Corte, já deixaram de ser pobres. Treze anos se locupletando impunemente enriquece qualquer um.

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