Dyelle
Menezes
A
promessa de um ministério de notáveis chefiado pelo agora presidente em
exercício, Michel Temer, ficou pelo caminho. O novo ministério está repleto do
chamado “toma lá, dá cá” da política brasileira, com autoridades que apoiaram o
impeachment de Dilma Rousseff. Para o cientista político, Roberto Romano, só a
democratização de partidos poderá começar a mudar esse cenário.
“É
preciso impedir comandos de mais de dois anos em partidos, além de eleições
primárias que sejam respeitadas. Vários organismos internacionais fiscalizam
essas regras mundo a fora, mas não temos tais mecanismo para que as legendas
obedeçam efetivamente aos ideais dos filiados e não de seus principais
comandantes”, afirma.
De
acordo com Romano apenas ao modificar essa lógica será possível acabar com a
política nefasta de alianças que acontecem entre o Executivo e o Legislativo,
baseada na liberação de recursos e na alocação de cargos.
“Muitas
vezes essas alianças não vão de encontro ao interesse dos membros dos partidos,
mas puramente de seus dirigentes, o que se torna uma incentivo para a
corrupção, pela qual o PT mesmo está pagando agora”, afirma.
Da lista
de ministros anunciadas por Temer nesta quinta, nove são deputados: Mendonça
Filho (DEM-PE), Ricardo Barros (PP-PR), Ronaldo Nogueira (PTB-RS), Osmar Terra
(PMDB-RS), Sarney Filho (PV-MA), Bruno de Araújo (PSDB-PE), Maurício Quintella
(PR-AL), Raul Jungmann (PPS-PE) e Leonardo Picciani (PMDB-RJ).
A
nomeação desses parlamentares para o primeiro escalão do governo faz parte da
estratégia do presidente em exercício de obter apoio na Câmara, a fim de
assegurar os votos necessários para aprovar reformas consideradas prioritárias
diante do cenário de crise econômica.
Esses
deputados comandarão pastas como Educação, Esporte, Defesa, Cidades, Meio
Ambiente e Desenvolvimento Social e Agrário. Desde que o impeachment de Dilma
andou na Câmara dos Deputados, Temer dedicou sua agenda a uma série de reuniões
diárias com dirigentes partidários, aliados políticos e conselheiros.
O
professor da Unicamp disse que esperava um ministério de políticos competentes
em cada área, nomes com notabilidade, mas os indicados, em diversos sentidos cheiram
“retrocesso”. Ele lembra de nomes como Gilberto Kassab no Ministério de Ciência
e Tecnologia e da falta de mulheres e negros nos novos ministros. “Vejo isso
com muita tristeza e melancolia. Temer poderia aproveitar essa situação para
montar um ministério capaz de encontrar novos rumos”, explica.
No
entanto, o cientista político destacou positivamente dois nomes indicados que
são o de Henrique Meirelles para a Fazenda e do senador José Serra (PSDB-SP)
para o Itamaraty. “Essa é uma boa dobradinha. Meirelles tem um perfil técnico e
confiável e Serra tem experiência no Executivo”, ressalta. Romano se mostra
otimista. “O que aprendi ao longo desses anos é que as pessoas erram, mas podem
mudar o rumo e acertar. Embora, não veja Temer como um grande político, sabemos
que ele tem capacidade analítica”, explica.
Para
ele, o problema são as condições que levaram Temer ao cargo de presidente do
país. Romano destaca que o comércio de apoio por cargos é profundamente comum
no Brasil, mas sempre se paga o preço pelo é dando que se recebe. “A ética, boa
ou má, é um conjunto de valores e contra valores que uma vez adquiridos se
tornam automáticos. Esse automatismo é péssimo na política brasileira, pois
abre campo para a corrupção institucionalizada. Em outros países a barganha de
cargos seria vista como corrupção, mas aqui é normal.
A
prática levou a tolerar e incentivar aqueles que fazem esse tipo de política.
Os resultados, no entanto, estão aí”, conclui. Temer na presidência Temer
assumiu interinamente a Presidência na manhã desta quinta, após o Senado
aprovar, por 55 votos a favor e 22 contra, a instauração de seu processo de
impeachment. Logo depois de Dilma ser intimada sobre o afastamento, o
vice-presidente foi notificado da decisão dos senadores.
O
presidente em exercício disse no discurso de posse que muitas, das “bases do
futuro” para o país já são propostas em tramitação no Congresso Nacional, e que
“reformas fundamentais” serão fruto de desdobramento “ao longo do tempo”. “Uma
delas é a revisão do pacto federativo. Estados e municípios precisam ganhar
autonomia verdadeira, sob a égide de uma federação real, e não uma federação
artificial como vemos atualmente”, observou.
Segundo
Temer, matérias consideradas “controvertidas”, como as reformas trabalhista e
previdenciária, serão levadas adiante com o objetivo de “pagamento das
aposentadorias e geração de emprego”, com garantia de “sustentabilidade. Ele
destacou que quer uma base parlamentar sólida, que permita conversar.
O
presidente em exercício também disse em seu discurso de posse que, atualmente,
há urgência em “pacificar a nação” e “unificar o Brasil”.
Contas Abertas
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