Stephen Kanitz
Uma das tragédias do ensino brasileiro é
que ele é totalmente voltado para a análise de “soluções”.
E não voltado para a análise criteriosa do problema.
O problema é sempre dado, 2+2= ?
A solução também.
Basta ler a solução de Adam Smith, Maynard Keynes, Von
Mises ou Karl
Marx.
Acontece que as soluções deles não nos servem mais, as
variáveis hoje são outras, e em muito maior número.
Essa lição foi incutida quase diariamente a nós alunos na
Business School de Harvard.
“Qual é o problema” era a primeira questão a descobrir num
estudo de caso.
E o primeiro problema que você encontrou é realmente o
verdadeiro problema?
Ou só um sintoma, uma greve por exemplo.
Ou a consequência de um outro problema mais profundo?
A regra de bolso que nos ensinavam era “use 80% do seu
tempo descobrindo o verdadeiro problema, 20% para achar a solução”.
Achada a solução, jogue fora e comece de novo.
Tendo sido formado pela USP, isso soava heresia.
Acostumados que éramos a gastar 5% entendendo o problema
previamente anunciado pelo professor, e devotando 95% para a sua solução.
Dezenas das vezes na minha vida a solução era óbvia uma
vez encontrado o verdadeiro problema, que Adam Smith, que Marx, que nada!
A Reforma da Previdência e a futura Reforma Tributária
seguem nessa mesma linha da USP.
Dois professores de economia já apresentaram suas
“soluções” num anteprojeto, e todos estão discutindo-as e endeusando esses
amadores sem analisar os problemas.
Resumindo o que aprendi em Harvard, vamos lá.
1. Devote mais do que 50% do seu tempo determinando o
real problema por trás daquilo que você acha ser o seu “problema”.
2. Na maioria das vezes, a solução aparece de imediato,
de fácil implantação. Difícil é implantar uma solução errada, porque ela nada
resolve.
3. Faça uma lista de todas as variáveis que fazem parte
do problema. Como idade mínima, expectativa de vida ao se aposentar, taxa de
juros reais nos próximos 30 anos, como se manter empregado após
os 55 anos de idade, no caso da Reforma da Previdência.
4. Faça uma lista de todos os personagens do problema,
como os aposentados, os próximos a se aposentarem, os jovens que não estão nem
aí com esse problema, os fiscais do INSS, os Ministros da Economia que se
apropriam do que não deviam, os Deputados que votarão contra os seus
interesses, etc.
Temo que essa Reforma Tributária será um fiasco e um
enorme retrocesso se for aprovada, porque nada disso está sendo feito.
O Rodrigo Maia sequer convocou uma CPI da Reforma para
ouvir os “personagens” desse problema, contadores, fiscais, lojistas,
tributaristas, societários, entregadores, empresas de lucro
presumido.
São mais de 120 personagens, todos serão contra algum
item, por isso jamais se deveria fazer uma “Reforma Abrangente” como propõe
Brasil 200, Appy e Cintra.
Eu participei da Crise da Dívida Externa Brasileira e vi
mais de 70 economistasproporem
soluções sem entenderem o problema.
A maioria nem sabia que o juro
real da Dívida era negativo na época, e que isso nos beneficiava.
Era o juro
nominal, que não é juro, que achavam ser o verdadeiro problema.
Pior, a maioria achava que os bancos eram o personagem
principal, que chamavam de credores.
Esqueceram que os verdadeiros credores eram os
depositantes, os Fundos de Pensão e os bancos eram meros intermediários.
Fui eu que montei uma equipe para conversar com Fundos de
Pensão Americanos, oferecendo o que se tornou o TIPS, um juro real.
Tudo foi água abaixo porque 120 economistas de Esquerda brasileiros
assinaram a proposta de uma Moratória da Dívida.
Que foi aceita pelo Ministro João Sayad, economista da
USP, e nos causou duas décadas perdidas.
Estudem ARN antes de opinarem sobre a Reforma Tributária.
Listem as inúmeras variáveis que ninguém está pensando,
como aumentar os prazos de pagamento dos impostos, quantos dias as empresas dão
crédito, quanto de capital de giro nossos impostos consomem.
blog do kanitz
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