Cecilia
Barría
As bolhas
financeiras se formam quando há um aumento muito rápido e elevado dos preços de
um produto - e "estouram" quando as pessoas menos esperam.
"As bolhas surgem especialmente em períodos de inovação. Podem
ser inovações tecnológicas, como as ferrovias ou a internet, ou
financeiras", diz Markus K. Brunnermeier, professor de economia da
Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e coautor do livro Bubbles
and Central Banks: Historical Perspectives(Bolhas e Bancos Centrais:
Perspectivas Históricas, em tradução livre).
De acordo com o especialista, a "explosão" é mais perigosa
quando as bolhas são financiadas com crédito - foi o caso da compra de ações na
década de 1920, que resultou na quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em
1929.
E, assim como outros especialistas, Brunnermeier acredita que estamos
diante de uma nova bolha: os investimentos em criptomoedas, como o bitcoin, que
têm chamado a atenção do mundo pela hipervalorização.
Segundo Ann Pettifor, diretora do Centro de Investigação de Políticas
Macroeconômicas (Prime, na sigla em inglês), as grandes bolhas - como a bolha
da internet, no início dos anos 2000 - se formam por causa do chamado
"ciclo dos negócios": a atividade econômica e os preços não podem
crescer exponencialmente para sempre.
"As bolhas ocorrem quando a regulamentação financeira e as
instituições estão deliberadamente debilitadas e permitem que a ilusão crie
raízes", explica Pettifor à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC.
Mas será
que aprendemos a lição?
"Não", diz Pettifor. "Estamos cercados de bolhas,
principalmente porque os governos têm desequilibrado as políticas econômicas e
intensificado medidas monetárias radicais, como a austeridade fiscal",
completa.
De acordo com a economista, os bancos centrais (de países
desenvolvidos) facilitam o acesso das pessoas ao crédito, fazendo com que elas
tenham dinheiro extra para investir em ativos que causam todos os tipos bolhas.
"É por isso que temos bolhas imobiliárias, no mercado de arte, de
ações, em clubes de futebol e no mercado de automóveis, além das
criptomoedas", diz.
Conheça algumas das maiores bolhas financeiras da história - ou pelo
menos daquelas que se tem registro:
1.
'Tulipomania'
A "tulipomania", ou "bolha das tulipas", é
considerada a primeira grande bolha especulativa da história mundial.
No século 17, houve uma euforia coletiva por tulipas exóticas na
Holanda. O preço alcançou níveis tão exorbitantes que algumas pessoas chegaram
a vender suas casas para comprar a planta.
Mas a escalada de preços chegou ao fim quando, em um determinado
momento do ano de 1637, nenhum investidor quis mais comprar flores.
Pode ser porque o dinheiro acabou, pelo surgimento de um novo foco de
peste bubônica ou simplesmente pelos rumores sobre um eventual colapso. O fato
é que os compradores começaram a vender tulipas desesperadamente - o que levou
a uma queda brutal nos preços.
O pânico financeiro tomou conta dos proprietários de tulipas e, de uma
hora para a outra, a economia holandesa quebrou.
2. Bolha
dos Mares do Sul
Na Inglaterra do começo do século 18, a Companhia dos Mares do Sul
tinha o monopólio do comércio com as colônias espanholas na América Latina.
A empresa estabeleceu sua primeira rota comercial na região em 1717 e
começou a propagar rumores sobre as maravilhas de suas expedições comerciais,
que não eram verdadeiros.
O valor das ações da companhia disparou, passando de 128 libras (R$ 568) para 1.000 libras em apenas sete meses. Todos
queriam títulos da empresa. O Parlamento britânico chegou, inclusive, a
conceder uma vultosa linha de crédito para a expansão comercial dos negócios da
companhia.
O crescimento rápido do valor das ações gerou um frenesi especulativo
em todo o país, que se estendeu, inclusive, à compra de títulos de outras
empresas, cujos ganhos reais não eram demonstrados.
Mas quando os recursos dos pequenos investidores começaram a esgotar,
a situação ficou difícil. E se complicou ainda mais, quando eles começaram a
comprar títulos da empresa com dinheiro emprestado da própria Companhia dos
Mares do Sul.
Na hora de pagar as dívidas, muitos não tinham dinheiro suficiente e
tiveram que vender as ações da companhia.
O que aconteceu depois é fácil de prever: os preços despencaram,
vários bancos britânicos quebraram e a economia desmoronou.
3. A crise
de 1929
A maior derrocada da história de Wall Street foi antecedida por uma
onda especulativa que surgiu na década de 1920 - e levou milhares de pessoas a
investirem no mercado de ações.
Muitos se endividaram para adquirir títulos, criando uma bolha que não
parava de crescer.
Até que, no dia 24 de outubro de 1929, veio o primeiro golpe - o preço
dos títulos desmoronou e o pânico financeiro tomou conta das ruas de Nova York.
Mas o pior ainda estava por vir. Quando os investidores achavam que a
situação tinha chegado ao fundo do poço, veio a chamada "terça-feira
negra", que ficou marcada para sempre na história.
A Bolsa de Valores de Nova York simplesmente entrou em colapso.
A febre especulativa chegou ao fim, e com ela a festa daqueles que
tinham conseguido ganhar dinheiro fácil. Bancos quebraram, empresas foram
fechadas e centenas de milhares de pessoas foram à falência.
A crise não só devastou as bases da economia dos EUA, mas acabou se
estendendo para todo o mundo, dando início à Grande Depressão - a mais grave
crise econômica mundial do século 20.
4. A bolha
da internet
A popularização da world wide web, no fim dos anos 1990, provocou o
fenômeno que ficou conhecido como a bolha da internet. O valor de algumas
empresas de tecnologia chegou a níveis astronômicos, mesmo sem ter receita
real.
Vários empreendedores ficaram milionários, e os investidores correram
para adquirir mais e mais títulos que, supostamente, continuariam se
valorizando.
Como resultado, centenas de empresas "pontocom" foram
avaliadas em bilhões de dólares.
O índice Nasdaq Composite, que reunia a maior parte das empresas de
tecnologia, subiu exponencialmente.
Na época, o economista Alan Greenspan, então presidente do Sistema de
Reserva Federal dos EUA, alertou para uma "exuberância irracional"
dos preços. Apesar disso, o frenesi de investimentos continuou - até que a
bolha estourou, quando ficou claro que muitas dessas empresas não eram
rentáveis.
Assim, em outubro de 2002, o índice Nasdaq teve uma queda abrupta e
provocou uma recessão nos EUA com reflexos globais, inclusive no Brasil.
5. A crise
das hipotecas 'podres'
A crise econômica mundial do fim da década passada teve origem nas
chamadas hipotecas "podres" (ou "subprime") - créditos com
juros altos concedidos pelos bancos dos EUA a pessoas que não tinham capacidade
econômica para assumir as dívidas.
Essas instituições começaram a agrupar vários desses créditos
duvidosos em produtos financeiros pouco claros - os chamados
"derivativos" - que eram passados de mão em mão no mercado
financeiro.
A bolha estourou quando os devedores - isto é, as pessoas que pegaram
empréstimo para financiar imóveis - não conseguiram pagar as dívidas e os
preços dos imóveis despencaram, ao mesmo tempo em que milhares de pessoas
perderam suas casas.
O fenômeno foi acompanhado por uma queda nas bolsas, pelo aumento do desemprego
e pela desestabilização do sistema bancário, representado pela emblemática
quebra do banco Lehman Brothers, em 2008.
Embora tenha começado dos EUA, os efeitos da crise se propagaram
rapidamente por vários países, gerando desastres financeiros em economias que
não tinham como se proteger.
Como uma doença, a crise das hipotecas contagiou o resto do mundo,
convertendo-se em uma das maiores bolhas dos últimos anos.
BBC
Mundo
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