Redação
(*)
Desde a
entrada em vigor das medidas, país alterna momentos de expansão com recessões
profundas
A implementação do Plano Real, que completa 25 anos nesta segunda
(1º), com a vitória de erradicar a hiperinflação que assolou a economia
brasileira nos anos 1980 e 1990. Segundo especialistas ouvidos pela Agência
Brasil, no entanto, o legado do plano não se estendeu ao crescimento
sustentável. Desde a entrada em vigor das medidas, em 1994, o país alterna
momentos de expansão com recessões profundas.
Professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e presidente da Associação
Nacional de Centros de Pós-Graduação em Economia (ANPEC), Roberto Meurer indica
que a implementação do Plano Real e o fim da hiperinflação mudaram a pesquisa
acadêmica e os interesses das dissertações de mestrados e teses de doutorados.
“Com a queda da inflação, houve uma natural mudança da pesquisa em
macroeconomia, já que inflação e o combate a ela deixaram de ser o tema mais
premente da discussão em economia. O que se viu foi, em termos amplos, uma
gradual migração de parcela relevante da pesquisa da área de macroeconomia
aplicada [como relação entre grandes variáveis da economia] para a
microeconomia aplicada [que estuda o comportamento dos agentes econômicos]”,
verifica Meurer.
“Os temas foram acompanhando a própria evolução da economia. Isto pode
ser ilustrado com as discussões sobre regimes cambiais e eficiência da política
monetária com o regime de câmbio semifixo e posterior adoção do câmbio
flutuante e das metas de inflação. Outro tema, que está na origem do próprio
Plano Real, é a relação entre política fiscal e política monetária, que também
atraiu e continua sendo tema de muitas pesquisas”, enumera o acadêmico.
Segundo o presidente da Anpec, áreas como economia da saúde, economia
do trabalho e economia da educação passaram a ter maior peso na pesquisa. “Isso
pode ser ilustrado pelo fato de a área de Economia Social e Demografia ser a
que atrai maior número de trabalhos [anualmente] no Encontro Nacional de
Economia”, diz.
Crescimento
frustrado
Alexandre de Freitas Barbosa, professor do Instituto de Estudos
Brasileiros (USP) fez sua tese de livre docência sobre o período de economia
desenvolvimentista no Brasil. Ele, que estudou uma das épocas de maior
crescimento econômico da história nacional (1946–1964), é bastante crítico
quanto aos resultados do Plano Real além da estabilização monetária. “Até hoje
estamos procurando uma estratégia de desenvolvimento”, afirma.
Para o economista, “o Plano Real carrega uma frustração. O governo FHC
e, também os governos posteriores, não conseguiram trazer uma estratégia que
pudesse ser sustentável”. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), o ano de maior crescimento do Produto Interno Bruto entre
1996 e 2016 foi em 2010 (taxa de 7,5%). Cinco anos depois, a economia do
país entrou em recessão, com queda de 3,5% do PIB.
Segundo Barbosa, “o momento de maior crescimento é voltado para o
mercado interno e com ativação de políticas de Estado, bancos públicos, atuação
de empresas estatais, políticas sociais redistributivas”. O especialista lembra
que essas medidas são diferentes do que se anunciava ao implementar o real.
“Se dizia que estavam inaugurando um novo modelo para o crescimento
econômico. Que havia esgotado o modelo desenvolvimentista, com atuação
discricionária do Estado, que é inflacionária”, recorda.
Para o Barbosa, o Plano Real “acabou” no início do segundo mandato de
FHC (1999), quando o governo abandonou a âncora cambial e passou a adotar o
“tripé macroeconômico” – metas de inflação, metas fiscais para controle das
contas públicas e câmbio flutuante – para manter a estabilidade da moeda.
O economista José Ronaldo Souza Júnior, do Ipea, discorda. Para ele,
“a introdução do tripé foi determinante para a longevidade do Plano Real”.
Autor do livro O Pior Emprego do Mundo, que narra a
trajetória de 14 ministros da Fazenda desde 1967, o jornalista Thomas
Traumann avalia que “o tripé foi uma forma de recuperar credibilidade. Mas o
país não estava mais sob a lógica inicial do Plano Real”. Em sua avaliação, o
maior legado do plano “é que a inflação tornou-se inaceitável”.
O real é a segunda moeda mais duradoura desde o tempo da colonização
do Brasil e a que mais tempo se manteve em circulação desde a década de 1940,
quando se adotou o extinto cruzeiro. Nos quinze anos que antecederam ao plano,
a taxa de inflação acumulada soma de mais de 20 trilhões percentuais (20.759.903.275.651%).
Segundo o Banco Central, em 1994 a inflação foi de 916%. Em 1995, ano
da implementação do real, a taxa atingiu 22%. Em junho de 1994, antes da moeda,
o percentual mensal foi de 46,58%. Em julho seguinte, já com o real em
circulação, a inflação foi apenas 6,08%. (ABr)
Diário
do Poder
(*) Comentário
do editor do blog-MBF: o Brasil poderia perfeitamente crescer a uma
taxa de 5% a.a., sem se endividar, se se dispusesse a controlar o gasto com
folhas de pagamento, e as despesas decorrentes. A única experiência positiva neste sentido foi a L.R.F.,
que os políticos sempre tentam burlar.
Do dinheiro
arrecadado, a parte que deveria ir para investimento é todo usado com gastos
correntes, desnecessários.
Quando
esses “estudiosos” citados acima analisarem por este ângulo, o problema se
simplificará.
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