por Claudio
Dantas Sequeira
Dono de estilo reservado e hábitos
simples, o juiz da vara federal de Curitiba entrou para a história do País ao
levar executivos de empreiteiras para a cadeia e se mostrar implacável no
combate à corrupção na política. Sempre que alguém o compara com Joaquim
Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Sérgio Moro desconversa. Ou
melhor, silencia.
O juiz da 13ª vara federal criminal
de Curitiba, que ganhou notoriedade à frente das investigações da Operação
Lava-Jato, não gosta desse tipo de comparação nem de especulações sobre o seu
futuro. Há alguns anos, rejeitou sondagens para se tornar desembargador, o que
para muitos é degrau natural para galgar a última instância do Judiciário. Moro
afastou-se da oferta por desconfiar de tentativa de cooptação por parte de um
figurão da política nacional que temia virar réu num inquérito que chegou à sua
mesa.
Não fosse isso, ele daria outro jeito
de recusar a oferta por acreditar que ainda há muito o que fazer na primeira
instância. Eleito por IstoÉ o “Brasileiro do Ano”, Moro não mostra sedução pelo
poder da toga. De hábitos simples, ele faz parte de uma rara safra de juízes
que encararam a magistratura como profissão de fé.
NUM
VELHO FIAT IDEA…
Não dá entrevista, nem posa para
fotos. Dispensa privilégios. Vai para o trabalho todos os dias a bordo de um
velho Fiat Idea 2005, prata, bastante sujo e repleto de livros jurídicos
empilhados no banco de trás. Antes, chegou a ir de bicicleta.“Quando eu chego
aos lugares, ninguém imagina que é o Sérgio Moro”, conta, sorrindo.
Apesar de ter se tornado o inimigo
número 1 de poderosos, prefere andar sem guarda-costas. Quem sempre reclama é a
esposa, a advogada Rosângela Wolff de Quadros Moro, procuradora jurídica da
Federação Nacional das Apaes, instituição dedicada à inclusão social de pessoas
com deficiência. A “sra. Moro” teme pela segurança do marido, e dela mesma,
afinal o magistrado se mostrou implacável com a corrupção ao encurralar
integrantes do governo do PT e levar, numa ação inédita, executivos das maiores
empreiteiras do País à cadeia.
MESTRE
E DOUTOR
Nascido em Ponta Grossa há 42 anos,
Moro é filho de Odete Starke Moro com Dalton Áureo Moro, professor de geografia
da Universidade de Estadual de Maringá – morto em 2005. Antes de ingressar na
magistratura, seguiu os passos do pai. Integrou o mesmo Departamento de
Geografia da UEM e também deu aula nos colégios Papa João XIII e Dr. Gastão
Vidigal. Obteve os títulos de mestre e doutor em direito do Estado pela
Universidade Federal do Paraná. Seu orientador foi Marçal Justen Filho, um dos
mais conceituados especialistas em licitações e contratos.
Cursou o Program of Instruction for
Lawyers na prestigiada Harvard Law School e participou de programas de estudos
sobre lavagem de dinheiro no International Visitors Program,
promovido pelo Departamento de Estado americano. Moro criou varas especializadas em crimes financeiros na Justiça Federal e traz no currículo outras operações de peso. Presidiu o inquérito da operação Farol da Colina, que desmontou uma rede de 60 doleiros, entre eles Alberto Youssef. A investigação fora um desdobramento do caso Banestado, que apurou a evasão de US$ 30 bilhões de políticos por meio das chamadas contas CC5.
promovido pelo Departamento de Estado americano. Moro criou varas especializadas em crimes financeiros na Justiça Federal e traz no currículo outras operações de peso. Presidiu o inquérito da operação Farol da Colina, que desmontou uma rede de 60 doleiros, entre eles Alberto Youssef. A investigação fora um desdobramento do caso Banestado, que apurou a evasão de US$ 30 bilhões de políticos por meio das chamadas contas CC5.
MÃOS
LIMPAS
Ciente de que os mecanismos de
lavagem de dinheiro evoluem e se tornam cada vez mais complexos, Moro não para
de estudar. É um aficionado pela histórica “Operação Mãos Limpas”. Quando a
compara com a Lava Jato, não tem dúvidas: “É apenas o começo”. O caso que
marcou para sempre a política italiana foi deflagrado por um acordo de delação,
mecanismo inaugurado anos antes nos processos contra a máfia. Após dois anos de
investigações, a Justiça italiana havia expedido 2.993 mandados de prisão
contra empresários e centenas de parlamentares, dentre os quais quatro
ex-premiês.
Num artigo sobre o caso italiano em
2004, Moro exalta os chamados “pretori d’assalto”, ou “juízes de ataque”,
geração de magistrados dos anos 1970 na Itália que ganharam espécie e
legitimidade ao usar a lei para “reduzir a injustiça social”, tomar “posturas
antigovernamentais” e muitas vezes agir “em substituição a um poder político
impotente”. O juiz se identifica com essa geração e vê no Brasil de hoje um
cenário semelhante e propício ao combate à corrupção.
Claudio
Dantas Sequeira
Revista IstoÉ
Revista IstoÉ
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