Silvia Naischtat
A
pandemia mudou as nossas vidas. Neste mês pagamos os salários, mas se esta
situação continuar, não sei qual será o futuro, disse um deles.
O
empresário argentino Daniel Saramaga, 64 anos, já vinha sentindo a diminuição
da demanda em sua empresa de pisos de madeira Patagonia Flooring, fundada pelo
pai. Mas, agora, na quarentena obrigatória, ele diz que sabe o que é zero
absoluto em termos de renda, com seus 60 pontos de venda fechados, 300 salários
para pagar e cerca de 500 famílias que dependem de suas atividades em serrarias
nas províncias de Salta, Formosa e Chaco.
Daniel
Saramaga afirma ser austero, que sua empresa é saudável e que está em dia com
os impostos. Ele conversou com o gerente do banco, animado com os empréstimos
anunciados pelo governo no Diário Oficial.
Mas teve
uma decepção. "Não temos instruções", respondeu o gerente.
A
pandemia mudou as nossas vidas. Neste mês pagamos os salários, mas se esta
situação continuar, não sei qual será o futuro”, disse Saramaga ao Clarín.
Muitos
empresários concordam com várias projeções relativas ao colapso da atividade na
Argentina, seguindo os dados alarmantes sobre a recessão que o mundo está enfrentando,
e por isso se impuseram como política evitar novas tensões com o governo.
A União
Industrial Argentina (UIA) montou um comitê de crise com diálogo fluido
com o ministro de Desenvolvimento Produtivo, Matías Kulfas, o ministro do
Trabalho, Claudio Moroni, e com o presidente do Banco Central, Miguel
Pesce.
Segundo
o presidente da UIA, Miguel Acevedo, o Decreto de Necessidade e Urgência
(equivalente a uma Medida Provisória) divulgado na terça-feira (31) com
medidas de ajuda e a proibição de demissões e suspensões (por 60 dias) está
incompleto. "É preciso de mais liquidez em um cenário em que 80% do
aparato produtivo não está faturando e tem que pagar salários e outros custos
fixos".
O
presidente da Coordenadora das Indústrias de Produtos Alimentícios (Copal),
Daniel Funes de Rioja, diz que nesse setor, considerado essencial, quase
40% dos funcionários estão de licença por motivos de idade, saúde ou por serem
pais de crianças em idade escolar. Ele afirma que os protocolos operacionais
são tão rigorosos que nenhum caso de novo coronavírus foi detectado nas
fábricas. E ressalta o nível de fornecimento e a operação de logística para
atender 270.000 pontos de vendas.
No
entanto, Funes de Rioja lamenta que o governo argentino tenha
retirado do decreto a vantagem prometida de isentar de encargos os empregadores
dos funcionários que estão de licença. Um dado: a indústria alimentícia,
considerada essencial, está detectando o surgimento de um tipo de consumidor
focado em produtos mais básicos, como farinha, arroz, macarrão, erva-mate,
deixando de lado outros itens.
"Demitir?
Não preciso de uma lei que proíba, esse é o último recurso. Eles precisam nos
acariciar mais em vez de nos atacar. Pagamos impostos e criamos empregos. Vamos
precisar de créditos, mas com taxa zero, para enfrentar a emergência. Vai ser
difícil rearmar a rede de PMEs, há setores como o de turismo que vão
continuar afetados. O Estado tem que estar à altura das circunstâncias",
disse Federico Pucciariello, produtor de biocombustíveis.
Outros
empresários acreditam que o financiamento pode ser resolvido em questão de
dias, pois o decreto inclui um fundo de garantia. O presidente da
associação Comercios Activos Buenos Aires, Arturo Stábile, acha que esse
fundo ajudará em uma operação que autoriza contratos digitais. "As PMEs
que estão registradas e operam com bancos poderão ter acesso". Mas 40%
ficarão de fora. "Se receberem ajuda, as PMEs não vão demitir", diz
ele.
"As
medidas são boas, o que falta é a automatização dos créditos", diz José
Urtubey, da UIA. Na sua opinião, o Banco Central da República Argentina (BCRA)
deveria permitir um financiamento automático nesta pandemia. "É preciso
sair das receitas tradicionais e ver o que o Federal Reserve dos EUA está
fazendo, com seus enormes pacotes de ajuda.” Para o presidente do
Consorcio de Exportadores de Carnes Argentinas (ABC), Mario Ravettino, a
proibição de demitir é correta enquanto a quarentena durar.
Enquanto
isso, no interior do país, observa-se um grande fluxo de caminhões para as
fábricas agroindustriais e os terminais portuários, mais do que nos dois anos
anteriores. "A colheita começou e isso é uma boa notícia", dizem na Câmara
da Indústria Azeiteira, ressaltando que as entregas estão se normalizando em
todos os portos e deixaram de ter problemas com os sindicatos. "Os tempos
dos navios e das vendas da Argentina estão funcionando normalmente para todos
os grãos, farelo de soja, óleos e biodiesel",
informaram.
El Clarín em Portugues
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